SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
w w w . r b o . o r g . b r
Relato
de
caso
Osteoma
osteóide
da
clavícula
distal
夽
Bernardo
Barcellos
Terra
∗,
Leandro
Marano
Rodrigues,
David
Victoria
Hoffmann
Padua,
Tannous
Jorge
Sassine,
José
Maria
Cavatte
e
Anderson
De
Nadai
SantaCasadeMisericórdiadeVitória,DepartamentodeOrtopediaeTraumatologia,Vitória,ES,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem23denovembrode
2015
Aceitoem29demarçode2016
On-lineem5dejunhode2016
Palavras-chave:
Clavícula
Osteomaosteóide
Ombro
r
e
s
u
m
o
Oosteomaosteóideéumtumorósseoquecorrespondea10%dostumoresbenignos.Foi
descritoem1935porJaffe,comoumtumorqueacometeapopulac¸ãoadultajovem,com
predominâncianosexomasculino.Oobjetivodotrabalhoéapresentarumcasode
diag-nósticotardiodeumapacientecomosteomaosteóidedaregiãodaclavículadistalerelatar
seutratamento.Pacientede44anos,jogadoradevôleinãoprofissional,comdoresnaregião
anterioresuperiordacinturaescapular,maisespecificamentenaarticulac¸ão
acromioclavi-cular,asquaispioravamanoiteequeeratratadahavianovemesescomoumatendinitedo
manguitorotadoreartritedaarticulac¸ãoacromioclavicular.Apósconfirmac¸ãodiagnóstica,
apacientefoisubmetidaaotratamentocirúrgicoabertocomressecc¸ãodaclavículadistal.
Atualmenteapacienteencontra-secomdoisanosdeevoluc¸ãosemdorlocal.Naavaliac¸ão
radiográfica,adistânciacoracoclavicularencontra-sepreservadaenãohásinaisderecidiva.
Tumoresósseosdacinturaescapularsãorarosefrequentementesãodiagnosticados
tardi-amente.Deve-seterumaltograudesuspeic¸ãoparaodiagnósticodeneoplasiasdacintura
escapular,afimdeevitarodiagnósticotardio.
©2016SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora
Ltda.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://
creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Osteoid
osteoma
of
the
distal
clavicle
Keywords:
Clavicle
Osteoidosteoma
Shoulder
a
b
s
t
r
a
c
t
Theosteoidosteomaisabonetumorthataccountsfor10%ofbenigntumors.Itwas
descri-bedin1935byJaffe,asatumorthataffectstheyoungadultpopulation,withapredominance
ofmales.Thisstudyaimstopresentacaseoflatediagnosisofapatientwithosteoidosteoma
ofthedistalclavicleregion.Femalepatient,44yearsold,non-professionalvolleyballplayer,
reportedpainintheanteriorandsuperiorregionoftheshouldergirdle,specificallyinthe
acromioclavicularjoint,whichworsenedatnightandhadbeentreatedforninemonthsas
tendinitisoftherotatorcuffandacromioclavicularjointarthritis.Afterconfirmingthe
diag-nosis,thepatientunderwentopensurgerywithresectionofthedistalclavicle.Attwoyears
夽
TrabalhodesenvolvidonoDepartamentodeOrtopediaeTraumatologia,HospitalSantaCasadeMisericórdiadeVitória,Vitória,ES,
Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:bernardomed@hotmail.com(B.B.Terra).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2016.03.008
0102-3616/©2016SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigoOpenAccess
offollow-up,thepatientpresentswithoutlocalpain.Intheradiographicevaluation,
coraco-claviculardistanceispreservedandtherearenosignsofrecurrence.Tumorsoftheshoulder
girdlearerareandareoftendiagnosedlate.Ahighdegreeofsuspicionforthediagnosisof
tumorsoftheshouldergirdleisneededinordertoavoidlatediagnosis.
©2016SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora
Ltda.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://
creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Oosteomaosteóideéumtumorósseobenignoque
corres-pondea10%dostumoresbenignos,sendooterceirotumor
ósseomaiscomum.Preferencialmenteacometeadiáfisedos
ossoslongos,comotíbiaefêmur.Foidescritoem1935edepois
em1953porJaffe,éumtumorqueacometeapopulac¸ãoadulta
jovem,nasegundaeterceiradécadadevida,com
predomi-nâncianosexomasculino.1–3
Aapresentac¸ão clínica éumquadro álgico moderado a
intenso predominantemente ànoite e quenormalmente é
aliviadocomousodesalicilatos.Alocalizac¸ãopodeserem
qualquerregiãoóssea,masmetadedoscasosenvolveofêmur
eatíbia.
Naregiãodaescápulaeclavículasãoextremamenteraros,
compoucosrelatosnaliteratura.Nãoencontramoscasos
des-critosnaextremidadedistaldaclavícula.
Oobjetivodotrabalhoéapresentarumcasodediagnóstico
tardiodeumapacientecomosteomaosteóidedaregiãoda
clavículadistalerelatarseutratamento.
Relato
do
caso
Pacientede44anos,jogadoradevôleinãoprofissional,com
doresnaregiãoanterioresuperiordacinturaescapular,mais
especificamente na articulac¸ão acromioclavicular, as quais
pioravamànoiteequeeratratadahavianovemesescomo
umatendinitedomanguitorotadoreartritedaarticulac¸ão
acromioclavicular.Asdoreseramaliviadasparcialmentepor
salicilatos.Apacientenegouhistóriadetraumasouquedas.
Noexamefísico,nãoapresentavaedemas,deformidades
ouatrofiasnaregiãodacinturaescapular. Oarcode
movi-mentopassivoeativoeranormal,excetopelofatodeaaduc¸ão
forc¸adaserdolorosanoextremofinaldomovimento.
Nasmanobrassemiológicas otestede O’Brienera
posi-tivo,bemcomoapalpac¸ãodaarticulac¸ãoacromioclavicular.
Osdemaistestesparamanguitorotadoreinstabilidadeeram
negativos.
Apacientefoisubmetidaaexamescomplementares,
atra-vésdosquaisfoievidenciadaapresenc¸adoosteomaosteóide,
comsuascaracterísticaspeculiaresnaextremidadedistalda
clavículanaarticulac¸ãoacromioclavicular(figs.1-3).
Apacientefoi submetidaaressecc¸ãoabertada
extremi-dadedistaldaclavícula(aproximadamente1,5cm)deforma
quenãocomprometesseainserc¸ãodosligamentos
coracocla-viculareseefoifeita eletrocoagulac¸ãocom radiofrequência
devido ao sangramento ósseo (figs. 4 e 5). O material foi
enviadoparaanalisehistopatológicaefoicomprovadoo
diag-nósticodeosteomaosteóide(anexo1,enmaterialadicional).
Figura1–RadiografianaincidênciaAPquemostrauma áreadeesclerosenaregiãodistallateraldaclavícula.
Emdois meses,apaciente evoluiude umaEVA de9no
pré-operatóriopara1.
Atualmenteencontra-secom24mesesde evoluc¸ãosem
dorlocal.Naavaliac¸ãoradiográficaadistância
coracoclavicu-larencontra-sepreservadaenãohásinaisderecidiva(fig.6).
Figura3–Imagemderessonânciamagnéticacortesagital quemostraaimagemdonichojuntamentecomintenso edemanaregiãodistallateraldaclavícula.
Figura4–Fotografiadaviadeacessosuperiorsobrea clavículacomaarticulac¸ãoacromioclavicularabertaea pinc¸aKellycurvaqueapontaparaaregiãodoosteoma osteóide.
Discussão
A clavícula é um osso de localizac¸ão rara de tumores.4–6
Ortopedistasconsequentemente têm pouca experiência no
diagnósticoemanejodostumoresenascondic¸ões
neoplási-casdesseosso.Ascaracterísticasoncológicasdostumoresda
clavículaseassemelhamàsdosossoschatosquando
compa-radascomasdosossoslongos.Ostumoresdaclavículanasua
maioriasãomalignosemuitasvezesodiagnósticoétardio,
devidoaobaixograudesuspeic¸ãodessapatologia.7
Oosteomaosteóiderepresenta10%dostumoresbenignos
ósseos,émaiscomumemhomensenasegundaeterceira
Figura5–Fotografiaquemostraaosteotomiadaregião distallateraldaclavícula.
década de vida.8 Nocíngulo superior olocal maiscomum
deacometimentoéoúmeroproximal.Dentreosexamesde
imagem,naradiografiaonichoseapresentacomouma
ima-gem radiolucente com uma calcificac¸ão central. As lesões
no ossoesponjosonormalmenteseapresentamcomouma
pequenaáreaderarefac¸ãocomumaárearodeadapor
escle-rose.Atomografiacomputadorizadanosajudanalocalizac¸ão
do nicho. Na ressonância magnética o nicho se apresenta
comumsinaldeintensidadebaixanaponderac¸ãoT1esinais
de intensidade variável emT2.Apesarde atomografiaser
o exame de escolha, o edema que circunda o nicho e as
alterac¸õesósseasmedularessãomaisbemdemonstradascom
a ressonânciamagnética, conformedemonstradono nosso
caso.
Kapooretal.2relataramumasériedecasos12tumoresna
clavícula,sendoqueomaiscomumfoiosarcomadeEwing,o
tratamentovarioudeclaviculectomiaparcialaquimioterapia.
Emsuasérienãorelatoucasodeosteomaosteóide,apesardo
relatodeumcasocomtumordesmoideperiostealraro.
Apenas 1% de todos os tumores ósseos acomete a
clavícula.9–11Olocalmaiscomuméaextremidadeacromial,
oquecorroboranossorelatodecaso.Miyasakietal.12
relata-ramumcasodeosteomaosteóidenoacrômioquesimulava
dornaarticulac¸ãoacromioclavicular,oqualfoiressecadopor
viaartroscópicaassociadaaumaacromioplastia,opaciente
apresentouumacompletarecuperac¸ãodoarcodemovimento
esemsinaisderecidivacomseteanosdeseguimento.Degreef
etal.11relataramtambémumcasodoacrômioquefoi
resse-cadopeloprocedimentodeMumfordartroscópico.Optamos
pelaressecc¸ãoabertaporsetratardeumtumor,mesmoque
benigno,epelafacilidadedecoletadematerialparaoexame
histopatológico.
Glanzmannetal.13relataramumcasodeosteomaosteóide
docoracoidequesimulavacapsuliteadesivaequetambémfoi
ressecadoporviaartroscópicaeeletrocauterizac¸ãoatravésdo
intervalodosrotadores.
Ahistórianaturaldoosteomapodeseraresoluc¸ão
espon-tânea com o tempo, no entanto dor residual e sintomas
Figura6–RadiografianasincidênciasAPePerfilnaqualsenotaaexcisãodofragmentodistaldaclavículacomoosteoma osteóide.
tratamentoparaessetumorsãodisponíveis,taiscomo:terapia
farmacológica,ablac¸ãopercutâneaporradiofrequênciae
pro-cedimentoscirúrgicosqueconsistemnaremoc¸ãocompletado
nidus,quepodeserconseguidaporcuretagem,ressecc¸ãoem
blocoe,maisrecentemente,porviaartroscópica,combons
resultados. Os tratamentos minimamente invasivos como
termocoagulac¸ãoporradiofrequênciaecorebiópsia
excisio-nalpercutâneasãoosdeescolhaemmuitoscentroseevitam
ascomplicac¸õesdacirurgiaaberta.Asprincipaisvantagens
dastécnicaspercutâneassãooretornomaisrápidoàs
ativi-dades,menormorbidadee,noscasosdeosteomaosteóideda
colunavertebral,amanutenc¸ãodaestabilidade.Noentanto,
deve-seficaratentocompossíveislesõestérmicasàs
estrutu-rasneurológicasenoscasosdabiópsiaexcisionalàsremoc¸ões
incompletasdonicho,oquepoderiaprovocarumarecidiva
dossintomasedalesão.4,14–17
Afimdeevitarumdiagnósticotardio,neoplasiasdacintura
escapulardevemserconsideradasnosdiagnósticosdedores
refratáriasdaregiãodocíngulosuperior.
Conclusão
Descrevemosumcasorarodeosteomaosteóidena
extremi-dadedistaldaclavícula.Apesardararidade,devemossempre
lembrardasneoplasiasnosdiagnósticosdiferenciaisdas
pato-logiasdoombro.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Apêndice.
Material
adicional
Pode-seconsultaromaterialadicionalparaesteartigonasua
versãoeletrônicadisponívelemdoi:10.1016/j.rbo.2016.03.008.
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