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Órgão de Polícia Criminal competente.

Capítulo III − A investigação dos crimes da atividade de segurança privada

III. Considerações finais

5. Da Fiscalização e Investigação do Crime de Exercício Ilícito da Actividade de Segurança Privada

5.1. Órgão de Polícia Criminal competente.

Cabe ao Ministério Público exercer a acção penal, orientada pelo princípio da legalidade, e defender a legalidade democrática. No exercício das competências legais e estatutariamente previstas, o Ministério Público goza de autonomia em relação aos demais órgãos do poder central, regional e local, vinculando-se unicamente por critérios de legalidade e objectividade, em respeito pelo disposto nos artigos 219º da Constituição da República Portuguesa e 2º do Estatuto do Ministério Público.

É assistido por órgãos de polícia criminal, que actuam sob a sua directa orientação e na sua dependência funcional, detendo, por isso, a direcção do inquérito – cfr. artigo 263º, nº 1, do Código de Processo Penal.

Cabe, por isso, ao Ministério Público estabelecer e concretizar a estratégia de investigação que se revele mais adequada ao caso em investigação, sendo certo que poderá contar, para esse desiderato, com a intervenção dos OPC que tenham intervenção directa no apuramento da verdade dos factos.

A este nível, uma das alterações introduzidas pelo novo regime legal do exercício da actividade de segurança privada consistiu na alteração da Lei da Organização da Investigação Criminal (LOIC), aprovada pela Lei nº 49/2008, de 27/08.

Assim, este diploma passou a prever, no seu artigo 7º, nº 3, al. n), a competência reservada da Polícia Judiciária para a realização da investigação quanto à prática do crime de exercício ilícito da actividade de segurança privada.26

Por outro lado, atento o disposto 55º do novo regime jurídico, a competência para a realização de actividades de fiscalização das entidades dedicadas ao exercício da actividade de segurança privada cabe à PSP.

Poderemos questionar, desde logo a bondade daquela orientação do legislador, tendo em consideração que, ao nível investigatório, o grau de complexidade, na grande maioria dos casos, revela-se reduzido.

Porém, tendo em consideração o enquadramento social do crime de exercício ilícito da segurança privada, opção do legislador, ainda que pareça estranha no início, é, contudo, compreensível e justificada.

É verdade que, tendo em conta a competência da PSP na regulação, licenciamento e fiscalização da actividade da segurança privada, o mais natural seria que os ilícitos criminais praticados quanto a esta matéria fossem investigados pelo mesmo OPC, até porque são mais facilmente detectáveis em razão da sua actividade de fiscalização.

Porém, entendemos que a visão do legislador teve em vista uma panorâmica mais globalizada do meio em que, por regra, tal exercício ilícito está inserida e, em especial, os efeitos mais nocivos que a mesma pode ter, quando ligada com outros tipos de criminalidade mais violenta. De facto, como será de domínio público, a investigação deste tipo de crimes está, de forma crescente, fortemente conectada com a prática de outros ilícitos criminais de natureza mais gravosa (ex. tráfico de estupefacientes, comércio ilegal de armas, extorsão, entre outros,). Por outro lado, a grande maioria das situações que envolvem a prática deste tipo de crime envolvem estabelecimentos de diversão nocturna, ginásios, etc., locais que, por natureza e, nem assim, pela tipologia e características de alguns dos seus utilizadores mais frequentes, têm-se revelado altamente permeáveis à prática dos crimes acima indicados.

A segurança privada é, em muitas situações, a porta de entrada para o submundo do crime violento e organizado27.

É, por isso, relevante, ao nível da investigação, que a Polícia Judiciária fique com uma perspectiva global dos circunstancialismos que rodeiam toda a actividade criminosa, inclusivamente quanto à ligação e relevância desta actividade na prática de outros crimes mais graves, cuja investigação é, também ela, da competência do mesmo órgão de polícia criminal. Desta forma, estando o inquérito concentrado numa única força policial, todas as informações apuradas ficarão agrupadas e disponíveis num único sistema de base de dados, o que permitirá, por isso, a obtenção de uma visão de conjunto da realidade da investigação criminal quanto a este ilícito e aos demais que com ele estejam objectivamente ligados.

Por outro lado, a competência reservada da polícia judiciária permite, contudo, que seja deferida a outros órgãos de polícia criminal, nos termos previstos na parte final do artigo 7º, nº

27 Veja-se, neste sentido, a caracterização deste sector apresentada no recente Relatório Anual de Segurança Interna, relativo ao ano de 2013: “não só permite o acesso a sectores sensíveis, como espaços de diversão nocturna, tem vindo progressivamente a ser infiltrada por elementos associados a grupos criminosos de natureza muto diversa que a desvirtuam. Há evidências de ligação à extorsão, ao crime de tráfico de estupefacientes, ao comércio ilegal de armas, ao auxílio à imigração ilegal e ao tráfico de seres humanos e lenocínio.”. No mesmo sentido, vide Relatório de Segurança Interno de 2015, p. 86 e 87, disponível em

http://www.portugal.gov.pt/pt/pm/documentos/20160331-pm-rasi.aspx.

3, e 8º, nº 1, da LOIC, contrariamente ao que constava do projecto inicial do legislador28. A acontecer, tal teria a vantagem de atribuir ao Ministério Público uma maior margem de manobra na análise dos casos concretos a investigar, designadamente a complexidade dos mesmos, podendo, assim, determinar o órgão de polícia criminal mais adequado à investigação do caso em concreto.

Porém, uma vez que, até à data, não foi publicada qualquer Circular ou Directiva emitida pela PGR nesse sentido, pelo que a competência investigatória mantém-se na esfera da Polícia Judiciária29.