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Somente na chegada ao local do acampamento — situado numa ampla área que ficava dentro da cratera do extinto vulcão Astronia — constatou-se uma séria gafe cometida por parte da organização logística da FEB e do comando americano na região: a tropa estava desprovida de tendas coletivas, o que obrigou-a a pernoitar ao relento, já que também não havia alojamentos, galpões ou qualquer prédio que permitisse o acantonamento (acampamento feito em uma área coberta).

A hierarquia militar na Itália

O 1o escalão da FEB chegava à Itália já devidamente configurado com a nova estrutura militar ternária

(com subdivisões em três unidades), baseada no modelo americano. A escala a seguir, que vai do comandante da divisão, o general Mascarenhas, até o grupo de combate, formado por 13 soldados, ajuda a compreender melhor essa estrutura.

• 1a Divisão de Infantaria Expedicionária

Comandante: general de divisão João Batista Mascarenhas de Moraes;

Estado-Maior da Divisão de Infantaria Expedicionária: general de brigada Olímpio Falconière da Cunha e demais componentes;

Comandante da infantaria: general de brigada Euclides Zenóbio da Costa; Comandante da artilharia: general de brigada Cordeiro de Farias;

• Unidades de Infantaria (RI) — Três regimentos de 3.256 homens

1o RI, Regimento Sampaio, Rio de Janeiro — Comandante: coronel de infantaria Aguinaldo Caiado de

Castro. Essa é a mais antiga unidade do Exército brasileiro, batizada com o nome do brigadeiro Antônio de Sampaio, herói da Guerra do Paraguai.

6o RI, Regimento Ipiranga, Caçapava, São Paulo — Comandante: coronel de infantaria João Segadas

Viana.

11o RI, Regimento Tiradentes, São João del-Rei, MG — Comandante: coronel de infantaria Delmiro

Pereira de Andrade. Formado em 1920 no antigo 51o Batalhão de Caçadores.

Cada regimento era composto por três batalhões (BI) de 871 homens cada, comandados por um major. Cada batalhão era subdividido em três companhias, com 193 homens cada, e uma companhia de

petrechos pesados (basicamente, uma quarta unidade que se encarregava do uso de metralhadoras pesadas de calibre .50 e morteiros M1 de 81 milímetros), com 166 homens. Cada companhia era liderada por um capitão e subdividida em Grupos de Combate, em geral formados por 13 homens cada, chefiados por um tenente. Eram essas pequenas unidades que realizariam a maior parte das ações em combate da FEB durante seu período em batalha. (A origem do termo “infantaria” remete aos tempos

da Roma Antiga, e indicava a reunião de muitos infantes — designação de um jovem soldado — organizados para formar um exército.)

As unidades de frente da FEB ainda contavam com o Grupo de Artilharia Divisionária, o Esquadrão de Reconhecimento e o 9o Batalhão de Engenharia.

O Grupo de Artilharia Divisionária era dividido em quatro grupos de obuses. O 1o, o 2o e o 3o usavam

12 canhões de 105 milímetros do tipo howitzer (termo em inglês para canhão de cano curto). O termo usado no Brasil para designar essas armas veio da herança militar francesa, em que esses canhões eram chamados de obusier (obuseiro). O 4o Grupo de Obuses tinha 12 canhões M1 de calibre 155mm. Cada

grupo era subdividido em três baterias de quatro canhões.

Alguns soldados estavam de posse de suas diminutas tendas individuais e trataram de montá-las. A tropa precisou fazer uso das rações de combate americanas, as famosas rações K, uma vez que o rancho, normalmente preparado na cozinha de campanha dos acampamentos, também não pôde ser preparado. Até as latrinas foram improvisadas, naquela recepção um tanto quanto confusa aos brasileiros no solene teatro de operações do Mediterrâneo.

Por outro lado, causou grande efeito aos soldados brasileiros a constatação da capacidade logística dos americanos, que tinham uma infindável quantidade de equipamentos ao dispor das tropas em ação. Os relatos dos pracinhas são enfáticos e superlativos quanto ao grande número de aviões, tanques, jipes, caminhões, canhões, ambulâncias e todo tipo de material que se encontrava reunido nas bases de fornecimento. O Estado-Maior da FEB se encaminhou aos depósitos americanos para requerer todo o material necessário às tropas recém-chegadas ao front. Cada bala, material cirúrgico, lata de comida, fardas, armas, veículo e capacete foi pago aos americanos pelo governo brasileiro.

Frente a frente com Churchill

No início de agosto, o contingente brasileiro, deslocado de Agnano, chegou a Tarquínia, numa jornada de 350 quilômetros feita em comboio de caminhões. O estacionamento das tropas ficava a cerca de 25 quilômetros da linha de frente. Nesse local, no dia 18 de agosto, a FEB foi incorporada ao IV Corpo de Exército (um corpo era um grupamento tático formado de duas a cinco divisões, usadas de forma complementar, de acordo com as necessidades de batalha de um exército), um dos braços do V

Exército americano.

No dia seguinte, o local de estacionamento das tropas recebeu a visita do primeiro-ministro inglês, Winston Churchill. O homem que fez duras objeções sobre o envio de tropas brasileiras agora passava em revista o contingente da FEB, perfilado ombro a ombro com os soldados americanos. Os caboclos brasileiros tiveram a chance de ver em carne e osso o grande estadista inglês, um dos maiores

personagens do conflito, que transformou aquele simples ato num momento solene, ao dirigir algumas palavras às tropas presentes: “Soldados brasileiros e americanos: eu vos trago a confiança na vitória!” O discurso entusiasta do grande líder britânico traduzia o clima do momento. Àquela altura do

conflito, o fiel da balança havia despencado totalmente a favor dos Aliados. Esperava-se que a ofensiva através da França depois do Dia D chegaria a Paris em menos de uma semana. Renovavam-se as

expectativas de que a guerra acabaria antes do Natal de 1944. Aconteceu que o otimismo desenfreado trouxe péssimos resultados, sempre que aflorava entre as forças Aliadas.

O mundo ainda estaria em guerra no Natal de 1944. Mas, antes de a guerra acabar, os brasileiros queriam entrar em ação. Dentro em breve, teriam a noção clara e cruel do que era a guerra, em todo seu escopo.

Nesse momento, a companhia de manutenção começou a operar, tentando dar conta da enorme tarefa de receber os equipamentos, montar veículos, preparar os armamentos de todos os tipos e distribuir os aparelhos de rádio, as pontes modulares Bailey, máscaras contra gases e materiais diversos para hospitais de campanha, devidamente encaminhados para as respectivas unidades de comunicações, engenharia, guerra química e saúde.

Os acampamentos da FEB na retaguarda contavam com enormes chuveiros coletivos, montados em tendas, que proporcionavam aos soldados banhos quentes, sabão, aparelhos de barbear e toalhas. Ao redor das cidades, vários pontos de abastecimento de gasolina para as viaturas eram encontrados; bastava apenas parar o veículo e abastecer. Era notável a abundância de recursos oferecida pelos americanos, enquanto as tropas alemãs e italianas sofriam uma total penúria, principalmente com a falta de combustível para os poucos veículos ainda em operação. Carroças puxadas por cavalos eram utilizadas com muita frequência, tornando-se alvos fáceis para os caças do Senta a Pua!. Muitos deslocamentos de unidades alemãs empregaram bicicletas, em sua maioria confiscadas da população nas cidades italianas. Mesmo assim, os inimigos continuavam lutando.