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Desenho 14  História para completar 2ª sessão

5 O CAMINHO METODOLÓGICO

5.3 Os instrumentos de construção de dados

5.3.1 Observação participante

A observação como técnica de construção de dados, segundo Gil (2014, p. 100), “nada mais é do que o uso dos sentidos com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o cotidiano”. Assim, é uma técnica imprescindível em toda pesquisa científica, permitindo conhecer o fenômeno em seu contexto. Para isso, devemos estar atentos às ações, às relações, aos conflitos, às expressões, às falas e conhecermos a realidade na qual os sujeitos estão inseridos e como se relacionam com o fenômeno. Barros e Lehfeld (2014, p. 76)

ressaltam que “observar significa aplicar atentamente os sentidos a um objeto para dele adquirir um conhecimento mais preciso”.

Como uma técnica, característica das pesquisas do tipo etnográfico, a observação participante foi introduzida na pesquisa social pelos antropólogos e tem um papel fundamental nas pesquisas qualitativas. Como já enfatizamos, permite o primeiro contato do pesquisador com o contexto. No caso desta pesquisa, possibilitou uma proximidade com as crianças, com a professora e com o fenômeno investigado, o que permitiu caracterizarmos a Roda de Conversa numa turma de Infantil IV em uma instituição de EI.

Uma importante forma de registro aliado da observação é o Diário de Campo, no qual descrevemos, a partir de um roteiro de observação42 previamente elaborado, nossas

impressões, percepções e descrições do contexto observado. O uso do diário de campo, conforme Barros e Lehfeld (2014), serve como uma agenda cronológica, na qual se deve registrar com muito cuidado as percepções, vivências e experiências no campo.

Autores como Bogdan e Biklen (1994) dão muita importância para os registros pessoais do pesquisador, recomendando que o conteúdo das observações contenha uma parte descritiva e outra mais reflexiva. As impressões pessoais envolvem especulações, sentimentos, incertezas, surpresas, dentre outros sentimentos que fazem parte da delicada tarefa que é pesquisar.

As observações das Rodas de Conversa foram realizadas em 20 sessões e em dias alternados nos meses de setembro, outubro e novembro, com duração de quatro horas. As observações aconteceram em variados espaços: na sala de referência, área externa e na horta, onde foram realizadas as Rodas de Conversa. Também observamos as interações e as conversas no refeitório, no parque, no campinho, no momento das atividades e nos tempos da rotina.43

Iniciamos as observações fazendo uso somente do diário de campo, com o intuito de que as crianças se familiarizassem com nossa presença. Esse momento de inserção em campo é muito importante e delicado, pois a presença do pesquisador representa a novidade e, ao mesmo tempo, causa sentimentos de aproximação, como na expressão de Lara: “amanhã tu

vem de novo?”; e de estranheza, expresso na fala de Artur: “tu também é professora?” O

42 Apêndice B.

43 De acordo com as Diretrizes Pedagógicas da Educação Infantil (FORTALEZA, 2017a), a rotina da educação

infantil é estruturada pelos tempos que não podem faltar, que organizam e integram as experiências educacionais, imprescindíveis nessa etapa, considerando as necessidades e interesses das crianças. Os tempos que não podem faltar são tempos fundamentais da rotina da Educação Infantil propostos pelo Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC): tempo de chegada, Roda de Conversa, higiene e alimentação, parque, construção de conhecimento de si e do mundo, roda de histórias e saída.

diário de campo causava curiosidade nas crianças, que queriam ver o que nós escrevíamos. Certa vez, Iarley pediu para ver nosso diário e disse: “não tem desenho, só tem letra!”. Leandra também expressava muita curiosidade: “olha, tia! Tu escreve muito, né?”

Buscamos sempre organizar nossa escrita a partir do roteiro de observação, mas cientes de que precisamos ter flexibilidade em função da dinâmica do contexto observado, o que nos possibilitou observar outras relações que foram surgindo no percurso da pesquisa. Logo no primeiro dia de observação, vimos que a professora e as crianças denominavam a Roda de Conversa como “rodinha”44, o que nos fez adaptar essa nomenclatura nos

instrumentos para escuta da criança. O diário de campo foi um importante aliado na observação, pois nele descrevemos os diálogos das crianças com seus coetâneos e com a professora, nossas impressões e desdobramentos do que observamos na Roda de Conversa, assim como em outros momentos da rotina. O observador participante deve dispor de outras formas de registro aliadas ao diário de campo, tais como a filmagem e a fotografia.

Nesta investigação, concebemos as crianças como sujeitos dialógicos que se expressam em múltiplas linguagens. Por isso, fez-se necessária a utilização de registros fílmicos com o objetivo de captar as falas, expressões faciais, gestos, posturas corporais, manifestações de negação, concordâncias, interesses e necessidades das crianças, entre outras reações que o olhar do pesquisador e a escrita não conseguem captar.

As filmagens foram iniciadas duas semanas depois do início das observações. Aproveitamos um momento de Roda de Conversa para apresentar a câmera às crianças e mostrarmos seu modo de funcionamento. Explicamos que precisaríamos filmar e fotografar a Roda de Conversa, assim como outros momentos de suas atividades na creche45. As crianças ficaram muito empolgadas para ver e pegar no objeto. A maioria delas pediu para tirar fotos, e Ana falou que queria filmar. Muito empolgadas, tiraram fotos do mobiliário, dos brinquedos e dos colegas. Também gostaram de se ver na câmera digital, davam risadas e faziam comentários. Weverton disse: “olha! A foto das letras!” Sara pediu: “deixa eu ver a foto que

eu tirei!

44Ao nos referirmos à denominação “rodinha” entre aspas, estamos destacando o modo como é chamada pelas

crianças e pela professora no contexto investigado.

Fotografia 7 ̶ Fotografia feita por uma criança

Fonte: arquivo de pesquisa.

Fotografia 8 ̶ Ana, acompanhada de Jennifer, filma os colegas no parque

As fotografias foram feitas em diferentes espaços do CEI e em diferentes momentos da rotina, sendo um importante registro que, aliado às observações, ajudou a relembrar detalhes dos movimentos e expressões. Conforme Leite (2008), o uso da filmagem, da fotografia e do gravador minimiza a intervenção do olhar do pesquisador para captar o registro das falas, ações e expressões das crianças. Esses recursos foram imprescindíveis para a complementação dos registros feitos no diário de campo, sobretudo, nos momentos de observação das crianças na Roda de Conversa, como em outros espaços e momentos da rotina. Recorreremos ao recurso de filmagens como forma de registro para as sessões de História para completar (H-C) e Desenho-História (D-H). Essas filmagens foram transcritas e se constituíram num valioso material que enriqueceu as análises dos dados. As fotografias também ajudam para que o leitor conheça o contexto da pesquisa.