• Nenhum resultado encontrado

Desenho 14  História para completar 2ª sessão

3 A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO E DA LINGUAGEM NA

3.5 A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)

Vygotsky (1998) se refere ao aprendizado pré-escolar como momento primordial de interações, exploração dos objetos, lugar das primeiras perguntas, da brincadeira e das suas múltiplas linguagens. As crianças nas interações sociais, com as quais se defrontam, aprendem e se desenvolvem.

Em suas análises sobre aprendizagem e desenvolvimento, Vygotsky (1998, p. 111) chegou à conclusão de que as atividades que as crianças conseguem “fazer por si mesmas” não são indicativas de desenvolvimento. Para ele, o que proporciona aprendizado é “o que a criança consegue fazer com a ajuda dos outros”. Essa relação de trocas e interações é bem mais indicativa de desenvolvimento psíquico do que as ações que a criança consegue fazer sozinha.

Vygotsky (1998) determina dois níveis de desenvolvimento e sua atuação no aprendizado da criança: o nível de desenvolvimento real ou efetivo e o nível de desenvolvimento potencial. De acordo com Rego (1995), o nível de desenvolvimento real refere-se às conquistas que já estão consolidadas nas crianças; capacidades e aprendizagens que conseguem fazer sozinhas, sem precisar de ajuda de um adulto ou criança mais experiente.

Já o nível de desenvolvimento potencial também se refere àquilo que a criança já é capaz de fazer, só que mediante a ajuda de outra pessoa, de adultos e crianças mais experientes. A autora faz uma análise muito oportuna sobre as interações propulsoras de desenvolvimento desse nível, considerando que elas possibilitam que as crianças aprendam “[…] a solucionar problemas através do diálogo, da colaboração, da imitação, da experiência compartilhada e das pistas que lhe são fornecidas” (REGO, 1995, p. 73).

As pistas culturais e sociais têm, na interação com os adultos e crianças mais velhas e nas instituições de educação e cuidado, o palco privilegiado para o aprendizado e pleno desenvolvimento.

De acordo com o postulado vygotskyano, a ZDP

[…] é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1998, p. 112).

O conceito de ZDP possibilita entender o curso do desenvolvimento e do aprendizado da criança. Este se caracteriza por ser um processo em que se enfatiza a importância das interações construídas na relação eu-outro.

Prestes (2013) dá ênfase à ideia de que é preciso estudar as inúmeras possibilidades da criança e não o que ela tem ou já sabe (nível real), ou seja, para a autora, investigando o que a criança faz de forma autônoma, estamos estudando o desenvolvimento de ontem, isto é, aquilo que a criança já sabe. Essenciais para Vygotsky, continua a autora, são as interações sociais, nas quais aprendemos com o outro. Ainda segundo a concepção do teórico, a atividade colaborativa “[…] pode criar essa zona que põe em movimento uma série de processos internos de desenvolvimento que são possíveis na esfera de relação com outras pessoas, mas que, ao percorrerem essa marcha orientada para o sentido interno, tornam-se patrimônio da criança” (PRESTES, 2013, p. 300).

Isso significa dizer que as relações entre aprendizagem e desenvolvimento seguem a lei geral do crescimento humano, tal qual afirma Vygotsky (2010, p. 699):

[…] as funções psicológicas superiores da criança, as propriedades superiores específicas do homem, surgem a princípio como forma de comportamento coletivo da criança, como formas de cooperação com outras pessoas e apenas posteriormente elas se tornam funções interiores individuais da própria criança.

Como se percebe, aprendizado e desenvolvimento se entrecruzam; os saberes coletivos e provenientes das relações com o outro social aliam-se aos saberes já consolidados das crianças, impulsionando seu desenvolvimento. Vê-se, portanto, a importância da coletividade e das interações para o desenvolvimento da criança. De acordo com essa proposição, quando investigamos o que a criança realiza em cooperação, estamos definindo o desenvolvimento de amanhã.

Esse amanhã, segundo Prestes (2013), não é algo previsível, mas dialético e transformador, seguindo ritmos diferenciados em cada criança, em que o meio social e as experiências culturais exercerão grande importância para o desenvolvimento. Então,

[…] a socialização, conforme a teoria histórico-cultural, está diretamente relacionada à transformação da criança num ser cultural que se desenvolve na relação com o meio que não é composto apenas de objetos, mas é um meio em que ocorre um verdadeiro encontro entre pessoas e em que se atribui sentido aos objetos; são situações que permitem ao ser humano ser dono de seu comportamento e de sua atividade, ser partícipe da vida social (PRESTES, 2013, p. 302).

Trazer a discussão da ZDP para este estudo colabora para o entendimento da compreensão do desenvolvimento das funções psíquicas que se processam individualmente e, principalmente, aquelas que são construídas na coletividade, que são construídas nas interações entre pares e com adultos, potencializando aprendizado. Nas instituições de educação e cuidado, o professor é “[…] um parceiro mais experiente, aquele que também atua na Zona de Desenvolvimento Proximal da criança, garantindo que, nessa interação, a criança se aproprie dos elementos da sua cultura” (VYGOTSKY, 1998, p. 133).

Colaborando para o nosso pensamento acerca do papel do professor como um companheiro, um ouvinte perante a Roda de Conversa, Rego (1995, p. 116, grifos da autora) afirma:

[…] é necessário que conheça o nível efetivo das crianças, ou melhor, as suas descobertas, hipóteses, informações, crenças, opiniões, enfim suas “teorias” acerca do mundo circundante. Este deve ser considerado “o ponto de partida”. Para tanto, é preciso que, no cotidiano, o professor estabeleça uma relação de diálogo com as crianças e que crie situações em que elas possam expressar aquilo que já sabem. Enfim, é necessário que o professor se disponha a ouvir e a notar as manifestações infantis.

Esperamos que o professor de EI possa observar mais atentamente as crianças em sua fala, seu pensamento, sua imaginação ou, como indica Mello (2010, p. 732), “[…] observando mais atentamente as crianças e suas atitudes para perceber os níveis de compreensão dos significados das [suas] palavras […]”. Desse modo, estaremos exercendo uma escuta atenta das crianças e garantindo os direitos de conviver, participar, expressar-se, conhecer-se, explorar e brincar (BRASIL, 2016).

Na seção a seguir, abordamos a contribuição teórica de Henri Wallon para a construção do pensamento e da linguagem. Vejamos como ocorre o desenvolvimento da psicogênese da pessoa completa.