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– PósGraduação em Letras Neolatinas

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CASOS DE REINTERPRETAÇÃO DO ‘LE’ MEXICANO: UM FENÔMENO DE GRAMATICALIZAÇÃO

Viviane Conceição Antunes Lima

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CASOS DE REINTERPRETAÇÃO DO ‘LE’ MEXICANO: UM FENÔMENO DE GRAMATICALIZAÇÃO

Viviane Conceição Antunes Lima

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós2 graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Doutor em Letras Neolatinas (Língua Espanhola).

Orientadora: Profª. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio

Co2orientador: Prof. Doutor Mario Eduardo Toscano Martelotta

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Viviane Conceição Antunes Lima

Orientador(es): Profa. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio Prof. Doutor Mario Eduardo Toscano Martelotta

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós2graduação em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos: Espanhol), Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro 2 UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Letras Neolatinas.

Aprovada por:

___________________________________________________________ Presidente, Profa. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio (UFRJ)

______________________________________________________ Prof. Doutor José Carlos de Azeredo (UERJ)

______________________________________________________ Profª. Doutora Maria Maura da Conceição Cezario (UFRJ)

______________________________________________________ Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold (UFRJ) ______________________________________________________ Profª. Doutora Neide Therezinha Maia González (USP)

______________________________________________________ Profª. Doutora Leticia Rebollo Couto (UFRJ)

______________________________________________________ Profª. Doutora Maria del Carmen Fátima González Daher (UFF)

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Lima, Viviane Conceição Antunes.

Casos de Reinterpretação do ‘Le’ Mexicano: Um Fenômeno de Gramaticalização/ Viviane Conceição Antunes Lima. – Rio de Janeiro: UFRJ / FL, 2009.

xviii,138f.: il.; 31 cm.

Orientadora: Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio Co2orientador: Mario Eduardo Toscano Martelotta

Tese (doutorado) – UFRJ / FL / Programa de Pós2graduação em Letras Neolatinas, 2009.

Referências bibliográficas: f.1382187.

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Dedico esta tese a Ti, Meu Senhor e Meu Deus.

Agradeço2Te, Senhor, por cada lágrima que derramei, tenho certeza de que a Tua luz não me permitiu desistir. Sou grata pela intercessão de Nossa Senhora de Fátima, de São Jorge Guerreiro, de Santo Antônio, de Nossa Senhora de Guadalupe e dos Anjos Protetores, companheiros incansáveis. Também Te rendo graças por cada dom que o Divino Espírito Santo derramou sobre mim e por cada conta de terço que dediquei àqueles que não Te conhecem. Muito obrigada por cada minuto que consegui vencer longe do meu linguista preferido – Ricardo Joseh Lima 2 e dos meus rebentos – João Pedro e Ana Cecília Antunes Lima, minhas fontes inesgotáveis de felicidade. Sou grata por todas as vezes que vejo nos olhos dos meus pais – Dionizia Conceição e Luiz Carlos Antunes 2 que valeu a pena lutar para que sua filha única fosse feliz, honesta e digna. A Ti, Senhor, de soberania, misericórdia e amor insondáveis, serei eternamente grata por todas as bênçãos recebidas ao longo desses 34 anos de vida, de luta, de força de vontade e de fé. A mim, a luta diária, a Ti, toda honra e toda glória ...para siempre.

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As páginas desta tese confirmam a realização de um sonho profissional que, certamente, me ofertará outras oportunidades na área que escolhi para amar e trabalhar. Registro aqui o meu sincero agradecimento à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) por todas as alegrias e lágrimas de esforço que me proporcionou.

Dou muito valor ao Curso de Letras. Dedicar2me a esta carreira é algo imprescindível a minha vida. Neste sentido, devo às instituições que acolheram meu trabalho, aos meus alunos e ex2alunos, aos amigos e profissionais da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), do PEUL(Programa de Estudos sobre o Uso da Língua), da APEERJ (Associação de Professores de Espanhol do Estado do Rio de Janeiro), do Colégio Pedro II, do CRDE (Centro de Recursos Didácticos de Español), da OEM en línea (Organização Editorial Mexicana), em especial ao Sr. Alberto Mena, da Universidade Autônoma de Nuevo León, em especial à Professora Lidia Rodríguez Alfano, meus carinhosos agradecimentos.

Gostaria de agradecer também a todos meus familiares, em especial, às minhas sogras – Maria Annecy Graça Lima (in memoriam) e Maria Lucia Lima Puty – a João Conceição, à Dilce Marinho Sá, à Irenil Antunes, à Marisa Viveiros Lima, à Maria Judith Sucupira e à Rose Vieira, pelas orações, cuidado e torcida incessantes. Aos amigos Denise Cruz Candido Miranda de Souza, Alice Cruz Candido de Oliveira, Elane Barreto dos Santos, Talita de Assis Barreto, Luciana Almeida de Freitas, Dayala Paiva de Medeiros Vargens, Elda Firmo Braga, Thiago Vinícius Vieira, Samanta Mendoza, Ângela Marina Chaves de Mello, Maristela da Silva Pinto, José Ricardo Dordron de Pinho, Viviane Guimarães, Isabela Abreu, Maria Luiza Ramiarina, Claudia Estevam, Ana Candido Brandão, Valmir Miranda, Flavia Augusto Severino, Rita de Cássia Rodrigues, Wagner Belo, Ana Cristina Santos, Maria Del Carmen Daher, Cristina Giorgi, Vera Sant’Anna, Mônica Lemos de Matos, Michele Feddersen, Luciane Cerqueira, Janaína Santos, Magdalena Paramés, Pascual Hernández e Maria Cristina González, por todos os momentos de consideração e amizade. Seu conhecimento e responsabilidade sempre virão a minha lembrança em minhas escolhas, tanto no âmbito pessoal quanto no acadêmico. Recebam meu afetuoso abraço.

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e por ter me mostrado que dedicação, esforço e atenção são elementos indispensáveis a todo profissional bem sucedido), Neide Therezinha Maia González (pelo contagiante profissionalismo, inteligência, atenção e carinho), Maria Eugênia Lamoglia Duarte (cuja humildade e conhecimento me inebriam) e Concepción Company Company (cujas produções se tornaram inspiração para a realização desta tese).

Não poderia deixar de mencionar a atenção e o apoio que me deram os professores Maria Maura Cezario (UFRJ 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro), Maria Del Carmen Daher (UFF2 Universidade Federal Fluminense), Inês Fernández2Ordóñez (UAM 2 Universidad Autónoma de Madrid), Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão (UEL2 Universidade Estadual de Londrina), Francisco Moreno Fernández (UAH 2 Universidad de Alcalá de Henares), Venício da Cunha Fernandes (Colégio Pedro II), Maria de Fátima Quintela (Secretaria da Pósgraduação/UFRJ), Thiago Vinícius Vieira (CLAC/UFRJ – Curso de Línguas Aberto à Comunidade), Samanta Mendoza (UGF 2 Universidade Gama Filho / Graduação). Todos de presteza, amizade, consideração e cordialidade infinitas.

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(...) el uso lingüístico, de manera especial el uso sintáctico, puede estar determinado por modos específicos de percibir y entender el mundo; es decir, el significado — entendido de una manera amplia — es un nivel decisivo en la codificación de la sintaxis.

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Viviane Conceição Antunes Lima Orientador(es): Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio

Mário Eduardo Toscano Martelotta

Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós2graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro 2 UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Língua Espanhola.

O uso dos clíticos se configura como um dos grandes espaços de diversidade da língua espanhola e apresenta ajustes semântico2pragmáticos diversos dependendo da área geoletal na qual se fala o espanhol. Esta tese apresenta um estudo sobre o comportamento do átono “le” na variante mexicana, principalmente no que concerne aos casos de perda referencial. Ocorrências como “eso es lo que unolepiensa”, “¡Ánda ! / ésa / ésa no... ”, “hay ve's que no se aguanta hay veces que ¡ay híjo !” guardam usos do átono ‘le’ que não são previstos pela norma culta. Tais dados nos mostram que, nestes contextos, ‘le’ é uma forma completamente desprovida de âncora referencial e se apóia em nuances da práxis discursiva. Orientando2nos pelo viés funcionalista e valendo2nos de 474 realizações provenientes docorpus El Habla de Monterrey(225) e da página daOrganização Editorial Mexicana(249), ambicionamos, neste trabalho, dar conta de quatro metas centrais: i) apresentar o desenvolvimento da forma gramatical ‘le’, dentro da perspectiva dos estudos de gramaticalização; ii) sublinhar as etapas de gramaticalização da forma gramatical ‘le’, dando especial atenção aos contextos de perda da designação referencial; iii) evidenciar a relevância dos conceitos de divergência, persistência e metáfora na despronominalização; iv) verificar como os dados dos textos jornalísticos registram o fenômeno em questão. Insistimos que o item gramatical ‘le’ foi reanalisado sintática e semanticamente, estendeu2se a novos contextos de uso e, depois de gramaticalizado, passou a atuar também como um elemento que registra peculiaridades da relação intersubjetiva dos partícipes da interação.

Palavras2chave: funcionalismo; gramaticalização; variante mexicana; reinterpretação dativa; casos de despronominalização do átono ‘le’.

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RESUMEN

Viviane Conceição Antunes Lima Tutor(es): Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio

Mário Eduardo Toscano Martelotta

Resumen da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós2graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro 2 UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Língua Espanhola.

El uso de los clíticos se configura como uno de los grandes lugares de diversidad de la lengua española y presenta ajustes semánticopragmáticos diversos según el área geolectal en la cual se habla el español. Esta tesis presenta un estudio sobre el comportamiento del átono “le” en la variante mexicana, principalmente en lo que se refiere a los casos de pérdida referencial. Ocurrencias como “eso es lo que unolepiensa”, “¡Ánda ! / ésa / ésa no... ”, “hay ve's que no se aguanta hay veces que ¡ay híjo !” ejemplifican usos del átono ‘le’ que no prevé la norma culta. Tales datos nos muestran que, en esos contextos, ‘le’ es una forma completamente desprovenida de anclaje referencial y se apoya en matices de la praxis discursiva. Orientándonos por la vertiente de los estudios funcionalistas y valiéndonos de 474 realizaciones provenientes del corpus El Habla de Monterrey (225) y de la página de la Organización Editorial Mexicana (249), buscamos, en esta investigación, alcanzar cuatro metas centrales: i) presentar el desarrollo de la forma gramatical ‘le’, bajo la perspectiva de los estudios de gramaticalización; ii) subrayar las etapas de gramaticalización de la forma gramatical ‘le’, dando especial atención a los contextos de pérdida de la designación referencial; iii) evidenciar la relevancia de los conceptos de divergencia, persistencia y metáfora en la despronominalización; iv) verificar cómo los datos de los textos periodísticos registran el fenómeno en cuestión. Insistimos que se reanalizó el ítem gramatical ‘le’ sintáctica y semánticamente, se extendió a nuevos contextos de uso y, después de gramaticalizado, pasó a actuar también como un elemento que registra peculiaridades de la relación intersubjetiva de los partícipes de la interacción.

Palabras2clave: funcionalismo; gramaticalización; variante mexicana; reinterpretación dativa; casos de despronominalización del átono ‘le’.

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ABSTRACT

Viviane Conceição Antunes Lima Advisors: Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio

Mário Eduardo Toscano Martelotta

Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós2graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro 2 UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Língua Espanhola.

The usage of clitics is regarded as one favorable space of diversity in Spanish and presents a variety ofsemanticopragmaticadjustments according to the geographic area in which Spanish is spoken. This thesis presents a study about the behavior of the clitic le in the Mexican variety, focusing on instances of referentiality loss. Instances such as “eso es lo que uno le piensa”, “¡Ánda ! / ésa / ésa no... ”, “hay ve's que no se aguanta hay veces que ¡ay híjo !” show usages of the cliticle that are not predicted by Standard Spanish. Such cases show that, in these contexts, le is a form completely void of referential anchor and uses subtleties of discursive praxis as support. Based on a functionalist view and working on 474 occurrences from the corpus El Habla de Monterrey (225) and from the page of the Organización Editorial Mexicana (249), it is our purpose in this work to achieve four main goals: (i) to present the development of the grammatical form le, under the perspective of grammaticalization, (ii) to underline the moments of grammaticalization of the grammatical formle, paying special attention to the contexts of loss of referentiality, (iii) to bring attention to the relevance of the concepts of divergence, persistence and metaphor in the process of depronominalization and (iv) to observe how the data from newspapers register the phenomenon under scrutiny. We insist that the grammatical item le was syntactically and semantically reanalyzed, and has been applied to new contexts of usage and, after being grammaticalized, has been functioning as an element that registers peculiarities of the intersubjective relation of the participants of the interaction.

Key2words: functionalism; grammaticalization; Mexican variety; dative reinterpretation; instances ofdepronominalization of clitic ‘le’.

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Lista de Ilustrações Lista de Tabelas Lista de Gráficos

1

Introdução 6

1.1. Premissas funcionalistas fundamentais 6

1.2. Conceitos2chave para a compreensão dos fenômenos linguísticos 11 1.3. Subjetividade, intersubjetividade e acessibilidade de referentes 17 1.4. O conceito de transitividade: da descrição ao olhar discursivo 24

1.5. Participantes: por uma caracterização 32

1.6. Síntese do capítulo I 34

!

Introdução 37

2.1. Fases dos estudos sobre gramaticalização 37

2.2. A abordagem funcionalista e o conceito de gramaticalização 42 2.3. Mecanismos e princípios da gramaticalização 44

2.4. Gramaticalização e mudança linguística 49

2.5. Mecanismos cognitivos da gramaticalização 52

2.6. Gramaticalização unidirecionalidade: algumas reflexões 58

(13)

" " #

Introdução 64

3.1. O comportamento dos clíticos de 3ª pessoa: aspectos morfossintáticos e

fonológicos 64

3.2. Questões semântico2pragmáticas 68

3.3. O dativo: questões tipológicas 71

3.4. Mudanças sintático2semânticas do átono ‘le’: ponderações históricas

3.4.1. Delimitações pouco precisas dos casos latinos 75 3.4.2. Da forma demonstrativa latina à representação da 3ª pessoa em

espanhol 78

3.4.3. A etapa proto2romance 81

3.4.4. Casos de duplicação, despronominalização dativa, leísmo e peculiaridades do objeto direto preposicionado: um diálogo entre

as fases medieval e moderna 83

3.4.5. Período de transição: séculos XIV e XV 92 3.4.6. Casos de pronominalização anômala e a transformação dos

clíticos em categorias afixais na fase clássica 93 3.4.7. Especificidades do átono ‘le’ em algumas áreas do mundo

hispânico e casos de debilitamento referencial no México: tensão

entre unidade e diversidade na etapa moderna da língua espanhola 96

3.5. Síntese do capítulo III 107

"

Introdução 110

4.1. Em busca do entendimento do fenômeno: de partícula de expressão de ‘desejo’ à

hipótese da gramaticalização por subjetivização 110

4.2. Nosso olhar investigativo: perda da função referencial do átono ‘le’ na variante mexicana

(14)

4.2.2. O ‘le’ não referencial nos dicionários: algumas referências 118

4.2.3. Fundamentação da análise e resultados 119

4.3. A relevância da divergência, da persistência e da metáfora no processo de

gramaticalização do ‘le’ mexicano 130

4.4. Síntese do capítulo IV 133

$% & 135

'% (

6.1. Fontes bibliográficas 138

6.2. Fontes eletrônicas 150

6.2.1. Fontes eletrônicas dos dados coletados na página da Organização

editorial Mexicana 151

Anexo I 2 Dados oriundos do corpus oralEl Habla de Monterrey(ALFANO, 2003)

Anexo II 2 E2mails de solicitação e permissão para uso dos dados escritos

(15)

&

Figura 1 2 Conceito dinâmico de sistema. Base: COMPANY (2002). 10 Figura 2 2 Domínios funcionais codificados pela linguagem humana (GIVÓN, 1984). 12 Figura 3 2 Escala de Continuidade de Tópico (GIVÓN, 1983). 22 Figura 4 2 Escala de Marcação de Acessibilidade (ARIEL, 1990). 23 Figura 5 2 Hierarquia de transitividade proposta por LAMÍQUIZ (1998). 27 Figura 6 2 Estudos da mudança semântica. Base: LLAMAS (2005). 54 Figura 7 2 Domínios cognitivos e estágios de gramaticalização. 56 Figura 8 2 Hierarquia categorial. Base: HOPPER e TRAUGOTT (2003 [1993]). 67 Figura 9 2 Hierarquia categorial do dativo em espanhol. Base: COMPANY (2006). 74 Figura 10 2 Mapeamento do leísmo em áreas peninsulares. Equipe Varilex (2002). 105 Figura 11 2 Mapeamento do leísmo em áreas americanas. Equipe Varilex (2002). 106 Figura 12 2 Divisão dialetal da área mexicana. Base: BLANCH (1996). 117 Figura 13 – Cadeias de gramaticalização do átono ‘le’. Variante mexicana. 132

Gráfico 1 – Base nominal+‘le’. Corpus oral. 120

Gráfico 2 2 Base verbal+‘le’. Amostra escrita 120

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)

Quadro 1 – Escalas hierárquicas givonianas. 13

Quadro 2 – Níveis de transitividade (HOPPER e THOMPSON,1980). 29 Quadro 3 – Individuação do objeto (HOPPER e THOMPSON,1980). 29 Quadro 4 – Mecanismos da gramaticalização (exemplo). 46 Quadro 5 – Instabilidade pronominal (área castelhana). Base: FERNÁNDEZ2ORDÓÑEZ

(1999). 101

Quadro 6 – Instabilidade pronominal (área de contato com o vasco). Base: FERNÁNDEZ2

ORDÓÑEZ (1999). 101

Quadro 7 – Instabilidade pronominal (Cidade Real, Toledo, Guadalajara, parte de Burgos).

Base: FERNÁNDEZ2ORDÓÑEZ (1999). 102

Quadro 8 – Instabilidade pronominal (Cidade Real, Toledo, Guadalajara, parte de Burgos).

Base: FERNÁNDEZ2ORDÓÑEZ (1999). 102

(18)

*

Tabela 1 – Nível de transitividade –‘le + verbo’. 123

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sentidos, são elementos que, na maioria das áreas hispano2falantes, reativam referentes nos textos e nas situações de interação. Oferecem2nos, portanto, informações relevantes no que tange à hierarquia estrutural, a estratégias de interação e a questões relacionadas com a normatividade.

Um olhar atento faz2se necessário quando nos referimos a esta questão. Falado em 21 países como língua materna, o espanhol encontra unidade em uma norma culta, prestigiada na língua escrita e difundida nos ambientes escolares. Entretanto, as línguas são instrumentos de interação social, de caráter dinâmico e registram as particularidades advindas da maneira como seus falantes concebem o mundo e se relacionam. Assim, outras normas se configuram, já que as formas da língua vão assumindo novas funções e estabelecendo novas redes de significado nas situações comunicativas.

Como um dos pilares importantes da tensão unidade/diversidade, a instabilidade dos clíticos de terceira pessoa suscita debates. A codificação clítica conforma um dos grandes campos de diversidade do espanhol no que concerne à língua falada e está sujeita à vigilância unificadora da língua escrita, sustentada pela variante de prestígio.

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interacional e cultural. Por isso, o comportamento dos referidos clíticos não se dá de maneira uniforme no mundo hispânico.

No espanhol falado no México, por exemplo, há um uso inovador que concorre com o padrão estabelecido pela norma de prestígio: a perda de designação referencial do átono ‘le’. Neste caso, ‘le’ não se refere especificamente a nenhum elemento do enunciado, mas é relevante a sua construção em termos pragmáticos. É nosso intuito mostrar que este tipo de debilitamento pronominal é um dos casos de reinterpretação da forma dativa na área geoletal mexicana.

Orientando2nos pela corrente funcionalista, nossa hipótese principal é de que ‘le’ se gramaticalizou, isto é, foi reanalisado em termos semântico2funcionais e passou a ser recorrente no registro de sua nova atribuição pragmática. Esta nova atribuição foi fixada, é reconhecida nos eventos comunicativos nos quais se inserem os falantes mexicanos e sua função prototípica 2 a referencial – convive com o mencionado uso inovador.

Há realizações mexicanas do átono ‘le’ funcionando como marca intensivo2pragmática e também como um sufixo verbal de caráter conativo. Na fala de indivíduos de outras áreas do mundo hispânico, a forma ‘le’ é prescindível tanto em “¿Cómoleva a hacer?”, em “No / (...) / ya báñate/córrele ” como em “Órale chavos, jueguen futbol”. Atentos à linha de pesquisa “Processos interculturais lingüísticos e identitários”, na qual se inserta este trabalho, tentaremos destacar que ‘le’ traçou um único movimento de mudança, deslocando2se do nível textual ao nível interpessoal.

(21)

O segundo capítulo se centra nos mecanismos do processo de gramaticalização e sustenta que a atividade comunicativa é sua motivação maior. De acordo com esta ponderação, frisamos que os sentidos subjetivos, alicerçados no ponto de vista dos falantes, e os intersubjetivos, pautados na interação entre os interlocutores na práxis discursiva, podem ser codificados explicitamente na língua. Enfatizamos que a gramática (o sistema linguístico), de alguma maneira, reflete a cognição, visto que os sentidos são ancorados na interação e são frutos de diferentes domínios do conhecimento.

Seguindo um viés gradativo de mudança, o terceiro capítulo apresenta o desenvolvimento do átono ‘le’, de sua origem até o século XX. Consideramos que uma leitura pancrônica deste desenvolvimento é essencial ao entendimento do processo de debilitamento da função referencial de ‘le’, tendo em vista que nos fornece subsídios para reconhecer que fatores foram significativos a sua recorrência na variante mexicana do espanhol.

No quarto e último capítulo, analisamos os 226 dados provenientes do corpus El Habla de Monterrey(ALFANO,2003), ancorados nas noções teóricas abordadas nos capítulos anteriores. Procuramos verificar se tais ocorrências se faziam presentes em textos jornalísticos, nos quais o cuidado com a norma culta é expressivo. Desta forma, examinamos 249 realizações oriundas da página da Organização Editorial Mexicana (OEM en línea). Não obstante, precisamos deixar claro que, para evitar equívocos de ordem metodológica, não comparamos as especificidades dos dados orais com as peculiaridades dos dados escritos, pois cada corpus possui suas idiossincrasias no que tange às condições de produção.

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em noticias nas quais o discurso direto é amplamente recorrente, portanto, consideramos que são próprias da língua falada. Porém, percebemos que algumas – ainda que em um número limitado 2 já se ajustam à modalidade escrita de forma menos marcada. Tal fato se dá principalmente com as construções nas quais ‘le’ não está acoplado a uma base verbal ou nominal.

(23)
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Neste capítulo, apresentamos alguns aspectos centrais da vertente funcionalista, norteadores desta tese de doutoramento. Valemo2nos da referida base teórica, pois cremos que muito relevantes são suas contribuições aos estudos de gramaticalização, variação e mudança sintáticas. É nosso intuito aplicá2la na compreensão do processo de gramaticalização do átono ‘le’ na língua espanhola, principalmente no que se refere às realizações não2referenciais observadas na variante mexicana do espanhol.

+%+% , -.//0/ 1234.530 ./60/ 12370- 360./

Inicialmente, é importante considerar que função1 não é um termo de fácil apreensão, tampouco o que se convém intitular funcional nos estudos linguísticos. Em um quadro sistêmico2funcional, HALLIDAY (1985) postula três funções que registram de forma sutil o vínculo entre a semântica, a sintaxe e a pragmática, a saber: a.7 04.530, a6 8620 e a

.36 ,9 //50.

A função.7 04.530 designa a expressão da experiência do falante no que tange ao mundo real e ao mundo de sua consciência (nesta figuram as relações de sentido). A função

6 8620 é concernente à construção e à organização do texto (questões de caráter sintático – hierarquia, concordância, regência, coesão 2 nesta função se desvelam).

1

(25)

Em outro prisma, a função.36 ,9 //50 está relacionada à interação, às adequações do discurso, às expectativas do ouvinte, à visão de mundo do falante e à troca de experiências por meio da linguagem. Enquanto a função ideacional ou reflexiva nos permite entender o ambiente, a interpessoal ou ativa nos possibilita influir sobre o outro.

Por ser o conceito de função polissêmico e de definições complementares, há também diferentes modelos funcionalistas. A visão funcionalista pode ser verificada, no século XX, nos estudos de Charles Bally, Albert Sechehaye e Henri Frei, oriundos da Escola de Genebra; nas investigações de alguns linguistas da Escola de Praga, como Martinet e Jakobson; nos preceitos de Halliday, fundamentados na etnografia de Firth, Boas, Sapir e Whorf; na gramática de Dik2; e no funcionalismo norte2americano, representado, por exemplo, por Traugott, Hopper e Givón (MARTELOTTA e AREAS, 2003). O funcionalismo norte2americano dá fundamento às nossas considerações nesta tese.

Muitos trabalhos funcionalistas vêm à tona na década de 70 em oposição à teoria formalista proposta por CHOMSKY (1965). O conceito delangue proposto por SAUSSURE (1916) e atualizado por CHOMSKY (1965), que o intitulacompetência, é posto em xeque por HYMES (1972). HYMES questiona a existência de um falante2ouvinte ideal e o fato de as condições de interação não receberem a importância devida na interlocução. Insiste que outros fatores, além da codificação e decodificação das informações, tais como as referências sócio2 culturais, devem ser levados em conta na aquisição da linguagem.

Linguistic performance is most explicitly understood as concerned with the process often termed encoding and decoding. Such a theory of competence posits ideal objects in abstraction from sociocultural features that might enter into their description. Acquisition of competence is also seen as essencially independent of sociocultural features, requiring only suitable speech in the environment of the child develop. The theory of performance is the one sector that might have a specific sociocultural content; but while equated

2

(26)

with a theory of language use, it is essencially concerned with psychological by2products of the analysis of grammar, not, say, with the social interaction.(HYMES, 1972, p.55)3

Quanto aos antecedentes do funcionalismo norte2americano, FURTADO DA CUNHA (2008) defende que é preciso considerar a contribuição de Dwigth Bolinger, tendo em vista seu pioneirismo na evidência do papel da pragmática na ordenação das palavras nas cláusulas. Não obstante, é preciso ressaltar que, apenas a partir da década de 70, o referido modelo funcionalista encontrou maior expressividade. Os trabalhos de SANKOFF e BROWN (1976), GIVÓN (1979), HOPPER (1991), HOPPER e THOMPSON (1980) e, posteriormente, os de TRAUGOTT (1989), TRAUGOTT e HEINE4 (1991), HOPPER e TRAUGOTT (2003 [1993]) mostram a efetiva influência de motivações discursivas no sistema das línguas.

VOTRE e NARO (1989), orientados pelos pressupostos givonianos, desenvolvem pesquisas no Brasil. VOTRE cria o Grupo de Estudos Discurso e Gramática 2 composto por linguistas da UFRJ, UFF, UERJ e UFRN 2 que dá atenção significativa aos estudos concernentes à gramaticalização. Frutos do Grupo de Estudos Discurso e Gramática são as pesquisas de MARTELOTTA, VOTRE e CEZARIO (2003 [1996]); VOTRE, CEZARIO E MARTELOTTA (2004), FURTADO DA CUNHA (2000), FURTADO DA CUNHA, RIOS DE OLIVEIRA e MARTELLOTA (2003).

Estes pesquisadores impulsionam o funcionalismo de linha norte2americana no contexto brasileiro. Visam analisar a língua sob a ótica do contexto e da situação

3

O desempenho linguístico é mais claramente compreendido como sendo direcionado para o processo frequentemente chamado de codificação e decodificação. Uma teoria de competência assim postula objetos ideais abstraindo traços socioculturais que poderiam entrar em sua descrição. A aquisição da competência é também vista como independente de traços socioculturais, requerendo apenas uma fala adequada no ambiente em que a criança se desenvolve. A teoria do desempenho é um setor que poderia ter um conteúdo sociocultural; mas enquanto igualada a uma teoria de uso da língua, está essencialmente preocupada com coisas periféricas da análise da gramática e não, digamos, com a interação social.

4

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extralingüística e, portanto, acham incoerente que se estudem as línguas de forma dissociada da função comunicativa que lhes é inerente. No escopo da interação, no qual os usuários de uma língua se relacionam socialmente e acionam capacidades de ordem linguístico2 pragmática, a função referencial é vista como uma ação pragmática, de caráter cooperativo. Neste sentido, concebemos tal ação como um componente da competência comunicativa dos falantes.

O que conforma o eixo dos estudos baseados na diretriz funcional é a maneira de compreender e analisar a linguagem. O objeto de estudo dos funcionalistas é o uso linguístico, por isso observam ocorrências reais dos fatos da língua para dar fundamento as suas investigações. É na relação entre linguagem e uso que buscam subsídios para entender os mencionados fenômenos linguísticos. Os funcionalistas veem a linguagem como um instrumento de interação social, no qual entram em jogo as relações entre os interlocutores, suas intenções e o contexto discursivo. Neste modo de pensar, uma língua existe porque seus usuários se valem dela para interagir.

Por esse caminho, nos deparamos com um dos princípios que direciona o enfoque funcionalista: o95/62 075 70 3;5 026535-.0 70 /.3608 . Se por um lado, através da análise do plano semântico é possível elucidar questões tangentes à mutabilidade sintática, por outro, com o olhar voltado para as nuances pragmáticas, se podem tecer considerações relevantes no que diz respeito a fenômenos concernentes à semântica. Portanto, na vertente funcionalista, a sintaxe não é concebida como um construto autônomo.

(28)

Contudo, cabe às regras pragmáticas governar os padrões da interação verbal na qual as mencionadas expressões são usadas.

O uso não referencial de ‘le’ na variante mexicana do espanhol, por exemplo, assinala a influência do falante nas atitudes do ouvinte. Se observarmos o seguinte dado: (1) “le dije a ver hijo / fírmaleaquí5”, veremos que a expressão linguística sublinhada 2 ‘le’ 2 é função dos propósitos dos falantes, principalmente, do propósito de influir na atitude do ouvinte. É função da informação pragmática que estes sustentam e da antecipação que faz com relação à interpretação de seu interlocutor.

Tal interpretação é função da própria expressão linguística, das informações pragmáticas estabelecidas e do que se conseguiu perceber no que diz respeito às intenções comunicativas dos partícipes do evento comunicativo. Aliás, cabe salientar que o funcionalismo conferiu ao conceito de sistema um caráter muito mais dinâmico. COMPANY (2002) defende que o sistema linguístico se comporta como um organismo que permite sistematizações constantes, assume ambiguidades, redundâncias, instabilidades e incon2 sistências próprias das línguas. As modificações promovidas, algumas até imperceptíveis, acabam por incidir na estabilidade do sistema. Esta maneira de concebê2lo nos possibilita analisar a variação como processo. A figura 1 ilustra o conceito de sistema a que nos referimos.

5

(29)

Claro está que, de acordo com essa abordagem, o estudo do sistema linguístico está subordinado ao uso, porque a descrição e a compreensão dos fenômenos linguísticos devem apoiar2se em seu funcionamento, dentro de um dado contexto de utilização da língua. MARTELOTTA e AREAS (2003) destacam que, para o funcionalismo, a compreensão do fenômeno sintático depende da análise da língua em uso, tendo em vista que a gramática é constituída em contextos discursivos específicos.

+%>% 534 .65/ 4?0@ 90,0 0 45-9, 3/;5 75/ 1 3A- 35/ .3<2B/6.45/

Na concepção de GIVÓN (1984), a linguagem humana codifica domínios funcionais hierarquicamente organizados e integrados: o semântico2lexical, o semântico2 proposicional e o pragmático2discursivo. O 75-B3.5 / -C36.45 8.40 se refere ao conhecimento compartilhado culturalmente que também se apresenta incorporado ao léxico. Fenômenos estáveis, conceitos e pontos de referência estão presentes em uma rede que faz parte de nosso mapa cognitivo e este, como um todo, abarca o referido conhecimento compartilhado.

O 75-B3.5 / -C36.45 9,595/.4.530 se centra na informação expressa nas proposições que são sintaticamente codificadas como sentenças. Quanto ao 75-B3.5 9,0<-=6.45 7./42,/.@5, podemos dizer que se trata de um amplo espaço contextual que dá validade a uma proposição. Inovações 2 como o uso de ‘le’ desprovido de propriedades referenciais 2 se dão por serem validadas neste domínio. Os objetivos comunicativo2 pragmáticos dos falantes, a interação e o contexto discursivo são os elementos que lhe dão fundamento.

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com o semântico2proposicional através da sintaxe, conforme podemos verificar na figura 2. Assim, a seleção e o arranjo de elementos para a composição de um enunciado dependem da inter2relação entre significado e função. Apoiados nesta reflexão, afirmamos que o que traça diferenças tipológicas entre as línguas é a maior importância dada ao domínio semântico2 proposicional ou ao pragmático2discursivo na codificação sintática.

Reportando2se à ?. ,0,D2.0 406 <5,.0, GIVÓN (1990) lança olhar sobre a função caso. Como uma das categorias gramaticais do sintagma nominal, apresenta duas escalas hierárquicas funcionais relevantes: a das funções semânticas, referente ao domínio semântico2 lexical (agente > dativo/beneficiário > paciente > locativo > instrumento > outros) e a das funções gramaticais, concernente ao domínio semântico2proposicional (sujeito > objeto direto > objeto indireto > outros).

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Atento às especificidades da pragmática, GIVÓN (1990) propõe que os itens mais importantes comunicativamente, em comparação com outros constituintes dos enunciados, se colocam à esquerda em muitas línguas, pois nesta posição obterão maior atenção do ouvinte. Aqui também nos referimos à 35:;5 7 659.40 .707 , na qual o tópico é visto com uma informação dada, menos marcada, mais definida.6 As unidades de maior importância no enunciado, na maioria das vezes, são as mais significativas na organização textual.

Se por um lado a linguagem é funcional por integrar o sistema linguístico e seus elementos com as funções que têm a desempenhar, por outro é dinâmica, algo plenamente verificável na variabilidade entre estrutura e função. Por isso, a gramática funcional não se concentra apenas nas peculiaridades próprias da sistematicidade da estrutura linguística ou somente em sua instrumentalidade, mas rechaça a tese que sustenta a arbitrariedade total da relação entre o aspecto funcional e o gramatical, entre função e forma.

GIVÓN (1995) parte do princípio de que o surgimento da gramática (do sistema

6

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linguístico) pode ter sido motivado pela função, por meio da qual a estrutura assume sua atribuição comunicativa e cognitiva. Frisa que o norte dos estudos linguisticos deve ser aquele de onde se adquire a língua, de onde a gramática surge e muda: do lugar da interação. Neste espaço, a estrutura linguística se adequa a novas funções, a novos sentidos.

Se fizermos alusão ao objeto de estudo desta tese, será válido dizer que, na práxis interacional, o átono ‘le’ adquiriu outros valores, permitindo que seu uso estabelecesse novas redes de sentido. Logo, é válido observar a relação existente entre a estrutura linguística e as funções que desempenha no discurso. Assim, damos margem ao entendimento da variação em suas diversificadas instâncias e assinalamos a relevância do plano pragmático na compreensão da linguagem.

Voltando aos conceitos2chave da vertente funcionalista, nos compete lembrar que três dogmas do estruturalismo saussureano foram postos em xeque por GIVÓN (1995): a) a arbitrariedade do signo; b) a separação entre sincronia e diacronia; e c) a valorização da estrutura em detrimento do uso, na análise linguística.

Muito do que há na língua é icônico, não arbitrário. O Princípio Universal da Iconicidade é um dos focos de estudo centrais da corrente funcionalista norte2americana. De acordo com este princípio, entendemos que as estruturas linguísticas são determinadas pelas funções comunicativas do discurso. A.453.4.707 se faz presente na ordem dos constituintes das sentenças, no grau de informatividade e na seleção dos itens do discurso.

GIVÓN (1990) estabeleceu os seguintes subprincípios de iconicidade: (i)

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659.40 .707 (quanto mais importante, mais urgente ou menos acessível for a informação, maiores são as chances de ocupar a primeira posição).

Os estudos givonianos retomaram o9,.34B9.5 70 -0,40:;5, proveniente da Escola de Praga. Quando se referiam a este princípio, não limitavam seu cuidado apenas à complexidade formal da estrutura marcada e não2marcada ou à frequência distribucional (figura x fundo), mas davam atenção aos fundamentos (comunicativo, sociocultural, cognitivo ou neuro2biológico) que podem explicar por que as categorias marcadas e não2marcadas possuem taisstatus. De acordo com seus preceitos, a complexidade estrutural, a distribuição da frequência e a complexidade cognitiva são critérios que revelam traços significativos da iconicidade sintática.

Nas ocorrências em que ‘le’ sofre perda referencial, como em: (2) “¡Pásele al debate, sí hay!(OEM)), há uma relação icônica no que tange ao seu uso como partícula que chama a atenção do ouvinte, levando2o a tomar uma determinada atitude. A iconicidade também se estabelece em contextos no quais ‘le’, prototipicamente, retoma entidades animadas. Ao nosso ver, este átono é menos marcado que ‘lo’ na variante mexicana do espanhol, já que: é mais recorrente; pode retomar itens em função de objeto direto ou indireto, de acordo com as peculiaridades da norma nesta área geoletal; e recupera comumente o pronome de tratamento ‘usted’. A frequência de uso deste item, a tendência a ancorar vicissitudes discursivas e outros fatores que veremos adiante, o levaram a fixar novas funções semântico2pragmáticas nesta região.

(34)

9034,A3.40dos estudos linguísticos abre espaço para os estudos de<,0-06.40 .E0:;5.

A motivação principal do fenômeno de gramaticalização é a comunicação, responsável por consolidar novas maneiras de codificar a realidade. Para HOPPER e TRAUGOTT (2003 [1993]), consiste em um processo de mudança, a partir do qual elementos lexicais e construções sintáticas começam a desempenhar funções gramaticais e, com o desenvolvimento do processo, tendem a assumir novas atribuições na língua.

Considerando que as modificações sofridas pela língua são paulatinas e graduais, propor um estudo sincrônico, completamente desprovido de referências diacrônicas, pode limitar, e muito, a análise dos fenômenos linguísticos. Este posicionamento nos levou a construir o capítulo 3 desta tese. De grande valia, foi trazer à baila o comportamento de ‘le’ desde a sua formação até a sua realização mexicana não2referencial no século XX. Se não nos valêssemos de uma análise pancrônica, seria complicado mostrar como o mencionado átono recebeu novas atribuições na língua espanhola, mais especificamente no espanhol falado no México.

O papel da 1, D2F34.0 7 2/5 no processo de gramaticalização também merece destaque. A frequência impulsiona a mudança, é resultado da gramaticalização e um dos fatores imprescindíveis ao seu desenvolvimento. BYBEE (2003) parte do princípio de que a gramaticalização transforma expressões linguísticas ou morfemas usados comumente em unidades de processamento, os tornando automáticos. Em formas como “órale” e “híjole”, por exemplo, a automatização é clara. Quando o falante as utiliza, não as relaciona mais com o “ora” (agora) ou com “hijo” (filho), porque já não guardam mais as noções sustentadas por seus componentes em separado. Além disso, ‘le’ não é mais um item anafórico nestes contextos, mas uma partícula intensivo2pragmática.

Estas observações vão ao encontro do processo de ,.620 .E0:;5G proposto por

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HAIMAN (1994). Os aspectos que caracterizam o mencionado processo são: i) o ?=H.65

(resultado da repetição que esvazia um objeto cultural e seu significado original); ii) a

0265-06.E0:;5 (reinterpretação de uma sequência de palavras como um bloco); iii) a

, 72:;5 7 15,-0/; iv) e a -034.90:;5 (utilização do item em novos contextos e com novos sentidos).

Percorrendo as reflexões de BYBEE (2003), é possível concluir que a ritualização de um item pode: conduzir a perdas semânticas e à redução e/ou fusão fonológica; oferecer maior autonomia às formas ou expressões linguísticas; promover a ampliação dos contextos de uso das referidas formas e levá2las a estabelecer novas redes de sentido. Além disso, devido à autonomia, as construções passam a penetrar mais na língua. Por outro lado, convém lembrar que podem guardar algumas de suas peculiaridades morfossintáticas.

Muito do que se refere ao saber gramatical dos falantes se fundamenta no reajuste, na adaptação de recursos já expostos nas interações verbais, devido às constantes reutilizações e ritualizações das expressões linguísticas nos diversos contextos nos quais se inserem os interlocutores (VÁZQUEZ ROZAS e GARCÍA2MIGUEL: 2006). Com efeito, o conteúdo do que é repetido e o modo como os indivíduos selecionam os constituintes para produzir enunciados são imprescindíveis à representação cognitiva e ao processo de gramaticalização.

+%I% 2HJ 6.@.707 ! .36 ,/2HJ 6.@.707 04 //.H. .707 7 , 1 , 36 /

(36)

centrais nas atividades de uso da língua, uma vez que a interação só se dá efetivamente se estas peças estiverem engajadas no processo de produção e interpretação discursiva.

Os locutores se propõem como sujeitos, são capazes de fazê2lo. A /2HJ 6.@.707

consiste em uma unidade psíquica que supera o conjunto de experiências vividas e que dá base à permanência da consciência. Trata2se, portanto, de uma propriedade essencial da linguagem e que pode ser experimentada quando um ‘ 2’ se dirige ao outro, a um ‘62’. A dualidade eu ↔ tu move as atividades de uso da língua, conforme sinalizou BEVENISTE (1995).

A linguagem só é possível porque cada locutor se apresenta como sujeito, remetendo a ele mesmo comoeuno seu discurso. Por isso,eupropõe outra pessoa, aquela que, sendo embora exterior a 'mim' torna2se o meu eco 2 ao qual digo tu e que me diz tu. A polaridade das pessoas é na linguagem a condição fundamental, cujo processo de comunicação, de que partimos, é apenas uma consequência totalmente pragmática. Polaridade, aliás, muito singular em si mesma, e que apresenta um tipo de oposição do qual não se encontra o equivalente em lugar nenhum, fora da linguagem. Esta polaridade não significa igualdade nem simetria, o ego tem sempre uma posição de transcendência quanto a tu; apesar disso, 3 3?2- 75/ 75./ 6 ,-5/ / 4534 H / - 5 526,5K /;5 45-9 - 360, /L (...) (BENVENISTE, 1995, p.286).

A relação entre eu ↔ tu influencia a construção da comunicação linguística, já que, ao produzir seu discurso, o falante/escritor assume as expectativas do destinatário/leitor para lograr seus objetivos comunicativos. Tem em conta, portanto, noções a respeito do conhecimento e da competência linguística do destinatário/leitor e de algumas convenções necessárias à práxis interacional. Tais noções podem direcionar a escolha de expressões e de formas da língua.

De um ângulo mais amplo, VÁZQUEZ ROZAS e GARCÍA2MIGUEL (2006)

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(37)

explicam que as manifestações da subjetividade não se limitam a marcas gramaticais. A seleção dos parâmetros de pessoa, do tipo e tempo verbais, dos itens e de sua ordem nos enunciados também indica a presença da subjetividade na produção discursiva. Reconhecer a relação entre falante/escritor e destinatário/leitor como condição ou fundamento para que a comunicação linguística se estabeleça significa examinar a linguagem a partir de seu caráter interacional de forma mais efetiva, sob a luz da .36 ,/2HJ 6.@.707 . Implica sublinhar também que cada partícipe registra dados de seus propósitos nos momentos de interação, ou seja, dá pistas de maneira de ver o mundo, das impressões que tem de si mesmo e do que sabe ou consegue inferir do olhar do outro.

A interação é, por essência, o campo da .36 ,/2HJ 6.@.707 , porque se constitui, na maioria das vezes, como base na atenção ao jogo de sentidos estabelecido pelos partícipes da situação comunicativa. Este jogo de sentidos intersubjetivos permite que os falantes mexicanos acoplem um ‘le’ despronominalizado, de fundamentação pragmática, em construções como “córrele”,”ándale” sem que haja ruído comunicativo algum.

Observam TRAUGOTT e DASHER (2003) que existem expressões mais objetivas, outras mais subjetivas e significados intersubjetivos. As expressões mais objetivas quase não dependem de inferências baseadas na relação entre os interlocutores da interação, são minimamente marcadas por modalidade, os itens lexicais são minimamente dêiticos e os sentidos tendem a ser mais explícitos. Por outro lado, as expressões mais subjetivas são caracterizadas por dêixis espaciais, temporais e por marcadores. Neste contexto, os sentidos dependem mais das atitudes do falante/escritor.

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sentido, a codificação clítica pode revelar graus significativos de intersubjetividade, ou seja, está relacionada aos significados intersubjetivos, pois se fundamenta na situação de produção discursiva.

No nível textual, o arranjo dos elementos e das relações está atrelado à tessitura, à coesão. Desta forma, os constituintes dos textos são colocados de acordo com o que já foi dito pelo falante (7075! , 429 ,=@ ) e como o que lhe será apresentado (35@5! 3;5 , 429 ,=@ )9. As considerações sobre as noções dado/novo se inserem no âmbito do /606265 .315,-04.530 dos constituintes da oração. Para CHAFE (1976, p.31), o falante presume que um determinado elemento está (dado) ou não (novo) no plano de acesso referencial do ouvinte, com base em pistas interacionais obtidas na situação comunicativa. A informação dada tende a demandar do falante menos esforço linguístico, por isso pode ser codificada por um pronome.

Os elementos dados estão contidos na informação pragmática do falante. Isso significa que podem estar sujeitos às peculiaridades concernentes à concepção de mundo, a referências culturais, a nuances da relação afetiva dos participantes e a especificidades do contexto situacional. Em termos cognitivos,5 95365 7 @./60(empatia) 5 1 285 7 06 3:;5

são noções pertinentes para que se possam determinar os valores das entidades presentes em um evento real, posto que assinalam sua relativa importância comunicacional.

O fundamento cognitivo da noção de ponto de vista se apóia no fato de as pessoas, além de terem sua própria opinião com relação ao mundo, possuírem a capacidade de filtrar o que observam a partir da perspectiva de outrem. No que concerne à caracterização, o ponto de vista pode ser 86 ,35 (de um observador desinteressado) ou .36 ,35 (de um observador interessado). No que tange ao fluxo de atenção, podemos dizer que pode ser analisado linguisticamente tendo em conta a marcação de caso, a concordância verbal e a ordem dos

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constituintes.

É o fluxo de atenção que determina a ordenação linear dos SNs. Os SNs na sentença são apresentados na sequência desejada pelo falante para que o ouvinte atente para eles. Alterações de ordem como alterações de voz e topicalizações são mecanismos usados para controlar o fluxo de atenção (PEZATTI, 2004, p.188).

O trabalho de GIVÓN (1983) tangente ao status de topicalidade dos referentes, conforme já apresentado brevemente, também é de grande valia quando refletimos sobre a retomada de itens no discurso. Assevera que quanto mais recorrente for o elemento na produção discursiva, mais comumente é codificado por anáfora zero ou por pronomes anafóricos. Propõe, então, a “?.9M6 / 70 4536.32.707 7 6M9.45”, também conhecida como “?.9M6 / 7 4536.32.707 6 -=6.40 52 , 1 , 34.0”.

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O grau de acessibilidade de um item do discurso é maior se o falante supõe que este está disponível para o interlocutor. O grau de ativação cognitiva das entidades pode ir de um extremo a outro na escala, ou seja, de um nível máximo ao mínimo de disponibilidade. Quanto menor for o conteúdo descritivo da expressão anafórica, maior é seu grau de acesso. Por isso, concordamos plenamente com VÁZQUEZ ROZAS (2004): a acessibilidade é codificada linguisticamente com base no princípio de iconicidade.

El análisis que se deriva de la teoría de la accesibilidad es, sin duda, intuitivamente plausible, y encaja perfectamente en el principio de iconicidad mencionado según el cual a menor coste cognitivo 2 mayor accesibilidad 2 , menor carga de material léxico será necesaria (de ahí el empleo de desinencias y clíticos), mientras que un mayor coste cognitivo de activación 2 menor accesibilidad 2 requerirá el empleo de expresiones léxicamente plenas (frases nominales).VÁZQUEZ ROZAS (2004, p. 33)10

As expressões referenciais indicam influências do falante sobre a representação mental

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do referente que possui o receptor. O status de acessibilidade dos referentes é um tipo de informação a que só podemos ter acesso a partir do contexto. Este se desdobra em três componentes: o/.6204.530, concernente ao intercâmbio comunicativo; o42 62,0, no qual se concentram o conhecimento enciclopédico e de mundo dos interlocutores; e o7./42,/.@5, que engloba o contexto linguístico ou co2texto.

Segundo GIVÓN (1992), o co2texto 2 de menor variabilidade que o situacional e o cultural 2 nos fornece indícios sobre o comportamento discursivo das expressões referenciais, além disso, pode ser empiricamente quantificado. Um dos modelos que alcança essa base empírica é o modelo de distância referencial. A acessibilidade aumenta quanto menor for a distância entre a ancoragem e o termo anafórico.

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O antecedente, de acordo com o que viemos apresentando até aqui, não se deve entender apenas como um elemento do contexto linguístico, mas também como uma representação mental. Tal representação, codificada por uma expressão referencial, é selecionada pelo enunciador porque este sabe que, através de inferências pragmáticas, o co2 enunciador será capaz de estabelecer a identificação.

É oportuno ressaltar que a teoria da acessibilidade, embora seja um avanço nos estudos da anáfora, não dá conta dos traços semânticos da expressão referencial e nem do papel do enunciador ao trazer à baila o antecedente no discurso. Certamente, uma análise mais aprofundada deve levar em consideração tais questões, visto que a seleção clítica nos revela nuances da dimensão subjetiva do enunciador.

+%N% 4534 .65 7 6,03/.6.@.707 70 7 /4,.:;5 05 5 ?0, 7./42,/.@5

A transitividade tem sido vista tradicionalmente nos estudos hispânicos como um processo no qual o verbo é colocado como regente central, como o elemento fundamental a que todos os outros constituintes estão atrelados. Concebendo2o como uma categoria gramatical, TORREGO (2002) classifica os verbos em três planos: morfológico ( regulares, irregulares e defectivos); sintático (transitivos, intransitivos, causativos ou factitivos11, pronominais, copulativos e auxiliares); e semântico (de ação, processo ou estado). Se nos fixarmos no direcionamento sintático estabelecido por TORREGO (2002), podemos dizer que a exigência ou não de complementos ou o fato de servir de ponte entre um atributo e um sujeito, são referências suficientes para dar conta do mecanismo da transitividade.

De forma similar, expõe LLORACH (1995) que a possibilidade ou a impossibilidade de que o verbo admita complemento direto é critério de classificação de

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transitivos e intransitivos. Não ressalta os pormenores de sua conclusão, mas garante que a presença ou ausência de objeto depende da intenção comunicativa do falante. Ao examinar a questão, FRANCH e BLECUA (1998) destacam que os termos ‘transitivo’ e ‘intransitivo’ 2 responsáveis por definir a capacidade designativa do verbo 2 se apresentam com uma imprecisão considerável.

Em uma perspectiva descritiva e realizando uma análise criteriosa, CAMPOS (1999) questiona se a transitividade é propriedade das construções ou dos verbos. Enfatiza que a intenção expressiva do falante em cada evento comunicativo é regulada pelos verbos e acredita também que o uso alguns verbos como transitivos em alguns contextos e intransitivos em outros12pode ser explicado em termos cognitivos, isto é, a seleção dos argumentos verbais depende da intenção expressiva dos falantes. Esta intenção atende às características semânticas das formas verbais, principalmente no que se refere ao objeto direto.13

Llamaremos ‘complemento directo’ al sintagma nominal que está regido tanto sintáctica como semánticamente por el verbo. La rección sintáctica se manifiesta en el hecho de que el verbo determina que tal complemento ha de ser un sintagma nominal. La rección semántica la vemos en el hecho de que sólo ciertos tipos de complementos nominales califican como complementos directos. (CAMPOS, 1999, p.1529)14

Acentua CAMPOS (1999): é o verbo que solicita lexicalmente um objeto indireto e este só faz parte da estrutura argumental quando co2aparece com o objeto direto. Cumpre

12

Casos como: Pablo lee historietas de aventuras x Pablo lee (CAMPOS,1999, p.1523). 13

HALLIDAY (1985) propõe uma classificação semântica dos verbos. Estes se dividiriam em três grandes grupos: os de processo material (de situações dinâmicas ou de transformação); mental (do mundo da consciência) e relacional (das situações estáticas). De acordo com esta perspectiva, há mais três grupos secundários ou ditos mixtos: de processo verbal, de conduta e existencial. Esta classificação nos ajudará no cruzamento dos valores semânticos dos verbos com as realizações não referencias de ‘le’, mais propriamente no capítulo 4.

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assinalar que, dentro deste enfoque, a função acusativa exercida pelo objeto direto é necessariamente argumental, contudo a função dativa só é argumental quando as peculiaridades léxico2semânticas dos verbos a tomam como imprescindível à construção do enunciado.

Em estudos anteriores aos apresentados aqui15, se faz presente 5 95/62 075 70 4 36,0 .707 @ ,H0, proveniente dos trabalhos de TESNIÉRE (1959). Conforme as noções arroladas neste postulado, o verbo é o eixo central e integra diferentes elementos em um conjunto. Desse modo, a oração é construída com base nas relações de dependência e hierarquia: o verbo rege actantes (argumentos) e o número de actantes por ele regido proporcionará a caracterização de sua valência.16

No enunciado: (3)“y ahí les llevaba el lonche”17, há, portanto, três actantes e o verbo “llevar” é trivalente. Os três actantes são: o sujeito, o objeto direto e o indireto. É válido ressaltar que, de acordo com o princípio da centralidade verbal, o sujeito também é requerido pelo verbo, por isso é considerado um argumento verbal. Assim sendo, o primeiro actante é o elemento que realiza a ação, o segundo é afetado por ela e o terceiro funciona como um item que recebe algo em decorrência das relações entre os componentes da oração.

Embora não consiga distinguir bem actantes e circunstantes, o postulado da centralidade verbal oferece aos estudos da sintaxe algumas contribuições. A oração não é analisada apenas de forma linear, porque as relações de dependência se estabelecem de maneira um pouco mais clara; a dicotomia sujeito x predicado é desfeita; o sujeito é entendido como um dos argumentos do verbo; e há, de maneira sutil, uma preocupação com as propriedades semânticas das formas verbais.

15

Até então, as noções de transitividade trazidas à baila neste capítulo enfocaram a relação de regência entre o verbo e possíveis objetos da oração, orientadas pelo direcionamento latino, assumido, de um modo geral, pelas gramáticas normativas de espanhol. Não obstante, o termotransitividadenas gramáticas especulativas medievais é mais abrangente e se estende a todo tipo de construções. (GARCÍA2MIGUEL, 1992, p.82)

16

Valênciaé um termo proveniente da química, usado na linguística com referência ao número e ao tipo de laços que poderiam existir entre os elementos sintáticos. (CRYSTAL,1985,p.264).

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Reconsiderando questões concernentes ao mencionado postulado de TESNIÈRE (1959), HELBIG e SCHENKEL (1983)18 incluem o vínculo entre o contexto sintático e o contexto semântico na análise das valências e da distribuição sintática. Defendem que a valência verbal é determinada apenas pelo número de actantes obrigatórios e que especificidades de caráter sintático e semântico são imprescindíveis à valência qualitativa. Neste ponto de vista, em (3) “y ahí les llevaba el lonche” há um verbo trivalente, tendo em vista que o enunciado é constituído por três actantes indispensáveis à produção de sentidos.

Dando uma dimensão um pouco mais discursiva ao processo, LAMÍQUIZ (1998) insiste que, quando funciona morfossintaticamente, o valor semântico do lexema verbal pode originar diferentes pautas hierárquicas:.36,03/.6.@0(que oferece semanticamente significados que se ajustam perfeitamente à captação comunicativa);6,03/.6.@0 (de significação geral ou ambígua que precisa completar2se) e 4592 06.@0 (que estabelece na oração uma relação de identificação ou atributiva). Na concepção de LAMÍQUIZ (1998), como os copulativos necessitam de uma predicação semântica atributiva ou nominal, ultrapassam o limite da transitividade e, desta forma, são excluídos da escala. A figura 5 nos auxilia na compreensão da referida classificação.

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Na escala apresentada, a fronteira entre os verbos transitivos e os intransitivos é pouco precisa e só pode ser entendida se nos basearmos nas peculiaridades léxico2semânticas das formas verbais. Convém elucidar que a projeção hierárquica nos mostra apenas a gradação de probabilidade do uso de complementação e não desfaz a falta de precisão na referida classificação. Não obstante, LAMÍQUIZ (1998) nos apresenta duas ponderações relevantes: há uma dependência semântico2funcional entre os itens dos enunciados e diferentes graus de transitividade.

(...) la necesidad de complementación y, con ella, la probabilidad de que aparezca el implemento tras un verbo es inversamente proporcional a la independencia semántica del lexema de dicho verbo. Si bien se observa, la motivación es semántica y la consecuencia es funcional. Ahora bien, la lengua es un sistema de comunicación donde todo está en función de todo: estructuralmente no hay nada independiente. Por ello nos atrevemos a afirmar que no existen verbos intransitivos, sino que todo verbo es más o menos transitivo. (LAMÍQUIZ,1998, p.174)19

A dimensão discursiva é deveras relevante aos estudos referentes à transitividade. Uma valiosa contribuição do funcionalismo é a reformulação deste conceito por HOPPER e THOMPSON (1980). Para estes linguistas, a transitividade é uma relação crucial nas línguas e dela derivam consequências de ordem gramatical. Suas propriedades são determinadas pelo discurso, não se restringem apenas, como tradicionalmente se coloca, às peculiaridades dos verbos.

A transitividade, neste escopo de análise, é entendida como um contínuo, uma atividade transferida de um agente a um paciente, que se estende ao enunciado como um todo. HOPPER e THOMPSON (1980, p.251) elencaram componentes que configuram a noção de

19

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transitividade e que são codificados na produção do discurso. Identificaram parâmetros de base sintático2semântica que fornecem subsídios para que possamos classificar os níveis de transitividade dos enunciados. Dez são os parâmetros de transitividade propostos. Vejamos como se distribuem no quadro 2:

No tocante à individuação do objeto, ainda podem ser arroladas outras peculiaridades:

Como pudemos notar, há um vínculo claro entre a transitividade e a função pragmática. A organização discursiva é determinada, por um lado, pelos objetivos comunicativos dos falantes e, por outro, pela antecipação das necessidades dos interlocutores. Os falantes, a partir da seleção e ordenação de itens no enunciado, dão pistas ao seu interlocutor a respeito do que é central (1.<2,0) ou periférico (12375) em seu discurso20. É fundamental dizermos que, para HOPPER e THOMPSON (1980), a transitividade prototípica,

20

(48)

isto é, a relação de transitividade mais representativa, de maior nível, se fundamenta em ações com dois participantes: um agente que move e controla a ação e um paciente afetado por ela.

Para efeitos de esclarecimento, sua organização nos planos de figura e fundo também dá suporte discursivo a esses traços. Os estudos de HOPPER (1979) frisam que as narrativas se organizam textualmente em dois planos complementares: o de figura e o de fundo. O primeiro se centra nos acontecimentos sobre os quais recai o foco narrativo. Estes acontecimentos têm em conta a iconicidade, isto é, a ordem que os caracteriza no mundo real. O segundo se vincula às informações que ambientam os acontecimentos principais.

HOPPER e THOMPSON (2001) revisitam o assunto, ao dirigirem sua atenção à fala informal. Apesar de realizarem algumas ponderações com relação à análise anterior, mantiveram similar linha de raciocínio. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos parâmetros de transitividade citados:

(1) 0,6.4.9036 /

As ações são transferidas de um participante a outro. Assim, para que a transitividade se dê, é necessário que haja pelo menos dois participantes. Conforme já ressaltamos, um deles move e o outro é afetado pela ação.

(2) .3 /

O dinamismo da oração está vinculado ao conceito de 4.3 / . Verbos cinéticos são aqueles que provocam modificações, são elementos situados no âmbito da figura, centrais no que se refere à estrutura do texto.

(3) /9 465

(49)

o aspecto verbal for perfectivo, assinala que o evento é visto de forma completa no que tange ao universo do discurso.

(4) 53620 .707

A pontualidade garante o efetivo afetamento do evento, por isso está atrelada ao alto nível de transitividade. Verbos não2pontuais são utilizados para dar corpo, para contextualizar o plano textual, não afetam diretamente a ação.

(5) 36 34.530 .707 / (8) < 36.@.707 75 /2J .65

Estes parâmetros estão vinculados à participação do sujeito na predicação verbal. Se o sujeito praticar a ação intencionalmente e for agente, o nível de transitividade é maior.

(6) 5 0,.707 Q(7)-570 .707 70 5,0:;5

De acordo com o parâmetro da polaridade, as orações podem ser afirmativas ou negativas, e, segundo a modalidade, reais ou irreais. As orações afirmativas são as mais propensas a se ancorar em eventos reais, por isso sua realização contribui para aumentar o nível de transitividade.

(9) 1 60- 365 Q(10) 37.@.720:;5 75 5HJ 65

(50)

Em: (4)“le di dos de los negocios”21, há três participantes, o verbo é de ação, de aspecto perfectivo e pontual. Trata2se de uma oração afirmativa e de modalidade real. Além disso, o sujeito é agentivo e realizou a ação intencionalmente. Embora os argumentos “le22 /dos de los negocios“ não sejam afetados e apenas um seja individuado (le), os outros parâmetros garantem ao enunciado um alto grau de transitividade.

Por outro lado, em “camino una hora” 23, só o fato de possuir apenas um participante diminui, consideravelmente, seu nível de transitividade. Dois dos dez parâmetros de análise (9 e 10) sequer podem ser aplicados, assim como nos casos de perda de capacidade referencial de ‘le’. Como em: (5)“Hoy o mañana, ¡pero R<2 ! ...(OEM)”

Esta maneira de entender o processo de transitividade é modelo para esta tese, pois a partir dele notamos com mais clareza que as particularidades semântico2discursivas dos componentes de um enunciado influenciam as conexões e a hierarquia dos constituintes da língua no plano sintático.

+%$% 0,6.4.9036 / 95, 2-0 40,046 ,.E0:;5

Neste subitem, baseando2nos no conceito de transitividade preconizado por HOPPER e THOMPSON (1980), fazemos uma rápida alusão aos participantes das cláusulas, isto é, aos itens centrais aos quais outros elementos se subordinam: /2J .65! 45-9 - 365 7., 65 .37., 65. Sua seleção é direcionada pelos falantes, que elegem, de acordo com o que é mais importante no seu discurso, os sintagmas nominais que obterão maior relevo. Todavia, convém reconhecer que, embora o valor dos participantes seja determinado pelo contraste entre os mesmos, há particularidades impostas pela seleção do predicado no que concerne aos

21

Corpus El Habla de Monterrey. Informante de 37 anos, pós2graduada. 22

Pronome anafórico. 23

(51)

argumentos.

Conforme expusemos anteriormente, a transitividade prototípica se configura na relação polarizada entre o sujeito e o complemento direto. As características destes participantes se desvelam como traços opostos, pois enquanto o sujeito tende a ser agente, animado, de alta continuidade discursiva, definido e tópico primário, o complemento direto tende a ser paciente, inanimado, de baixa continuidade discursiva, indefinido e tópico secundário. Neste prisma, o complemento indireto, compartilha muito mais traços com o sujeito do que com o complemento direto.

Na verdade, o sujeito e o complemento indireto são diferentes pelo fato de aquele estar no primeiro nível, no que diz respeito à topicalidade, e de ser, necessariamente, argumental. Há que se considerar que, mesmo quando o dativo não é argumental, pode ser concebido pelos falantes como um elemento de figura e não de fundo, porque é visto como central na produção do enunciado. (GARCIA2MIGUEL,1992; VÁZQUEZ ROZAS, 1989).

Por su carácter de “función central no inherentemente valencial”, el CIND termina siendo muchas veces el medio más adecuado o el único para que el hablante presente como central una entidad que a priori sería marginal en el estado de cosas designado. (GARCÍA2MIGUEL,1992, p.75)24

Entendemos que o complemento indireto é um “agente potencial” (GARCÍA2 MIGUEL, 1992), porque possui maior controle sobre a ação do que o complemento direto. Precisamos reconhecer também que os traços de animacidade e de determinação aproximam muito o sujeito e o complemento indireto, algo que pode realçar a força subjetiva do dativo mesmo nos casos em que não se constitui como argumento. Em: (6)“..."Ya 9=, 3 ", pide Ninel Conde a la prensa Hola, hola amigos, ¿cómo están? Me da mucho gusto volverlos a

24

(52)

saludar esta semana, espero que se la estén pasando ...(OEM)”, o ouvinte é impelido pelo emissor a realizar uma ação, a ação de parar. Subjetivamente esta interpelação é acentuada pelo dativo não2argumental ‘le’.

Porém, não podemos nos esquecer que, mesmo que a carga subjetiva seja maior, as cláusulas constituídas por SUJEITO – PREDICADO – COMPLEMENTO INDIRETO apresentam um nível de transitividade mais baixo, pois em termos hierárquicos o complemento indireto é o terceiro elemento da escala argumental. Além disso, estas cláusulas são mais marcadas que as prototípicas (SUJEITO – PREDICADO 2 COMPLEMENTO DIRETO).

+%'% B36 / 75 409B62 5

O capítulo I teve como finalidade dar relevo ao marco teórico norteador desta tese de doutoramento. Nesta seção, optamos por elencar os conceitos2chave do funcionalismo que nos auxiliaram em nossas reflexões e na construção de nossa pesquisa tangente à perda de referencialidade do ‘le’ na variante mexicana do espanhol. Dentre eles destacamos: i) algumas premissas gerais que identificam os modelos funcionalistas, tais como o conceito de função, de concepção de linguagem, o postulado da não2autonomia da sintaxe e a visão dinâmica de sistema; ii) questões tangentes à hierarquia categorial, à revisão de dogmas estruturalistas e a sucintas noções sobre gramaticalização; iii) breves observações sobre (inter)subjetividade e o vínculo entre este conceito e a acessibilidade de referentes; iv) a relevância do conceito de transitividade; iv) e os traços que caracterizam os participantes do enunciado: sujeito, objeto direto e objeto indireto.

(53)

mexicana, decidimos pautar2nos no modelo funcionalista, uma vez que, assim como seus representantes, acreditamos que o componente discursivo é peça de fundamental relevância nas inovações e modificações do sistema de uma língua.

(54)

!

(55)

!

Este capítulo constitui, em conjunto com as considerações de caráter funcional discriminadas no capítulo 1, o suporte teórico2metodológico de nossa pesquisa. Percorrendo as reflexões referentes aos mecanismos e princípios do processo de gramaticalização, pretendemos traçar os caminhos que alicerçarão as metas desta tese de doutoramento.

>%+% 0/ / 75/ /6275/ /5H, <,0-06.40 .E0:;5

No que diz respeito aos antecedentes dos estudos de gramaticalização, HEINE (2003) assegura que há três fases que merecem ser discriminadas. A primeira se fundamenta no trabalho dos filósofos franceses e britânicos do século XVIII: CONDILLAC (1746) e HORN TOOKE (1786).

CONDILLAC (1746) observou que inflexões verbais tinham sido originadas de palavras independentes por abreviação ou mutilação. HORN TOOKE (1786), por sua vez, dividiu em categorias hierárquicas as 90 0@,0/ 3 4 //=,.0/ (nomes e verbos) e as

0H, @.070/, provenientes das primeiras. Postulou que a linguagem, em seu estado original, é concreta e que, posteriormente, dos conceitos concretos surgiriam os abstratos. GARACHANA CAMARERO (1997) insiste que essa consideração foi base de algumas hipóteses sobre os condicionamentos da ‘evolução’ das línguas, pois a relacionavam com o desenvolvimento da capacidade humana para comunicar2se.

Referências

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