• Nenhum resultado encontrado

1 INTRODUÇÃO

2.4 AS TECNICAS DE SI E SUA FINALIDADE

2.4.2 A TECNICA DA VIGILÂNCIA

A nova forma de experiência situa-se nos séculos I e II, quando a introspecção torna-se cada vez mais detalhada, na medida em que se desenvolve uma relação entre a escrita e a vigilância. Assim, presta-se atenção a todos os matizes da vida, ao estado de ânimo, a leitura e a experiência de si intensificavam-se e ampliava-se a virtude do ato de escrever. Um novo âmbito de experiências, até já ausente, abria-se170.

Podemos encontrar um outro exemplo de extremo de exercícios, segundo o curso da Hermenêutica do sujeito, é em Sêneca, na carta 18, que se conta que toda a cidade estava preparando as Saturnais. Estas festas representam um momento de convivência entre os citadinos, por isso, cada preparação implicava um convite para cada cidadão, uma possibilidade do indivíduo participar nas festividades da cidade. A razão pela qual Foucault apresenta esse

168 FOUCAULT, Michel. Histoire de la sexualité III: le souci de soi. 8.ed. Paris: Gallimard/ Seuil, 1984, p. 65 – 66.

169 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 610.

170 FOUCAULT, Michel. Tecnologías del yo y otros textos afines. Introducción de Miguel Morey. Edicions Paidós Ibérica. Barcelona: Buenos Aires, 1996.

exemplo diz respeito essencialmente à própria preparação do indivíduo, daquele que participa na festa. Portanto, esse exemplo apresenta uma mutação que é perceptível nos objetivos últimos da atividade da preparação da festa. Mas Foucault acha de estranho nessa preparação é o princípio segundo o qual o indivíduo devia “durante vários dias, vestir-se com uma roupa de burel, dormir sobre um catre e somente se alimentar de pão rústico”. Nessa prática, Foucault reconstitui pela pesquisa o que ele considera de extremo de exercício ao defender que a preparação do indivíduo para participar nas festas da cidade visa dois objetivos: (i) acabar apetite para as festas e (ii) constatar “que a pobreza não é um mal e que ele é inteiramente capaz de suportá-la”171. Esses extremos conduzem Foucault a um comportamento ou atitude racional elevada a um nível de vigilância constante acerca das representações que podem advir ao pensamento. Foucault está colocando a questão em termos de que seria preciso um ponto de vista intermédio, ao ponto de austero de práticas de si para, a partir dali, oferecer a explicação exigida. Foucault faz isso por meio do procedimento de elevar a vigilância das representações que podem suceder ao pensamento e, assim, criticar como falhas as tentativas de práticas possíveis destinadas a fazer a prova de si mesmo.

De seu ponto de vista, uma investigação hermenêutica em termos de controle das representações é prescrever uma atitude hermenêutica em relação a si mesmo. Pode-se dizer que Foucault está fazendo estas críticas da satisfatória prática de exercícios de si destinados a fazer prova de si do ponto vista de uma proposta alternativa, que venha a substituir a possibilidade às práticas de abstinência, de privação ou de resistência física. Sua crítica proclama a insuficiência da explicação em termos de Hermenêutica do sujeito e cuidado de si. Por esse motivo, sua posição representa a exigência do controle das representações altamente elevadas por um nível de hermenêutica, que ele mesmo reconhece, não foi possível atingir até então. Segundo suas palavras:

O princípio de que devemos nos comportar em relação aos próprios pensamentos como um cambista vigilante172 encontra -se quase nos mesmos termos em Evágrio, o Pôntico, e em Cassiano. No caso destes, porém, trata-se de prescrever uma atitude hermenêutica em relação a

171 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 610. “Outras passagens em Sêneca e Epicuro, falam da utilidade destes curtos períodos de provas voluntárias. Também Musonius Rufus recomenda estágios no campo: vive-se como os camponeses e dedica-se, como eles, aos trabalhos agrícolas”.

172 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 610.

si mesmo173: decifrar o que pode haver de concupiscência em pensamentos aparentemente inocentes, reconhecer os que vêm de Deus e os que vêm do Sedutor. Em Epiteto, é diferente: trata-se de saber se fomos ou não tocados ou sensibilizados pela coisa que é representada e por qual razão o fomos ou não.

Ao longo de seu curso de Hermenêutica do Sujeito, Foucault tem recusado as práticas de si baseadas em exemplos de exercícios extremos e austeros, nomeadamente as de Plutarco, O demônio de Sócrates e as práticas de exercícios baseadas na Carta 18 de Séneca. Com isso, ele procura a possibilidade de prática de exercício de controle inspirado nos desafios sofísticos. Segundo essa colocação em Hermenêutica do sujeito, é uma conciliação entre dois polos nomeadamente :(i) o da meditatio, que o indivíduo pratica os exercícios em pensamento, (ii) o polo da exercitatio, em que o indivíduo treina realmente. Uma vez que a prática de exercícios de tipo provas voluntárias através da participação do indivíduo na festa é malsucedida na medida em que alguns males como a pobreza e o sofrimento são concebidos como mecanismos válidos para a formação do indivíduo na polis. Por essa razão, Foucault sente-se obrigado a apresentar a necessidade de uma explicação da possibilidade de encontrar na cultura greco- romana outras práticas de espiritualidade possíveis que visam uma série de práticas para o indivíduo fazer prova de si mesmo.

Esta postura de Foucault é facilmente identificável com uma modalidade de crítica radical a respeito das práticas de fazer a prova de si mesmo, ou seja, Foucault começava a lançar críticas e contra-argumentos contra essa prática de exercício, mostrando que ela não explica o que pretendia explicar, e, depois, refugia-se em uma distinção entre meditatio, em que nos exercemos em pensamento, e exercitatio, em que treinamos realmente.

O que se percebe é que a própria relação entre meditatio e exercitatio indica a possibilidade de identificação e explicação da existência de outras séries de práticas de exercício de espiritualidade para fazer a prova de si mesmo. Isso significa que o exemplo interessante em que Foucault pretende apoiar seu argumento, na forma de uma crítica contra a prática de exercícios valorizantes da prova de si, é encontrado nos Diálogos de Epiteto. Ao invés de apresentar apenas exemplos de uma diferença entre esses Diálogos e a espiritualidade cristã, Foucault apresenta alguns exemplos de proximidade para o cerne de seu empreendimento

173 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 611.

investigativo. Trata-se de "controle das representações”174. Epiteto exige que o indivíduo tenha uma atitude de vigilância permanente em relação às representações que podem advir ao pensamento175.

Um passo de argumentação de Foucault, ao desenvolver a sua crítica, refere-se a um significado peculiar do modelo de exigência epitetiana que recomenda a seus alunos a prática de um exercício de controle inspirado nos desafios sofísticos, que eram muito valorizados nas escolas. A desconfiança de Foucault acerca desta recomendação pode evidenciar-se da seguinte maneira:

Mas, no lugar de lançar uns aos outros problemas difíceis de resolver, serão propostas certas situações em frente das quais se deverá reagir: O filho de alguém morreu. - Responde-se: isto não depende de nós, não é um mal. - O pai de alguém o deserdou. Que te parece? - Isto não depende de nós, não é um mal ... - Ele afligiu -se com isto. - Isto depende de nós, é um mal. Ele valentemente o suportou. - Isto depende de nós, é um bem176.

Naturalmente Foucault não se declara a favor do objetivo do controle das representações, embora pareça querer valorizar as recomendações de Epiteto como exercício de resolução de questões difíceis deste moderno desafio sofístico. Na verdade, Foucault vai mais longe do que isso. A recomendação que ele faz é a de um controle das representações para justificar a evocação de princípios verdadeiros, para ver se o aluno é capaz de reagir segundo estes princípios177. Essa recomendação, conforme já dissemos, não é uma alternativa bastante plausível a ser oferecida ao aluno contra aparências uma verdade escondida, a do próprio sujeito. Historicamente, o exercício do controle das representações em Epíteto não tem se valido com relativo sucesso das recomendações, porque o objetivo não consiste em decifrar a verdade do sujeito escondida dentro das aparências de uma recomendação. Por causa disso, Foucault tende a rejeitar as recomendações que ajudam a decifrar a verdade que está no próprio sujeito. Então, no ambiente desta polêmica, a situação leva Foucault a afirmar que “nestas

174 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 610.

175 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 611. Existe a ideia, bastante razoável, de que Epiteto “exprime esta atitude em duas metáforas: a do vigia noturno, que não deixa entrar qualquer pessoa na cidade ou na casa; e a do cambista ou verificador de moeda - o argyronómos - que, ao ser-lhe apresentada uma moeda, olha-a, pesa-a, verifica o metal e a efígie”.

176 FOUCAULT, Michel. Dits et écrits. Tome 4. 1970-1975. Editado por D. Defert, F. Ewald e J. Lagrange Paris: Gallimard, 1994, p. 364.

177 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 611 – 612.

representações tais como se apresentam, encontra a ocasião de evocar alguns princípios verdadeiros – concernentes à morte, à doença, ao sofrimento, à vida política etc.178”. Foucault espera dar um exercício de controle das representações na inspiração e valorização ampla que tem sido feita dos desafios sofísticos nas escolas.

Esta parte da crítica de Foucault oferece uma compreensão da prática do exercício da morte, nos estoicos, em particular, em Sêneca, que pretendia fundar a prática dos exercícios da morte na possibilidade de valorização particular da morte sobre a meditação. Segundo a concepção que Foucault mantém, no ápice de todos os exercícios de prática de si, há a meléte thanátou – meditação ou exercício da morte179. Trata-se de um problema de permanente atualidade, que emerge em face do aluno ou do estoico, quando estes procuram compreender uma maneira de tornar a morte atual na vida. A importância e o alcance da reflexão de Sêneca estão em que ele tem uma solução original para enfrentar o problema da prática dos exercícios da morte. E se esta solução é digna de ser reexaminada, é porque, hoje, é frequente nos referirmos à mediação não apenas como uma simples evocação de que estamos destinados a morrer180, mas já não conseguimos perceber o quanto ela depende da prática dos exercícios que os estoicos, Sêneca, propõem e, concomitante, o quanto esta prática da meditação depende do exame de fundamentos “de lançar, como que por antecipação, um olhar retrospectivo sobre a própria vida”.

No horizonte desse deslocamento de exercício de prática de si, os estoicos e Sêneca defendem que o exercício da meditação da morte de um indivíduo pode ser concebido como uma maneira de tornar a morte atual na vida. Além disso, essa sua concepção da meditação fazia com que os indivíduos vivessem cada dia como se fosse o último181.

178 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 611 - 612.

179 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 611.

180 FOUCAULT, Michel. Dits et écrits. Tome 4. 1970-1975. Editado por D. Defert, F. Ewald e J. Lagrange Paris: Gallimard, 1994, p. 365. Cf. FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 611.

181 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 611.

Segundo a leitura de Foucault, essa concepção feita por estoicos permite compreender o exercício que Sêneca propõe182. Desse modo, para Foucault, o exercício da morte evocado nas cartas de Sêneca consiste em “viver a longa duração da vida como se fosse tão curta como um dia e viver cada dia como se a vida inteira nele coubesse”. Em outras palavras, significa dizer que a meditação na escola estoica era um meio de superação do medo da morte. Isso implica compreender que, no âmbito da problematização da ética, a meditação caracterizava uma modalidade específica de enfrentamento contra tudo o que relaciona o indivíduo a si mesmo e assegurava, desse modo, a condição humana. No curso de Hermenêutica de sujeito, Foucault dá mostra dessa prática quando lembra das correspondências da meditação da morte evocada em certas cartas de Sêneca. Para o filósofo francês, elas são necessárias para compreender o significado dessa prática de meditação: “devemos estar, todas as manhãs, na infância da vida, mas viver toda a duração do dia como se a noite fosse o momento da morte”183.

Foucault, quando trata da questão da meditação, oferece uma prática semelhante a Marco Aurélio, mas um pouco mais satisfatória. Essa questão lembrada pelo filósofo francês e extraída da Carta 12 de Sêneca, o principal praticante de exercícios da morte na Antiguidade grega, para servir de compreensão do valor particular da meditação, é o exercício da morte ‘no momento de dormir’. Nessa carta, o estoico mostra ao aluno que, embora alguns achem durante o dia, a meditação consiste apenas em evocação de que estamos destinados a morrer, Sêneca aconselha que o aluno considere bom o dia que julgam ser mau. Esse conselho aparece em Foucault: ‘digamos com alegria, o semblante risonho: eu vivi184’.

Esta recomendação pode ser considerada de prática valorativa dos exercícios da meditação sobre a morte. Foucault apresentará o valor da prática dessa meditação, sustentando que a compreensão relativa aos exercícios da morte deve posicionar-se de maneira distinta em relação aos fatos da célebre meditação. Ou seja, Foucault amplia o valor da prática dos

182 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 611.

183 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 612.

184 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 612. “É o mesmo tipo de exercício no qual pensava Marco Aurélio quando escrevia que a perfeição moral requer que se passe cada dia como se fosse o último". Ele pretendia até mesmo que cada ação fosse feita “como se fosse a última”.

exercícios da morte, abrindo, em meio às verdades de fato, um novo campo hermenêutico: o olhar retrospectivo sobre a própria vida185.

Com isso, Foucault enfrenta as filosofias da moral greco-romana na Antiguidade. Aqui não é negada a proposta de Sêneca acerca da prática dos exercícios da morte - o que seria uma compreensão errada da meditação -, mas é firmada esta importância do meditar sobre a morte independentemente da aporia a qual está submetida permanentemente, porque se todo o ser humano está condenado e prestes a morrer, em mesmo instante e lugar, a meditação, ela mesma, pode provir do julgar, em seu valor próprio, cada uma das ações que se está cometendo. Não é necessário hesitar em falar de meditação sobre a morte como o maior dos infortúnios. É por isso que se pode dizer que o morrer obedece, como nenhum outro sentido, a lógica de bios (vida), um termo de origem grega que tem relação com o ser vivo, conceito central na biologia que faz o homem pensar na lei do vivente, a vida - a morte186.

Foucault reivindica a prática dos exercícios da morte, fundamento do cuidado do outro, mas como acesso direto de si mesmo. Esta é a solução proposta por Foucault: porque, com este acesso direto, acontece com a prática da meditação, então urge pensar que a morte diz respeito não apenas a todos os seres humanos por serem mortais, mas ele propõe que a morte de qualquer homem depende de sua ocupação na prática de exercícios da meditação da morte:

“Na carta 26, escreve Sêneca: É na morte que me darei conta do progresso moral que terei podido fazer. Espero o dia em que serei juiz de mim mesmo e saberei se minha virtude está nos lábios ou no coração”187. Foucault poderia ter compreendido o valor da meditação como uma atividade básica do ser humano, evitando, assim, excluir qualquer homem a ocupar- se de si através da prática da meditação. É claro que esta recomendação de Foucault continuaria válida para todas as pessoas independentemente da sua idade, sexo ou profissão.

185 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 612.

186 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 612. A morte, dizia Epiteto, alcança o lavrador enquanto lavra, o marujo enquanto navega: “E tu, em que ocupação queres ser alcançado? E Sêneca considera o momento da morte como aquele em que, de algum modo, se poderá ser juiz de si mesmo e medir o progresso moral que se terá realizado até o último dia”.

187 FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982). Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 612.