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Desenho 14  História para completar 2ª sessão

5 O CAMINHO METODOLÓGICO

5.1 A abordagem e o método

Com o propósito de respondermos aos objetivos desta pesquisa, a metodologia adotada foi respaldada pela Abordagem Qualitativa. A referida abordagem busca a compreensão de um fenômeno a partir de seus significados, da produção humana, das relações, da intencionalidade de compreendermos o real, o cotidiano. Um universo de significados nos quais estão inseridos crenças, valores e atitudes como parte da realidade social (MINAYO, 2002).

Há algum tempo a pesquisa qualitativa tem se tornado predominante na área educacional e tem sido amplamente utilizada pelos pesquisadores que, assim como artesãos, buscam tecer significados a partir dos diferentes contextos no qual os atores sociais estão inseridos. Bogdan e Biklen (1994) ressaltam que a Investigação Qualitativa nasce da observação, de estudos exploratórios em diferentes contextos.

A investigação qualitativa possui cinco características que lhe são inerentes. A primeira delas refere-se à fonte direta de dados, que é o ambiente natural, podendo ocorrer em escolas, instituições de EI, comunidades ou em grupos, com o objetivo de compreender os fenômenos sociais. Na verdade, as ações e relações dos sujeitos são bem mais compreendidas quando são observadas em seu ambiente habitual, ou seja, “os investigadores qualitativos frequentam os locais de estudo, porque se preocupam com o contexto.” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 48).

A investigação qualitativa é descritiva, ainda segundo os autores, “os dados recolhidos são em forma de palavras, imagens e não de números” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 48). O que se aproxima de forma significativa ao propósito dessa investigação, que tem nas palavras, nos gestos, nas histórias e nos desenhos a essência que ajudou na compreensão dos significados que os sujeitos constroem nas interações, no seu contexto cultural, ou seja, buscamos, na compreensão do fenômeno investigado, os sentidos que as crianças atribuem à Roda de Conversa numa instituição de EI, o que se constituiu numa fonte de dados significativa e apresentou os caminhos para a compreensão do objeto de estudo.

Dessa forma, a palavra, os significados e a perspectiva dos sujeitos assumem particular importância na abordagem qualitativa. Por isso, os pesquisadores que adotam a referida abordagem como escolha metodológica “se interessam mais pelo processo de pesquisa do que simplesmente pelos resultados ou produtos” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 48). Desse modo, a ênfase recai na importância qualitativa do processo, como uma construção artesanal de compreensão do fenômeno que se dá num percurso de aproximação,

estranhamento e interações, no qual os dados não se encontram no contexto prontos para serem colhidos, muito pelo contrário, é um processo que se dá por meio da interpretação de como os sujeitos constroem a realidade.

Os investigadores qualitativos analisam os seus dados de forma indutiva. Nessa perspectiva, não se recolhem dados com o objetivo de confirmar hipóteses. Segundo os autores Bogdan e Biklen (1994), esse é um processo construído de baixo para cima, com base em peças individuais que vão sendo inter-relacionadas. Eles afirmam: “para um investigador qualitativo que planeje elaborar uma teoria sobre o seu objeto de estudo, a direção desta só se começa a estabelecer após a recolha dos dados e o passar de tempo com os sujeitos”. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 48).

O significado pessoal é de importância vital na abordagem qualitativa. Os investigadores qualitativos em educação estão continuamente a questionar os sujeitos de investigação, com o objetivo de perceber, de apreender “a perspectiva dos participantes”, ou seja, os sentidos que dão sentido a sua vida e sua realidade social.

Pesquisar de forma qualitativa é estabelecer estratégias e procedimentos que levem em consideração os significados que os sujeitos constroem num determinado contexto e cultura. O pesquisador é um intérprete, um tecelão que busca compreender relações, significados e desdobramentos estabelecidos por meio do diálogo entre investigador e sujeitos da pesquisa, sendo um processo que não ocorre de forma neutra, mas que revela concepções, posicionamentos, relações éticas e de respeito aos sujeitos.

Dentre os diferentes tipos de pesquisa qualitativa, esta investigação se inspirou nos estudos etnográficos adaptados à educação. De acordo com André (1995), a etnografia tem raízes na Antropologia, no estudo dos fenômenos culturais e sociais e, etimologicamente, “etnografia significa descrição cultural” de hábitos, práticas, crenças, valores, linguagens e significados de um grupo social (ANDRÉ, 1995, p. 28). Já para os pesquisadores da educação, a ênfase recai sobre o fenômeno educativo. A autora esclarece que, na pesquisa em educação, “o que se tem feito é uma adaptação da etnografia à educação”. (ANDRÉ, 1995, p. 28). Por isso, fala-se em pesquisa de tipo etnográfico e não em etnografia no sentido estrito.

Para Rocha (2008), a pesquisa com crianças exige que se dê atenção a suas experiências sociais e culturais, encontrando na pesquisa de tipo etnográfico o aporte necessário que permitiu compreender o entorno social, as experiências das crianças como agentes sociais e nas suas relações com outros agentes.

A pesquisa de tipo etnográfico é caracterizada pelo uso de técnicas que são associadas à etnografia, como: observação participante, entrevistas e análise de documentos.

André (1995) explicita algumas características da pesquisa de tipo etnográfico: os dados são mediados pelo instrumento humano ̶ o pesquisador ̶ que tem um importante papel na construção e análise de tais dados; a preocupação com o significado, a maneira própria que os sujeitos veem a si mesmos, suas experiências e o mundo; a pesquisa de tipo etnográfico envolve um trabalho de campo, no qual o pesquisador se aproxima das pessoas, situações, locais e eventos, mantendo um contato direto e prolongado; as pessoas, as situações são observadas em seu ambiente natural; o pesquisador faz uso de uma grande quantidade de dados descritivos: situações, pessoas, depoimentos e diálogos. Dentre estas características descritas por André (1995), a presente investigação apresentou todos os aspectos elencados pela autora, sobretudo por buscar compreender os significados, os sentidos construídos pelos sujeitos no cotidiano.