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Curso de Direito Internacional Privado Del OLMO Florisbal de Souza

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Academic year: 2021

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A Deus, Criador de Todos os Mundos; A Jesus Cristo, o Divino Mestre; Pela vida, pela saúde, pelas inspirações. À Minha Família, Aos Meus Alunos, Aos Meus Amigos, Por tudo o mais. O autor

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Ao atingir sua décima edição, o Curso de Direito Internacional Privado busca complementar e aprimorar as sucessivas revisões e atualizações das edições anteriores, sempre com o intuito de torná-lo cada vez mais apropriado e completo para o estudioso do Direito. Procedeu-se a uma releitura atenta e abrangente de todos os capítulos, atualizando-os de acordo com a legislação vigente e as doutrinas clássica e contemporânea, bem como procurou-se sanar eventuais lacunas sobre a matéria.

Em alguns capítulos, como os que abordam a nacionalidade, o direito de família, a adoção internacional, a concorrência internacional e o Mercosul, o aporte oferecido nesta edição foi mais expressivo, devido a aspectos diversos e ao dinamismo vivenciado, ultimamente, por esses temas no que tange ao Direito Internacional Privado.

Procuramos elaborar um manual voltado especialmente para o estudante universitário, com uma linguagem acessível e objetiva, tornando a obra mais dinâmica. Em alguns capítulos, elaboramos tabelas para sintetizar determinados assuntos, com vistas a facilitar a aprendizagem do aluno, atentos, ademais, aos principais temas cobrados em concursos públicos, sempre concorridos, nos quais o Direito Internacional Privado tem sido uma matéria cada vez mais presente. Os resumos e as questões propostas, no final de cada capítulo, permitem ao leitor revisar brevemente e avaliar seus conhecimentos sobre o que aprendeu.

Buscando novas ementas sobre conflitos que envolvem leis interespaciais, houve não apenas substituição de casos apresentados na edição anterior, como o aporte de jurisprudência em mais alguns capítulos, de forma a permitir que o aluno e o jurista conheçam o posicionamento mais atual dos Tribunais do País. Exemplos clássicos da doutrina nacional e estrangeira também foram lembrados e explicados pertinentemente no decorrer dos capítulos, visualizando-se a aplicação das normas do DIPr em diversos países.

No acervo das normas brasileiras pertinentes ao Direito Internacional Privado, em anexo no final da obra, a par das atualizações legislativas, incluímos outros dispositivos, como artigos e parágrafos da Constituição Federal, do Código Civil e do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Registramos, a exemplo de edições anteriores, a valiosa participação, com pertinentes sugestões e comentários sempre enriquecedores e oportunos, dos professores Augusto Jaeger Junior, José Russo e Silvio Battello, que tanto contribuíram para o aprimoramento desta obra. Acresçam-se, nesta edição, pertinentes subsídios dos professores doutores Guilherme Camargo Massaú, Liliana Locatelli e Mara Darcanchy.

O auxílio da Especialista em Direito e oficial de chancelaria Elisa Cerioli Del’Olmo Kämpf também se constituiu em aporte inestimável, possibilitando, com sua percuciente leitura e oportunas críticas em cada um dos capítulos, alcançar o objetivo principal da obra – torná-la um instrumento acessível e objetivo, de maneira a propiciar um aprendizado mais fácil dos temas em estudo. A sua enriquecedora experiência laboral no Ministério das Relações Exteriores contribuiu para selecionar casos envolvendo os elementos de conexão do DIPr.

Reiteramos a nossa permanente disposição de mantermos e aperfeiçoarmos o Curso de Direito

Internacional Privado como uma fonte válida e eficaz no aprendizado de nossa matéria, permitindo ao

estudioso um adequado conhecimento e domínio desse ramo, a cada dia mais presente, no universo das disciplinas jurídicas.

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É com a disposição de ser útil aos estudiosos de Direito de todo o Brasil – professores, magistrados, procuradores, advogados e candidatos a concursos públicos na área jurídica –, que apresentamos este Curso de Direito Internacional Privado.

Lançada em 1999, como Direito Internacional Privado: Abordagens Fundamentais, Legislação,

Jurisprudência, a obra mereceu acolhida, com tiragens significativas. Embora sempre atualizada,

sentimos que chegara o momento de uma releitura mais abrangente, demorada e atenta e de inserção de novos capítulos, abordando segmentos do DIPr, não contemplados especificamente.

Colocamos nessa tarefa todo o nosso esforço e experiência acumulada. Admitido para estágio pós-doutoral no Curso de Pós-Graduação em Direito (CPGD) da Universidade Federal de Santa Catarina, sob a orientação do Professor Dr. Luiz Otávio Pimentel, centramos essa instigante fase de nossa vida acadêmica na elaboração de uma obra que, a par de se constituir em preito de gratidão aos que – professores e alunos – a haviam conduzido a aceitação tão ampla, trouxesse contribuição maior no campo do DIPr.

A eleição dos temas para reflexão tem origem acadêmica diversa. Provém de troca de experiências com expoentes da disciplina e de áreas correlatas, da releitura de clássicos nacionais e estrangeiros e das aulas ministradas em cursos de graduação e pós-graduação, de modo especial nas Universidades Federais de Santa Catarina (UFSC), do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Amazonas (UFAM) e de Uberlândia, MG (UFU), bem como na instituição em que trabalhamos desde 1996, a Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), campus de Santo Ângelo, RS, e da Escola Superior de Direito de Mato Grosso (ESUD), de Cuiabá, MT. Nossa visita à Polônia, durante o estágio pós-doutoral, em maio de 2007, proferindo palestras na Universidade de Varsóvia, na Escola Superior de Economia de Varsóvia e na Universidade Marie Curie, de Lublin, com o aporte trazido por essa experiência e troca de conhecimentos transnacional, conscientizou-nos da missão. Questões levantadas pelos alunos, em sua ânsia de resposta imediata e de ampliação de saberes, nesses encontros, trouxe motivação especial.

Encetado e bem elaborado, esse trabalho teve a gratificação maior do conhecimento de novos vieses e peculiaridades do Direito Internacional Privado. Ao optarmos por um objeto abrangente da disciplina, incluindo conflito de leis interespacial, nacionalidade, condição jurídica do estrangeiro, direitos adquiridos, conflito de jurisdições, competência internacional e reconhecimento de sentenças estrangeiras, surgiu a necessidade de abordar cada um deles. Reside aí a fonte dos capítulos adicionados, resultando agora em número total de vinte e cinco.

A nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro, as pessoas e a adoção internacional passam a constituir capítulos próprios. O consumidor, a concorrência, a propriedade intelectual, as relações jurídicas no trabalho e a competência, todos analisados sob o viés do Direito Internacional Privado, enriquecem a obra e permitem ao leitor economia de meios e buscas. Por óbvio, a consulta a outros autores é necessária e recomendável, pois o Curso de Direito Internacional Privado, como toda obra dessa natureza, não pode ter a pretensão de esgotar os temas abordados.

Mantiveram-se, no final dos capítulos, os resumos e as questões propostas, estas agora voltadas para respostas de formulação própria, que permitam ao leitor explicitar o que aprendeu, refletir sobre o aprendido e dominar o conteúdo estudado. O destaque de termos, expressões ou conceitos agora está em itálico, por assim entendermos mais adequado.

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Continuam presentes legislação e jurisprudência. A primeira permeia toda a obra, com acervo mais trabalhado no capítulo XI, optando-se apenas por não inserir, como anexo, o Estatuto do Estrangeiro (facilmente acessível no site http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6815.htm) e o Código Bustamante (site ccji.pgr.mpf.gov.br.ccji/legislacao). Houve, assim, substancial espaço para os novos capítulos e o conteúdo ampliado dos demais. Quanto à jurisprudência, referem-se decisões das cortes nacionais embasando e exemplificando conteúdos ao longo da obra, entendendose, contudo, desnecessário apresentar um rol mais amplo de ementas, hoje postas à disposição de todos nos endereços eletrônicos dos respectivos tribunais.

Um trabalho como este só é possível pela convergência de fatores e conjuntura, o que implica gratidão a colegas e amigos, mestres e alunos. Impõe-se, nessa tessitura, referir o aporte trazido pelos professores Cláudia Lima Marques, Luiz Otávio Pimentel, Augusto Jaeger Junior, José Russo, Adriane Cláudia Melo Lorentz, Sílvio Javier Battello, Amador Paes de Almeida, Astrid Heringer, Diego Pereira Machado, Alessandro Freitas de Faria e Marília Zanchet. Uma referência especial cabe à professora Salete Oro Boff, colega de estágio pós-doutoral na UFSC, com contribuições oportunas.

A participação dos mestres Jorge Mário Fensterseifer – ao longo da história da obra – e Artur Hamerski trouxe méritos para a linguagem e a correção do vernáculo. Membros do nosso Grupo de Pesquisas CNPq – Tutela dos Direitos e sua Efetividade, como Beatrice Guimarães Nóbrega, Fernanda Savian Rodrigues, Geferson Deutner da Silva, Vinicius Batista Morais, Paulo Grzeca, Patrick Fachim e Pablo Miguel Mucha, foram profundamente valiosos.

Por fim, refiro Elisa Cerioli Del´Olmo, também do Grupo de Pesquisas, filha e fonte de todas as inspirações na vida, na academia e nos sonhos. Sua vivência e estudos nos Estados Unidos e na Alemanha, seu envolvimento no Direito Ambiental e áreas jurídicas voltadas ao ser humano, não obstante sua juventude, trouxeram à obra contribuições inestimáveis, fruto de seu juízo crítico apurado e honestidade intelectual, direcionados a nos manter ativos, percucientes, insaciáveis na busca do saber e saudáveis em uma existência já longa.

Nosso objetivo maior é que o Curso de Direito Internacional Privado continue a merecer acolhida e, mais do que isso, a cumprir sua missão de tornar o estudo da matéria mais acessível, agradável e eficaz e a ocupar o espaço que esse ramo merece no âmbito geral das disciplinas jurídicas.

Outono de 2009 O autor

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O livro sobre o direito internacional privado do Professor Doutor Florisbal de Souza Del’Olmo chega a sua décima edição, sempre pela Editora Forense, do Rio de Janeiro, e a exemplo do que se viu ao longo dos anos, também esta edição contém atualizações importantes para o operador e para o estudante dessa matéria.

O autor é um ser humano vivido e um experiente jurista. Eu já contei esta história em outro escrito, mas como me orgulho muito dessa amizade, eu me permito repeti-la neste prefácio. Conheci o professor Del’Olmo num encontro proposital na escadaria do prédio da Justiça do Trabalho, então sediada na Rua 3 de Outubro, em Santo Ângelo, cidade em que morávamos, no Rio Grande do Sul. Na época, no começo do ano de 1997, ele, após exitosa carreira profissional em outra área, desempenhava funções naquele órgão, e eu era um especializando em Direito, e nós dois pretendentes a vagas de Mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina. Mesmo ainda sem uma vaga, de forma pretensiosa, pois, pus-me à procura de futuros colegas para dividir as despesas das viagens que passaríamos a fazer após a eventual aprovação para o curso. Informado sobre outros conterrâneos inscritos no processo seletivo, o primeiro listado que eu descobri e a quem eu acorri imediatamente foi o professor Florisbal Del’Olmo. Desde aquele momento, viajamos, semanalmente, durante um ano, para frequentar as aulas do Mestrado, quando, então, ocorreram trocas de informações sobre a vida e a experiência jurídica que até hoje me são proveitosas. Ele também me acolheu por muitas vezes em sua casa, para os estudos em grupo, durante o Mestrado na UFSC.

A amizade que ali se iniciou me deu segurança para passos mais arrojados na vida acadêmica. É oportuno mais uma vez reconhecer que foi através de um convite seu, que me tornei professor universitário. Em um determinado momento, em maio de 1998, o professor Del’Olmo necessitou afastar-se por curto período da atividade docente diária, e me convidou para substituí-lo como professor da disciplina de direito internacional privado, que foi lecionada na nossa Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, em Santo Ângelo. Veja-se que a nossa proximidade com o direito internacional privado vem já daquela época. Certo é que foi pelo convite do professor Del’Olmo, tendo sido conduzido pelas suas mãos até a turma, que eu dei as minhas primeiras aulas em uma universidade.

É pelos motivos acima confessados, não exclusivamente, que eu aceito com grande prazer o convite para apresentar mais uma de suas consagradas obras, que chega a sua décima edição.

Aquele afastamento antes referido do professor Del’Olmo das aulas não representou, de forma alguma, um descanso. Pois não é que já no começo do ano de 1999 surgia, para o mercado nacional, a primeira edição desta obra! Naquela época, ela se chamou Direito Internacional Privado: Abordagens

Fundamentais, Legislação e Jurisprudência e veio a suprir uma lacuna entre os operadores do Direito,

uma vez que continha, ademais dos temas clássicos da matéria, um capítulo sobre a União Europeia e outro sobre o Mercosul.

Eu acompanhei, com muita proximidade, uma vez que o substituía nas aulas na universidade, o trabalho e o esforço do professor Del’Olmo na construção daquela primeira versão. Até contribuí com um capítulo, qual seja, aquele que se dedicou ao Mercosul. De forma que hoje, assim como honrado, também me sinto bem à vontade com esse convite para prefaciar esta décima edição que temos em nossas mãos.

Desde o lançamento da primeira edição, em 1999, esse então primeiro livro do professor Del’Olmo alcançou grandes mestres da matéria, de renome internacional. Passados pouco mais de dois meses do

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lançamento, em 20 de julho de 1999, o autor recebeu uma carta em papel timbrado da já centenária Faculdade de Direito e Ciências Sociais da Universidade Nacional de Assunção. Ela vinha assinada pelo Decano da Faculdade, o Professor Doutor Ramón Silva Alonso. Eu guardei uma cópia dessa carta, porque foi expressiva também para mim, um professor em início de carreira, mestrando ainda na época. Agora com o convite para prefaciar esta décima edição, eu a recuperei em meus arquivos pessoais.

Naquela época, assim escreveu o professor Ramón Silva Alonso ao seu colega, professor Del’Olmo: “Quisiera expresarle al mismo tiempo cuánto agradezco el obsequio de su valiosa obra ‘Derecho Internacional Privado’, en la que en breve volumen, reúne Ud. ló que yo llamaría lo más valioso de nuestra materia. (…) me persuadí de que estamos en presencia de un trabajo excepcional. (…) Coincido con Ud. en que Teixeira de Freitas es sin duda una de las mayores glorias del derecho de su tiempo en América. También creo que Freitas no ha sido aún suficientemente estudiado ni valorado aún en el propio Brasil, considerando el tiempo en que le tocó vivir. Salvo la Argentina y quizás el Paraguay, no es suficientemente conocido en el Continente, teniendo en cuenta la grandeza de su figura”.

A carta seguia com referências à amizade comum que nutriam com outro professor paraguaio brilhante, o Dr. Roberto Ruiz Díaz Labrano, agora em 2013 festejado com um livro em sua homenagem pela ASADIP – Associação Americana de Direito Internacional Privado, lançado durante o Congresso Anual dessa entidade, realizado em novembro passado, em Assunção.1

Veja-se que a carta datava de 1999, e que o Brasil, por exemplo, apenas em 2002 passaria a ter um novo Código Civil, que reconheceu em sua organização algumas das brilhantes inovações jurídicas ofertadas por Teixeira de Freitas mais de um século e meio antes, em especial, a unificação das obrigações civis e comerciais.2

Mais tarde, movido por aquelas palavras do professor Ramón Silva Alonso, me atrevo a sugerir e o professor Del’Olmo viria a se dedicar com mais força ao estudo da obra de Augusto Teixeira de Freitas, de cujas pesquisas resultou o artigo Augusto Teixeira de Freitas: o protojurista do Mercosul,3 que, incorporado ao livro em edição seguinte, o completou e o engrandeceu.

De fato, a ideia da unificação das obrigações civis e comerciais não é recente. A aspiração de condensar as normas jurídicas em um único corpo de direito esteve presente desde as mais antigas civilizações.4 No Brasil do Império, o incremento comercial experimentado fez ser necessária uma legislação comercial. Assim, em 1850 surgiu o Código Comercial brasileiro, ordenamento que recebeu forte influência do Código Francês de 1807. Esta Lei ficou em discussão na Câmara dos Deputados por 16 anos, até ser promulgada pelo imperador constitucional Dom Pedro II. Como o Código Comercial veio antes de um ordenamento civil, foi tido como natural que incluísse muitas disciplinas de matérias que não constavam da desordenada legislação civil de então.

O surgimento de um Código que regulasse o direito civil não tinha a mesma sorte.5 Neste sentido, em 1854 o jurista brasileiro Augusto Teixeira de Freitas, ao propor um Código Civil para o Brasil, já insistia fortemente na unificação do direito obrigacional, cujo entendimento seria mais consentâneo para o ordenamento jurídico brasileiro. Afirmava o renomado estudioso que o direito civil e o comercial não eram distintos. A divisão era uma falsificação e uma frivolidade, pois a separação escondia o rompimento da igualdade entre as pessoas (dava só ao comerciante o direito de falir, por exemplo).

Sobre a personalidade marcante de Teixeira de Freitas, é possível ser dito que ele pensava em descompasso com o seu tempo.6 Vale ainda lembrar que se tratava de um perfeccionista.7 Segundo depoimentos colhidos, em sua vida Teixeira de Freitas produziu uma obra perfeita. Também como pessoa humana foi uma referência: certa feita se recusou a acolher as normas escravistas em seu documento, pois acreditava que logo fossem cair, como a morte civil e a restrição aos direitos civis aos nacionais.8

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E não somente em seu país o seu trabalho foi destacado, como lembrou o professor Ramón Silva Alonso, mas a sua obra serviu como um ponto de convergência na legislação civil entre os povos da América.9 Por tal é que o professor Del’Olmo o chamou de o protojurista do Mercosul. O ordenamento civil da Argentina, por exemplo, com o esforço de Vélez Sarsfield,10 tomou 1.200 artigos do seu Esboço. Igual influência foi reproduzida no Uruguai, com o estudo de Tristán Narvaja. Já no Paraguai, foi adotado o Código Argentino que, como visto acima, recebeu influência de Teixeira de Freitas.11 Além-mar, pensamento semelhante às suas ideias Vivante, na Itália, só foi ter cinquenta anos depois, quando também se opunha a um Código Comercial separado do Civil.

Em que pese os relevantes estudos desencadeados, o governo federal não foi receptivo a essas novas ideias e o trabalho foi interrompido ainda incompleto.

Para nova empreitada legislativa, concluída em 1865, fora novamente convidado Teixeira de Freitas, tendo se fixado em classificar as matérias e unificar o direito privado. O Esboço final desta compilação reuniu cinco milheiros de artigos.

Então em 1916 o ordenamento jurídico brasileiro recebeu a aprovação do Código Civil, após longa e tumultuada tramitação, especialmente devido à contestação veemente de Ruy Barbosa, que costumava se referir a ele como um produto do século anterior, já que oriundo de elaboração iniciada em 1896.

Uma manifestação sobre o Código Civil de 1916 que se faz necessária para o seguimento deste prefácio é que ele não consagrou essa ideia de unificação das obrigações civis e comerciais em um único documento, o que era a proposta de Teixeira de Freitas.

A ideia de unificação de matérias de direito privado, neste caso em especial a de obrigações civis e comerciais, já tinha sido aplicada em outros ordenamentos pelo mundo afora. Os países que a adotaram podem ser classificados segundo os sistemas de unificação que foram utilizados. Assim, há sistemas radicais e moderados.

Um exemplo do processo de unificação segundo o sistema moderado ocorreu no direito suíço, que tem um Código próprio para o direito das obrigações, fora do direito civil. E um exemplo de unificação segundo o sistema radical se deu no direito italiano, onde o Código Civil de 1942 unificou não só as obrigações, mas o direito privado, acabando com a diferença entre atos civis e comerciais e trabalhistas, mas mantendo normas especiais referentes à agricultura. Lá, diferentemente, e mais radical que a ideia original brasileira, o documento também comporta o direito do trabalho.

Mas a grande diferença do documento italiano referido acima com o sistema aprovado pelo Brasil por influência de Beviláqua e agora de Reale é que aquele não tem uma Parte Geral (outra elaboração de Teixeira de Freitas) e os nossos Códigos têm, motivo pelo qual eles não se confundem com os documentos italiano e suíço.

Coincidentemente, no mesmo ano de 1942, a Lei de Introdução ao Código Civil brasileiro também era alterada, em função da Segunda Guerra Mundial, estabelecendo um novo elemento de conexão, o domicílio. Este já havia sido indicado como o elemento mais apropriado por Teixeira de Freitas em sua Proposta.12 Essa modificação, talvez a principal da nova Lei de Introdução, pode ser entendida como um ajuste histórico, já que deu razão, cem anos após, ao iluminado pensador, alterando o mecanismo de Pimenta Bueno e Clóvis Beviláqua positivado em 1916, que estabelecera a nacionalidade como elemento de conexão para as questões de direito internacional privado.

O surgimento de um Código Civil em 1916 que não contemplou a unificação do direito privado, nem mesmo do ramo das obrigações, não conseguiu, todavia, sepultar a ideia de unificação. Novamente a ideia da unificação das obrigações teve ressurgimento em 1940, com o Projeto do Código de Obrigações

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e especialmente em 1965 com outro Projeto, que chegou a ser enviado ao Congresso Nacional, sendo depois igualmente arquivado.

O professor Ramón Silva Alonso, tendo escrito aquelas palavras, e com o debate estabelecido, foi durante a última década de sua vida um dos grandes impulsionadores do seguimento desta obra, hoje em décima edição. Ele veio a falecer passados pouco mais de dez anos de quando escreveu a carta aqui parcialmente reproduzida, em 8 de outubro de 2009. O seu passamento enlutou os profissionais do direito internacional privado do continente. Era o criador, o iniciador e o presidente da Academia Paraguaya de

Derecho y Ciencias Sociales. Em seu enterro, as seguintes palavras de despedidas foram pronunciadas

pelo Professor Doutor José A. Moreno Ruffinelli, que, assim como eu, foi iniciado em uma cátedra universitária por um grande mestre: “lo que nadie puede dudar, ni por un instante, es que sólo había una persona en nuestro país que podía hacerlo, pues nadie más tenía ese rasgo que lo diferenciaba netamente del resto de nuestros juristas: el de ser, sencillamente, indiscutible. Ese era el maestro Silva Alonso. (…) Tan pronto ingresó a la Facultad de Derecho, tuvo ese raro encantamiento con esta disciplina, que lo acompañó hasta los últimos instantes de su vida. (…) Ocupó y prestigió todos los grados de la carrera, del cursus honorarium: Juez de Primera Instancia en lo Civil, Miembro del Tribunal de Apelaciones en lo civil y comercial y miembro de la Corte Suprema de Justicia”.

Da mesma forma que aquele professor em relação ao seu mestre teve a honra de prefaciar a sua clássica obra paraguaia de direito internacional privado, aqui quem me a dá hoje é o meu mestre, o professor Del’Olmo.

Ainda no âmbito de questões pessoais que unem alunos e mestres, sobretudo, foi ele que me honrou desde muito jovem com uma amizade sincera e construtiva.

Outro eminente professor que logo se impactou com o seu estudo foi o catedrático Luis Ivani de Amorim Araujo, do Rio de Janeiro. Em uma cartinha datilografada à máquina, de 15 de junho de 1999, que eu pela mesma importância guardei, afirma ele que “O grande mérito do Prof. Florisbal, na publicação de ‘Direito Internacional Privado’ repousa no amparo incalculável que representa o texto do Docente aos epígonos e em estimular o interesse dos mesmos ao conhecimento do Direito que norteia o conflito das leis no espaço. (…) O jurista Florisbal é um exemplo a ser imitado pelos professores de nosso Brasil, escrevendo os seus cursos para adestrar o estudo dos discentes e atalhar a invasão de compêndios forâneos, nem sempre amoldados, e que, na realidade constituem autêntica invasão do nosso território cultural”.

Com o professor Ivani, Florisbal de Souza Del’Olmo também estabeleceu um debate acadêmico proveitoso, do qual resultou um livro com ele escrito,13 um livro com ele organizado,14 e um livro organizado em sua homenagem.15 O professor Luis Ivani de Amorim Araujo foi outro querido mestre que passou à imortalidade, recentemente, em 2007.

Pois bem, em sua primeira edição, publicada no começo do ano de 1999, a obra surgiu com dezoito capítulos. Ali já se via a opção metodológica de fazer com que cada capítulo fosse concluído com resumo e questionário, que a acompanha até a edição de agora, por terem sempre se mostrado úteis ao aprendizado. Na atualidade, a obra é apresentada em vinte e quatro interessantes capítulos. Apenas de longe lembra aquele tratamento clássico dado na primeira edição. Nos anos de 2008 e 2009, as edições correspondentes apresentaram novos capítulos, contendo os modernos temas de direito internacional privado, como Adoção Internacional, Direito Internacional da Concorrência, para cujo capítulo eu tive a oportunidade de contribuir, Direito Internacional do Consumidor e Direito Internacional do Trabalho.

O capítulo dedicado à União Europeia desta edição destaca a entrada em vigor, em 1º de dezembro de 2009, das modificações trazidas ao Direito da União pelo Tratado de Lisboa. Outro tema importante

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tratado na obra do professor Del’Olmo refere-se ao processo, como eu o chamo em obra assinada no ano passado e nas minhas aulas de graduação e de pós-graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de Europeização do Direito Internacional Privado.

Europeização do direito internacional privado significa que as normas de colisão autônomas dos Estados-membros da União Europeia (UE) restarão obsoletas. Isso é assim porque o processo de unificação da matéria no nível comunitário é levado a efeito através de regulamentos comunitários, os quais, segundo o artigo 288, n. 2, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) possuem aplicabilidade direta nos Estados-membros. A primazia de aplicação do direito comunitário atinge as normas de colisão dos direitos internos – sempre que o âmbito de aplicação de um determinado regulamento de direito internacional privado esteja envolvido – e isso tem como consequência, por causa do fundamental caráter universal das normas de colisão comunitárias, o fato de que as disposições de direito internacional privado dos Estados-membros da UE sejam afastadas da aplicação.

De fato, o processo de integração comunitário abrange, desde muito tempo, a matéria de direito internacional privado, em especial o direito processual civil internacional. A criação de um espaço de liberdade, de segurança e de justiça sem fronteiras internas, que de acordo com o ex-artigo 2º, n. 2, do Tratado da União Europeia (TUE), segundo a nova redação que lhe é dada pelo Tratado de Lisboa, deve ser ofertado aos cidadãos da UE, apresenta particulares exigências ao direito internacional privado.

Como um objetivo a longo prazo do processo de harmonização vislumbra-se o alcance de uma codificação de direito internacional privado com uma parte geral no nível da organização internacional.

Um último ponto a ser destacado no que se refere à atualização da obra está sediado no capítulo sobre o Direito da Concorrência. Refiro-me aqui à incorporação ao mesmo das inovações trazidas pela nova lei brasileira de defesa da concorrência, a Lei número 12.529, de 30 de novembro de 2011. Essa lei reestruturou o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência e dispôs sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica.

Cabe também referir as atualizações que o capítulo necessitou ter com a aprovação do novo texto do Acordo de Defesa da Concorrência do Mercosul, advindo com a Decisão número 43/10, do Conselho Mercado Comum.

Vale mencionar ainda o recente surgimento da Lei número 12.874, de 29 de outubro de 2013, que alterou o artigo 18 do Decreto-Lei no 4.657, de 4 de setembro de 1942, para possibilitar às autoridades consulares brasileiras celebrarem a separação e o divórcio consensuais de brasileiros no exterior.

Além dessa modificação, já ocorrida na LINDB, outras alterações são previstas para um futuro breve. A principal delas vem com a iminente reforma atualizadora do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Nos últimos dias, graças à atuação da Professora Cláudia Lima Marques, passou-se a esperar uma modificação no artigo 9º da LINDB. A mudança foi incluída dentro das modificações do CDC. O relatório foi apresentado e o projeto reuniu vários projetos, passando a tramitar conjuntamente, e hoje se encontram na Comissão Temporária de Modernização do CDC do Senado Federal. Espera-se que o projeto seja votado no Parlamento em breve e que, com isso, o País tenha de volta uma norma que permita a autonomia da vontade para a determinação do direito aplicável a certas obrigações plurilocalizadas, cassada com a reforma da LICC de 1942. A nova redação do artigo 9º, para aperfeiçoar a disciplina dos contratos internacionais comerciais e de consumo e dispor sobre as obrigações extracontratuais, começaria assim: “O contrato internacional entre profissionais, empresários e comerciantes rege-se pela lei escolhida pelas partes, sendo que o acordo das partes sobre esta escolha deve ser expresso”.

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Mestrado na UFSC, de termos realizado Doutorado na mesma instituição, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com a mesma orientadora, a Professora Doutora Cláudia Lima Marques, e o fato de eu ter iniciado a minha carreira acadêmica a convite do professor Del’Olmo e de ter sido por ele conduzido até a classe, que nos unem: nós dois há muito tempo trabalhamos academicamente as mesmas áreas do Direito. Além dessas que constituem o objeto do presente livro, o professor Del’Olmo leciona com primazia e autoridade o Direito Internacional Público, o Direito da Integração e o Direito da União Europeia. Basta ver que ele, em conjunto com o colega professor Diego Pereira Machado, publicou em 2011, o livro Direito da Integração, Direito Comunitário, Mercosul e União Europeia, pela Editora JusPodivm, de Salvador.

Essa comunhão de áreas nos colocou, nos quinze anos que computamos de amizade pessoal e acadêmica, em estreito e diário contato.

O Professor Florisbal de Souza Del’Olmo é um homem de bem. E como tal criou com a sua esposa, Neide, a filha Elisa, sendo que, juntos com o genro Martin, passaram neste ano de 2013 a transmitir amor e valores ao netinho Arthur.

Eu renovo os meus cumprimentos ao amigo e colega de profissão e à Editora Forense pelo surgimento da décima edição deste consagrado livro e pelo esforço continuado do professor Del’Olmo de ensinar aos jovens estudantes de Direito o apaixonante sistema de solução dos conflitos de leis no espaço. A todos os interessados, deseja-lhes uma boa leitura o Prof. Dr. Augusto Jaeger Junior Professor da Graduação e da Pós-graduação da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq. Doutor em Direito Comunitário pela UFRGS.

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______________ 1 DERECHO internacional privado y derecho de la integración: Libro homenaje a Roberto Ruiz Díaz Labrano. Asunción: Centro de Estudios de Derecho, Economía y Política – CEDEP, 2013. 2 JAEGER JUNIOR, Augusto. O novo Código Civil Brasileiro e a reorganização de empresas. Boletín Latinoamericano de Competencia. Bruxelas, out. 2002, n. 15, p. 53-77. 3 DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Augusto Teixeira de Freitas: o protojurista do Mercosul. In: PIMENTEL, Luiz Otávio (Coord.). Mercosul, Alca e Integração Euro-Latino-Americana. v. 1. Curitiba: Juruá, 2001. p. 239-247. Ver também em espanhol em DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Augusto Teixeira de Freitas – El Protojurista del Mercosur. Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Direito (UFRGS). Porto Alegre: PPGDir-UFRGS, v. II, n. IV, 2004. p. 111-117. 4 KARAM, Munir. Teixeira de Freitas e o processo de codificação do Direito Civil Brasileiro. Revista de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e Empresarial. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 29. p. 95-112, p. 95. 5 KARAM, Munir. Teixeira de Freitas e o processo de codificação do Direito Civil Brasileiro. Revista de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e Empresarial. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 29. p. 95-112, p. 97. 6 KARAM, Munir. Teixeira de Freitas e o processo de codificação do Direito Civil Brasileiro. Idem, ibidem. 7 KARAM, Munir. Teixeira de Freitas e o processo de codificação do Direito Civil Brasileiro. Revista de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e Empresarial. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 29. p. 95-112, p. 100. 8 KARAM, Munir. Teixeira de Freitas e o processo de codificação do Direito Civil Brasileiro. Idem, ibidem. 9 DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Augusto Teixeira de Freitas: o protojurista do Mercosul. In: PIMENTEL, Luiz Otávio (Coord.). Mercosul, Alca e Integração Euro-Latino-Americana. v. 1. Curitiba: Juruá, 2001. p. 239-247, p. 239. 10 DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Augusto Teixeira de Freitas: o protojurista do Mercosul. In: PIMENTEL, Luiz Otávio (Coord.). Mercosul, Alca e Integração Euro-Latino-Americana. v. 1. Curitiba: Juruá, 2001. p. 239-247, p. 240. 11 KARAM, Munir. Teixeira de Freitas e o processo de codificação do Direito Civil Brasileiro. Revista de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e Empresarial. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 29. p. 95-112, p. 107. 12 DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Augusto Teixeira de Freitas: o protojurista do Mercosul. In: PIMENTEL, Luiz Otávio (Coord.). Mercosul, Alca e Integração Euro-Latino-Americana. v. 1. Curitiba: Juruá, 2001. p. 239-247, p. 244. 13 DEL’OLMO, Florisbal de Souza; ARAÚJO, Luís Ivani de Amorim. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro Comentada. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2004. v. 1. p. 207. 14 DEL’OLMO, Florisbal de Souza; ARAÚJO, Luís Ivani de Amorim (Orgs.). Direito de Família Contemporâneo e os Novos Direitos: Estudos em Homenagem ao Professor José Russo. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006. v. 1. p. 353. 15 DEL’OLMO, Florisbal de Souza (Org.). Curso de Direito Internacional Contemporâneo: Estudos em Homenagem ao Prof. Dr. Luís Ivani de Amorim Araújo pelo seu 80º aniversário. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2003. v. 1. p. 700.

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a.C. Antes de Cristo AC Apelação Cível ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias AgR Agravo Regimental ALADI Associação Latino-Americana de Integração ALALC Associação Latino-Americana de Livre Comércio ALCA Área de Livre Comércio das Américas APEC Associação de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico Art. Artigo c/c Combinado com CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica cap. Capítulo CC Código Civil/Conflito de Competência CDC Código de Defesa do Consumidor CE Comissão Europeia CEE Comunidade Econômica Europeia CEEA Comunidade Europeia de Energia Atômica CECA Comunidade Europeia do Carvão e do Aço CF Constituição Federal CIDIP Conferências Interamericanas de Direito Internacional Privado CIG Conferência Intergovernamental CLT Consolidação das Leis do Trabalho CMC Conselho do Mercado Comum CNPJ Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas CP Código Penal CPC Código de Processo Civil CPGD Curso de Pós-Graduação em Direito

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CPF Cadastro de Pessoas Físicas CPP Código de Processo Penal DIPr Direito Internacional Privado DJU Diário de Justiça da União DL Decreto-lei DOE Diário Oficial do Estado DPI Direito Processual Internacional ECA Estatuto da Criança e do Adolescente EE Estatuto do Estrangeiro EIDAS Encontros Internacionais de Direito da América do Sul ESUD Escola Superior de Direito de Mato Grosso EUA Estados Unidos da América GATT Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio HC Habeas Corpus inc. Inciso INCOBRASA Industrial e Comercial Brasileira S/A IPTU Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana JSTJ-CD Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça JTRFS-CD Jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais – CD LICC Lei de Introdução ao Código Civil LIN Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro Mercosul Mercado Comum do Sul Min. Ministro MS Mandado de Segurança NAFTA Tratado Norte-Americano de Livre Comércio OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OEA Organização dos Estados Americanos OIT Organização Internacional do Trabalho

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ONU Organização das Nações Unidas p. Página/páginas PDCM Protocolo de Defesa da Concorrência do Mercosul PESTRAF Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial PUCRJ Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro RE Recurso Extraordinário ReCrim. Revisão Criminal Rel. Relator REO Recurso Ex Officio REsp Recurso Especial RESP. Recurso Especial RHC Recurso Habeas Corpus RISTF Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal RO Recurso Ordinário SAE Secretaria de Acompanhamento Econômico SBDC Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência SDE Secretaria de Direito Econômico séc. Século segs./ss. Seguintes SGT Subgrupo de Trabalho STJ Superior Tribunal de Justiça TJGB Tribunal de Justiça da Guanabara TJPE Tribunal de Justiça de Pernambuco TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo TRF Tribunal Regional Federal TRIPs Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual TST Tribunal Superior do Trabalho TUE Tratado da União Europeia

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UE União Europeia UFAM Universidade Federal do Amazonas UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UFSC Universidade Federal de Santa Catarina UFU Universidade Federal de Uberlândia UNIDROIT Estatuto Orgânico do Instituto Internacional para a Unificação do Direito Privado UNOESC Universidade do Oeste de Santa Catarina URI Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões v.g. Verbi gratia v. Volume vers. Versículo

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Capítulo I – Noções Fundamentais e Objeto do Direito Internacional Privado 1.1 Considerações iniciais 1.2 Conceito 1.3 Objeto 1.4 Normas de DIPr na Constituição Federal de 1988 1.5 Direitos adquiridos 1.6 Direito Internacional Privado e Direito Internacional Público 1.7 Direito Internacional Privado e Direito Comparado Resumo Questões Propostas Capítulo II – Esboço Histórico do Direito Internacional Privado 2.1 Considerações iniciais 2.2 Grécia 2.3 Roma 2.4 Feudalismo 2.5 Glosadores e escolas estatutárias 2.6 Codificação 2.7 Doutrinas modernas Resumo Questões Propostas Capítulo III – Denominação e Método de Direito Internacional Privado e a Disciplina no Brasil 3.1 Considerações iniciais 3.2 Denominação 3.3 Autonomia do DIPr 3.4 Método 3.5 Direito Internacional Privado no Brasil 3.5.1 Primeiros tempos 3.5.2 Augusto Teixeira de Freitas 3.5.3 José Antônio Pimenta Bueno 3.5.4 Notáveis tratadistas 3.5.5 Atualidade do DIPr brasileiro 3.6 Considerações finais Resumo Questões Propostas Capítulo IV – Fontes do Direito Internacional Privado 4.1 Considerações iniciais 4.2 Lei 4.3 Tratados 4.4 Doutrina

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4.5 Jurisprudência 4.6 Costumes Resumo Questões Propostas Capítulo V – Teoria das Qualificações 5.1 Considerações iniciais 5.2 Teorias existentes 5.3 Qualificações no Brasil 5.4 Casos clássicos 5.5 Questões prévias Resumo Questões Propostas Capítulo VI – Elementos de Conexão 6.1 Considerações iniciais 6.2 Classes de elementos de conexão 6.3 Conexões pessoais 6.3.1 Domicílio 6.3.2 Nacionalidade 6.4 Conexões reais 6.4.1 Lex rei sitae 6.5 Conexões voluntárias 6.5.1 Autonomia da vontade Resumo Questões Propostas Capítulo VII – Aplicação do Direito Estrangeiro 7.1 Considerações iniciais 7.2 Aplicação direta da lei estrangeira 7.3 Retorno 7.3.1 Caso Forgo 7.4 Limites à aplicação da lei estrangeira 7.4.1 Ordem pública 7.4.2 Fraude à lei 7.4.3 Favor negotii 7.4.4 Prélèvement 7.4.5 Instituições desconhecidas 7.4.6 Instituições abomináveis Resumo Questões Propostas Capítulo VIII – Homologação de Sentença Estrangeira 8.1 Considerações iniciais 8.2 Fundamentos 8.3 Documentos estrangeiros: cartas rogatórias

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8.4 Sentenças estrangeiras homologáveis 8.4.1 Conceituação 8.4.2 Decisões passíveis de homologação 8.4.3 Sistemas de homologação 8.4.4 Delibação 8.4.5 Órgãos homologadores, pressupostos e rito na Justiça brasileira 8.4.6 Sentença homologanda versus lide na Justiça brasileira 8.5 Convenção da ONU sobre prestação de alimentos no estrangeiro 8.6 Legislação brasileira 8.7 Jurisprudência brasileira 8.8 Considerações finais Resumo Questões Propostas Capítulo IX – Nacionalidade 9.1 Considerações iniciais 9.2 Interdisciplinaridade 9.3 Nacionalidade originária 9.3.1 Jus sanguinis 9.3.2 Jus soli 9.4 Naturalização 9.5 Conflitos de nacionalidade 9.5.1 Plurinacionalidade 9.5.2 Anacionalidade 9.6 Nacionalidade no ordenamento jurídico brasileiro 9.7 Perda da nacionalidade Resumo Questões Propostas Capítulo X – Condição Jurídica do Estrangeiro 10.1 Considerações iniciais 10.2 Ingresso e permanência 10.2.1 Passaporte 10.2.2 Visto 10.3 Afastamento compulsório 10.3.1 Institutos em desuso 10.3.2 Expulsão 10.3.3 Deportação 10.3.4 Diferenças entre expulsão e deportação 10.3.5 Extradição: conceito e classificação 10.3.6 Extradição de nacionais 10.3.7 Requisitos e limites da extradição 10.3.8 Caso Pinochet 10.3.9 Extradição na ordem jurídica brasileira 10.3.10 Tratados de extradição firmados pelo Brasil

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10.3.11 Diferenças dos demais institutos 10.4 Jurisprudência brasileira 10.5 Projeto de novo Estatuto do Estrangeiro Resumo Questões Propostas Capítulo XI – Pessoas no Direito Internacional Privado 11.1 Considerações iniciais 11.2 Personalidade 11.2.1 Começo da personalidade 11.2.2 Término da personalidade 11.3 Comoriência 11.4 Ausência 11.5 Poder familiar 11.6 Tutela 11.7 Curatela 11.8 Ação de alimentos Resumo Questões Propostas Capítulo XII – Direito de Família e Direito Internacional Privado 12.1 Direito de Família 12.2 Casamento e conflito de leis no espaço 12.3 Normas brasileiras sobre casamento 12.3.1 Capacidade 12.3.2 Impedimentos e formalidades 12.3.3 Casamento por procuração 12.3.4 Casamento no consulado 12.3.5 Nulidade do casamento 12.3.6 Regime de bens 12.4 Divórcio 12.5 Casamento entre pessoas do mesmo sexo 12.6 Jurisprudência brasileira Resumo Questões Propostas Capítulo XIII – Adoção Internacional 13.1 Considerações iniciais 13.2 Conceituação 13.3 Importância e atualidade 13.4 Adoção como resgate de crianças sem assistência 13.5 Adoção internacional 13.6 Documentos sobre adoção internacional e a Convenção de 1993 13.7 Adoção no ordenamento jurídico brasileiro e a adesão à Convenção de 1993 13.8 Noções básicas sobre adoção

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13.9 Brasil como país de origem do menor adotado 13.10 Organismos credenciados 13.11 Brasil como país de acolhida do menor adotado 13.12 Adoção internacional e nacionalidade 13.13 Caso João Herbert 13.14 Caso das meninas da Guiné-Bissau 13.15 Considerações finais Resumo Questões Propostas Capítulo XIV – Direito das Sucessões e Direito Internacional Privado 14.1 Considerações iniciais 14.2 Sucessão e conflito de leis no espaço 14.3 Elementos de conexão 14.4 Sucessão legítima 14.5 Sucessão testamentária Resumo Questões Propostas Capítulo XV – Direito das Obrigações e Direito Internacional Privado 15.1 Considerações iniciais 15.2 Obrigações na esfera internacional 15.3 Autonomia da vontade 15.4 Novos elementos de conexão 15.5 Normas brasileiras Resumo Questões Propostas Capítulo XVI – Direito do Consumidor e Direito Internacional Privado 16.1 Considerações iniciais 16.2 Consumidor no ordenamento jurídico brasileiro 16.3 Consumidor no DIPr 16.4 Proteção do consumidor nas Américas 16.4.1 Projeto de CIDIP de proteção do consumidor 16.5 Consumidor à luz da LINDB 16.5.1 Proposta de adequação da LINDB ao consumidor 16.6 Caso Panasonic 16.6.1 Ementa do caso 16.7 Considerações finais Resumo Questões Propostas Capítulo XVII – Direito Empresarial e Direito Internacional Privado 17.1 Considerações iniciais 17.2 Sociedade estrangeira e direito brasileiro 17.3 Sociedade binacional

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17.4 Estabelecimento 17.5 Capacidade para exercer a atividade empresarial 17.6 Legislação brasileira e direito empresarial internacional 17.7 Falência e recuperação empresarial 17.8 Falência internacional Resumo Questões Propostas Capítulo XVIII – Direito da Concorrência e Direito Internacional Privado 18.1 Considerações iniciais 18.2 Concorrência e Direito da Concorrência 18.3 Defesa da concorrência no Brasil 18.4 Abuso do poder econômico em um mercado relevante 18.5 Concorrência internacional: algumas reflexões 18.6 Concorrência no Mercosul e na União Europeia 18.7 Liberdades econômicas fundamentais 18.8 Considerações finais Resumo Questões Propostas Capítulo XIX – Direito das Coisas e Direito Internacional Privado 19.1 Considerações iniciais 19.2 Qualificação dos bens móveis e imóveis 19.3 Direito das coisas no ordenamento jurídico brasileiro 19.4 Direitos reais e conflito de leis no espaço 19.5 Referências especiais sobre alguns direitos reais 19.6 Regras de DIPr em outras ordens jurídicas Resumo Questões Propostas Capítulo XX – Propriedade Intelectual e Direito Internacional Privado 20.1 Considerações iniciais 20.2 Propriedade intelectual 20.2.1 Histórico 20.2.2 Importância na atualidade 20.3 Propriedade intelectual no Brasil 20.3.1 Medicamentos 20.3.2 Caso Efavirenz 20.4 Organização Mundial da Propriedade Intelectual 20.5 Convenções internacionais 20.5.1 TRIPs 20.6 Direito Internacional Privado e Propriedade Intelectual 20.7 DIPr brasileiro da Propriedade Intelectual 20.8 Considerações finais Resumo

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Questões Propostas Capítulo XXI – Direito do Trabalho e Direito Internacional Privado 21.1 Considerações iniciais 21.2 Direito Internacional Privado do Trabalho 21.3 Justiça competente 21.4 Contrato individual de trabalho e conflito interespacial 21.5 Emprego da lex loci executionis 21.6 Mercosul e harmonização das normas trabalhistas entre os países 21.7 Casos de conflitos trabalhistas interespaciais 21.8 Ementas de lides interespaciais Resumo Questões Propostas Capítulo XXII – Competência Internacional 22.1 Considerações iniciais 22.2 Conceito e objeto 22.3 Princípios e fontes do DPI 22.4 Competência internacional na legislação brasileira 22.5 Imunidade de jurisdição 22.5.1 Imunidade absoluta 22.5.2 Imunidade relativa 22.6 Jurisprudência brasileira 22.7 Considerações finais Resumo Questões Propostas Capítulo XXIII – União Europeia 23.1 Globalização da economia e formação de blocos continentais 23.2 Processo de integração dos Estados europeus 23.3 Instituições da União Europeia 23.3.1 Conselho Europeu 23.3.2 Comissão 23.3.3 Conselho da União Europeia 23.3.4 Parlamento Europeu 23.3.5 Tribunal de Contas 23.3.6 Tribunal de Justiça da União Europeia 23.3.7 Comitê Econômico e Social 23.3.8 Comitê das Regiões 23.3.9 Banco Central Europeu 23.4 Ordenamento jurídico comunitário 23.5 Supranacionalidade na União Europeia 23.6 Cidadania europeia 23.7 Livre circulação dos trabalhadores 23.8 Considerações finais

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Resumo Questões Propostas Capítulo XXIV – Mercosul 24.1 Antecedentes históricos 24.2 ALALC e ALADI 24.3 Conceitos básicos 24.4 Mercado Comum do Sul – Mercosul 24.5 Tratado de Assunção 24.6 Protocolo de Ouro Preto 24.7 Relacionamento com o exterior 24.8 Período do sucesso 24.9 Crise do Mercosul 24.10 Venezuela como membro pleno 24.11 Solução de controvérsias no Mercosul 24.12 Fragilidade institucional 24.13 Direito processual civil internacional do Mercosul 24.14 Harmonização das regras materiais 24.15 Parlamento do Mercosul 24.16 Considerações finais Resumo Questões Propostas ANEXO – Normas Brasileiras Pertinentes ao Direito Internacional Privado 1. Constituição da República Federativa do Brasil (1988) 2. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei n. 4.657/1942) (Redação determinada pela Lei n. 12, de 30.12.2010) 3. Código Civil (Lei n. 10.406/2002) 4. Código de Processo Civil (Lei n. 5.869/1973) 5. Código Tributário Nacional (Lei n. 5.172/1966) 6. Código Penal (Decreto-lei n. 2.848/1940) (Parte Geral com redação determinada pela Lei n. 7.209, de 11.07.1984) 7. Código de Processo Penal (Decreto-lei n. 3.689/1941) 8. Lei das Contravenções Penais (Decreto-lei n. 3.688/1941) 9. Lei dos Registros Públicos (Lei n. 6.015/1973) 10. Lei Antidrogas (Lei n. 11.343/2006) 11. Letra de Câmbio e Nota Promissória (Decreto n. 2.044/1908) 12. Lei de Recuperação de Falências (Lei n. 11.101/2005) 13. Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/1990) 14. Direitos Autorais (Lei n. 9.610/1998) 15. Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei n. 5.452/1943) 16. Técnicos Estrangeiros (Decreto-lei n. 691/1969) 17. Serviços no Exterior (Lei n. 7.064/1982) 18. Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei n. 7.565/1986) 19. Lei da Arbitragem (Lei n. 9.307/1996)

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NOÇÕES FUNDAMENTAIS E OBJETO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

“A definição é, portanto, meio para um fim que não consiste somente em indicar a significação de um nome, mas em precisá-lo para determinação de seu conceito” (Irineu Strenger).

1.1 Considerações iniciais

O ser humano sempre buscou, desde tempos imemoriais, a proximidade com seu semelhante. No começo, a família, ou o que se entendia como tal; depois a tribo: grupos maiores foram se formando, até se constituírem em povo ou nação, pessoas com identidades próprias e aspirações comuns. Só muito mais tarde aparece o Estado, como o conhecemos hoje, formado por três elementos essenciais: povo,

território e governo, amalgamados em uma unidade jurídica. Convém lembrar, como observou Amílcar

de Castro,1 que governo não deve ser confundido com força; território, com extensão geográfica; e

povo, com aglomeração de pessoas. Governo, símbolo do poder, deve ser visto como competência; território, como limite dessa competência; e povo, como conjunto de interações humanas.

Assim, o Estado é a sociedade maior e, como sociedade, deve estar intimamente ligado ao ser humano, em um conjunto harmônico. Esse Estado tem sua ordem jurídica, que regula o modus vivendi e a interação de seus habitantes, sendo essa ordem jurídica soberana nos limites de seu território. A lei não

estende seu comando além-fronteiras. Não existe um poder supranacional capaz de determinar,

juridicamente, o que deve ser feito por determinado Estado. Em realidade, nas relações internacionais impera um tipo de justiça privada: bloqueio econômico, retaliações, extorsão nos preços de produtos

essenciais, entre outros.

A humanidade busca incessantemente o convívio fraternal e proveitoso entre os povos. Tratados e convenções são acertados e firmados com a finalidade de aproximar os Estados e tornar mais agradável a vida dos cidadãos. Deve-se considerar que vivemos tempos de globalização econômica e de extraordinários avanços tecnológicos, que intensificam a dinâmica e a fluidez do intercâmbio entre os povos, em razão da necessidade econômica, da busca de conhecimentos, das atividades de lazer, do espírito de aventura e de outros fatores sociais e até religiosos.

O desenvolvimento dos meios de comunicação e de transporte só vem aumentar as relações entre pessoas de diferentes lugares, regidas por legislações diferentes. Desse intercâmbio muitas vezes decorrem problemas, que precisam ser dirimidos pela justiça. Daí perguntar-se: que justiça? À luz de qual legislação?

O conflito de leis pode ser no tempo ou no espaço. Do concurso de leis no tempo, vai preocupar-se o Direito Intertemporal, positivado na ordem jurídica brasileira nos primeiros artigos da LINDB. O conflito de leis no espaço é tema do Direito Internacional Privado, que, mais do que um direito verdadeiro, tem sido entendido como uma técnica de aplicação do Direito.

1.2 Conceito

Para Clóvis Beviláqua, Direito Internacional Privado é o conjunto de preceitos que regulam as relações de ordem privada da sociedade internacional,2 enquanto Luís Ivani Araújo vê esse ramo das

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ciências jurídicas como o conjunto de regras de direito interno, cujo objetivo é a solução de conflitos envolvendo leis originárias de Estados diferentes, indicando, em cada caso, a lei competente a ser aplicada.3 Essas definições, das quais não se afasta o entendimento de autores nacionais e estrangeiros dos últimos cem anos, nos aproximam de uma conceituação aceitável e compreensível da disciplina.

Nessa tessitura, visualizamos o Direito Internacional Privado como o conjunto de normas de direito público interno que busca, por meio dos elementos de conexão, encontrar o direito aplicável, nacional ou estrangeiro, quando a lide comporta opção entre mais de uma ordem jurídica para solucionar o caso. Cabe salientar a presença implícita de um elemento externo, que faça a conexão entre o direito interno e o estrangeiro.

Não hesitamos em colocar essas regras no âmbito do direito público, embora reconhecendo que importantes estudiosos as veem integradas no direito privado. Destinadas a compor litígios em relações privadas transnacionais, essas normas estão perfeitamente inseridas na ordem jurídica interna dos Estados, mas vêm gradativamente ocupando espaço em tratados e convenções internacionais, bem como em regulamentos da União Europeia.

Em verdade, ocorre a presença na relação sub judice de mais de um direito em condições de dirimir a lide. Essa peculiaridade pode ser referida como concurso de leis, simultaneidade de leis,

concorrência de leis, pluralidade de leis, contato de leis e opção entre leis, qualquer delas por certo

mais adequada do que a expressão consagrada: conflito de leis. O que deve ser enfatizado é que não há disputa, inexiste conflito, animosidade ou colisão, não há embate entre a legislação do foro e qualquer outra que possa dirimir o conflito – esse, sim – entre as partes.

Coerente com nosso entendimento, Amorim enfatiza que aplicamos a norma jurídica estrangeira seguindo determinações de uma lei local, não se tratando de conflitos, mas do reconhecimento de um direito adquirido no exterior: “Conflitos, realmente, há quando aquela lei ferir nossa soberania ou a ordem pública local.”4 Nesse sentido, poder-se-ia afirmar que o Direito Internacional Privado promove, na realidade, um diálogo entre ordenamentos jurídicos diversos.

Por fim, mencionemos mais dois conceitos para a disciplina. Segundo Strenger, é “um complexo de normas e princípios de regulação que, atuando nos diversos ordenamentos legais ou convencionais, estabelece qual o direito aplicável para resolver conflitos de leis ou sistemas, envolvendo relações jurídicas de natureza privada ou pública, com referências internacionais ou locais”.5 Para Cláudia Lima Marques, em entendimento sintético e avançado, o Direito Internacional Privado é “o ramo do direito interno que regula direta ou indiretamente as relações privadas internacionais”.6 A composição direta da lide, não se limitando a indicar o direito aplicável, pretende dar resposta eficiente e justa aos numerosos processos dessa natureza submetidos ao DIPr.

1.3 Objeto

O objeto central do Direito Internacional Privado é o conflito de leis no espaço, visto esse espaço como o de ordenamentos jurídicos diversos. Nessas leis se incluem temas de direito civil, comercial, trabalhista, industrial, fiscal, administrativo, penal e processual.

Enfatizando ser único o objeto de estudo do DIPr, Amílcar de Castro assim o sintetiza: “organizar direito adequado à apreciação de fatos anormais, ou fatos com duas ou mais jurisdições, sejam pertinentes ao fórum, ou ocorridos no estrangeiro.”7 Essa visão se ampara nas teorias italiana e alemã, as quais nos dois últimos séculos restringiram o campo do Direito Internacional Privado ao conflito de leis, tendo sido observada por outros autores brasileiros, como Eduardo Espínola e João Grandino Rodas.

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As doutrinas francesa e norte-americana ampliam o objeto de nossa disciplina. Para Jean Paul Niboyet, nele se incluem o conflito de leis, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro e os

direitos adquiridos.8 Henri Batiffol, de forma análoga, apenas coloca o conflito de jurisdições ao invés dos direitos adquiridos.9 Essa corrente francesa se ocupa da situação do ser humano nas relações privadas internacionais, identificando sujeitos de direitos (nacionalidade e condição jurídica do estrangeiro), exercício desses direitos (conflito de leis) e sanção dos direitos (conflito de jurisdições).

Atentos aos objetivos desta obra e alicerçados na releitura dos diversos autores, sentimo-nos autorizados a enunciar o objeto de Direito Internacional Privado mais adequado ao nosso tempo, quando limites não devem ser colocados na busca do conhecimento e na harmonia e coerência de conteúdos e métodos. Esse objeto que pode parecer amplo, à primeira vista, inclui o conflito de leis interespacial, a

nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro, os direitos adquiridos, o conflito de jurisdições, a competência internacional e o reconhecimento de sentenças estrangeiras. Não vemos, contudo, razão

para restringi-lo. Poderíamos entender, para exemplificar, que os direitos adquiridos estão inseridos na condição jurídica do estrangeiro; que a nacionalidade se integra no Direito Constitucional, limitando-se – como pensam vários autores – no DIPr à condição de elemento de conexão; que a sentença estrangeira é estudada na competência internacional, a qual, por sua vez, poderia ser analisada ao lado do conflito de jurisdições.

Nossa obra tem-se caracterizado pela simplicidade e objetividade. Nesse viés, cada um dos aludidos objetos do Direito Internacional Privado nela será estudado.

1.4 Normas de DIPr na Constituição Federal de 1988

A Carta Magna vigente, no caput do artigo 5º, garante aos estrangeiros residentes no país “a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” nos termos legais, equiparando-os, nesses aspectos, aos brasileiros. Exceto os direitos políticos, tais como votar e ser votado, o estrangeiro, regularmente residindo no Brasil, não sofre qualquer discriminação. Em segmento próprio desta obra, o Capítulo X, é analisada a condição jurídica do estrangeiro em nosso país.

Outros parâmetros emanados pelo Estatuto Maior brasileiro (art. 12) se referem à nacionalidade e à naturalização, que estudaremos no capítulo nono. O inciso XV do artigo 22 dá competência privativa à União para legislar sobre emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros.

1.5 Direitos adquiridos

O respeito aos direitos adquiridos é considerado basilar para a segurança jurídica, fazendo parte dos ordenamentos jurídicos contemporâneos – no Brasil, ele está inserido na Carta Magna (art. 5º, inc. XXXVI). Verificar a prevalência desses direitos quando invocada em outro país interessa ao Direito Internacional Privado. Muitos autores têm-se ocupado do tema, considerando-o objeto da disciplina, enquanto outros adotam posição diversa, entendendo que os direitos adquiridos alegados, nesse contexto, não se afastam dos conflitos de leis, por estarem neles integrados. Como antes referido, julgamos mais adequada a primeira posição.

Seria um contrassenso imaginar que o ser humano, ao ultrapassar as fronteiras de seu país, nele deixasse os direitos adquiridos, especialmente os que constituem seu estatuto pessoal. Trata-se de direitos privados, que foram reconhecidos por ordenamento jurídico competente. Nessa esfera, são repelidos, por óbvio, os que ofendem a ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional. Assim,

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não se permitirão novas núpcias de cidadão (v.g., árabe) que aqui aportar já casado e alegar o direito de poligamia existente na legislação de seu país, bem como alguém que trouxesse seus escravos seria impedido de mantê-los nessa condição.

Feitas as ressalvas acima, todos os direitos, plenamente incorporados ao patrimônio jurídico do cidadão, nacional ou estrangeiro, devem acompanhá-lo extraterritorialmente. Há casos em que tais direitos, se buscados em nosso foro – pela aplicação direta da norma estrangeira que os reconhece – não seriam aceitos por contrariarem nossa ordem pública, mas serão admitidos por terem legalmente ocorrido no seu ordenamento jurídico. Assim, sentenças de cobrança de dívidas de jogos de azar, em países onde essa atividade é legalizada, têm sido reconhecidas pelo Superior Tribunal de Justiça.

Eduardo Espínola acentua que os direitos adquiridos pelo estrangeiro, conforme as leis internas e as decisões proferidas pelos tribunais de seu país, são reconhecidos no exterior, assim como o reconhecimento de sua personalidade e capacidade civil.10

Cabe ao Direito Internacional Privado de cada país verificar as circunstâncias de aquisição de direitos no estrangeiro e indicar as condições para o seu reconhecimento no ordenamento jurídico interno.11 Nesse contexto, atos jurídicos referentes ao estado civil, como casamento, adoção e divórcio, quando realizados no estrangeiro são normalmente reconhecidos pelos Estados em razão da segurança jurídica. Seria, por exemplo, o caso de brasileiro solteiro ou viúvo que casa no exterior com estrangeira divorciada: o assento no registro público no Brasil não depende de homologação do divórcio pelo STJ, desde que a estrangeira não fosse casada com brasileiro. Porém, se a celebração ocorrer no Brasil, se faz necessário apresentar a Carta de Sentença do Superior Tribunal de Justiça homologando o divórcio. Por fim, observemos que mera expectativa de direito em uma ordem jurídica não deve ser tida como direito adquirido, enquanto conquistas reconhecidas na esfera do direito público, como aposentadorias e pensões, somente são invocadas perante o ordenamento que as concedeu.

1.6 Direito Internacional Privado e Direito Internacional Público

O DIPr tem profunda afinidade com o Direito Internacional Público, trabalhando ambos com fontes

e institutos comuns – tratados, nacionalidade, extradição – e com o mesmo objetivo – a convivência

pacífica e harmônica entre os povos.

Jacob Dolinger refere julgamento, de 1984, da Corte de Cassação francesa sobre causa relacionada a Acordo de Cooperação Científica entre a França e o Irã, em que se afirma: “As partes envolvidas nestes acordos estavam situadas no mais alto nível. Estavam na encruzilhada do Direito Internacional Privado com o Direito Internacional Público, havendo motivos para se questionar sob qual dos dois os acordos estavam cobertos.”12

A identificação entre esses dois ramos jurídicos fica evidenciada na Convenção sobre a Prestação de Alimentos no Estrangeiro, instituída em 1956 pela ONU, estando inserida no Direito Internacional Público, mas se destinando a concertar relações essencialmente privadas, o que a integra plenamente no Direito Internacional Privado.

1.7 Direito Internacional Privado e Direito Comparado

Enfatize-se, inicialmente, que boa parte da doutrina entende que, a rigor, não existe Direito Comparado, mas estudos comparativos entre sistemas jurídicos diversos, até porque tal ramo seria uma

criteriosa comparação entre institutos jurídicos presentes no ordenamento legal de diferentes países, buscando estabelecer pontos comuns e divergentes que neles existem. Para Valladão, ele é “apenas

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ciência, é a comparação dos direitos no espaço, é geografia jurídica, ao lado da história do direito cuja dimensão é o tempo”.13 Por sua parte, Oscar Tenório considera que o Direito Comparado não constitui um ramo do Direito, mas um campo científico para apreciar semelhanças, afinidades e diferenças entre sistemas jurídicos de mais de um país.14 De maneira diversa entende o professor de Direito Comparado português Ferreira de Almeida, para quem esse ramo das ciências jurídicas pode ser definido como “a disciplina que tem por objetivo estabelecer sistematicamente semelhanças e diferenças entre sistemas jurídicos considerados na sua globalidade (macrocomparação) e entre institutos jurídicos afins em ordens jurídicas diferentes (microcomparação)”.15

Esses estudos comparativos são sumamente importantes em Direito Internacional Privado. Quando da aplicação de Direito estrangeiro, o operador jurídico nacional deve analisar tal direito à luz do método comparativo, e não seguindo os preceitos jurídicos do foro. Assim, em caso jusprivatista internacional que deva ser resolvido por norma jurídica estrangeira (por exemplo, direito francês), a leitura desse direito não pode ser feita tendo em consideração as formas de interpretação e de aplicação do direito local: esse operador (juiz ou advogado) deverá analisar as normas do direito francês utilizando a sua hermenêutica.

RESUMO

1.1 Considerações iniciais

A intensificação do intercâmbio de pessoas vinculadas a Estados regidos por legislações diversas oportuniza a ocorrência, cada vez mais frequente, de conflitos, criando dificuldade para estabelecer qual ordenamento jurídico e qual legislação são competentes para a solução da lide. É desse conflito de leis no espaço que se ocupa o Direito Internacional Privado.

1.2 Conceito

É o ramo do direito interno que regula direta ou indiretamente as relações privadas internacionais (Cláudia Marques). É o conjunto de regras de direito interno que objetiva solucionar os conflitos de leis originárias de Estados diversos, indicando, em cada caso que se apresente, a lei competente a ser aplicada (Araújo). É um complexo de normas e princípios de regulação que, atuando nos diversos ordenamentos legais ou convencionais, estabelece qual o direito aplicável para resolver conflitos de leis ou sistemas, envolvendo relações jurídicas de natureza privada ou pública, com referências internacionais ou locais (Strenger).

O Direito Internacional Privado consiste no conjunto de normas de direito público interno que busca, por meio dos elementos de conexão, encontrar o direito aplicável, nacional ou estrangeiro, quando a lide comporta opção entre mais de uma ordem jurídica para solucionar o caso (Del’Olmo).

1.3 Objeto

Organizar direito adequado à apreciação de fatos anormais ou fatos com duas ou mais jurisdições, sejam pertinentes ao fórum ou ocorridos no estrangeiro (Amílcar).

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