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Tipos de síndromes maniformes

No documento Os Estados Passionais nos Homicídios (páginas 66-70)

4. Principais anomalias mentais susceptíveis de aplicação forense

4.2. Síndrome maniforme

4.2.1. Tipos de síndromes maniformes

4.2.1.1. Hipomania

A hipomania é a forma benigna ou atenuada da excitação maníaca, considerada a mais frequente. Esta perturbação é caracterizada pela elevação leve e persistente do humor, aumento da energia e actividade. Observam-se, frequentemente, sentimentos de marcado bem-estar, eficiência física e mental, sociabilidade aumentada, loquacidade, familiaridade excessiva. Ocorre também um aumento do interesse sexual, diminuição da necessidade de sono, contudo, não numa dimensão que conduza a uma perturbação grave do trabalho ou que induza rejeição social. A uma sociabilidade geralmente

128 Cf. PURIFICAÇÃO HORTA, CARLA ROBERTO, “Manual de Psiquiatria Clínica” (2008), pp. 596

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eufórica, pode coexistir irritabilidade e comportamento grosseiro. Todavia, as perturbações do humor e do comportamento não são acompanhadas por alucinações ou delírios.

A hipomania pode aparecer e manifestar-se por um acesso como a mania típica, transitório e geralmente precedido por um ligeiro estado depressivo, ou pode surgir como acentuação de traços prévios da personalidade. Os instintos estão exaltados, podendo o maníaco ter excessos sexuais que o conduzem algumas vezes a situações delicadas do ponto de vista médico- legal. Tratam-se, geralmente, de pessoas extravagantes, com oscilações do humor que passam facilmente da alegria à tristeza, da irritabilidade à cólera. Não suportam a mais pequena oposição o que torna difícil conviver e trabalhar com elas. Ao mesmo tempo, têm um sentimento e energia incansáveis, de bem-estar, de saúde, de poder e de capacidade que tornam extremamente difícil a intervenção médica129.

4.2.1.2. Mania com sintomas psicóticos

Embora num acesso maníaco seja raro a coexistência do delírio e alucinações, nas manias com sintomas psicóticos podem aparecer experiencias delirantes associadas a uma desestruturação profunda da consciência. Os temas do delírio são principalmente de grandeza, de ciúme e, muito raramente, de perseguição. O delírio caracteriza-se, principalmente, pela mobilidade e falta de organização e estruturação dos temas sendo o conteúdo do delírio concordante com a perturbação tímica.

Em termos de Quadro Clínico, para além dos delírios ou alucinações poderão estar presentes excitação, actividade psicomotora excessiva e fuga de ideias, cuja gravidade torna incompreensível ou inacessível um padrão comunicacional normal130.

4.2.1.3. Mania sem sintomas psicóticos

O humor encontra-se desproporcionalmente elevado relativamente às circunstâncias do indivíduo, podendo variar de uma alegria despreocupada a uma excitação de difícil controlo. Esta elevação é acompanhada por um aumento da energia

129 Cf. J. C. DIAS CORDEIRO, “Psiquiatria Forense” (2008), p. 347.

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que conduz a um estado de hiperactividade com diminuição da necessidade de sono, facúndia aumentada, dificuldade em manter a atenção. Verifica-se também uma elevada auto-estima, com ideias grandiosas, e alguns comportamentos inadequados devido à perda das inibições sociais.

4.2.1.4. Mania sub-aguda ou furor maníaco

Caracteriza-se pela agitação psico-motora acompanha de turvação da consciência. O doente pode recusar alimentar-se, apresentando sinais orgânicos como desidratação, hipertermia; pode tornar-se violento e perigoso, pelo que é considerada uma situação de urgência psiquiátrica131.

4.2.1.5. Estados mistos maníaco-depressivos

Também designados de transtornos bipolares, caracterizam-se pela ocorrência de sintomas maníacos com sintomas de melancolia, com remissão total dos sintomas nos períodos inter-críticos.

4.2.1.6. Manifestações maniformes nas pe rturbações esquizofrénicas e esquizo-afectivas

O diagnóstico diferencial entre uma perturbação esquizo-afectiva e a esquizofrenia é, muitas vezes, difícil, caracterizando-se as primeiras por um inicio súbito e evoluindo os acessos para a remissão completa dos sintomas nos períodos inter- críticos e sendo, segundo os autores, de melhor prognóstico que a esquizofrenia. O quadro clínico da perturbação esquizo-afectiva apresenta sintomatologia alternadamente da linha esquizofrénica e afectiva (mania e depressão). A realidade e importância deste quadro é reconhecido por ARIETI, FREEMAN, KAPLAN e SADDOCK. “Nestes doentes existem oscilações do humor que variam entre o pólo depressivo e maníaco, assim como também apresentam elementos delirantes e alucinatórios, perturbações do

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Eu, acompanhados de desorganização da personalidade e alterações do pensamento e conduta que são tipicamente esquizofrénicas”132.

4.2.1.7. Manias crónicas

Está-se perante um comportamento maníaco crónico quando se verificam vários acessos de crises maníacas seguidas, num pequeno intervalo inter-crítico. Os acessos maníacos descritos classicamente são pouco frequentes, observando-se formas sintomatologicamente mais frustres que interrompem a sua evolução espontânea sob o efeito de uma terapêutica neuroléptica precoce, podendo, contudo, reaparecer mais frequentemente.

4.2.1.8. Manias sintomáticas

Estes tipos de manias são assim designadas porque surgem como uma manifestação da doença orgânica que lhes é subjacente. Deste modo temos: manias na demência senil e pré-senil, manias farmacogénicas, manias pós-traumaticas, manias nas neoplasias, e manias nas síndromes endócrinas.

Nas manias desencadeadas por demência senil ou pré-senil, é devido a perturbações de nutrição da célula nervosa por causa vascular, ou por auto- intoxicação consequente da insuficiência de diversos órgãos, que ocorre em pessoas idosas acessos maníacos, mais ou menos típicos, que evoluem posteriormente para a demência.

Nas manias farmacogénicas, existem vários medicamentos que podem provocar estados de mania e a sua supressão nem sempre é suficiente para atenuar o quadro maníaco. A cortisona, a cicloserina, o álcool, a cocaína, as afetaminas, o haxixe, podem provocar quadros típicos de mania. Por esse motivo, é importante que no decurso da terapêutica dos estados melancólicos com anti-depressivos, se esteja especialmente atento pois, normalmente, ocorre a clássica inversão do humor depressivo em humor eufórico.

As manias pós-traumaticas verificam-se quando os traumatismos cranianos evoluem para um estado maniforme ou para um estado de demência pós-traumática. Já as manias que se verificam nas neoplasias surgem, principalmente, nos tumores do

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diencéfalo e região hipotalâmica, caracterizando-se, principalmente, pelo humor disfórico onde predomina a agressividade e a cólera.

Finalmente, encontramos numerosos casos de manias que estão ligados a síndromes endócrinas. No hipertiroidismo, nas alterações hipófisárias e supra-renais podem aparecer síndromes maníacas, sendo também frequentes no decurso de tratamentos com corticoesteróides133.

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