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O ROMANTISMO

No documento NOVOS TEMPOS, MESMAS HISTÓRIAS (páginas 140-143)

No século XIX, o Romantismo é o novo movimento literário no mundo, trazendo grandes mudanças e inovações em todos os setores da arte. O

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Scripta Alumni - Uniandrade, n. 12, 2014.

movimento passa a designar a visão do mundo (con)centrada no indivíduo, representando um tempo de desamparo, solidão e utopia para as pessoas, criando um clima propício ao sonho e a fantasia. No Brasil, é a manifestação essencial para a consolidação da literatura brasileira, que se volta para a terra e para o regionalismo (o culto ao índio ou “bom selvagem”) com o propósito de institucionalizar a literatura. Nesse contexto, a vasta produção indianista de José de Alencar dominou o pensamento intelectual da época, representando a primeira fase do movimento. Na segunda fase, a literatura registra as frustrações do mundo “real”, retrata dramas humanos e amores trágicos, bem como desejos utópicos. O desejo de fugir da realidade é expresso na segunda fase do romantismo pelos autores “ultrarromânticos” que, no Brasil, adicionam mais elementos ao gótico: amor doentio, melancolia, fascínio pela morte, depressão, satanismo, egocentrismo, pessimismo, escapismo, rebeldia, irreverência, vícios, erotismo e ironia. Rompe com as amarras do convencional, cria uma nova “realidade” e se instala uma nova cultura.

No cenário de autores nacionais, Álvares de Azevedo se sobressai com a eloquência de suas obras, dentro do curto período de tempo em que vive. Morre com 20 anos de idade, vítima de tuberculose, mas deixa uma vasta obra literária de grande expressividade. A obra de Álvares de Azevedo é marcada pela subjetividade, individualidade, espírito criativo e pelo grotesco (CAVALCANTE, 2007, p. 16). O autor foi adepto do “mal do século” – termo muito utilizado para indicar a evasão da realidade, culto à morte como solução para os problemas, pessimismo e escapismo. Ele encarna o espírito de transgressão às normas e a fascinação pelo mal, enquanto temática literária num período de grande florescimento literário no Brasil (p. 18).

O Romantismo tem na mulher amada e idealizada a tônica de suas obras. Elas levam o homem ao desespero, porque o amor era considerado tão inalcançável como a felicidade.

A mulher idealizada por Álvares de Azevedo transita entre a deusa e a prostituta, numa busca obsessiva pela mulher ideal, que tanto pode ser a deusa, ou a prostituta. Todavia há outros elementos norteadores da obra. O Amor que se divide entre o carnal e o espiritual, mas é sempre aquele que destrói. A morte é outro elemento, pois está ligado ao amor. Eros e Tanatos são faces antagônicas da mesma moeda. A morte é a solução para a dor de uma vida infeliz. O vinho está ligado a Dionísio, as orgias, as bacanais. O vinho favorece o sonho, a loucura e dá força ao personagem. O fumo também aparece como potencializador das faculdades intelectuais. A imortalidade da alma é vista no caso do suicídio, pois elucidaria a possibilidade do amor eterno. Deus e Lúcifer – a dualidade, aceitação e negação. Poesia que se expressa entre o eu e o mundo. Epicurismo que se vislumbra pelo prazer total, o carpe diem. (CAVALCANTE, 2007, p. 11)

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O Brasil sempre foi grande apreciador da literatura estrangeira e não se impressiona com os nossos autores fantásticos. É importante frisar que na publicação de Noite na taverna não houve informação quanto ao gênero da obra, porém com a inserção do subtítulo Contos phantasticos na edição portuguesa, os contos passaram a ser considerados fantásticos. Na tradição crítica do passado, não se contemplou o fantástico no Brasil ou o horror na literatura brasileira, porque a ideia vigente na época era promover, como mencionamos anteriormente, a literatura indianista de José de Alencar, cujos textos pregavam a identidade nacional, por meio de uma prosa romântica (MENEZES, 2014, p. 15).

Atualmente o panorama é diferente. Muitos estudos têm se voltado para a obra fantástica e/ou gótica de Álvares de Azevedo, elucidando o gênero literário ao qual ela pertence. Tradutor de Lord Byron, Azevedo desenvolve, em suas obras, temas do poeta inglês no Brasil. Byron manifesta irreverência, rebeldia, transgressão, insatisfação, ironia e propaga a ideia de morte, suicídio, além de cultuar a noite, o erotismo e as orgias. Álvares de Azevedo é “o protótipo do byronismo na literatura brasileira” (MOISÉS, citado em MENEZES, 2014, p. 18), pois sua obra é marcada pelo sarcasmo, cinismo e desvario. O byronismo, muito mais que um termo recorrente na literatura ocidental, representa uma postura. A influência de Byron é avassaladora na estética (poesia e prosa) de Azevedo e suas personagens apresentam-se como as dele:

demoníacas, belas, violentas, com sentimentos atrozes, grotescas, dramáticas, pessimistas, desencantadas, rodeadas por uma vida desregrada e embriagada. Os temas do amor e da morte são levados ao extremo, como resultado de um erotismo exacerbado.

Na obra Noite na taverna, cinco pessoas se reúnem numa taverna, relatando antigos casos amorosos em meio ao vinho e culto ao prazer total. São elas:

Solfieri, Bertram, Gennaro, Hermann e Johan, abordando temas como: antropofagia, obsessão, fraticídio, incesto e suicídio. Esses contos formam uma “novela negra”

(romance policial ou de mistério), sendo considerados “preciosa página original, conto fantástico, único em nossas letras, situado entre o horror de Poe e Hoffmann e a perversão de Byron e Baudelaire” (PEIXOTO, citado em MENEZES, 2012, p. 8). São considerados como “uma série de contos satânicos, fantásticos delirantemente românticos, encadeados em uma novela” (ALVES, 2004, p. 9). A verdade é que Noite na taverna recebe uma variedade de adjetivos quanto ao gênero. Foi chamada de fantástica, sobrenatural, macabra, gótica e, assim sendo, difícil de ser caracterizada tanto pela forma quanto pela temática (MENEZES, 2012, p. 16).

Em A fundação da literatura brasileira em Noite na taverna comenta- se que a obra passou a ser vista como ultrarromântica ligada ao “mal do século”, porém ela é mais que isso, é a primeira obra do “fantástico brasileiro”, bem como ambientada em lugares sombrios e precursora da literatura de horror (ALVES, 2014, p. 119). Alves acrescenta que a obra “é um estudo metaliterário que oferece uma concepção nacionalista contrária ao indianismo predominante da época, através de uma arte

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subjetiva e universal” (ALVES, 2014, p. 145). Noite na taverna é considerada como verdadeira expressão do “maldo século”:

Álvares de Azevedo, absorto no pensamento da morte, só se preocupava com o lado noturno: as sombras, o crepúsculo, a noite, os túmulos. Parecerá por isso absurdo e artificial. Mas, se algumas influências o arrastaram a esse ambiente de noturnidade, congenial às criações do elemento gótico, não fizeram mais que reforçar um estado de espírito anterior e que, sem mais sugestões, haveria de afirmar-se com as mesmas e sombrias tendências por um imperativo inelutável, que consistiu na índole de sua própria imaginação. (MENEZES, 2012, p. 9)

No documento NOVOS TEMPOS, MESMAS HISTÓRIAS (páginas 140-143)