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3.5 Mediação

3.5.1 Sistemas de Mediação Pública

541 GOUVEIA, Mariana França, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2.ª Edição, 2012, p. 53.

542 Curso esse que pode ser de mediação familiar, laboral ou penal, consoante a matéria em causa no conflito.

543 Sigla para Associação de Mediadores de Conflitos, é uma associação sem fins lucrativos de natureza privada e interesse público, criada em setembro de 2002 com o propósito de incentivar o recurso aos meios de resolução de conflitos em geral e a mediação em particular. Vide https://mediadoresdeconflitos.pt/.

544 Acedido em http://formasaber.blogspot.pt/2015_07_05_archive.html. 545 Vide o art. 30.º, n.º 3, da Lei 78/2001, de 13 de julho.

Como sistemas públicos de Mediação547, temos o Sistema de Medição Familiar (SMF), o

Sistema de Mediação Laboral (SML) e o Sistema de Mediação Penal (SMP).

Estes sistemas apontam inúmeras vantagens desde logo ao nível da segurança, na medida em que se trata de um serviço público promovido pelo Ministério da Justiça prestado por mediadores com formação específica. Outra vantagem é o seu elevado grau de confidencialidade, uma vez que ao estar proibida a divulgação do teor das sessões de Mediação em qualquer um destes sistemas, fica acautelada a reserva da vida privada. A sua informalidade, tendo em conta a simplicidade com que é feito o contacto ente o mediador e as partes. É um processo eficaz - os acordos alcançados nestes sistemas de mediação são detentores de uma percentagem elevadíssima - e são sistemas que permitem uma rápida resolução dos litígios – duração média de menos de 3 meses548.

Nestes sistemas de resolução alternativa de litígios as partes devem comparecer pessoalmente.

3.5.1.1 Sistema de Mediação Familiar – SMF

A mediação familiar surge com a criação do Gabinete de Mediação Familiar em 1997 que visava sobretudo resolver conflitos relativos à regulação do poder paternal na área da comarca de Lisboa.

Contudo quer o âmbito material, quer o âmbito territorial deste Gabinete eram insuficientes. Assim, no dia 16 de julho de 2007, entrou em funcionamento o Sistema de Mediação Familiar regulamentado por Despacho n.º 18778/2007, de 13 de julho549, em Diário da República, II Série, de

22 de agosto. Existe ainda Portaria n.º 282/2010, de 25 de maio550, que aprova os regulamentos dos

procedimentos de seleção de mediadores de conflitos para prestar serviços de mediação nos julgados de paz e no âmbito dos sistemas de mediação familiar e laboral e revoga a Portaria n.º 479/2006, de 26 de maio.

O SMF – que atualmente funciona em todo o território nacional – surge com o propósito de, através de mediadores especializados em mediação familiar551, mediar os conflitos que surjam de

relações familiares, podendo, atuar nas seguintes matérias: regulação, alteração e incumprimento do exercício do poder paternal; divórcio e separação de pessoas e bens; conversão da separação de

547 O Ministério da Justiça, através da DGPJ, é responsável também pela gestão da Mediação Civil presente nos Julgados de Paz, podendo ter lugar tanto no âmbito de um processo que corra termos nos Julgados de Paz como nos casos em que o litígio esteja excluído da sua competência.

548 Acedido em https://www.portaldocidadao.pt/web/direcao-geral-da-politica-de-justica/sistema-de-mediacao-laboral. 549 Disponível em https://dre.pt/application/dir/pdf2s/2007/08/161000000/2405124052.pdf.

550 Disponível em https://dre.pt/application/dir/pdf1sdip/2010/05/10100/0177201778.pdf.

551 Lista de Mediadores disponíveis em http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao-publica/mediacao-anexos/lista-de-mediadores- do/downloadFile/file/Lista_mediadores_SMF_mar_2015.pdf?nocache=1454060780.71

pessoas e bens em divórcio; reconciliação dos cônjuges separados; atribuição e alteração de alimentos, provisórios ou definitivos; atribuição de casa de morada da família e privação do direito ao uso dos apelidos do outro cônjuge e autorização do uso dos apelidos do ex-cônjuge552.

A intervenção da SMF pode ser anterior à existência de processo judicial ou na sua pendência, sendo certo que neste último é necessário homologação judicial nos termos do art. 279.º. – A do CPC.

Assim, para que um acordo obtido através da Mediação tenha valor em tribunal, é necessário que seja homologado pelo juiz ou apresentado à conservatória – no caso de acordo de divórcio553.

Dos acordos homologados pelo juiz podem fazer parte os acordos onde se estipula quem fica com a casa de morada de família e quais as contrapartidas da outra parte, qual o valor da prestação de alimentos que uma parte vai receber e por quanto tempo, em que dias as partes são responsáveis pelo menor e em que termos, etc554.

Os litígios no âmbito das relações familiares podem ser submetidas a mediação pelas partes ou pelo juiz555556. Pelas partes através da solicitação de pelo menos uma delas à Direção-Geral da

Política de Justiça (DGPJ), através do número de telefone 808 26 2000 ou por meio de um pedido de mediação familiar on-line. Pelo juiz em duas situações - caso haja requerimento das partes nesse sentido ou oficiosamente, remetendo processos de matérias familiares para a mediação, sempre com o consentimento das partes557.

A Mediação Familiar tem um custo de 100€, sendo que cada parte está encarregue de pagar o montante de 50€, podendo, no entanto, ficar isentas desse pagamento se o Juiz assim o entender ou se lhe for concedido apoio judiciário.

A SMF em média tem uma duração de dois meses. Demorando mais tempo e ultrapassando o prazo “máximo” estipulado para este meio RAL – os três meses –, o mediador e as partes podem pedir à DGPJ a prorrogação do mesmo.

O conteúdo do acordo é livremente fixado pelas partes, sem descurar que em matéria de responsabilidades parentais o acordo mais do que satisfazer os mediados, tem de satisfazer os interesses do menor.

552 GOUVEIA, Mariana, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2.ª Edição, Almedina, 2012, p. 65.

553 Vide Lei n.º 61/2008, de 31 de outubro, que altera o regime jurídico do divórcio, introduzindo a mediação familiar, disponível em http://www.dgpj.mj.pt/sections/leis-da-justica/pdf-ult2/lei-61-2008-de-31-de/downloadFile/file/lei%2061.2008.pdf?nocache=1225445203.82.

554 Acedido em http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao-publica/mediacao-anexos/perguntas-frequentes/.

555 Quanto aos processos de regulação do exercício das responsabilidades parentais. Vide o art. 24.º, Novo Regime do Processo Tutelar Cível, aprovado pela Lei n.º 141/2015, de 8 de setembro, disponível em https://dre.pt/application/file/a/70215156. Vide também o Esclarecimento sobre a atuação do SMF no âmbito do Regime Geral do Processo Tutelar Cível disponível em http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao-publica/mediacao- anexos/esclarecimento-smf-rgptc/downloadFile/file/RGPTC_SMF.pdf?nocache=1446121214.65.

556 Vide o art. 279.º - A, n.º 1 do Código de Processo Civil.

3.5.1.2 Sistema de Mediação Laboral - SML

O SML surge através de um Protocolo celebrado em 5 de maio de 2006558 entre o Ministério da

Justiça e as confederações patronais e sindicais que são elas a Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), Confederação do Turismo Português (CTP), Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP - IN) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT). Desde o início de funcionamento do SML, em 19 de dezembro de 2006, mais de 80 entidades aderiram a esta forma de Mediação, designadamente associações profissionais, entidades empregadoras e sindicatos de referência no panorama nacional559.

É de referir também a Portaria n.º 282/2010, de 25 de maio560, que aprova os regulamentos

dos procedimentos de seleção de mediadores de conflitos para prestar serviços de mediação nos julgados de paz e no âmbito dos sistemas de mediação familiar e laboral e revoga a Portaria n.º 479/2006, de 26 de maio.

O SML – atualmente funcional em todo o território continental561,562–, é um serviço promovido

pelo Ministério da Justiça, que permite aos trabalhadores e empregadores utilizar a mediação laboral para resolver litígios laborais, inclusive os que surjam no âmbito do contrato individual de trabalho563,564desde que não englobem matérias relativas a acidentes de trabalho ou a direitos

indisponíveis565,566. Permite resolver os litígios sem necessidade de intervenção dos Tribunais, através do

auxílio de um profissional especialmente certificado para a realização de mediação entre as partes – o mediador laboral567568.

A mediação voluntária de conflitos laborais integrada no SML, não pode ter lugar com trabalhadores menores de 16 anos569.

558 Disponível em http://www.dgpj.mj.pt/DGPJ/sections/leis-da-justica/livro-ix-leis-sobre/pdf7307/DGPJ/sections/leis-da-justica/livro-ix-leis- sobre/pdf7307/protocolo-de-acordo/downloadFile/file/Protocolo_de_Mediacao_Laboral.pdf?nocache=1182243469.36.

559 Acedido em http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/8266/3/Tese_final_completa.pdf, p. 37. 560 Disponível em https://dre.pt/application/dir/pdf1sdip/2010/05/10100/0177201778.pdf.

561Art. 3.º do Manual de Procedimentos e Boas Práticas do Sistema de Mediação Laboral – disponível em http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao- publica/mediacao-anexos/manual-de-boas-praticas/downloadFile/file/SML_Manuel_boas_praticas.pdf?nocache=1351089425.34.

562 Entidades aderentes ao SML disponíveis em http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao-publica/mediacao-anexos/entidades-aderentes- ao/downloadFile/file/Entidades_aderentes_ao_SML.pdf?nocache=1412158335.68.

563 Como exemplos refere-se o pagamento de créditos decorrentes da cessação do contrato de trabalho; promoções; mudança do local de trabalho; rescisão do contrato de trabalho; marcação de férias; procedimento disciplinar; natureza jurídica do contrato de trabalho.

564 Acedido em http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao-publica/mediacao-anexos/como-funciona-o-sml/.

565 Direitos sobre os quais a vontade do seu titular é ineficaz para a sua transmissão ou extinção. São exemplos de direitos indisponíveis na área laboral, o direito à retribuição na pendência do Contrato de trabalho, os limites máximos do trabalho suplementar, o direito ao gozo efetivo de vinte dias de férias ou da correspondente proporção (caso se trate de férias respeitantes ao ano de admissão).

566 Vide o art. 1.º do Protocolo e do Manual de Procedimentos e Boas Práticas do Sistema de Mediação Laboral.

567Lista de Mediadores do Sistema de Mediação Laboral disponível em: http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao-publica/mediacao-anexos/lista-de- mediadores-do3839/downloadFile/file/Lista_mediadores_SML_mar_2015.pdf?nocache=1454061074.09.

568 Acedido em http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao-publica/mediacao-anexos/perguntas-frequentes7583/. 569 Art. 2.º do Manual de Procedimentos e Boas Práticas do Sistema de Mediação Laboral.

O SML pode ser utilizado variadíssimas situações, desde logo quando o empregador pretende reduzir a carga horária do trabalhador e consequentemente reduzir o seu vencimento, ou quando o trabalhador recusa prestar trabalho suplementar ou exercer funções de categorias profissionais diferentes da contratada. Também se pode utilizar este mecanismo quando o empregador recusa dar formação profissional ao trabalhador, pretende ceder o trabalho a outra empresa, solicita ao trabalhador que exerça as suas funções num outro local onde a empresa desenvolve a sua atividade ou recusa reconhecer o estatuto trabalhador-estudante ao trabalhador.

Litígios relativos ao montante devido ao trabalhador por despedimento ou relativos à marcação de datas para o gozo de férias pelo trabalhador também podem ser resolvidos em sede de mediação laboral. O não cumprimento das regras de funcionamento da empresa ou o exercer outra atividade em concorrência com a empresa por parte do trabalhador, bem como a exigência ao empregador do

pagamento de subsídios – férias, Natal, etc – que admite estarem em dívida podem igualmente ser

exemplos de situações nas quais este tipo de mediação pode atuar.

Este tipo de litígios e outros podem ser submetidos a mediação laboral, voluntariamente, pelo empregador e/ou pelo trabalhador ou pelo próprio juiz nos termos do art. 273.º do Código de Processo Civil, salvo se alguma das partes expressamente se opuser a tal remessa. As partes podem recorrer à mediação através da solicitação de pelo menos uma delas à Direção-Geral da Política de Justiça (DGPJ), através do número de telefone 808 26 2000 ou por meio de um pedido de mediação laboral on-line. Pelo juiz através da remessa dos processos sobre matéria laboral para a SML570.

Após a receção do pedido de mediação, as partes são contactadas para uma sessão de informação com a presença do mediador, onde são esclarecidas sobre as regras da mediação, os direitos e deveres que os englobam e outras informações que se revelem necessárias. Após isto, as partes subscrevem o Protocolo de Mediação, assinando-o e depois de entregar o comprovativo de pagamento da taxa devida pela utilização do SML ao mediador seguem-se as sessões de mediação que

podem culminar com um acordo – como por exemplo o pagamento de quantias referentes a salários

em atraso ou indemnizações –, que é fixado livremente pelas partes571.

As partes têm de comparecer pessoalmente ás sessões de mediação, podendo fazer-se acompanhar, caso queiram, de advogado, advogado-estagiário, solicitador ou outros acessores técnicos, sendo que na sua impossibilidade de comparência deve a mesma informar tal facto em

570 http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao-publica/mediacao-anexos/perguntas-frequentes7583/. 571 Idem, ibidem.

tempo útil sob pena de o procedimento de mediação se extinguir572. O mesmo acontece com o

mediador que caso não lhe seja possível comparecer terá de justificar a sua falta junto do Ponto de Contacto do SML573 no prazo de cinco dias574.

O local de realização das sessões de mediação pode ser aconselhado pelo Ponto de Contacto do SML, mas sempre com consenso das partes já que a escolha do local é livre575.

A Mediação Laboral tem um custo para os mediados de 100€, sendo que cada parte está encarregue de pagar o montante de 50€, podendo, no entanto, ficar isentas desse pagamento se o Juiz assim o entender ou se lhe for concedido apoio judiciário576.

A SML em média tem uma duração de vinte e oito dias. Demorando mais tempo e

ultrapassando o prazo “máximo” estipulado para este meio RAL – os três meses –, o mediador e as

partes podem pedir à DGPJ a prorrogação do mesmo, sendo certo que podem pôr termo a esta mediação a qualquer momento577.

Como vantagens específicas é de apontar o seu custo reduzido. Enquanto uma ação judicial em processo de trabalho em que o trabalhador reclame o pagamento de uma indemnização de €5000 na sequência de despedimento envolve o pagamento de €240 a título de taxa de justiça (inicial e subsequente), o custo da Mediação Laboral é de €50 para cada parte. Outra vantagem é a promoção que dá ao desenvolvimento económico e à criação de emprego graças à eficácia e rapidez que confere à resolução de litígios laborais578.

O procedimento de mediação de conflitos deve assegurar o respeito pelos princípios da independência, da imparcialidade, da transparência, da eficácia, da legalidade, da liberdade, da representação e da equidade, de acordo com o disposto nas recomendações da Comissão Europeia n.º 98/257/CE, de 30 de março, e n.º 2001/310/CE, de 4 de abril, e no Código Europeu de Conduta para Mediadores579.

3.5.1.3 Sistema de Mediação Penal - SMP

A Mediação Penal foi introduzida no ordenamento jurídico português, através da Lei n.º 21/2007, de 12 de junho580. O XVII Governo Constitucional executou assim o disposto no art. 10.º da

572 Art. 8.º, n.ºs 1, 3 e 4, do Manual de Procedimentos e Boas Práticas do Sistema de Mediação Laboral. 573 Corresponde ao Gabinete da Resolução Alternativa de Litígios.

574 Art. 8.º n.ºs 5 e 6, do Manual de Procedimentos e Boas Práticas do Sistema de Mediação Laboral. 575 Arts. 9.º e 15.º do Manual de Procedimentos e Boas Práticas do Sistema de Mediação Laboral. 576 Art. 6.º do Manual de Procedimentos e Boas Práticas do Sistema de Mediação Laboral. 577 Art. 10.º do Manual de Procedimentos e Boas Práticas do Sistema de Mediação Laboral.

578 Acedido em http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao-publica/mediacao-anexos/perguntas-frequentes7583/. 579 Art. 22.º do Manual de Procedimentos e Boas Práticas do Sistema de Mediação Laboral.

Decisão Quadro n.º 2001/220/JAI, do Conselho da União Europeia, relativa ao estatuto da vítima em processo penal, que determina que os Estados-Membros se devem esforçar por promover a Mediação, no âmbito de processos de natureza criminal.

É de referir ainda a Portaria n.º 68-A/2008, de 22 de janeiro, retificada pela Declaração de Retificação n.º 16/2008, de 20 de março, que vem aprovar o modelo de notificação de envio do processo para mediação penal; a Portaria n.º 68-B/2008, de 22 de janeiro, retificada pela Declaração de Retificação n.º 17/2008, de 20 de março, que aprova o Regulamento do Procedimento de Seleção dos Mediadores Penais e a Portaria n.º 68-C/2008, de 22 de janeiro, retificada pela Declaração de Retificação n.º 18/2008, de 20 de março, que aprova o Regulamento do sistema de mediação penal581.

A Mediação Penal é um meio de resolução alternativa de litígios emergentes da prática de certos crimes. Através do auxílio de um mediador penal, é promovida a aproximação entre arguido e ofendido, na tentativa de encontrar ativamente um acordo que permita a reparação dos danos causados pelo facto ilícito e contribua para a restauração da paz social582.

O SMP tem competência para mediar litígios resultantes da prática de determinados crimes. Para que o litígio em causa possa ser submetido a mediação penal é necessário que estejam preenchidos certos requisitos. Desde logo tem de existir um processo crime que envolva a prática de um crime particular ou semipúblico contra as pessoas ou património. Depois é necessário que o tipo de crime tenha uma moldura penal até 5 anos de prisão ou pena de multa e que não estejam em causa crimes contra a liberdade ou autodeterminação sexual, peculato, corrupção ou tráfico de influência583. Para além disto é imperativo que o ofendido tenha pelo menos 16 anos de idade584.

Não podem ser alvo de mediação os processos que sigam forma de processo especial – sumário, sumaríssimo ou abreviado, só podendo ser utilizada o SMP nos processos que seguem a forma comum.

Dos crimes suscetíveis de Mediação fazem parte as ofensas à integridade física simples ou por negligência, as ameaça, a difamação, a injúria, a violação de domicílio ou perturbação da vida privada, o furto, o abuso de confiança, o dano, a alteração de marcos, a burla, a burla para obtenção de alimentos, bebidas ou serviços e a usura585.

581 Alterada pela Portaria n.º 732/2009, de 8 de julho (altera os arts. 2.º e 3.º do Regulamento).

582 Acedido em http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/mediacao-publica/mediacao-anexos/perguntas-frequentes. 583 Art. 2.º da Lei 21/2007, de 12 de junho.

584 GOUVEIA, Mariana, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 1.ª Edição, Almedina, 2011, p. 63. 585 Acedido em http://isabelrama.blogspot.pt/2011/02/mediacao_06.html.

O SMP pode ser “requisitado” durante a fase em que o Ministério Público com auxílio dos órgãos de polícia criminal586 se encontram a proceder à investigação sobre a prática de determinado

crime – fase de inquérito. Aqui o arguido e o ofendido podem voluntariamente e através de decisão conjunta requerer ao MP587 a remessa do processo para Mediação588.

De acordo com o site da DGPJ, o Ministério Público também pode, durante a mesma fase e caso tenha recolhido indícios da prática do crime e de quem foi o agente que o praticou, fazer a remessa do processo para a Mediação589, se entender que este é suficiente para responder às

exigências de prevenção que no caso se façam sentir, salvo se não houver consentimento das partes590.

A utilização do SMP é gratuita, independentemente do número de mediações e permite uma participação ativa do arguido e do ofendido na resolução do litígio, bem como uma maior aproximação da Justiça Penal aos cidadãos591.

A Mediação Penal começa pela remissão do MP – oficiosamente ou a requerimento do arguido

e do ofendido – do processo para o SMP. A par disto, é designado um mediador592 formado em

mediação penal que contacta o arguido e o ofendido, informando-os sobre o procedimento da mediação penal, os seus direitos e deveres e a natureza, finalidade e regras aplicáveis ao processo de mediação. Se o mediador não obtiver o consentimento das partes é obrigado a informar o Ministério Público para que o processo prossiga pela via judicial. Caso haja consentimento, iniciam-se as sessões de mediação593.

Caso as partes usufruam deste sistema de mediação e cheguem a acordo, o MP tem obrigatoriamente de verificar a sua legalidade594, sendo certo que este acordo equivale a desistência de

queixa por parte do ofendido e à não oposição do arguido. Caso o acordo não seja cumprido no prazo de três meses595, ou caso as partes não cheguem a acordo, o ofendido pode renovar a queixa no prazo