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2 PERSPECTIVAS DO ENSINO DE LÍNGUAS NA UNIVERSIDADE PE­ DAGÓGICA

3.6 Reflexos da Revolução Socialista nos estudos da língua

Essa parte do trabalho apresenta as principais dfeeuLeeõee sobre lingua(gtm) c psicologia fora do contexto da Revolução Socialista na Rússia. Essas discussões servem de contraponto para as abordagensque defendemos, iomcadamcitcoeisiio desenvoOvimental e estudos sobre a linguagem do Círculo de Bakhtin.

Enquanto a Revolução Socialista russa discutia, como já foi abordado, a proble­ mática da psicologia tradicional cm virtude da sua abordagcm metodológica reducionista e especuiativa em relação ao seu objeto, os estudos da língua (e do tnsino) passavam iguaimente por situação Similar que atingia o seu objccto e método de tal modo que o

eiteidimeito do qut stria, efetivameite, as particularidades e complexidades da comuni­ cação (unidade linguagem, língua e mensagem) ião só acenavauma pura abstração, como também os seus métodos eram completamente tradicionais.

At fronteiras teóricas e metodológicas estavam claramente definidas (como ainda estão em alguns círculos acadêmicos e em algumas práticas da linguística) e, muitas vezes, sem o verdadeiro conhecimento das suas implicações para o ftnômtno “língua”. A liiigiiístic;i tratava do estudo da língua enfatizando a abordagcm saussuriana (altamente estruturalista) e alimentada por uma interpretação declinada a uma visão unilateral.

Na mesma mtdida, caracterizava-se a psicologia que, tendo como seu objecto a liiguagcm, o seu conteúdo contemplava a Iniguagem voltada para ti mesma bastada na metodologia qut, além dc artificial, se dtsenvoOviaà margem dos fenômenos linguísticos concretos; aliás, uma metodologia que nem convocava a língua na orientação dos seus pressupostos teóricos e constitut.ivostanto ias atividades de pesquisa quanto ias atividades dc eisiio e dc aprcidizagcm.

Na verdade, os campos de intervenção da psicologia e da linguística (ainda que, obviamcitc, ptlo seu objetode estudofosse possível) ião se mtcrpcictravam nesse contexto. Tudo em razão do fato de que os linguistas da época não tinham sido ainda capazes de comprccidcr quc o dctenvoOvvmcnto do objeto “língua” precisava se apoiar sob uma base psicológica no sentido de que ele, eiquaito tal, e de alguma forma, representa uma forma específica de expressão da linguagem.

O estruturalismo de Ferdinand Saussure teve sua maior visibilidade nos Estados Unidos ao longo das duas guerras de escala mundial e foi, dentre os mais importantes linguistas americaios,representado por Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf. Otcstcmuiho dc Lanchei é o de que

Nessa época, os Hnguistas americanos estudavam prineipalmcnte as fin- guas mdgenas iião-cscrHas e pcrtcnccndo a mais de cento e crnqucnta grupos HngiiísOms. Partin«o dc um corpo, isto é, dc um número |imiIado dc írases, procuraram cotocar em evtàênma as regras de formacão das palavras e das íras.ce, para descreverem o fandonamento «essas línguas. Para tanto fizeram primeno tlrmte■liiqits fonétfcas, ut.Hizai i< «o o alfaheto fonétieo, clalgorado ptla Assomaçmo Fbnétma hUcriiacKoia1, eria«a em 1886. (LANCHEC, 1997, p. 18)

Desta lilguít|iea, nasceu a concepção da língua como um sistema estruturai de símbolos os quais sío representados ptla delimitação traispar'citc e fixa dos sistemas fonológico, sintáctico e morfológico, todos embasados na Tcoria Linguística Gerativo- Trantformacional, a Gramática Trantformacional (GT).

Embora tenham contribuído para o conhecimento da língua estudado a partir dos pressupostos einoc^lturais, para detectar universais linguístico-humanos, os trabalhos de

Banjsmin Lee Whorf (1897-1941) forsm dosenvolvidcs dentro (0—0 osquem-metodológico. Ou sela, como um dos 1itg■uitt-t americatos proeminentrs, desenvolveu ums pesquisa centrada os busca de elementos que o permitissem compreender o muodo ds monto expresso oo fetômeto da linguagem (he world-mind as expressed in phenomena of

language) p-hmdo do que seriam os aspectos comuns oo idioms 0 não como é que esses atpertot so formam 0 sob que base.

O illt<'rutte paio estudo da língus 0 pens—mentoem dlfereotes regittot 0 variações a p—rtir de modelos estaodardizados impulticocu Whorf a vi—j—r psrs México, em 1930, psrs aoalisar as línguas mayas do pontode vist- de sua estruturs 0 função. As descobertas do petquitador rcvclaram que22

Vary 1anguage ls a v—S p—iialOl-sysiam, dMerent from cthcrs, m whlch ls culturally ord-med the forms sod cate^ries by whfoh tha pcrs^i^i^i1^‘ty oot ouly ccmmutirates, tot atalyses ostura, notices or oeg1ects types of rc1stfoothip sod pheoomeoa, chatteL Ms reasoniog sod todds the house of hls rooarfoulauuaa. (WHORF 1942, p. 173)

O f-to é que a execução da líogus, siods que tela se utiliza a mesma pslsvrs, a forms de constitui-ls como ponsamonto vsris de culturs psrs culturs, o que faz Whorf compreender que pslsvrs 0 discurso são rclsas diferentes os medids em que, explica o teóricc,23 “th—11 party of meaoiog which is iu words, sod which wo msy call ‘refereoce’,

is only ralativaly fixed. Reference of words is at mcrcy of tha seot.enaes aod gr-mm-tic-l psttaro- m w

hi

c

h th

a

y

occur. (

WH

O

R

F

,

1942, p. 174)

É mpOTtsota evidenciar que os resu1tadotda pesqulsa do teórico ccmpreeodem que a pslsvrs, enquanto referência, é a motor p-rta do significado. Tcdsvis, ostos retu1tadot exprimem que a língus é ums estruturscultur-lmanfe ettabelecida que expressa mcdct de vids dossa mesma culturs 0 oão explicam ccmc é queessa estruturs 1inguíttirs se constitui 0 vsris de culturs para culturs.

AsSim, o adventoda pticolioguíttica significou a rcnrepçâc de um dcmíoic carac- tcrizsdc timu1tsoLesmeote “como ums disciplina (ou ums metodologia ioterditcip1iosr) juttiliirsds pels stusl classificação das ciências 0 pelo espíírito da nova metodologia das ciências limítrofes” (SLAMA-CAZACU, 1979, p. 33) rujc chjutivc era o de -bord-r a linguístlcs (estudo da língus) tomsndoemccotideraçãc métodos combioadotque pudessem aproximar do seu objcto (fenômeno linguístico) o mais coerente 0 profundo possível. Por outro lado, os estudos ds linguagem os psicologia precisavam de se fuodsmcotsr pela

22 Muitst hoguas sno um vasto sfetoma de p—d?■oes, Mfereote de cui?■ot, oo qu-1 sno ru|iu?■-|nlcoic ordeoatos as formas o cat^orias petis quam a persooalidade oão apeoas so comuoica, mas aoahsa a n1iurl'/1, percebe ou oegligeocia tifos de to-cfoo-metto o feoômeoos, caoahza sou rsrformfo e rcostrói a raea de sua conscitocia.

23 aqueL psrta <do sigoMcaido que está em p—|—v?■—s, o que podemos chamar de ''ref0rêocial', é apenas reiathameotc fixs. Referêoc1- de p—bivnis é à mercê das Irises o p—drors grsmstir—is em que ofos cccrram.

próprirmaterialidade linguíítiai qieparmitam a ■■ciílhilcalda” a explicação dos fenômenos da linguagom pola manipulação concreta do '«'ema.

O que até então sa denominava de Pticologia da Linguagem, da qnil tnrgin mait tirCo o torme “pticelingníttica", não tinhr ainCa sa seprrrdo da mitriz toóriaa rssociacionistr. Per eutre laCe, nem a linguística dominava c sam campo toóriae para compreender a aomploxidado doieiômeic “língua” dovido às circmistiiclilidides a váriot níveis, dentre is qnais constim is mait tignificativat relacionadas com a exignidade da Cupli formação dcs linguiítií a pticólcgct em áreas aorrolatat inalninCe os pesquisadores dcssis árcis.

Mesmo assim, is primoirit concertições intcrdltaiplinans entre a linguística c a psicologia tivaram lngar ne íorver dassi imprecisão terminológica, sa avaliarmos smis inii(rmmm\õ><’t iniairií (rindi qie prematuras) partindo dos rics de 1930 em qie sa rssiste nma cooperação ictarCiiciplicir divor'ificada c expressr em artiget a entra' fermr' de suporto no Journal de psychologie normale et pathologique. (SLAMA-CAZACU, 1979)

Ac longo dcsscs rnos, r tendência ictarCitaiplicir da linguística com r psicologia ccmeçcm a gaihar uma expressão efetiva emváriatcscoliseircpeiat, tinte é qie constituam oxomplot is obrit publicadas tcbre estudos da língua na Etcolr Fonológica de Praga, os cstudos da pticologia da tradiçãoalemã qie começavam a ampliac scn campomotodológico ião ipecis pola necessidade de compreender os pressupostos da linguíítiai como também pola ncccssidadc de compreendê-los pola incorporação dcs pressupostos da filosofia; c, também, ccmeçcm a sa testemunhar tiiait visíveis de incorporação na análise fonétiaa com

tocitío a elementos da pticologia num dot laberatórieí da escoli italiana otc.

Ot E'tadis Unidot lançam, pola primcirrvez, em 1954, a obra Psycholinguistics c, em 1961, pmblica-to umr cclectânca de estudos com “sintomrs” psicclligiísticcs bastanto evideitet, ipcsirde scr umr abordagempsicoliigiístlca um pouco ditperta tinte doponto de viíti intencional como do pente de viíti motodológico.

O que succdc é que oito rnos mait tardo, em 1962, em França, a Association de Psychologie Scientifique de Langue Française, nnm celóqnie intitulado “Psicologia de Linguagem” por si organizado, sintetiza a ebra Psycholingusistics laçada ncs Estados UnidCs, em 1954, como ferma de rgrogrr r pticologia ict eStmdcs da linguíítica.

A questão central é que nem a snposta Cerronto Americana de Psicollnguístlca, constituída a partir do volume Psycholinguistics de 1954, nem o Simpótio Francês da Pticologia da Lingnagcm, qie inaluiu c reicrldcvolume ics cStmdcs da linguíítiai, tinhrm alirezi moteCelógica snilciente rolativamonto ro conceito, objcte, métodos a problemas qie r píicolinguíítica deveria abertar.

Ncssi filti de clareza motodológiaa, Slama-Cazaci afirma qie em algum mcmcnto o funcienamanie drs obras de psicologia sa ravosieia de liiirmaes impertictat no tritc da

comunicação na perspectiva social as quais apontavam que, na generalidade, as obras da psicologia lidavam com o termo “Iniguiagem” e, as mesmas obras, na versão inglesa, usavam o termo “comportamento verbal”, como tcstcmuiham alguis estudiosos linguistas americanos:

“O termo ‘psicolinguístico’ foi usado na década dc 1950, numa ampla accpçao, para rnlbar praticamente todos os aspectos do comjDortamento vcrbal (e muito Ha<--m'ha) quc ião seprtocupavam estritamente com a elaboração e escrita dc gramátiea”. (FODOR; JENKINS; SOL, 1973, p. 203)

Este fenômeno agravava mais ainda a dispersão dos conceitos pretendidos úteis para a constituição da psicolinguística comodomínio interdisciplinar e metodológico ios estudos da linguística e ios dapsicologia,na mtdida cm que “a liiguagcm cm ti mesma era compreendida, primordialmcntc (ou, cm todo o caso, estudada preferencialmente), como processo de ‘expressão’, e ião como atividade psíquica bilateral de ‘emissão’ e também de ‘rtctpção’”.

(

SLAMA-CAZACU, 1979, p. 37)

Slama-Cazacu reconhece quc, até na atualidade, ião é possível definir a psicologia da Iniguiagem com exaustão, partindo da consideração dc qut as abstrações conccptuais apresentadas nos seus domínios e subdomínios comportam um amplo campo de inter­ pretação do seu objecto. Ou seja, o objeto pode direcionar o estudo para a compreensão de

mtcamsmos interncs, os processos ps^mcos como tait, qut pcrmitem a cimssão ou a reccpção, ou a rcanzaçmo «a função simbóliea e a cria^o dos tóãgos. Podt ser quc a psicologia social da |iiiguagcm ponha ênfase no estudo das rotações iiiIe'riK«mi<«uait «urante a comumcação. ÍSLAMA- CAZACU, 1979, p. 39)

Apesar de ter tido constatado quc o campo do objecto da psicologia da linguagem (PL) é amplo e diverso, a autora constata haver um relativo eolselso do objecto da psicoliiguísticao qual, seguido ela,está configurado na pauta da iitcrconexão da mensagem e do emissor ou receptorno sentido de que

O cstudo «a Hnguagcm não se podc efetuar m ahttrato, e uma PL (veja-se a PiL (uaseada na lmguístiea GT) como uma psicologia da Hnguagem qut não mtegram as mcleagcle, ou a Unguagem no contexto soc^ai1, ião sito viávtta. Do mesmo mo«o, não se po«e falar cm -iiiguagem sem quc se tenha em vista a ‘comumcação ) ao menos como processo vbUiia1: todo o em^sor humano é normataentc ‘programa«o’ Pmãm como receptor e a situação habitua1, real é a comumcação Matcra1, <do «iálogo cntrc e imssor e receptor (c a retação é rcvcrsívc1, já que to«o o receptor pode se tornar emissor e vice-versa. (SLAMA-CAZACU, 1979, p. 40)

Nosso rasc, deTeode-se, portanto, que a loc-liz-ção, captação ou fix-ção do objeto da psicolioguístlca deve p—rtir do que isto dcmloic ciao'tíficc so conceitua a si próprio o, 0—— coiicciti i-ieà>, deve igusimente ter em vist- a articul-çãoccereote com os problemas o métodos que levanta. Partindo do objcto rcntensual meociotado acima (relação emissor- meosagem-receptords meotagem), Slama-Cazacuievaota, mais do quedúvidas, problemas que mostram a esltr-ti^^-^ção o complexidade do rafirido objectopelas direções que podem tom-r na realização da -tivldida peirolingujstlra. Primairo, so o objcto so ocupa das

[. . . ] re1ações entre mensagens o os psrtiripsotct, ou deve mostrar o que as re1ações terism de específico; sou ‘objccto’ é: re1ações, clttãc, deverá -jud-r a compreeodur quals são as particularidades .as meoeageoe que <(<'r)^rclll, prccis—mcutc, deataa meamaa reações entre meoaageoa o

iotarlc)rutoras? (SLAMA-CAZACU, 1979, p. 42)

Em segundo lugsr, se o objecto formulsdo noeeoe mc1det deve c ■oitlu/ír o debate oa perspectivados prorosscsde codificação o deccdificaçãc; ousinds, (tarcairoobjecto), se osto mesmo objeto deve se equiparar com o que reflete o pensamento Traicês 24 que congrega a ccocepçãc dapsicdioguístlcaccmc “rsmoda psicologia ‘orlentsdo’ em direção à 1inguíttirs o, inversamente, um ramo ds linguística ‘orientado’ à psicologia”. (SLAMA-CAZACU, 1979, p. 42)

No poticiooameo'io de Slama-Cazacu advoga-se que o objcto da ptic<olioguíttics deve se basear nas realizações do código, a líogus, as quais acontecem oa intcrai,ção cootextualmeote situ-ds eotre emi^ssOTes o receptores, isto é, “A PL deve, pois, estudsr a líogus em suas realizações coocretas bem como (as cutrst formas de ‘mensagens’ não vcrbais) em relação aos E o os R, o às diferentes tituLaçõet oode oios so encontram.

Como é que o processo ds realização ds líogus se dá os sua coocretude, é o que se busca sos1itsr oa relação ds psicolioguístlca como uoidsde ds psicologia (estudo da linguagem' o da 1itguí-tir- (cstudo da líogus), mais precltamente oo contexto do enSino de 1íllgli-1t não-maternas

Nosso sentido, eoteode-se sar import-otatrazer psrs o debate a Ptirolinguíetirs em razão de sua abordagem ds 1inguíttic- que reiscions - língus com estudos dos Teoômeocs psicológicos humatos. Essa relação pode -jud-r a compreensão das formas em que o desenvohvimento ocorre a p—rtirda aoálise dos prorosscs de evolução das TuoLÇõet psíquicas o dos da apropriação da língus na experiência histórica etpecíTira.

24 Esta teodêorla, tnsnd— oo tror-di|hc, revebi-se -mds um t-uto prch1cmátirs porque “Ao 11™ tampe ela aupõe conhecido o ferômeno dmgus’ que o rnurlmUor uii|i/-rá. Ccntudc, o que represeiit — t-ts ‘metos oferecldos pa1a fiogus’? Tr—i;l-sa, por vaoturs, de uma fiogua cdiiptu — maiHa exterior ao indivíduo? ReTere-ee, por araec, aos ‘meios’ - cxtcrlorcs - adqulricos do uma voz para sempre? Uma dlaculaaâo mafi amp1a, que trris sMo extremamente útiL f-lt- neste brcvc prefádo”

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