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Desenho 14  História para completar 2ª sessão

6 O CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL CURUMIM

6.1 Localização, estrutura física e funcionamento

O CEI Curumim é uma instituição pertencente à rede pública de ensino do município de Fortaleza. Localiza-se em um bairro da periferia, na região da Secretaria Executiva Regional V61. Segundo os dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, o bairro possui 33.628 moradores. Ainda de acordo com os dados do IBGE (2010), 30,4% da população é composta por crianças e jovens com até quatorze anos62. No período em que realizamos a pesquisa, pudemos perceber a relação respeitosa que a coordenadora e as professoras têm com as famílias. As famílias, por sua vez, deixaram claro, no momento em que nos concederam as entrevistas, que valorizam o trabalho desenvolvido com as crianças, enfatizando, em suas falas, a importância que a creche tem para seus filhos. Segundo os pais, as crianças “gostam de vir para a creche”, “querem vir

para a creche até quando estão doentes”, “falam sobre tudo o que aprendem na creche”. O CEI fica próximo à escola municipal a qual está vinculado institucionalmente, ou seja, a direção da escola é responsável também pela direção do CEI. Em alguns dias em que estávamos realizando a pesquisa, presenciamos o diretor da escola visitando as dependências da instituição, nos horários de saída das crianças, oportunidade que aproveitava para manter um contato mais estreito, ou seja, dialogar com as famílias. Outros momentos de visita eram destinados a reuniões com a coordenadora pedagógica. É importante ressaltar que, apesar do diretor da escola municipal visitar o CEI algumas vezes, é a coordenadora pedagógica que realiza todas as atividades de acompanhamento do planejamento e das práticas pedagógicas, de atendimento às famílias, além das funções de gestão, tais como: matrículas, controle de estoque de alimentos e de material de higiene e limpeza.

Na entrada externa do CEI Curumim existem dois espaços: um campinho, no qual as crianças brincam com bolas, bambolês e outros materiais que possibilitam a brincadeira ao ar livre, e um jardim. A estrutura é caracterizada por um amplo galpão aberto e um corredor central. As salas são abertas e as paredes que as separam tem a metade da altura de uma parede convencional, o que ocasiona muita propagação de sons e ruídos. O corredor central é utilizado pelas professoras na realização de atividades coletivas com as crianças, tais como dramatizações teatrais, danças e eventos.

61 Fortaleza está dividida, administrativamente, em sete Secretarias Executivas Regionais (SER): SER I, SER II, SER

III, SER IV, SER V, SER VI e Secretaria Regional do Centro (SERCEFOR). Essas regionais abrigam, atualmente, 119 bairros. Desde 1997, a administração executiva da Prefeitura de Fortaleza está dividida em Regionais.

A instituição tem cinco salas, quatro delas são salas de atividades. Nelas, funcionavam as turmas de Infantil II (crianças de dois anos), Infantil III (crianças de três anos) e Infantil IV (crianças de quatro anos). A quinta sala, a menor de todas, é utilizada como sala dos professores. Nesse espaço, as professoras realizavam o seu planejamento. O banheiro infantil é amplo, com piso antiderrapante, chuveiros, sanitários e pias na altura das crianças. Existem, também, dois banheiros para os adultos; uma sala para a coordenação pedagógica, com armários, estante de livros, birô, televisor, mesa redonda com cadeiras, que a coordenadora utilizava para conversar com as famílias. Dentro da sala da coordenação, há um almoxarifado com materiais pedagógicos e de limpeza e higiene. A cozinha tem fogão industrial, geladeira, freezer, balança, fruteira e uma pequena despensa para o armazenamento dos alimentos. O refeitório fica em frente à cozinha e à sala de coordenação, tem quatro mesas retangulares e cadeiras na altura das crianças. Esses ambientes estavam sempre limpos e organizados.

O parquinho das crianças tinha areia, uma árvore frondosa, que proporciona sombra na maior parte da manhã, e conta com brinquedos de madeira: dois balanços e um escorregador; como também brinquedos de plástico: gangorra, casinha, trem. Os brinquedos estavam em bom estado de conservação. No parquinho, havia balde, pá e vários materiais para a brincadeira com areia. As crianças adoravam o parquinho e, neste espaço, além de brincar com os brinquedos disponíveis, ainda criavam muitas brincadeiras: aniversário com bolo de areia, castelo de areia, caçada ao mostro, casinha, cozinha do chef Artur63, entre outras.

Ao lado do parquinho, fica reservado um espaço para horta. No período de realização da pesquisa, as crianças do Infantil IV estavam cultivando mudas para serem plantadas nessa horta. Depois do parquinho, entre as dependências do CEI e da escola municipal, há um pátio externo, que dá sombra na maior parte da manhã. Nesse espaço, foi realizada, por duas vezes, a Roda de Conversa. Os espaços externos são bem utilizados pelas crianças, principalmente, pelas turmas do Infantil II e III. As professoras quase sempre possibilitam brincadeiras para que as crianças explorem esses espaços. A turma do Infantil IV gostava muito de brincar no campinho com bolas, o que era sempre solicitado à professora. Apesar do grande interesse das crianças em brincar nesse local, durante o período da pesquisa, presenciamos as crianças utilizando-o apenas duas vezes.

O CEI funcionava de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h. As crianças do Infantil II são atendidas no período integral, isto é, permanecem no CEI durante todo o horário de

funcionamento da instituição. Já as turmas de Infantil III e IV eram atendidas em período parcial. O turno da manhã funcionava de 7 as 11h; e o da tarde, de 13h as 17h. É oportuno refletirmos que o atendimento em período integral é um direito de todas as crianças que frequentam a EI. Essa conquista advém de movimentos sociais, de debates na sociedade civil, nos fóruns de educação, nas pesquisas acadêmicas, na reivindicação das famílias, movimentos sociais que reconhecem no atendimento ofertado por creches e pré-escolas a garantia de direitos, aprendizagens e desenvolvimento das crianças. Cabe ainda destacar que o não atendimento das crianças em período integral é contrário a uma das estratégias do PNE (2014- 2024), que preconiza a ampliação do “acesso à educação infantil em tempo integral para todas as crianças de zero a cinco anos de idade, conforme estabelecido nas DCNEIs” (BRASIL, 2014a).

Além disso, os familiares das crianças trabalham durante todo o dia. Por isso, necessitam que seus filhos e filhas permaneçam nas instituições de EI em tempo integral. Ressaltamos, outrossim, que creches e pré-escolas representam um apoio importante para as famílias que precisam deixar suas crianças em um espaço seguro e favorecedor do desenvolvimento e bem-estar.

Na tabela a seguir, constam o quantitativo e a organização das turmas por turno. Tabela 3 – Quantitativo de turmas no CEI Curumimno ano de 2016

Turmas Infantil II - Turma A Infantil II - Turma B Infantil III Infantil III Infantil IV Infantil IV Total Turnos de

atendimento Integral Integral Manhã Tarde Manhã Tarde -

Quantidade

de turmas 1 1 1 1 1 1 6

Quantidades

de crianças 20 17 19 20 16 16 108

Fonte: Coordenação Pedagógica do CEI.

No ano de 2016, não houve inscrições suficientes para a formação de turma para o Infantil I (bebês de um ano) no CEI Curumim. A inscrição das crianças é realizada pelos pais ou responsáveis, feita através de um registro único, realizada na instituição escolhida pelos pais ou responsáveis. De acordo com as Diretrizes de matrícula e de lotação de professores da

Rede Municipal (FORTALEZA, 2017b, p. 17), o registro único da criança “tem a finalidade de identificar a demanda de novas matrículas de crianças na faixa etária de 0 a 3 anos”. As turmas de Infantil I são compostas por 16 crianças. No referido ano, segundo a coordenadora do CEI Curumim, não houve essa quantidade de crianças inscritas no registro único, sendo a maior demanda por vagas para as turmas de Infantil II, que são turmas formadas, em geral, com crianças que têm dois anos de idade.

As turmas de Infantil V são atendidas na escola municipal, que geralmente oferta uma turma de Infantil V no turno manhã e outra à tarde. A coordenadora e uma agente administrativa sempre recebiam as crianças no início do turno e esse era um momento de conversas informais e troca de informações entre a instituição e as famílias.

Na Tabela 4, é apresentado o quantitativo e a formação dos profissionais que trabalham e compartilham o ambiente de educação e cuidado das crianças no CEI Curumim. Tabela 4 ̶ Quantitativo e formação dos profissionais lotados no CEI Curumim no ano de 2016

Função Quantidade Escolaridade Carga horária

Professoras 8 Pós-graduação 200h

Assistentes educacionais 3 Nível superior 200h

Agente administrativo 1 Nível médio 200h

Manipuladoras de alimentos 2 Nível médio 200h

Auxiliares de serviços gerais 3 Nível médio 200h

Coordenadora 1 Pós-graduação 200h

Fonte: Coordenação Pedagógica do CEI.

As professoras64 possuem licenciatura em Pedagogia e pós-graduação lato sensu nas áreas da Psicopedagogia e Educação Infantil. Apenas uma professora possui somente o curso de graduação. Todas são efetivas e têm experiência média de dez a cinco anos na Educação. A coordenadora também é graduada em Pedagogia e possui pós-graduação lato

sensu em Educação Infantil e Psicomotricidade Relacional.

As manipuladoras de alimentos, as auxiliares de serviços gerais e a agente administrativa são contratadas em regime de trabalho terceirizado.

64 Na realidade investigada, o grupo de professoras, coordenadora, assistentes de educação infantil e demais

As assistentes educacionais65 que atuam no Infantil II e III são graduadas em Pedagogia e foram efetivadas através de concurso público no ano de 2014. Uma nova realidade, que contradiz o que orienta Resolução nº 002/2010, do Conselho Municipal de Educação de Fortaleza (CME) (FORTALEZA, 2010), mais especificamente no Art. 17, quando recomenda a figura do professor no desenvolvimento do trabalho com as crianças de 0 a 5 anos. Assim sendo, dois professores na relação direta com as crianças e no desenvolvimento de práticas pedagógicas compartilhadas e indissociáveis nas ações de cuidar e educar é o ideal e o mais adequado de acordo com a referida legislação municipal.

Todos esses profissionais constituem e organizam uma gestão de uma instituição de EI. Por isso, todos precisam se relacionar e atender as crianças de forma articulada, considerando o educar e o cuidar indissociáveis como princípio que embasa as práticas cotidianas na EI. Todos os profissionais envolvidos, independente de suas funções, precisam se comprometer com a coletividade e a intencionalidade pedagógica, que tem como centro a criança e atendimento às suas necessidades. A articulação entre a dimensão pedagógica e a gestão precisa estar prevista nas propostas pedagógicas das instituições, concebendo a EI como “[…] espaço educacional no qual os adultos ̶ diretor, coordenador, professores e demais profissionais ̶ se sintam comprometidos com a iniciativa coletiva […]” (BRASIL, 2009a, p. 88).

Desse modo, podemos romper com práticas adultocêntricas que regulam o tempo da criança ao tempo do adulto, um tempo aligeirado, cronometrado, restrito, que não leva em consideração os ritmos e as necessidades das crianças.

6.2 A Roda de Conversa: um tempo que não pode faltar nas instituições de EI da rede