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A REPRESENTAÇÃO DOS PERSONAGENS NA LITERATURA E NO CINEMA

No documento NOVOS TEMPOS, MESMAS HISTÓRIAS (páginas 170-176)

A análise comparativa tem início com uma breve relação dos trechos que descrevem os personagens no romance e nas cenas do filme:

a) Liesel Meminger: “Seu cabelo era um tipo bem próximo do louro alemão, mas seus olhos eram perigosos. Castanhos-escuros. Ninguém gostaria realmente de ter olhos castanhos-escuros na Alemanha daquela época” (ZUSAK, 2013, p.

32). Na adaptação ao cinema, a personagem é vivida pela atriz canadense Sophie Nélisse, que faz uma Liesel forte e delicada, mais delicada que a personagem do livro.

Uma diferença física importante é a cor dos olhos. No longa, a personagem tem olhos

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Scripta Alumni - Uniandrade, n. 13, 2015.

claros, contudo, não há qualquer explicação por parte do roteirista Michael Petroni e do diretor Brian Percival a respeito dessa importante mudança.

Figura 1: Liesel Meminger

Disponível em: <https://tequiladiaria.wordpress.com/2014/01/15/a-menina-que-roubou-o-meu-coracao/>

b) Hans Hubermann: “(…) um homem muito alto saiu da casa”

(ZUSAK, 2013, p. 29); “Ele adorava fumar. O que mais gostava no fumo era de enrolar os cigarros. Tinha ofício de pintor de paredes e tocava acordeão” (p. 33). Na adaptação cinematográfica Hans não aparece em momento algum fumando ou enrolando cigarros e não há menção do diretor com relação a essa evidente mudança. Já no romance há a descrição frequente desse hábito. Observa-se, inclusive, que, no livro, a primeira conversa entre Liesel e Hans é sobre a forma de enrolar cigarros: “- Sabe enrolar cigarros? – perguntou à menina, e durante mais ou menos um hora os dois ficaram sentados no poço crescente de escuridão, brincando com o tabaco e os papéis dos cigarros, que Hans Hubermann ia fumando” (p. 33). Na adaptação, a aproximação se dá pelo olhar afetuoso de Hans, por sua mão estendida, pelo apelido dado por ele à Liesel (ele a chamava de majestade) e pela apresentação da rua Paraíso à menina.

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Figura 2: Hans Hubermann

Disponível em: <http://jthiemereading.blogspot.com.br/2014/11/the-book-thief-part-one-saumensch.html>

c) Rosa Hubermann: “(…) parecia um pequeno guarda-roupa com um casaco jogado por cima. Havia em seu andar um gingado muito distinto. Ela era quase engraçadinha” (ZUSAK, 2013, p. 29).

Rosa tinha um metro e cinquenta e cinco de altura e prendia os fios castanhos acinzentados do cabelo elástico num coque. Para complementar a renda do Hubermann, lavava e passava roupa para cinco famílias mais ricas de Molching. Sua comida era atroz. Ela realmente possuía a habilidade singular de irritar quase todas as pessoas que encontrava. Mas realmente amava Liesel Meminger.

(ZUSAK, 2013, p. 34)

Rosa Hubermann, vivida por Emily Watson, na adaptação, também é forte, dura, mantém a disciplina e o respeito dentro de casa e ainda é a responsável pelo sustento da família nos tempos da guerra, exatamente como livro. Rosa, nas duas obras, tem um difícil convívio com a filha adotiva e com o marido Hans. As responsabilidades da mãe, de cuidar da casa e de prover a família, mostram uma dura realidade.

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Figura 3: Rosa Hubermann

Disponível em: <http://mercedesazzoparde.weebly.com/the-book-thief-blog/character-sketch-rosa-hubermann>

d) Rudy Steiner: “(…) o garoto da casa ao lado, que era obcecado com o atleta negro norte-americano Jesse Owens” (ZUSAK, 2013, p. 42); “Ele era oito meses mais velho que Liesel e tinha as pernas ossudas, dentes afiados, olhos azuis esbugalhados e cabelos cor de limão. Estava permanentemente com fome. Na rua Himmel, era considerado meio maluco” (p. 46). No longa, Rudy, vivido por Nico Liersch, é também um garoto divertido e apaixonado por esportes, que sonha em ser como o atleta norte-americano Jessie Owens e insiste, desde o momento em que conhece Liesel, por um beijo na boca. O beijo somente acontecerá, nas duas obras, após a morte de Rudy, pois é nesse momento que Liesel percebe o quanto ama o seu melhor amigo e o beija com suavidade:

Inclinou-se, olhou para o seu rosto sem vida, e então beijou a boca de seu melhor amigo, Rudy Steiner, com suavidade e verdade. Ele tinha um gosto poeirento e adocicado. Um gosto de arrependimento à sombra do arvoredo e na penumbra da coleção de ternos do anarquista. Liesel beijou-o demoradamente, suavemente, e quando se afastou, tocou-lhe a boca com os dedos. (ZUSAK, 2013, p. 466)

Rudy também é o responsável pelo título do livro, quando chama Liesel de roubadora de livros.4

4“Boa noite, roubadora de livros. Era a primeira vez que Liesel se via marcada por seu título, e não pode esconder que isso lhe agradou muito. Como nós sabemos, ela já tinha furtado livros, mas no fim de outubro de 1941 a coisa se tornou oficial. Nesta noite, Liesel Meminger transformou-se verdadeiramente na menina que roubava livros” (ZUSAK, 2013, p. 258).

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Figura 4: Rudy Steiner

Disponível em: <http://lemoncoloredhair.tumblr.com/post/77603162655/im-not-ready>

e) Ilsa Hermann - a esposa do prefeito - tem um papel de grande importância no incentivo à leitura da garota. “Um roupão de banho atendeu à porta.

Dentro dele, uma mulher de olhar assustado, cabelos que pareciam lanugem e uma postura de derrota postou-se diante da menina” (ZUSAK, 2013, p. 41); “E Frau Hermann, a mulher do prefeito, parada com seu cabelo fofo e toda trêmula no vão enorme e frio da porta. Sempre calada. Sempre sozinha. Nem uma palavra, nem uma vez” (p. 85). São poucos os momentos em que Ilsa Hermann aparece fora de casa e sem o roupão de banho, constantemente descrito por Liesel:

Foi estranho para Liesel vê-la sem o roupão de banho. O vestido de verão era amarelo, com debrum vermelho. Havia um bolso com uma florzinha. Nada de suásticas. Sapatos pretos. Até então, a menina nunca havia notado as canelas de Ilsa Hermann. A mulher tinha pernas de porcelana. (ZUSAK, 2013, p. 454)

Na adaptação para o cinema, Ilsa Hermann aparece de forma superficial em relação ao livro. Mas, como ocorre em toda adaptação, algumas passagens e acontecimentos sempre são cortados. Já, no romance, a esposa do prefeito, sem essa vírgula tem papel fundamental na leitura e no desenvolvimento de Liesel. Por diversas vezes, Liesel rouba livros na biblioteca de Ilsa, com seu consentimento.

A atriz Barbara Auer aparece em várias cenas de roupão branco, exatamente como na descrição do livro, e seus cabelos estão sempre presos em uma trança baixa.

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Figura 5: Ilsa Hermann

Disponível em: <http://jacobandmatthew.weebly.com/8-point-projects.html>

f) Max Vandenburg: “Em 1940, quando Max chegou à cozinha da rua Himmel, número 33, tinha 24 anos. Sua roupa parecia vergá-lo com o peso, seu cansaço era tamanho” (ZUSAK, 2013, p. 168). Max, o judeu refugiado no porão dos Hubermann, é um dos portos seguros de Liesel e passa boa parte de seus momentos inerte, doente e ouvindo a menina ler os livros roubados da biblioteca de Ilsa Hermann:

Com as cortinas bem cerradas, ele dormia no chão, com uma almofada sob a cabeça, enquanto o fogo ia apagando e se transformava em cinzas.

De manhã, voltava para o porão.

Um ser humano sem voz.

O rato judeu, de volta a sua toca. (ZUSAK, 2013, p. 193)

Na adaptação, Max, vivido por Ben Schnetzer, encontra refúgio no porão de Hans e Rosa incentiva a leitura da garota, mas, no longa, ele não tem impacto tão profundo sobre a protagonista como Hans e Ilsa. A relação que ele tem com Liesel é pouco explorada e o desenvolvimento dele é superficial, em razão de várias passagens importantes terem sido deixadas de lado, no filme.

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Figura 6: Max Vandenburg

Disponível em: <http://www.conversandocomalua.com/2014/01/filme-menina-que-roubava-livros-resenha.html>

No documento NOVOS TEMPOS, MESMAS HISTÓRIAS (páginas 170-176)