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O cuidado a saúde materna no Brasil e o resgate do ensino de obstetrizes para assistência ao parto.

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Academic year: 2017

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O CUI DADO A SAÚDE MATERNA NO BRASI L E O RESGATE DO ENSI NO DE OBSTETRI ZES

PARA ASSI STÊNCI A AO PARTO

Mir iam Apar ecida Bar bosa Mer ighi1 Dulce Mar ia Rosa Gualda2

Os aut or es fazem um a br ev e análise da sit uação do cuidado a saúde m at er na no Br asil, e com base nesses d ad os, ap on t am as t r an sf or m ações n o m od elo d e assist ên cia à m u lh er e às f am ílias e p r op õem alg u m as m edidas, as quais inclui a inserção do t rabalho da enferm eira obst ét rica ou obst et riz no cont ext o at ual. Com ent am qu e a t en dên cia at u al do pr ocesso de n ascim en t o pr essu põe a in cor por ação do par adigm a qu e f av or ece a fisiologia e a valorização da experiência fem inina, a abordagem cent rada na fam ília, com ênfase na prevenção, ed u cação e r elacion am en t o in t er p essoal, sem d eix ar d e lad o a seg u r an ça. Con sid er am q u e o m od elo d e cuidado à saúde, que inclui o t r abalho da obst et r iz, pode m elhor ar os indicador es de saúde m at er na.

DESCRI TORES: enfer m agem obst ét r ica; obst et r iz; assist ência a saúde

MOTHERS’HEALTH I N BRAZI L AND RECOVERI NG THE TRAI NI NG OF MI DW I VES FOR CARE

I N THE BI RTH PROCESS

The aut hor s br iefly analy ze t he sit uat ion of m at er nal healt h car e in Br azil and, based on t heir findings, t hey com m ent t hat t her e have been t r ansfor m at ions in t he healt h car e m odel for w om en and fam ilies and pr opose som e m easur es, including r ecov er y of t he w or k of t he obst et r ic nur se or m idw ife ( obst et r iz, in Por t uguese) . They com m ent t hat w om en car e t endencies in t he deliv er y pr ocess pr esuppose incor por at ion of t he par adigm of im pr ov in g t h e ph y siology of v alu in g w om en ’s ex per ien ce, t h e appr oach t o t h e fam ily , h ealt h adv ice t h at pr ior it izes pr ev en t ion , edu cat ion an d r elat ion sh ips, w it h ou t ign or in g saf et y . Th ey appoin t t h at bu ildin g t h is healt h car e m odel, w hich includes t he w or k of t he m idw ife, m ay im pr ov e m at er nal healt h indicat or s.

DESCRI PTORS: obst et r ical nur sing; m idw iv es; deliv er y of healt h car e

EL CUI DADO DE LA SALUD MATERNA EN EL BRASI L Y EL RESCATE DE LA ENSEÑANZA DE

OBSTETRI CES PARA LA ATENCI ÓN DEL PARTO

Los aut ores hacen un breve análisis de la sit uación del cuidado de la salud m at erna en el Brasil, y con base en su s h allazg os, se d ir eccion an a las t r an sf or m acion es d el m od elo d e at en ción a la m u j er y su s f am ilias y proponen algunas m edidas que incluyen la inserción del t rabaj o de la enferm era obst ét rica o de la obst et riz en el cont ex t o act ual. Com ent an sobr e la t endencia act ual del cuidado m at er no en el pr oceso del nacim ient o el cu al pr esu pon e la in cor por ación del par adigm a qu e fav or ece la fisiología y la v alor ización de la ex per ien cia fem enina, el abor daj e cent r ado en la fam ilia con énfasis en la pr ev ención, educación y r elación int er per sonal sin dej ar de lado la segur idad. Consider an que el m odelo del cuidado de la salud que incluye el t r abaj o de la obst et r iz, puede m ej or ar los indicador es de salud m at er na.

DESCRI PTORES: enfer m er ía obst ét r ica; m at r ona; pr est ación de at ención de salud

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I NTRODUÇÃO

N

o Br a si l , o s i n d i ca d o r e s d e sa ú d e

r e l a ci o n a d o s à a ssi st ê n ci a o b st é t r i ca sã o desencor aj ador es. Um a cadeia de event os ocasiona sua ocorrência, e a sua causalidade pode ser atribuída a car act er íst icas sócio cu lt u r ais e econ ôm icas d a população, polít icas de saúde, iniqüidade e exclusão. A t axa de m ort alidade m at erna é m uit o alt a. O uso a b u si v o d e ce sá r e a r e v e l a a si t u a çã o q u e t e m cont ribuído para a desum anização da assist ência, e o preparo e a atuação dos profissionais de saúde tem sido alvo de intensos debates. Nesta perspectiva, este ar t igo t em com o finalidade m ost r ar dados sobr e a saúde m aterna, apontar tendências para a assistência à saúde da m ulher durant e o período reprodut ivo e cont ext ualizar a cr iação de um cur so de obst et r ícia q u e p r iv ileg ie u m n ov o m od elo d e assist ên cia ao nascim ent o. Esses aspect os são discut idos em m ais profundidade nos it ens apresent ados abaixo.

Sit uação da assist ência à saúde m at erna no Brasil

A análise da sit uação da saúde m at erna no Br a si l m o st r a o g r a v e q u a d r o e p i d e m i o l ó g i co v i v en ci ad o p el as m u l h er es e seu s n eo n at o s e a fragilidade da assist ência prest ada à população.

As p olít icas q u e v êm sen d o ad ot ad as, os problem as de gerenciam ent o, a redução de verbas e d e p essoal , a f al t a d e m at er i al e m ed i cam en t os levaram ao sucateam ento da assistência. O pré- natal, quando existe, é inadequado. Não há garantia de vaga h osp it alar p or ocasião d o p ar t o. No p r ocesso d e n ascim en t o é p r iv ileg iad a a t ecn olog ia, a p r át ica m edicalizada, desper son alizada e in t er v en cion ist a, sendo que as t axas de cesárea são elevadíssim as, e os coeficientes de m ortalidade m aterna alarm antes( 1).

A m or t alid ad e m at er n a é o in d icad or q u e m elhor reflet e as condições de assist ência à m ulher d u r a n t e o p e r ío d o g r a v íd i co - p u e r p e r a l , p o i s, a int er v enção opor t una e adequada, poder ia ev it ar a m aioria dessas m ort es( 2).

D a d o s d e 1 9 9 7 m o st r a m q u e o Br a si l apr esen t a um ín dice de 1 1 0 m or t es m at er n as por 100. 000 nascidos v iv os, núm er os sem elhant es aos apr esent ados pelos países m ais pobr es da Am ér ica Lat ina( 2).

O coeficiente de m orte m aterna reflete, ainda, a desigualdade e a exclusão social no país. Os dados

ret rat am a iniqüidade e a realidade de cada região. Assi m , a s r e g i õ e s m e n o s f a v o r e ci d a s d o p a ís ap r esen t am u m m aior coef icien t e d e m or t alid ad e fem inina por causa m at erna. A região nort e, seguida pela região centro- oeste e nordeste, que são as m ais ca r e n t e s, sã o a s q u e a p r e se n t a m o s p i o r e s indicadores. As regiões sul e sudeste, que são as m ais desenvolvidas, são as que apresent am os m elhores dados( 3).

As pr incipais causas de m or t e m at er na são as sín d r o m es h i p er t en si v as, as h em o r r ag i as, as com plicações do abor t o e as infecções puer per ais, sen do con sider adas cau sas dir et as e in t im am en t e r e l a ci o n a d a s a o s f a t o r e s so ci o e co n ô m i co s, responsáveis por 89% das m ortes m aternas em nosso país( 4).

Um a ca d e i a d e e v e n t o s o ca si o n a su a o co r r ê n ci a . D e n t r e e l e s, p o d e m o s a p o n t a r : ca r a ct e r íst i ca s so ci o cu l t u r a i s e e co n ô m i ca s d a população; pat ologias próprias do est ado gravídico; estrutura fragm entada do sistem a de saúde onde cada qual atende de m odo estanque; ineficiência do sistem a d e r e f e r ê n ci a e co n t r a - r e f e r ê n ci a ; f a l t a o u m á d i st r i b u i ção d e l ei t o s d est i n ad o s ao s p ar t o s n as r e g i õ e s, o ca si o n a n d o su p e r l o t a çã o e m m u i t a s instituições; uso abusivo de tecnologia e intervenções obst ét r icas que fav or ecem a m or bidade; qualidade dos ser v iços de pr é- nat al que const it ui o pont o de est rangulam ent o da assist ência( 5).

Em r e l a çã o a o s p r o f i ssi o n a i s, e sp e ci f i ca m e n t e , o s b a i x o s sa l á r i o s t e n d e m a e st i m u l a r e a j u st i f i ca r o d e sco m p r o m i sso e a com ercialização da saúde. Falhas na form ação e as condições de t rabalho que propiciam um a assist ência b u r o cr a t i za d a ; a f a l t a d e h u m a n i za çã o d o a t e n d i m e n t o o n d e sã o p r i o r i za d a s r o t i n a s m a ssi f i ca n t e s e m d e t r i m e n t o d a a ssi st ê n ci a à s necessidades individualizadas; as hist órias de saúde-doença das m ulher es são desconsider adas e nov as t ecnologias subst it uem gradat ivam ent e a clínica.

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corrobora, conquanto que é resultado de um a prática a ssi st en ci a l , a s cesá r ea s n o Br a si l , cu j a s t a x a s con f ig u r am en t r e as m ais elev ad as d o m u n d o. O Est ado de São Paulo vem apresent ando nos últ im os quatro anos um a m édia de 50,3% de nascim ento por cesárea, sendo que, no Brasil, ocorreram 40,5% de nascim ent os por cesárea( 4).

Sit uação da área educacional

A análise da assistência à saúde m aterna no Br a si l m o st r a u m a si t u a çã o d e cr i se , e q u e o s problem as na área educacional não são m enores. Há um desm ant elam ent o do ensino em t odos os níveis, nos quais est á incluída a form ação dos profissionais de saúde. A educação desses profissionais não é um p r o ce sso i so l a d o , m a s r e l a ci o n a - se a e st r u t u r a econôm ica e social e est abelece relações com out ros vários processos, m ais int im am ent e com os cam pos de prát ica( 1).

A m aioria dos currículos das faculdades que pr epar am os pr ofissionais par a assist ência a saúde são b iocên t icos, sen d o q u e a ên f ase d o p r ocesso educat ivo é a doença, os procedim ent os t écnicos e a t ecn o l o g i a. Al ém d i sso , o am b i en t e o n d e o co r r e at iv idade de ensino de cam po não possibilit a um a prát ica hum anit ár ia.

É reconhecida a necessidade de reform ulação do m odelo da form ação dos profissionais da saúde, t endo em vist a a crise at ual no panoram a de saúde, t ant o na perspect iva quant it at iva, quant o qualit at iva. O processo saúde- doença passa pelo veio da com plex idade e da singular idade do v iv er hum ano d e m a n d a n d o n o v a p e r sp e ct i v a d e f o r m a çã o pr ofissional. Assim sendo, a t endência educacional at ual deve est ar paut ada no m odelo sociocênt rico.

Por out ro lado, a form ação dos profissionais de saú de n ecessit a t r ilh ar cam in h os em qu e est e espaço de aprendizado possa ut ilizar- se da art e para pr ov ocar m udanças na assist ência a fim de for m ar pessoas sensíveis e aptas a com preender a dim ensão do cuidado hum ano( 1).

No que se r efer e ao nascim ent o, o desafio está em com preender, resgatar e desvelar o processo com o acont ecim ent o singular, hum anizado, afast ando a despersonalização e as ações int ervencionist as( 6).

Tendência da assist ência à m ulher no pr ocesso de nascim ent o

A t en d ên ci a d a a ssi st ên ci a à m u l h er n o processo de nascim ent o pressupõe a valorização da ex p er i ên ci a d a m u l h er, a a b o r d a g em d a f a m íl i a enquant o núcleo social básico, e a orient ação para a saúde. Est a pode ocorrer, t ant o dent ro com o fora do con t ex t o h osp it alar, p r ior izan d o sem p r e asp ect os pr ev ent iv os, educat iv os e r elacionais do pr ocesso, sem que a segurança sej a deixada de lado.

As enferm eiras obst ét ricas e obst et rizes t êm f or m ação v olt ada par a est es aspect os, e os bon s result ados da assist ência são com provados em nível nacional e int ernacional( 7).

Qu a n t o à s o b st e t r i ze s, Sh e i l a Ki t zi n g e r ressalt a a sua im port ância ao longo da hist ória, nos diversos sist em as de saúde. Ao pesquisar sobre sua prát ica reconhece que na m aioria dos sist em as, est e pr ofissional, pr at icam ent e, desapar eceu. Com ent a, que em alguns locais lim it am - se a cum pr ir or dens m édicas, em out ros, sua at ividade é fragm ent ada e direcionada para o procedim ent o em si e não para a m ulher. Porém , nos locais onde atuam com autonom ia t em obt ido result ados perinat ais m uit o sat isfat órios e d e se m p e n h a d o p a p e l r e l e v a n t e n o se n t i d o d e m u d a n ça , e x a m i n a n d o p r á t i ca s o b st é t r i ca s u n i v e r sa l m e n t e a ce i t a s. Sa l i e n t a q u e f o r a m a s obst et rizes que conduziram as invest igações sobre a prática rotineira de tricotom ia do períneo, o enem a e a episiotom ia de rotina, contatando que estas práticas nem sem pre são benéficas, além de causar ext rem o desconforto às parturientes. Ainda, segundo a autora, e st u d o s co n d u zi d o s n a I n g l a t e r r a e n o s EUA dem on st r am qu e par t os assist idos por obst et r izes ap r esen t am ín d ices m en or es d e cesár ea, f ór cip e, indução e cont role elet rônico do foco, sendo que, o uso de m edicação é feit o com m enor int ensidade, e os bebês apresentam Apgar elevado e quase não são ent ubados( 8).

Frente a estas considerações acreditam os que a responsabilidade pelo at endim ent o do part o norm al possa ser t r ansfer ida par a as obst et r izes que t em f o r m a çã o m a i s co n d i ze n t e co m a p r á t i ca d e aco m p an h ar o p ar t o e d ei x ar a f i si o l o g i a at u ar, deix ando par a o m édico os casos que apr esent am r isco.

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e p ar t os n or m ais ( OMS, 1 9 9 6 ) . Est a ab or d ag em vislum bra o ingresso por m eio de m últ iplas ent radas para a form ação de profissionais para assist ência ao par t o nor m al. I nclui a at ual especialização par a as enfer m eir as obst ét r icas, após a conclusão do cur so de enferm agem , e a form ação em nível de graduação para as obst et rizes. Com base nessas considerações com eçou a ser discut ida a possibilidade de r esgat e da for m ação da obst et r iz, em nív el de gr aduação, p ar al el am en t e à esp eci al i zação em en f er m ag em obst ét r ica. Est a discussão com eçou em sem inár ios regulares da cat egoria e, int ernam ent e, na disciplina enfer m agem obst ét r ica, do Depar t am ent o Mat er no-I nfant il e Psiquiát r ica da Escola de Enfer m agem da Universidade de São Paulo.

Nest e sent ido considerou- se que as egressas dest es cursos deveriam t er o perfil e a com pet ência p a r a a co m p a n h a r o p r o ce sso f i si o l ó g i co d o nascim ento, contribuindo para a sua evolução natural, reconhecendo e corrigindo os desvios da norm alidade, e encam inhando aquelas que dem andem assist ência especializada. Além disso, t eriam o papel de facilit ar a participação da m ulher no processo do nascim ento, ca m i n h a n d o p a r a o m o d e l o f u n d a m e n t a d o n o s p r in cíp ios d a h u m an ização q u e, t am b ém seg u n d o nosso ent endim ent o, baseia- se em r espeit o ao ser hum ano, em pat ia, int ersubj et ividade, envolvim ent o, v ín cu l o , o f e r e ce n d o à m u l h e r e à f a m íl i a a possibilidade de escolha de acordo com suas crenças e valores cult urais.

A hum anização da assistência tam bém passa p e l a a p r e n d i za g e m d a s d i f e r e n t e s co n ce p çõ e s, v alor es e pr át icas cu lt u r ais associadas ao par t o e n ascim en t o ex ist en t es em n osso m eio ( cab oclas, indígenas, rurais, urbanas, et c) . Com m ais acesso as inform ações sobre os diferent es hábit os e cost um es associados ao nascim ent o será possível desenvolver um a at it ude m ais flexível e t olerant e às diferenças, com com unicação m ais efet iva ent re profissionais e usuários, buscando atender às necessidades das m ães e fam ílias.

A h ospit alização t em sido apon t ada com o v er dadeir o obst áculo à hum anização da assist ência ao nascim ento. Neste sentido, propõe- se, atualm ente, a cr i a çã o d e ce n t r o s d e p a r t o n o r m a l p a r a o a t en d i m en t o d e b a i x o r i sco p o r se t r a t a r em d e pequenos núcleos assistenciais, m enos burocratizados q u e of er ecem m en or es r iscos d e in f ecção q u e as gr andes m at er nidades. Os cent r os de par t o nor m al p od em ser sit u ad os d en t r o ou f or a d a est r u t u r a hospit alar. Quando sit uado fora é recom endável que

sej a nas proxim idades de um a inst it uição hospit alar com f acilid ad es d e t r an sp or t e p ar a r em oções d e p a r t u r i e n t e s co m co m p l i ca çõ e s. As e n f e r m e i r a s o b st é t r i ca s e o b st e t r i ze s se r i a m a s p r i n ci p a i s responsáveis pelo part o eut ócico.

Ou t r o a sp e ct o a se r co n si d e r a d o é a su bst it u ição das pr át icas obsolet as por ev idên cias cient íficas para em basar a prát ica obst ét rica. Em bora algu m as j á est ej am bem docu m en t adas, ain da h á desint er esse e desconhecim ent o dessas ev idências, p o r p a r t e d o s p r o f i ssi o n a i s q u e a ssi st e m a o n ascim en t o. Um ex em p lo d est a sit u ação é o u so a b u si v o d e cesá r ea s p r a t i ca d o p o r esp eci a l i st a s m édicos, que t em cont ribuído para a desum anização d a assist ên cia, além d e acar r et ar o au m en t o d a m or t alidade e m or bidade m at er na e per inat al, sem m encionar o desper dício dos escassos r ecur sos do set or de saúde.

Resgat e da at uação da obst et r iz na assist ência ao part o no Brasil

O m odelo de at enção à m ulher e fam ília no p r o ce sso r e p r o d u t i v o t e m si d o r e co n h e ci d o p o r agent es governam ent ais com o necessário. Torna- se, assim , obj et o de polít icas n acion ais n o âm bit o da saú d e. Pod em ser en u m er ad as alg u m as m ed id as com o a proposição do Program a de Hum anização no Pré- Natal e Nascim ento, a criação de Centros de Parto Norm al e o financiam ento de cursos de especialização em enfer m agem obst ét r ica, ofer ecidos por escolas de enferm agem de t odo o país.

No que tange à assistência a saúde da m ulher no período gravídico puerperal, a Organização Mundial da Saúde ( OMS) e o Minist ério da Saúde, no Brasil r e co m e n d a m m a i o r p a r t i ci p a çã o d a e n f e r m e i r a obst ét rica e da obst et riz considerando a im port ância d e acom p an h ar o t r ab alh o d e p ar t o, ap r im or ar a assist ência ao par t o nor m al e dim inuir as t ax as de cesar iana. Com o m edida de incent iv o, desde 1998, ficou estabelecida na tabela do Sistem a Único de Saúde a r em uner ação do pr ocedim ent o de assist ência ao part o realizado por enferm eira obst ét rica( 9).

At é 2 0 0 5 , a ú n i ca v i a a d o t a d a p a r a a f or m ação de pr of ission ais de assist ên cia ao par t o consist ia na especialização, t endo com o pré- requisit o o curso de graduação em enferm agem .

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da obst et r iz, com eçou ser debat ida. Assim sen do, desde 1998, a Associação Brasileira de Obst et rizes e Enferm eiros Obstetras – Seção São Paulo intensificou a discussão sobr e o ensino de enfer m agem par a a assi st ên ci a ao p ar t o e n asci m en t o , p o r m ei o d e sem inários estaduais. Apontou com o principais críticas a o m o d e l o a t u a l d e f o r m a çã o n a á r e a , o a l t o inv est im ent o financeir o e o t em po ex cessiv am ent e longo para qualificar profissionais para assist ência à m u lh er n o ciclo gr av ídico. Con sider ou - se en t ão, a possibilidade de form ação da obstetriz ( entrada direta) p ar a a assi st ên ci a à saú d e d a m u l h er so b n o v a p e r sp e ct i v a . Le v o u - se e m co n t a t a m b é m , a s e v i d ê n ci a s ci e n t íf i ca s a s q u a i s t ê m r e l a ci o n a d o a t u a çã o d a o b st e t r i z n a co n d u çã o f i si o l ó g i ca e n a t u r a l i za d a d o p a r t o e n a p e r so n a l i za çã o e hum anização da assist ência.

Nest e sen t ido, a for m ação das obst et r izes passou a ser am plam ent e debat ida, considerando- se que r epr esent a um im por t ant e r ecur so par a pr ov er cu i d a d o s d e sa ú d e à g e st a n t e s, p a r t u r i e n t e s, puér per as, r ecém - nascidos e fam iliar es.

Os cu r so s d e o b st et r íci a j á ex i st i r am n o Br asil. Esses cur sos com eçar am a ser ex t int os, no início da década de sessent a. A assist ência a m ulher no período reprodut ivo passou a ser das enferm eiras obst ét ricas form adas nas escolas de enferm agem .

Em b or a a esp ecialização em en f er m ag em o b st é t r i ca t e n h a r e p r e se n t a d o u m a i m p o r t a n t e est rat égia para capacit ação de enferm eiras na área, essa v ia única não v inha at endendo plenam ent e a dem anda por profissionais em nosso país, em núm ero e x p r e ssi v o e a d e q u a d a m e n t e p r e p a r a d o , considerando o custo e o retorno social no âm bito do en si n o , p esq u i sa e assi st ên ci a. Co n si d er o u - se a necessidade de um cur so com est r ut ur a e dur ação adequadas para a qualificação de obstetrizes seu perfil e com pet ência possibilit ar am par t icipar at iv am ent e das transform ações necessárias no m odelo assistencial e n o q u ad r o ep id em iológ ico d a saú d e m at er n a e per inat al.

A proposição de um curso de graduação em o b st e t r íci a p o r d o ce n t e s d o D e p a r t a m e n t o d e Enferm agem Mat erno- I nfant il e Psiquiát rica com eçou a ser pensada em 2 0 0 1 . Obj et iv av a est abelecer e d e se n v o l v e r u m a m o d a l i d a d e d e f o r m a çã o e qualificação de pr ofissionais v inculada a r ealidades locais, no sentido de produzir o necessário e esperado

im pacto na qualidade à saúde da m ulher e sua fam ília na região.

Concebem os um profissional, que int egrada à equipe de saúde, ser ia capaz de at uar de for m a aut ônom a, r esponsabilizando- se pela assist ência na g est a çã o e n o p a r t o n o r m a l , sen d o u m r ecu r so i m p o r t a n t e p a r a p r o v e r cu i d a d o s d e sa ú d e à gest ant es, par t ur ient es, puér per as, r ecém - nascidos e fam iliares, e prom over e preservar a norm alidade d o p r o ce sso d e n a sci m e n t o , a t e n d e n d o a s necessidades físicas, em ocionais e sociocult urais das m ulheres. Por outro lado, este profissional teria perfil e co m p e t ê n ci a p a r a p a r t i ci p a r a t i v a m e n t e d a s t r ansfor m ações no quadr o epidem iológico da saúde m at erna e perinat al.

Propost a de criação do curso

Pa r a a t e n d e r a s d e m a n d a s so ci a i s f o i propost o um curso de graduação em obst et rícia para a Universidade de São Paulo Zona Lest e, no ano de 2 0 0 3 , por ocasião de ex pansão de 1 0 0 0 v agas. O novo Cam pus t eve com o propost a criar um a unidade int egr ada que se concent r asse cur sos das ár eas de Hum anidades, Art es e Ciências, ainda não oferecidos pela Universidade de São Paulo da Capital. I dealizou-se p a r a dealizou-se r d e dealizou-se n v o l v i d o e m p r o p o st a s int er disciplinar es v olt adas à r ealidade da sociedade e d a r eg i ão , co n t em p l an d o , n o v as p r o p o st as d e ensino, garantindo a articulação à pesquisa e extensão de serviços à com unidade.

Visando prom over o alcance desses obj etivos, o curso foi planej ado t endo com o alicerce um Ciclo Básico, no qual, os alunos t ivessem a oport unidade de experienciar t rês eixos art iculados de form ação: a ) Fu n d a m e n t a çã o n o ca m p o d e co n h e ci m e n t o específico do cuidado à saúde;

b) For m ação ger al, com post o pelas disciplinas que dão suport e hum aníst ico aos est udos post eriores; c) For m ação cient ifica que se desenv olv e por m eio da r esolução de pr oblem as, na for m a de iniciação científica e nas quais os alunos desenvolvem proj etos de pesquisa vinculados as quest ões sociais.

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com plex idade. Os eix os est r ut ur ant es do cur so de

Obst et rícia são:

1. Bases biológicas da Obst et rícia

2. Fundam entos psicossociais do processo reprodutivo

3. Assist ir/ cuidar no processo reprodut ivo

Os eixos, em bora t enham um a configuração

longit udinal, est ão art iculados para convergirem para

o co n t ex t o p r át i co e i n v est i g at i v o , p o r m ei o d a

at iv idade de cam po onde se pr iv ilegia a habilidade

t écn i ca , ex p r essi v a e i n t er a t i v a e o s g r u p o s d e

Resolu ção de Pr oblem as, qu e pr opiciam a an álise crít ica das ações assist enciais. Esses cont eúdos são,

p o r t a n t o , d e se n v o l v i d o s d e f o r m a i n t e g r a d a e

gr adat iv a.

O n ú m er o d e v ag as in icial f oi d e 6 0 , n o

período vespertino, e teve início em 2005. A duração

m ín i m a d o cu r so f i co u e st a b e l e ci d a e m o i t o

se m e st r e s, e n o m á x i m o e m d o ze se m e st r e s. Est abeleceu- se com o perfil do graduando:

- Reconhecer as dim ensões física, em ocional e

sócio-cultural que integram a vida das pessoas e afetam o

processo reprodutivo, determ inando ações cuidativas;

- Com p r een d er o f en ôm en o d a r ep r od u ção com o

singular, cont ínuo e saudável, no qual a m ulher é o foco cent ral, e que se desenvolve num det erm inado

cont ext o sócio- hist ór ico;

- Pr opiciar o desenv olv im ent o nor m al do pr ocesso

d o n a sci m e n t o , o f e r e ce n d o cu i d a d o e a p o i o e

assegurando a part icipação da m ulher e da fam ília;

- Desenv olv er o pr ocesso assist encial e educat iv o,

fundam ent ado na int eração perm eada pela parceria, possibilit ando às pessoas env olv idas t om ar em duas

decisões de saúde;

- Ar t i cu l a r o b se r v a çõ e s cl ín i ca s, co n h e ci m e n t o

científico, habilidade técnica e j ulgam ento intuitivo na

t om ada de decisões;

- Va l o r i za r o co n h e ci m e n t o e a a t u a çã o

int er disciplinar es;

- D e se n v o l v e r a t r i b u i çõ e s co m b a se n a

r e sp o n sa b i l i d a d e é t i co - p o l ít i ca e n a a u t o n o m i a

profissional, t endo com o referência os princípios de

eqüidade, do r espeit o pela aut odet er m inação e do

am bient e hum ano.

Com pet ências e habilidades:

- Prestar e coordenar a assistência à saúde da m ulher e fam ília no processo reprodut ivo.

- At uar em inst it uições de saúde públicas e privadas ( m at er nidades, cent r os de par t o nor m al, casas de par t o, am bulat ór ios, unidades básicas) , inst it uições de ensino e dom icílios;

- At uar em equipe m ult iprofissional;

- Desenv olv er pr ocesso int er at iv o com os div er sos níveis de at uação;

- Cont r ibuir par a a const r ução do conhecim ent o da área e fundam ent ar a sua prát ica no conhecim ent o ex ist ent e;

- Form ar recursos hum anos na área específica;

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

A situação da assistência à saúde reprodutiva no Br asil apr esent a um quadr o epidem iológico com alt as t axas de m ort alidade m at erna e perinat al, com uso indiscrim inado de intervenções, que são facilm ente verificados nas taxas de cesárea, refletindo num a m á qualidade da assist ência obst ét rica.

O m e sm o o co r r e co m a e d u ca çã o d o s pr ofissionais de saúde, cuj os dados não são m uit o m ais encoraj adores. Os currículos são biocênt ricos e repetitivos. O ensino de cam po ocorre num am biente q u e d e se n co r a j a a m u d a n ça e n ã o f a v o r e ce a h u m an ização.

Tant o nas polít icas, quant o nas propost as de hum anização do cuidado, o ensino de enfer m eir as obst ét r icas e a f or m ação de obst et r izes t êm sido v alor izados. Par a pr eencher essa lacuna, um cur so d e o b st e t r íci a f o i cr i a d o , co m b a se e m m o d e l o educacional inovador. O obj et iv o é possibilit ar aos alunos se t ornarem profissionais sensíveis e apt os a co m p r een d er a d i m en sã o h u m a n a d o cu i d a d o e part icipar at ivam ent e nas t ransform ações do cuidado m aterno e perinatal, tornado- os recursos im portantes n o cu idado a m u lh er du r an t e a gest ação, par t o e puerpério, bem com o às crianças e às fam ílias.

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REFERÊNCI AS

1. Duart e NMN. A form ação do enferm eiro para o nascim ent o e part o. Anais do 2° Sem inário Est adual sobre Qualidade da Assist ência ao Part o: Cont ribuições da Enferm agem ; Curit iba ( PR) ; 1999. p. 13- 18.

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3 . Ta n a k a ACd ‘A. Um a a u l a e m u i t a s l i çõ e s so b r e a m ortalidade m aterna. J Rede Fem inist a de Saúde 2006 j unho; 2 8 : 7 - 9 .

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9 . Or g an ização Mu n d ial d a Saú d e. Mat er n id ad e seg u r a. Assist ência ao part o norm al: um guia prát ico. Genebra ( SUI ) : OMS; 1 9 9 6 .

Referências

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¹ Enferm eira, Especialist a em Terapia I nt ensiva, e- m ail: chaianeusp@gm ail.com ; ² Enferm eira, Dout or em Enferm agem , Professor Tit ular da Escola de Enferm agem

1 Enferm eira, Mestre em Enferm agem , Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Brasil, e-m ail: m fck@yahoo.com.. 2 Enferm

1 Enferm eiro, Doutor em Enferm agem , Professor Adjunto; 2 Enferm eira, Doutor em Filosofia da Enferm agem , Professor Titular; e-m ail: alacoque@newsite.com .br; 3

da Universidade de São Paulo, Brasil, e- m ail: m ariacel@usp.br, e- m ail: leilaneag@yahoo.com .br; 3 Enferm eira Executiva do Hospital 9 de Julho, Brasil,.. e-m ail:

1 Enferm eira, Professor Adj unt o da Universidade Federal de São Paulo, Brasil, e- m ail: solandic@denf.epm .br; 2 Enferm eira do Hospit al Sírio Libanês, aluna de m estrado

1 Enferm eira, Universidade Est adual de Cam pinas, aluna de dout orado, e- m ail: rosangelahiga@bol.com .br; 2 Enferm eira, Livre- docent e, Professor Associado, e- m ail:

1 Mestre em Enferm agem , Enferm eira da Secretaria de Saúde de Maringá, Brasil, e- m ail: analuferrer@hotm ail.com ; 2 Doutor em Filosofia da Enferm agem , Docent e

Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvim ento da pesquisa em enferm agem , e-m ail: lbpinho@uol.com .br; 3 Enferm eira, Professor Doutor