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O ODR é uma abordagem nova, relativa à resolução de litígios. Existe, no entanto, um crescimento rápido na sua utilização, devido às inúmeras vantagens que possui quer ao nível da facilidade no seu uso, quer na possibilidade de as partes resolverem os seus litígios em qualquer parte do mundo e sem saírem de casa, necessitando apenas de uma ligação Web638.

A primeira ocorre devido às interfaces que são maioritariamente intuitivas e escondem toda a complexidade relativa às leis e formalidades existentes por trás dos processos. Esta facilidade, aumenta a vontade das partes em resolver as suas disputas on-line, uma vez que sentem que se trata de um processo mais transparente639 e controlado.

A segunda ocorre pela comunicação ser feita de forma síncrona e assíncrona. O facto de as partes poderem resolver o litígio através do recurso a um suporte tecnológico e sem necessidade de estarem “cara a cara” permite ainda que o ambiente se torne menos hostil ou intimidativo, facilitando

634 ANDRADE, Francisco, NOVAIS, Paulo, NEVES, José, CARNEIRO, Davide, A inteligência atificial na Resolução de conflitos em linha in TIARAC – Telemática e Inteligência Artificial na Resolução Alternativa de Conflitos (PTDC/JUR/71354/2006), Scientia Iurídica – Tomo LIX, 2010; CARNEIRO, Davide, NOVAIS, Paulo, NEVES, José, Conflict Resolution and its Context, From the Analysis of Behavioural Patterns to Efficient Decision-Making, Springer, 2014, p. 30. 635 CARNEIRO, Davide, NOVAIS, Paulo, NEVES, José, Conflict Resolution and its Context, From the Analysis of Behavioural Patterns to Efficient Decision- Making, Springer, 2014, p. 35.

636 ANDRADE, Francisco, NOVAIS, Paulo, NEVES, José, RUA, Davide, Resolução de conflitos em linha na contratação pública electrónica?, Almedina, 2012, p. 40.

637 CARNEIRO, Davide, NOVAIS, Paulo, NEVES, José, Conflict Resolution and its Context, From the Analysis of Behavioural Patterns to Efficient Decision- Making, Springer, 2014, pp. 43-48.

638 Acedido em http://mei.di.uminho.pt/sites/default/files/dissertacoes/eeum_di_dissertacao_pg12710.pdf, p. 18. 639 Transparente, pois conseguem rapidamente ter acesso a toda a informação.

o diálogo entre elas. As partes tendem a falar mais abertamente sobre as suas pretensões640 e

consequentemente a serem mais honestas.

Para além disso, estas ferramentas ao estarem disponíveis on-line e consequentemente disponíveis para comunicação entre as partes onde quer que elas se encontrem, reduzem eventuais custos de transporte e estadia a que as partes poderiam estar submetidas.

A utilização da RLL permite ainda a implementação de formulários e plataformas on-line que facilitam na exatidão e fixação do objeto do litígio, do bem ou serviço em causa, do pedido e da causa de pedir.

A garantia de segurança das mensagens trocadas, preservando a sua integridade no espaço e no tempo, bem como a disponibilidade e acessibilidade do sistema às partes e ainda a garantia de confidencialidade, no sentido de impedir que terceiros não autorizados acedessem às mensagens trocadas pelas partes são também importantes vantagens. É necessário referir a importância que se deve ter em assegurar a autenticidade641 e conservação642 – pelo tempo necessário à resolução do litígio

- das mensagens trocadas no âmbito da utilização destes meios RLL.

Estes sistemas estão disponíveis 24h por dia, ou seja, as partes podem apresentar documentos, provas e usar os serviços a qualquer momento.

São ferramentas, em geral, mais baratas e mais rápidas do que o contencioso comum, uma vez que se baseiam em tecnologias baratas e disponíveis e evitam todos os custos associados aos tribunais.

As partes ao não estarem pessoalmente em contacto, tende-se a estar mais focado no sujeito da denúncia, do que sobre o adversário, por outras palavras, tende-se a estar mais focado nos factos, do que nas tristezas.

Aliás, naqueles casos extremos em que as partes se recusam a sentar-se juntos na mesma mesa, esta é a única forma possível de tentar resolver a disputa, evitando qualquer luta ou violência.

Ao usar estas ferramentas as partes tendem a refletir mais sobre o assunto e a tomar decisões mais sábias, do que quando as reuniões são pessoais. Isto porque as partes despendem de mais tempo para pensar sobre o que vão fazer ou dizer, ao contrário do que aconteceria caso estivessem na presença dos seus interlocutores. Isto acontece sobretudo quando são utilizados mecanismos de comunicação assíncrona, como fóruns ou e-mails.

640 Ao não haver a necessidade de as partes estarem pessoalmente juntas para resolver o litigio, evita que estas se possam sentir inibidas na presença de pessoas que lhes possam causar um efeito supressor ou inibidor - como as relações nos casos de violência doméstica - e permite-lhes falar mais abertamente sem receio das consequências - ANDRADE, Francisco, NOVAIS, Paulo, NEVES, José, RUA, Davide, Resolução de conflitos em linha na contratação pública electrónica?, Almedina, 2012, p. 40.

641 Assegurar de forma simples que a mensagem provém daquele emissor. 642 Através da existência de um registo das mensagens trocadas pelas partes.

É mais fácil para todas as partes controlar ou ter acesso às informações do caso, uma vez que se encontra tudo disponível on-line e a qualquer hora.

A criação de documentos formais é também mais fácil, pois pode haver assistentes digitais que ajudam os intervenientes durante o processo, ou há a criação automática do documento.

Todas as comunicações também são armazenadas para que possam ser posteriormente analisadas ou servir de prova para fases posteriores.

A grande acessibilidade do ODR, aliada à sua rapidez de execução, à sua economia e à forma transparente como resolve os casos são as vantagens mais referidas, no entanto o que pode ser uma vantagem, pode também ser um inconveniente643.

Se em alguns casos o acesso à Web é simples, há ainda um grande número de população que considera o contrário quer por não ter acesso a ela, quer por não possuir formação específica para utilizar ferramentas deste tipo, gerando-se assim desigualdades644645.

Por outro lado, se na maioria dos países desenvolvidos as tecnologias utilizadas pelo ODR não são nada caras, nos países em desenvolvimento não é bem assim, já que tem custos mais elevados. Isto também pode representar uma desigualdade e inibir algumas partes a continuar ou até mesmo iniciar o processo de resolução de conflitos646.

Em alguns casos, armazenar as informações on-line é sinónimo de maior segurança, mas por vezes o que acontece é o oposto. Se uma parte tem acesso às informações de login da outra parte, torna-se muito mais fácil aceder e alterar as informações confidenciais desta, do que entrar num tribunal e tentar ter acesso à papelada. Isto levanta problemas de identidade on-line, já que quando nos comunicamos com alguém online, quem é que nos pode garantir que é com essa pessoa de que temos a expectativa de estar a falar, que efetivamente o estamos a fazer.

Outra grande desvantagem tem a ver com as comunicações online. Se, por um lado, as pessoas não se sentem intimidadas por não estarem na presença de um júri ou de um adversário e se sentirem mais á vontade para se expressarem de forma mais verdadeira, também se torna mais fácil mentirem on-line, uma vez que não há essa presença intimidadora de um juiz ou de uma entidade com uma autoridade superior.

643 Acedido em http://mei.di.uminho.pt/sites/default/files/dissertacoes/eeum_di_dissertacao_pg12710.pdf, p. 18.

644 Claro que a solução passaria por formar este tipo de população neste sentido, mas o tempo despendido para formação implicaria atrasos nos processos e a morosidade é um dos principais aspetos que se pretende ultrapassar neste tipo de meios de resolução alternativos.

645 Acedido em http://mei.di.uminho.pt/sites/default/files/dissertacoes/eeum_di_dissertacao_pg12710.pdf, p. 18. 646 Idem, ibidem.

Outra questão importante prende-se com a linguagem corporal. Autores como Mehrabian647,

afirmam que a maior parte do significado que deriva de uma conversa cara-a-cara surge de outros aspetos que vão além das palavras que são ditas, isto é, surge do tom de voz, do volume, das expressões faciais e dos gestos corporais. Tudo isto são informações importantes numa conversa e que são perdidas se estas tecnologias (mensagens instantâneas, e-mail, fóruns ou outros semelhantes) são utilizadas. A melhor abordagem para seguir aqui seria a utilização de tecnologias mais recentes, como videoconferência ou telepresença que são as mais semelhantes a uma conversa “cara a cara”. O importante aqui é como as coisas são ditas e não tanto aquilo que é dito.

Contudo, apesar destas desvantagens, o ODR tem vindo a crescer na sua utilização. Aliás, apesar de não se esperar que as partes num processo de resolução de litígios sejam substituídas por agentes inteligentes num futuro próximo, a integração destas ferramentas de ODR acabará por levar a essa realidade.