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Entre as muitas ações e episódios fora do comum ocorridos com os pilotos brasileiros, o mais incrível foi protagonizado pelo tenente Danilo Marques Moura, irmão do comandante do grupo, coronel Nero Moura. De início, já é notável o fato de que a família Moura estivesse presente na guerra com três irmãos: o coronel Nero, o tenente Danilo e o capitão Osmar, que servia na FEB.

No dia 4 de fevereiro de 1945 o tenente Danilo, que era chefe das viaturas do grupo, foi escalado para substituir um piloto da Esquadrilha Amarela, naquela que seria sua 11a missão. No retorno à base, depois de realizarem o bombardeio e a destruição do objetivo com sucesso, decidiram atacar um alvo de oportunidade: uma estação ferroviária perto de Verona, a histórica cidade escolhida por Shakespeare como palco para o drama de Romeu e Julieta.

O capitão Joel Miranda, líder da esquadrilha, e Danilo mergulharam diante de uma forte e precisa artilharia antiaérea, que danificou seriamente os dois aviões. Joel saltou no limite de altitude para abertura do paraquedas e quebrou um braço, mas Danilo parecia rumar para a morte certa, pois seu avião estava sem controle, mergulhando e em baixa altitude. Mesmo assim, ele conseguiu saltar e escapou milagrosamente.

Depois de se chocar violentamente contra o solo, com o paraquedas mal-aberto, Danilo feriu a língua, e não pôde falar direito por vários dias. O capitão Joel, bastante ferido, permaneceu escondido com os partigiani até o fim da guerra. Já Danilo resolveu dispensar a ajuda dos italianos e partiu sozinho, quando percorreu o longo caminho de volta até sua base em Pisa, distante cerca de quatrocentos quilômetros do local onde fora abatido, com o firme propósito de retomar a luta contra o Eixo o mais rápido possível.

determinavam como agir uma vez abatido sobre território inimigo. Os pilotos deveriam apenas fazer contato com os partigiani e, com a ajuda deles, aguardar escondidos uma oportunidade para retornar em segurança até as linhas Aliadas. O obstinado piloto da FAB trocou o uniforme por roupas civis e manteve a arma, o que já seria suficiente para que fosse executado, caso descoberto pelos alemães. Escolheu fazer seus deslocamentos em plena luz do dia, quando aproveitou para identificar uma considerável quantidade de alvos inimigos encontrados pelo caminho. Por várias vezes se deparou com soldados tedeschi e até sentou-se ao lado de um oficial alemão numa barbearia.

Por falar um pouco de italiano e devido a suas características físicas e à desculpa de que estava com a língua machucada, Danilo conseguiu comida e abrigo até ser ajudado por outros partigiani na travessia dos Alpes e retornar às linhas Aliadas em segurança. No dia 4 de março de 1945, exatamente trinta dias após ser abatido sobre território inimigo e 19 quilos mais magro, Danilo era recebido por seus companheiros na base de Pisa.

No mesmo dia, estreava a Ópera de Roma, encenada no teatro local. Os pilotos brasileiros, depois de assistir ao espetáculo, decidiram produzir uma peça baseada na grande epopeia protagonizada pelo amigo fujão, e a batizaram de Ópera do Danilo. A letra era uma sátira que utilizava os clichês de óperas famosas, aproveitando a conhecida e tradicional canção do folclore italiano “Funiculì, funiculà”. A Ópera do

Danilo foi encenada pela primeira vez em Pisa, na Páscoa de 1945, na presença dos

três irmãos e estrelada pelos companheiros de grupo. A brincadeira tornou-se tradição nas comemorações do 1o Grupo de Aviação de Caça, destacando-se em todos os eventos do Senta a Pua! ao longo dos anos.

Pelo seu excepcional desempenho em combate, o 1o Grupo de Aviação de Caça da FAB recebeu a mais alta condecoração americana, a Presidential Unit Citation, conferida somente a duas outras unidades não americanas. Por questões burocráticas, a premiação foi concebida somente em 1986, 41 anos depois do final da guerra.

ELO

importância para as operações da FEB, a 1a ELO — Esquadrilha de Ligação e Observação. Composta por apenas trinta homens, sendo 11 oficiais aviadores, um intendente, oito sargentos mecânicos de avião, dois sargentos de rádio e oito soldados auxiliares de manutenção, a esquadrilha empregou dez aeronaves tipo HL — Piper Cub, ou L-4H Grasshopper. A menor unidade operacional da FEB foi criada em 20 de julho de 1944, e servia diretamente à artilharia divisionária.

A missão da esquadrilha era observar as posições e o movimento do inimigo fornecendo coordenadas de tiro para a artilharia, uma função de suma importância no contexto das operações na região montanhosa, onde os horizontes eram limitados e a melhor visão ficava com os alemães, no cume dos inúmeros morros e montanhas dos Apeninos.

Com o decorrer das operações, os frágeis aviões da ELO, que voavam sem tipo algum de proteção e desprovidos de armamento, deixaram de ser alvo dos alemães, uma vez que, ao serem alvejados, as posições do inimigo eram denunciadas pelos tiros. Os alemães preferiam, assim, se esconder a atacar os teco-tecos da unidade.

Por inúmeras vezes, os vários voos diários da ELO designaram posições de tropas inimigas ao mortífero fogo da artilharia brasileira. As primeiras missões partiram de um campo de pouso em San Rossore, onde ficava o acampamento da retaguarda da FEB. A necessidade de chegar perto da linha de frente levou a ELO a utilizar diversos campos, muitos deles de tamanho limitado, como em San Giorgio, Pistoia, Suviana, Porretta Terme — onde ficava o quartel-general da FEB —, Montecchio, Piacenza, Portalbera e Bergamo, já no fim da guerra.

A ELO executou sua primeira missão no dia 12 de novembro de 1945, decolando em San Giorgio. A última seria no dia 29 de abril daquele ano, quando a esquadrilha operava em Portalbera, o último campo em que executou missões de guerra. Os registros das operações da ELO impressionam: foram mais de duas mil horas de voo, mais da metade delas em combate, ao longo de 684 missões, fornecendo coordenadas de tiro para a FEB, unidades inglesas e americanas ao longo de 184 dias de operações.