EFEITOS DO TIOTIXENE (P-4657 B) EM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES PSICÓTICOS
E D Y S. NAVARRO* CARLOS A . F O N S E C A * * ENEIDA BAPTISTETE * JULCIR M . R . P E N N A * MIRIAM V . SALDANHA * * * CACILDA C . DOS SANTOS *
E m trabalho a n t e r i o r6
estudamos o efeito do tiotixene em 11 crianças e adolescentes esquizofrênicos e consideramos os resultados obtidos como sa-tisfatórios p a r a justificar o e m p r e g o da droga. Resolvemos, por isso, pros-seguir na experimentação deste novo neuroléptico com doses mais elevadas (15 a 70 m g / d i a ) e com maior número de pacientes em sua maioria com psicose esquizofrênica. Os resultados obtidos v i e r a m confirmar aqueles an-teriormente registrados ^6
.
A o s casos j á registrados em t r a b a l h o a n t e r i o r6
(11 pacientes esquizofrênicos e de idade v a r i á v e l d e 9 a 16 anos, c o m o u sem t r a t a m e n t o p r é v i o ) acrescentamos 23 pacientes de a m b o s os sexos, de i d a d e v a r i á v e l entre 7 a 16 anos, dos quais apenas 6 j á h a v i a m feito outro t r a t a m e n t o . N o q u a d r o 1 f i g u r a m dados relativos à identificação, idade dos doentes, tempo d e doença, diagnóstico, tratamentos a n -teriores, d u r a ç ã o do t r a t a m e n t o pelo tiotixene, doses e m p r e g a d a s e resultados nos 34 casos estudados.
N o s pacientes j á tratados p o r outros medicamentos, h o u v e i n t e r v a l o mínimo de 15 dias entre o último t r a t a m e n t o e o início d a a d m i n i s t r a ç ã o do tiotixene.
P r o v a s l a b o r a t o r i a i s ( h e m o g r a m a , p r o v a s de função hepática, e x a m e de urina e e l e t r e n c e f a l o g r a m a ) f o r a m feitas antes, d u r a n t e a a d m i n i s t r a ç ã o d a dose m á x i m a e depois do t r a t a m e n t o ; foi feito controle diário de pulso, pressão a r t e r i a l e tem-p e r a t u r a ; o tem-peso foi controlado semanalmente.
A dose inicial de tiotixene foi 3 m g diários, sendo a u m e n t a d a de 3 m g c a d a três dias a t é a t i n g i r 15 m g p o r d i a . A dose m á x i m a v a r i o u de acordo com a resposta clínica obtida (15 a 70 m g por d i a ) . N ã o f o r a m u s a d a s o u t r a s d r o g a s antipsicóticas d u r a n t e o tempo e m q u e d u r o u este estudo. N o s casos em q u e os sintomas e x t r a p i r a m i d a i s f o r a m mais evidentes foi a d m i n i s t r a d a p e q u e n a dose de d r o g a a n t i p a r k i n s o n i a n a .
O tempo de t r a t a m e n t o v a r i o u entre 8 a 20 semanas, de acordo com a res-posta de c a d a caso. D u r a n t e o t r a t a m e n t o os pacientes f o r a m e x a m i n a d o s d i a r i a m e n t e p a r a a v a l i a ç ã o dos efeitos clínicos d a d r o g a .
Consideramos os resultados de a c o r d o c o m a s seguintes g r a d a ç õ e s : ótimo, q u a n d o ocorreu total remissão d a sintomatologia psíquica; bom, q u a n d o h o u v e
M A T E R I A L E M É T O D O S
m e l h o r a da s i n t o m a t o l o g i a psíquica que, entretanto, n ã o podia ser o b s e r v a d a em todos os sintomas que o paciente a p r e s e n t a v a ( r e m i s s ã o s o c i a l ) ; discreto, q u a n d o a m e l h o r a a t i n g i a poucos sintomas ( r e m i s s ã o p a r c i a l ) ; inalterado, q u a n d o não h a v i a q u a l q u e r m e l h o r a da s i n t o m a t o l o g i a ; piorado, q u a n d o o q u a d r o psí-quico se a g r a v o u a p e s a r do t r a t a m e n t o *.
R E S U L T A D O S
Os resultados quantitativos constam dos q u a d r o s 2 e 3.
Os resultados q u a l i t a t i v o s constam dos q u a d r o s 4, 5 e 6.
Análise dos resultados quanto aos exames de laboratório — O h e m o g r a m a , as
p r o v a s de função hepática e o e x a m e de u r i n a n ã o r e v e l a r a m antes, d u r a n t e e depois do t r a t a m e n t o q u a l q u e r a l t e r a ç ã o significativa.
N ã o houve a l t e r a ç ã o dos e x a m e s eletrencefalográficos e m 30 pacientes. E m um caso em que h a v i a paroxismos de ondas lentas atípicas (espicula-onda lenta a t í p i c a ) antes do tratamento, os traçados d u r a n t e e depois d o u s o d a d r o g a f o r a m normais, tendo a paciente permanecido inalterado e m s u a sintomatologia ( c a s o 5 ) . E m outro (caso 6 ) com e l e t r e n c e f a l o g r a m a n o r m a l antes d o tratamento, o t r a ç a d o passou a r e v e l a r a n o r m a l i d a d e s ( f o c o temporal direito, ondas "sharp") d u r a n t e e depois do u s o do tiotixene; é importante a s s i n a l a r q u e esta paciente j á h a v i a tido crises convulsivas na infância e q u e voltou a apresentá-las d u r a n t e e depois do uso d o tiotixene, fato q u e coincidiu com a m e l h o r a do q u a d r o psicótico. E m u m terceiro paciente (caso 13) o e l e t r e n c e f a l o g r a m a e r a a n o r m a l anteriormente
( o n d a "sharp" n a r e g i ã o temporal e s q u e r d a ) ; d u r a n t e o t r a t a m e n t o o t r a ç a d o normalizou-se e, após o tratamento, o t r a ç a d o passou a r e v e l a r ondas "sharp" e m a m b a s a s regiões temporais, coincidindo com m e l h o r a d a sintomatologia do paciente. F i n a l m e n t e e m u m q u a r t o caso ( c a s o 19) o e l e t r e n c e f a l o g r a m a anterior ao tratamento e r a n o r m a l ; d u r a n t e e depois do uso d a d r o g a , revelou disritmia paroxística bilateral síncrona; este paciente n ã o obteve benefício com o tratamento.
R E S U M O E C O N C L U S Õ E S
F o r a m estudados os e f e i t o s d o t i o t i x e n e ( P - 4 6 5 7 B ) e m 34 crianças e adolescentes psicóticos dos quais '29 e r a m esquizofrênicos, t e n d o 17 deles m e -nos d e u m a n o de t e m p o de doença e 12 m a i s de u m ano de doença. F o r a m obtidos bons r e s u l t a d o s e m 20 casos c o m nítida m e l h o r a na s i n t o m a t o l o g i a psíquica. O s e f e i t o s c o l a t e r a i s f o r a m d e pequena intensidade. O s e x a m e s subsidiários ( h e m o g r a m a , p r o v a s de função h e p á t i c a e e l e t r e n c e f a l o g r a m a ) n ã o r e v e l a r a m a l t e r a ç õ e s s i g n i f i c a t i v a s .
A s s i m o t i e t i x e n e c o n f i r m o u sua a t i v i d a d e antipsicótica n ã o só nos casos e m que f o i o p r i m e i r o t r a t a m e n t o i n s t i t u í d o c o m o t a m b é m e m alguns p a c i e n tes q u e t i n h a m sido t r a t a d o s c o m o u t r a s d r o g a s antipsicóticas s e m r e s u l t a -dos s a t i s f a t ó r i o s . F o i assinalado e f e i t o n í t i d o sôbre o a p r a g m a t i s m o e o e m b o t a m e n t o a f e t i v o . O c o r r e u a ç ã o s e d a t i v a nas a g i t a ç õ e s p s i c o m o t o r a s d e v e n d o - s e s a l i e n t a r q u e o r e s u l t a d o p o s i t i v o se f e z quase s e m p r e s e n t i r c o m dose m í n i m a ( 5 — 10 m g / d i a ) j á nos p r i m e i r o s dias de t r a t a m e n t o . F o i ó t i m a a t o l e r â n c i a a o m e d i c a m e n t o . Os e f e i t o s c o l a t e r a i s f o r a m m í n i m o s .
S e n d o a esquizofrenia e m crianças e adolescentes de d i f í c i l t r a t a m e n to, a e x i s t ê n c i a desta n o v a d r o g a é, na o p i n i ã o dos autores, u m a u t i l c o n t r i -buição p a r a sua t e r a p ê u t i c a .
S U M M A R Y
Effects of thiothixene (P-4657 B) in psychotic children and adolescents.
T o l e r a n c e has been v e r y g o o d and side e f f e c t s m i n i m u m . S u b s i d i a r y e x a
-m i n a t i o n s ( h e -m o g l o b i n l e v e l and l e u c o c y t e count, tests f o r e v a l u a t i o n o f
the f u n c t i o n a l s t a t e o f t h e l i v e r and e l e c t r o e n c e p h a l o g r a m ) w e r e n o r m a l .
T h e t h i o t h i x e n e w a s o b s e r v e d t o h a v e an a n t i p s y c h o t i c e f f e c t w h e n used
as the f i r s t t r e a t m e n t , as w e l l as w h e n t h e p a t i e n t had a l r e a d y been t r e a t e d
w i t h o t h e r a n t i p s y c h o t i c drugs w i t h o u t s a t i s f a c t o r y result. R e m a r k a b l e
e f f e c t s w e r e n o t i c e d on a p r a g m a t i s m and e m o t i o n a l b l u n t i n g . S e d a t i v e
e f f e c t w a s o b s e r v e d o n crises of p s y c h o m o t o r i n s t a b i l i t y . P o s i t i v e result,
w e r e a l m o s t a l w a y s n o t i c e d w i t h m i n i m u m dosage ( 5 — 10 m g p e r d a y )
in t h e e a r l y s t a g e of t r e a t m e n t .
R E F E R Ê N C I A S
1. S I M P S O N , G . M . & I Q B A L , J . — A p r e l i m i n a r y s t u d y o f t h i o t h i x e n e i n c h r o n i c s c h i z o p h r e n i c s . C u r r . T h e r a p . R e s . 7:697-700, 1 9 6 5 .
2 . S I G N O R I N I , J . ; V I E I R A , N . C . ; A S S I S , L . M . & M A R T I N S , C. — E n s a i o c l í n i c o c o m n o v o p s i c o t r ó p i c o ( P - 4 6 5 7 B ) e m p a c i e n t e s h o s p i t a l i z a d o s . A r q . N e u r o ¬ P s i q u i a t . ( S ã o P a u l o ) 25:124-129, 1 9 6 7 .
3 . S U G E R M A N , A . A . ; S T O L B E R G , J . & H E R R M A N N , J . — A p i l o t s t u d y of P-4657B i n c h r o n i c s c h i z o p h r e n i c s . C u r r . T h e r a p . R e s . 7:310-314, 1965.
4 . G A L L A N T , D . M . ; B I S H O P , M . P . ; T I M M O U S , E . & G O U L D , A . R . — T h i o t h i x e n e ( P 4 6 5 7 B ) : a c o n t r o l l e d e v a l u a t i o n in c h r o n i c s c h i z o p h r e n i c s p a -t i e n -t s . C u r r . T h e r a p . R e s . 8:153-158, 1966.
5. D E L A Y , J . ; D E N I K E R , P . ; G I N E S T E T , D . ; P E R I E R , M . ; P E I O N M A O N A N , P . & D A L L E , B . — A v a l i a t i o n c l i n i q u e p r e c o c e d'une n o u v e l l e f o r m u l e n e u r o ¬ l e p t i q u e : l e t h i o t h i x e n e . A n . M é d . - P s y c h o l . 2:192-202, 1966.
6. B A P T I S T E T E , E . ; N A V A R R O , E . S . ; P E N N A , J . M . R . ; F O N S E C A , C . A . ; D ' A G O S T I N H O , E . & M A R T I N S , C . — E m p r ê g o d o t i o t i x e n e e m c r i a n ç a s e a d o l e s c e n t e s e s q u i z o f r ê n i c o s : a v a l i a ç ã o c l í n i c a . R e v . b r a s . P s i q u i a t . 1: 52-59, 1 9 6 7 .
