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Capítulo I – Introdução ao tema

2. A Lei n.º 34/2013, de 16 de maio

2.1. Objeto e âmbito da atividade

A atividade de segurança privada é entendida como complementar e subsidiária da atividade das forças e dos serviços de segurança pública do Estado, competindo-lhe prestar serviços a terceiros tendo em vista a proteção de pessoas e bens, a organização de serviços de autoproteção, a prevenção da prática de crimes e a formação profissional do pessoal de segurança privada. Não se consideram incluídos nesta atividade os porteiros de hotelaria e os porteiros de prédios urbanos destinados a habitação ou a escritórios, cuja atividade é regulada pelas câmaras municipais. 13

Os serviços de segurança permitem a vigilância de bens móveis e imóveis, o controlo de entrada, de presença e de saída de pessoas, bem como a prevenção da entrada de armas, de substâncias e artigos de uso e porte proibidos ou suscetíveis de provocar atos de violência no interior de edifícios ou outros locais, públicos ou privados, de acesso vedado ou condicionado ao público, a proteção pessoal, a exploração e a gestão de centrais de receção e de monitorização de sinais de alarme e de videovigilância, o transporte, a guarda, o tratamento e a distribuição de fundos e de valores e demais objetos que pelo seu valor económico possam requerer proteção especial, o rastreio, a inspeção e a filtragem de bagagens e de cargas e o controlo de passageiros no acesso a zonas restritas de segurança nos portos e nos aeroportos, bem como a prevenção da entrada de armas, de substâncias e de artigos de uso e porte proibidos ou suscetíveis de provocar atos de violência nos aeroportos, nos portos e no interior de aeronaves e navios, sem prejuízo das competências exclusivas atribuídas às forças e aos serviços de segurança, a fiscalização de títulos de transporte, sob a supervisão da entidade pública competente ou da entidade titular de uma concessão de transporte público e a elaboração de estudos e planos de segurança e de projetos de organização e montagem de serviços de segurança privada.

2.2. Requisitos para o exercício da atividade de segurança privada − os alvarás, as licenças e as autorizações

As empresas de segurança privada, as entidades formadoras e as entidades consultoras de segurança devem constituir-se de acordo com a legislação de um Estado-membro da União Europeia ou de um Estado parte do Acordo sobre o Espaço Económico Europeu e possuir sede ou delegação em Portugal, salvo se já estiverem legalmente autorizadas e habilitadas para 12 A Lei n.º 34/2013 é regulada pela Portaria n.º 273/2013, de 20 de agosto, quanto às condições específicas da prestação dos serviços de segurança privada, aos requisitos mínimos das instalações e meios materiais e humanos das entidades de segurança privada, ao modelo de cartão profissional e os procedimentos para a sua emissão, aos requisitos de aprovação do modelo de uniforme, distintivos, símbolos e marcas a utilizar pelas entidades ou pessoal de vigilância, aos procedimentos de registo dos sistemas de videovigilância e os avisos legais e simbologia identificativa, às condições do porte de arma, às condições de utilização de canídeos, entre outros.

13 O Decreto-Lei n.º 310/2002, de 18 de dezembro, alterado pelos Decreto-Lei n.º 114/2008, de 1 de julho, e Decreto-Lei n.º 204/2012,de 29 de agosto, regula o licenciamento do exercício da atividade de guarda- noturno.

exercer a atividade de segurança privada nesse Estado ou pretenderem exercer a atividade ao abrigo da liberdade de prestação de serviços. Deve, ainda, deter um capital social entre 50.000€ e 500.000€, consoante a natureza dos serviços que pretendam prestar.

O exercício da atividade de segurança privada carece de um título – alvará, licença ou autorização. O alvará permite a prestação de serviços de segurança privada, estando dividido em quatro classes consoante a tipologia de serviços que possam prestar.

As empresas titulares de alvará com a classe A podem prestar serviços de vigilância de bens móveis e imóveis e o controlo de entrada, de presença e de saída de pessoas, bem como a prevenção da entrada de armas, de substâncias e de artigos de uso e porte proibidos ou suscetíveis de provocar atos de violência no interior de edifícios ou outros locais, públicos ou privados, de acesso vedado ou condicionado ao público, serviços de rastreio, de inspeção e de filtragem de bagagens e de cargas e o controlo de passageiros no acesso a zonas restritas de segurança nos portos e nos aeroportos, bem como a prevenção da entrada de armas, substâncias e artigos de uso e de porte proibidos ou suscetíveis de provocar atos de violência nos aeroportos, nos portos e no interior de aeronaves e de navios, fiscalizar títulos de transporte, sob a supervisão da entidade pública competente ou da entidade titular de uma concessão de transporte público, elaborar estudos e planos de segurança e de projetos de organização e montagem de serviços de segurança privada. As empresas titulares de alvará com a classe B podem prestar serviços de proteção pessoal e elaborar estudos e planos de segurança e de projetos de organização e montagem de serviços de segurança privada. As empresas titulares de alvará com a classe C podem prestar serviços de exploração e de gestão de centrais de receção e monitorização de sinais de alarme e de videovigilância, incluindo comércio, instalação, manutenção e assistência técnica de sistemas de segurança eletrónica de pessoas e bens, designadamente deteção de intrusão e roubo, controlo de acessos, videovigilância, centrais de receção de alarme ou outros sistemas e equipamentos de extinção automática de incêndios, assim como serviços de resposta cuja realização não seja da competência das forças e dos serviços de segurança e, ainda, elaborar estudos e planos de segurança e de projetos de organização e montagem de serviços de segurança privada. As empresas titulares de alvará com a classe D podem prestar serviços de transporte, guarda, tratamento e distribuição de fundos e de valores e demais objetos que pelo seu valor económico possam requerer proteção especial e elaborar estudos e planos de segurança e de projetos de organização e montagem de serviços de segurança privada.

A licença permite a organização de serviços internos de autoproteção, estando, igualmente, dividida em quatro classes consoante a natureza dos serviços que podem organizar. A licença do tipo A permite à empresa titular organizar serviços de vigilância de bens móveis e imóveis e o controlo de entrada, presença e saída de pessoas, bem como a prevenção da entrada de armas, de substâncias e de artigos de uso e porte proibidos ou suscetíveis de provocar atos de violência no interior de edifícios ou outros locais, públicos ou privados, de acesso vedado ou condicionado ao público. A licença do tipo B permite à empresa titular organizar serviços de proteção pessoal. A licença do tipo C permite à empresa titular organizar serviços de exploração e de gestão de centrais de receção e monitorização de sinais de alarme e de videovigilância, assim como serviços de resposta cuja realização não seja da competência das

forças e dos serviços de segurança. A licença do tipo D permite à empresa titular organizar serviços de transporte, guarda, tratamento e distribuição de fundos, de valores e demais objetos que pelo seu valor económico possam requerer proteção especial. A organização destes serviços deve ocorrer sempre em regime de autoproteção.

A autorização permite o exercício da atividade de formação profissional de pessoal de segurança privada e de consultoria de segurança privada.

O exercício da atividade de segurança privada sem o necessário alvará, licença ou autorização constitui ilícito penal.

2.3. O pessoal de segurança privado

2.3.1. Requisitos de admissão e permanência na profissão

As empresas de segurança privada exercem a sua atividade através de pessoal de vigilância cuja profissão é designada de “segurança privado”.

Para se obter a carteira profissional de segurança privado é necessário:

(i) Ter a nacionalidade portuguesa, de um Estado-membro da União Europeia, de um Estado parte do Acordo sobre o Espaço Económico Europeu ou, em condições de reciprocidade, de um Estado de língua oficial portuguesa;

(ii) Possuir a escolaridade obrigatória; (iii) Possuir plena capacidade civil;

(iv) Não ter sido condenado por sentença transitada em julgado pela prática de crime doloso; (v) não exercer, nem ter exercido, a qualquer título, cargo ou função de fiscalização do exercício da atividade de segurança privada nos três anos precedentes;

(vi) não ter sido sancionado, por decisão transitada em julgado, com a pena de separação de serviço ou pena de natureza expulsiva das Forças Armadas, dos serviços que integram o Sistema de Informações da República Portuguesa ou das forças e dos serviços de segurança, ou com qualquer outra pena que inviabilize a manutenção do vínculo funcional.

Estes requisitos gerais, para além de serem cumulativos, são permanentes, no sentido de que a pessoa que exerce a profissão de segurança privado deve sempre preenchê-los.

Acrescem, ainda, requisitos específicos de admissão e de permanência na profissão de segurança privado e que são:

(i) Possuir as condições mínimas de aptidão física, mental e psicológica, verificadas e aprovadas em avaliação médica e psicológica; e

(ii) Frequentar, com aproveitamento, cursos de formação.

Preenchidos todos estes requisitos obtém-se o cartão profissional, emitido pela Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública, válido pelo período de cinco anos.

2.3.2. As especialidades e as funções da profissão de segurança privado

A profissão de segurança privado tem as especialidades de vigilante, de segurança-porteiro, de vigilante de proteção e acompanhamento pessoal, de assistente de recinto desportivo, de assistente de recinto de espetáculos, de assistente de portos e aeroportos, de vigilante de transporte de valores, de fiscal de exploração de transportes públicos e de operador de central de alarmes. Cada especialidade tem funções específicas que apenas podem ser exercidas por quem se encontrar autorizado e habilitado para o efeito.

O vigilante vigia e protege pessoas e bens em locais de acesso vedado ou condicionado ao público, previne a prática de crimes, controla a entrada, a presença e a saída de pessoas e bens em locais de acesso vedado ou condicionado ao público, executa serviços de resposta e de intervenção relativamente a alarmes que se produzam em centrais de receção e de monitorização de alarmes, realiza revistas pessoais de prevenção e de segurança em locais de acesso vedado ou condicionado ao púbico, sujeitos a medidas de segurança reforçada. O vigilante pode, ainda, exercer as funções correspondentes à especialidade de operador de central de alarmes.

O segurança-porteiro vigia e protege pessoas e bens em estabelecimentos de restauração e de bebidas com espaço de dança, controla a entrada, a presença e a saída de pessoas nesses estabelecimentos visando detetar e impedir a introdução de objetos e de substâncias proibidas ou suscetíveis de possibilitar atos de violência, previne a prática de crimes e orienta e presta apoio aos utentes em situações de emergência, designadamente, em caso de evacuação do estabelecimento. O segurança-porteiro pode, ainda, exercer as funções correspondentes às especialidades de vigilante e de operador de central de alarmes.

O vigilante de proteção e acompanhamento pessoal exerce exclusivamente as funções de proteção pessoal.

O assistente de recinto desportivo vigia recintos desportivos e anéis de segurança, controla os acessos, os títulos de ingresso e o bom funcionamento dos equipamentos, vigia, acompanha e orienta os espectadores nos diferentes setores do recinto, presta informações referentes à organização, infraestruturas e saídas de emergência, previne, acompanha e controla a ocorrência de incidentes, acompanha grupos de adeptos que se desloquem a outro recinto desportivo e inspeciona as instalações, prévia e posteriormente a cada espetáculo desportivo.

O assistente de recinto de espetáculos vigia o recinto de espetáculos e anéis de segurança, controla os acessos, os títulos de ingresso e o bom funcionamento dos equipamentos, vigia e acompanha os espectadores, presta informações referentes à organização, infraestruturas e saídas de emergência, previne, acompanha e controla a ocorrência de incidentes, orienta os espectadores e inspeciona as instalações, prévia e posteriormente a cada espetáculo.

O assistente de portos e aeroportos controla os acessos de pessoas, de veículos, de aeronaves e de embarcações marítimas, faz o rastreio de passageiros, de tripulantes, de pessoal de terra, de objetos transportados, de bagagem de cabine e de porão, de carga, de correio e de encomendas expresso, de correio postal e material, de provisões e outros fornecimentos de restauração e de produtos e outros fornecimentos de limpeza das transportadoras aéreas ou marítimas.

O vigilante de transporte de valores manuseia, transporta e garante a segurança de notas, moedas, títulos e outros valores e conduz veículos de transporte de valores.

O fiscal de exploração de transportes verifica a posse e a validade dos títulos de transporte por conta da entidade pública ou da entidade exploradora de uma concessão de transportes públicos.

O operador de central de alarmes opera centrais de receção e monitoriza sinais de alarme e de videovigilância.

O exercício das funções de segurança privado sem ser titular de cartão profissional ou o exercício de funções para o qual não se encontra habilitado constitui ilícito penal. Daí ser muito importante conhecer as funções específicas de cada especialidade de modo a se poder compreender, ante cada caso concreto, se determinada pessoa está ou não a exercer a atividade de segurança privado ou se o indivíduo está a exercer funções de uma categoria profissional para a qual não se encontra habilitado.