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RELATIONAL TRACES OF DANCE IN PUBLIC SPACES OF THE CITY OF SÃO PAULO

ANA MARIA RODRIGUEZ COSTAS (ANA TERRA)

Universidade Estadual de Campinas, Brasil

RESUMO

ABSTRACT

Norteadas por concepções relacionais, contextuais ou conviviais, inúmeras produções artísticas estariam apon- tando para outras possíveis formas de viver e conviver socialmente. No atual cenário político brasileiro, a inten- sidade dos ataques governamentais dirigidos especial- mente para os artistas, estariam evidenciando a potência alcançada por algumas dessas práticas? Neste trabalho, pretende-se abordar projetos e ações de artistas da cidade de São Paulo, tomando como base duas diferentes produções da autora: a curadoria da exposição virtual “A dança no espaço urbano” e a pesquisa “Processos de criação e pedagogias da dança”. Na primeira, oito grupos e companhias de dança contemporânea foram estudados. Na segunda, houve um aprofundamento na

investigação de três destes grupos, com a realização de entrevistas, acompanhamento de ensaios, apresentações, ações culturais, artísticas e pedagógicas. Tendo em vista aspectos poéticos, estéticos, políticos e éticos em seus projetos em ação, as observações colhidas no contato com esses coletivos foram agrupadas em três eixos de análise: modos de estar, modos de se relacionar e modos

de transformar. Compartilha-se um recorte deste percur-

so investigativo por meio de três imagens emblemáticas do que a autora nomeia como vestígios relacionais das danças criadas pelos artistas pesquisados, para consi- derar-se então, quais seriam as contribuições dessas práticas artísticas na busca do comum.

Driven by relational, contextual or convivial conceptions, innumerable artistic productions would be pointing to other possible ways of living and socializing. In the current Brazilian political scenario, the intensity of the governmental attacks directed especially for the artists, would be evidencing the power reached by some of these practices? This work intends to approach actions and practices of artists from the city of São Paulo, based on two different productions of the author: curatorship of the virtual exhibition “Dance in urban space” and the research “Processes of creation and pedagogies of the dance”. In the first, eight groups and contemporary dance compa- nies were studied. In the second, there was a deepening

of the investigation of three of these groups, with the accomplishment of interviews, accompaniment of essays, presentations, cultural, artistic and pedagogical actions. In view of poetic, aesthetic, political and ethical aspects of their projects in action, the observations gathered in contact with these collectives were grouped into three distinct categories: ways of being, ways of relating and ways for transformation. A part of this investigative path is shared through three emblematic images of what the author names as relational vestiges of the dances created by the artists surveyed, to consider, then, what would be the contributions of these artistic practices in the search for the common

PALAVRAS-CHAVE

KEY WORDS

Dança em espaços públicos; Coreografias sociais; Busca do comum. Dance in public spaces; Social choreographies; Search for the common.

INTRODUÇÃO

1 Para acessar o site do MUD: <www.museudadanca.com.br>.

2 Para acessar: http://museudadanca.com.br/adancanoespacourbano/#introducao

3 A pesquisa foi desenvolvida no Programa de Pós-graduação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e foi supervisionada pela Profa. Dra. Maria Lúcia Pupo. Resultou em um relatório científico que apontou para a organização de um livro que ainda não foi publicado.

4 Partindo da hipótese de que a trama tecida nas vertentes estéticas relacionais estudadas configura também uma pedagogia, refleti sobre as possíveis reverberações

Neste trabalho, pretendo abordar projetos e ações de ar- tistas da cidade de São Paulo, tomando como base duas diferentes produções: a curadoria da exposição virtual “A dança no espaço urbano” e a pesquisa de pós-dou- toramento “Processos de criação e pedagogia da dança: configurações de um ideário relacional”.

Em 2014, o projeto Laços Virtuais da Dança – concebi- do por Natália Gresenberg e Talita Bretas, fundadoras do MUD1, Museu da Dança – foi aprovado no 1o Edital Redes

e Ruas lançado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. O projeto estava dirigido à preservação da me- mória da dança brasileira por meio da difusão de acervos pelo portal virtual do MUD. “A dança no espaço urbano” foi a temática escolhida para a realização de uma expo- sição virtual acompanhada por um programa artístico- -pedagógico direcionado à formação de público para a dança e para a inclusão digital. Fui convidada a assumir a curadoria desta exposição e a coordenação pedagógica das oficinas propostas, atuando de modo colaborativo com as responsáveis pelo projeto.

No percurso curatorial da exposição virtual “A dança no espaço urbano”, foram convidados oito grupos e companhias contemplados por uma ou mais edições do Programa de Fomento à Dança da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, que desenvolveram projetos artís- ticos de investigação, criação e apresentação no espaço urbano. São eles: ...AVOA! Núcleo Artístico, Célia Gouvêa Grupo de Dança, Cia. Artesãos do Corpo, Cia. Damas em Trânsito e os Bucaneiros, Cia. Mariana Muniz de Teatro e Dança, Cia. Sansacroma, Grupo Lagartixa na Janela e Núcleo Tríade.

Além da realização de entrevistas para a elaboração de minidocumentários e da solicitação de imagens em vídeo do trabalho artístico, para a construção da expo- sição virtual solicitei aos participantes um conjunto de materiais: projetos aprovados em editais de fomento;

releases, flyers e críticas; fotos emblemáticas utilizadas

pelos artistas para comunicar a identidade do grupo ou companhia; fotos sobre o processo de trabalho, a pesquisa e a criação artística; outros materiais utilizados na pesquisa (referências teóricas, estéticas, artísticas) que estivessem registrados em fotos, desenhos, diários e textos; fotos das apresentações nos diferentes espaços da cidade em que aconteceu a circulação do(s) projeto(s); fotos que colocassem em evidência a relação do público com a dança, com o trabalho artístico; fotos que eviden- ciassem a equipe de trabalho, suas relações (momentos de encontro, reunião e visitas em locais); fotos sobre as demais ações artísticas, pedagógicas e culturais que inte- graram o projeto (oficinas, workshops, rodas de conversa, seminários, mostra de filmes, grupo de estudos e publi- cações); uma lista com os locais em que aconteceram as

apresentações de espetáculo/performance ou demais atividades e o número de apresentações nesses locais. Analisei e ordenei os dados coletados a partir de si- milaridades e singularidades, em cinco eixos curatoriais: no eixo criar encontram-se momentos do processo de trabalho, pesquisa e criação dos grupos e companhias; no eixo partilhar encontram-se imagens das apresenta- ções e performances desses artistas, que revelam seus modos de dançar em diferentes espaços da cidade; no eixo avizinhar encontram-se imagens que revelam rela- ções entre obras, artistas e público; no eixo multiplicar encontram-se registros das ações artísticas, pedagógicas e culturais, dirigidas a participação de diferentes públi- cos, que integram os projetos dos grupos e companhias; por fim, no eixo semear apresenta-se um mapeamento dos locais na cidade de São Paulo por onde os grupos e as companhias apresentaram as obras expostas na exposição.

Inaugurada em 2015, a exposição, que pode ser visitada no site2 do MUD, constitui-se como um acervo

de imagens de relações entre artistas, entre artistas e público, entre cidadãos no espaço público onde a dança teve lugar.

Realizei minha pesquisa de pós-doutoramento3 entre

2013 e 2016, quando pude aprofundar uma investigação focalizando três coletivos que integram a exposição “A dança no espaço urbano”: o grupo Lagartixa na Janela, a Cia. Sansacroma e a Cia. Damas em Trânsito e os Bucaneiros. Tais artistas não apenas foram escolhidos por estabelecerem relações com espaços urbanos da cidade de São Paulo, mas principalmente, por seus pro- jetos estarem norteados por um ideário poético-estético relacional (Bourriaud, 2009) que os levou a trabalhar com uma diversidade de públicos em diferentes contextos da cidade.

Na pesquisa, procurei observar quais as noções de corpo dançante, os procedimentos técnicos (expressivos e inventivos), as poéticas que sustentam e se revelam nos processos abrigados em tais vertentes estéticas, assim como nas demais ações culturais empenhadas por uma dança que intenta relacionar-se. A partir de entre- vistas, acompanhamento de ensaios, apresentações, ações culturais, artísticas e pedagógicas, as observações colhidas no contato com esses coletivos foram analisadas e agrupadas em três categorias – modos de estar, modos

de se relacionar e modos de transformar. Tais categorias

– de certo modo, um adensamento dos eixos curatoriais da exposição “A dança no espaço urbano” – prestaram-se a evidenciar alguns dos princípios operadores das práti- cas dos núcleos artísticos estudados em sua potência de gestar pedagogias da dança4.

de Reflexão sobre Práticas Artísticas Comunitárias, dirigi- -me a essas produções investigativas com novas pergun- tas: quais seriam as contribuições dos artistas pesqui- sados, na constituição do comum na vida cotidiana dos espaços públicos da cidade de São Paulo? Como suas práticas no espaço público investem coreograficamente na constituição do comum?

Tomando a categoria modos de transformar como

deste fenômeno no ensino da dança em outros contextos. Porém, neste trabalho não irei discutir os aspectos relativos a tais dimensões pedagógicas.

5 Devido ao recorte deste trabalho não irei explicitar o conjunto de autores que sustentaram a emergência dessas categorias, assim como, as análises desenvolvidas sobre os três núcleos artísticos investigados.

eixo de análise, visitei mais uma vez a exposição virtual “A dança no espaço urbano” e selecionei três imagens emblemáticas, ao meu ver, de importantes coreografias sociais marcadas por diferentes qualidades e intensi- dades de encontro entre artistas e não artistas, ambos cidadãos da cidade de São Paulo, apostando que tais práticas artísticas, cada qual a seu modo, apontam, para a busca do comum.

VESTÍGIOS E UMA DANÇA QUE INTENTA SE RELACIONAR

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