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As formas especiais do crime (tentativa, comparticipação, concurso e crime continuado)

Capítulo III − A investigação dos crimes da atividade de segurança privada

III. Considerações finais IV Referências bibliográficas V Vídeo.

2. Prática e gestão do inquérito

2.1. O crime de exercício ilícito da actividade de segurança privada 1 Fonte

2.1.4. As formas especiais do crime (tentativa, comparticipação, concurso e crime continuado)

A prática do exercício ilícito da actividade de segurança privada na forma tentada é punível, nos termos do artigo 23.º, n.º 1, do Código Penal, visto que as molduras penais consagradas no artigo 57.º correspondem a pena superior a três anos de prisão, a tal não se opondo a sua classificação como crime de perigo abstracto, embora seja difícil configurar as situações em que tal possa acontecer.

O crime pode ser cometido em comparticipação em todas as suas modalidades, ou seja, é admissível a sua prática em autoria imediata, mediata, co-autoria, instigação e cumplicidade, nos termos dos artigos 26.º e 27.º, ambos do Código Penal.

Quanto à punibilidade do concurso, dispõe o artigo 57.º, n.os 1, 2 e 3, que as penas aí estabelecidas são aplicáveis, “ (…) se pena mais grave não lhe couber por força de outra disposição legal”. Porém, não vislumbramos qualquer situação de concurso aparente, considerando que há uma relação de concurso efectivo com os diversos tipos criminais como homicídio, ofensa à integridade física, coacção, extorsão, associação criminosa e até mesmo crimes contra o património, como burla ou falsificação. Até mesmo quanto ao crime de usurpação de funções, enquanto crime de dano, a que acresce o engano, haverá concurso efectivo.

Quanto aos meios de segurança privada previstos nos artigos 30.º a 34.º, ou seja, central de contacto permanente, sistemas de videovigilância, porte de arma, canídeos e outros meios técnicos de segurança, em caso de incumprimento das referidas disposições legais, haverá ainda a prática de contra-ordenação grave ou muito grave, conforme artigo 59.º, n.os 1, alíneas i) e j), e 2, alíneas g), j), k) e l).

Contudo, especificamente quanto ao porte de arma, o artigo 32.º, do REASP, dispõe que o pessoal de vigilância está sujeito ao regime geral de uso e porte de arma, podendo, neste caso recorrer, designadamente, às armas da classe E previstas nas alíneas a) e b) do n.º 7 do artigo 3.º, da Lei n.º 5/2006, de 23.02, alterada pelas Leis n.os 59/2007, de 04.09, 17/2009, de 06.05, 26/2010, de 30.08, e 12/2011, de 27.04. Em serviço, o porte de arma só é permitido se autorizado por escrito pela entidade patronal, nos termos do artigo 32.º, n.os 2 a 5, e artigo 85.º e 86.º da Portaria n.º 273/2013, de 20.08. Aqui, a punição como contra-ordenação muito grave reporta-se à autorização a que se refere o artigo 32.º, n.º 2, visto que, quanto às disposições do regime geral de uso e porte de arma, valem as disposições da Lei n.º 5/2006 de 23.02, que pune como crime a detenção de arma proibida, nos termos do artigo 86.º. Quanto a este ilícito também há uma relação de concurso efectivo.

Por outro lado, quanto à sua execução consideramos ser um crime de execução permanente e não continuado, pois verifica-se uma unificação jurídica de todas as condutas como se todas elas se tivessem verificado no momento da última conduta, ou seja, há um exercício reiterado da prestação de serviços ou do exercício de funções para a qual a lei exige título.

Desta forma, e com relevo face à recente alteração do tipo legal, nos crimes de execução permanente aplica-se sempre a lei nova, ainda que mais severa, desde que a execução ou o último acto tenham cessado no domínio desta, pois era esta que vigorava nesse momento.

2.1.5. A pena

Antes de mais, nos termos do artigo 58.º, a responsabilização penal pelo crime de exercício ilícito da actividade de segurança privada estende-se às pessoas colectivas e entidades equiparadas, nos termos gerais, ou seja, nos termos do artigo 11.º, do Código Penal39.

Quanto às penas previstas no artigo 57.º, a pena mais grave é estabelecida para a prestação e a utilização de serviços de segurança privada sem o necessário alvará, licença ou autorização, cuja moldura penal é pena de prisão de 1 a 5 anos ou com pena de multa até 600 dias. Para o exercício e a utilização de funções de segurança privada ou de especialidade, a moldura penal é pena de prisão até 4 anos ou pena de multa até 480 dias.

39 A redacção do artigo 58.º veio dar resposta a uma questão doutrinal suscitada pelo teor da redacção do artigo 32.º-B, da Lei n.º 34/2004, de 21.20, na redacção da Lei n.º 38/2008, de 08.08, uma vez que este remetia a responsabilidade das pessoas colectivas para o “ (…) crime previsto no n.º 1, do artigo anterior”. Miguel Carmo, porém, considerava que esta responsabilidade deveria abranger ainda as pessoas colectivas que “ (…) utilizem justamente aqueles serviços sabendo que não reúnem os requisitos legais para o efeito” (in Comentário das Leis Penais …, cit., p. 237).

As molduras penais plasmadas no REASP agravaram a punibilidade da prática do exercício ilícito da actividade de segurança privada em comparação com o regime anterior, o qual consagrava uma moldura penal de pena de prisão até dois anos, ou pena de multa até 240 dias, ou seja, as penas, pelo menos, duplicaram, o que teve repercussão no regime substantivo e processual aplicável.

Por outro lado, não se pode olvidar ainda que, nos termos do artigo 60.º, n.º 3, sem prejuízo das penas acessórias previstas no Código Penal, ao crime de exercício ilícito da actividade de segurança privada são aplicáveis as sanções acessórias de perda de objectos que tenham servido para a prática do crime, o encerramento do estabelecimento por um período não superior a dois anos, a suspensão, por um período não superior a dois anos, do alvará ou da licença concedidos para o exercício da actividade de segurança privada ou da autorização para a utilização de meios de segurança, a interdição do exercício de funções ou de prestação de serviços de segurança por período não superior a dois anos e a publicidade da condenação, previstas no artigo 60.º, n.º 1.