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Desenho 14  História para completar 2ª sessão

3 A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO E DA LINGUAGEM NA

3.4 A importância dos conceitos espontâneos e dos conceitos científicos na

Segundo Oliveira (1992), a linguagem humana é um sistema simbólico fundamental na mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento. A linguagem é fruto de um processo histórico-cultural que serve para a comunicação entre os indivíduos e entre as coisas do mundo, facilitando, generalizando e mediando a experiências cotidianas das crianças e dos indivíduos.

As relações cotidianas de uso da linguagem são organizadas por categorias, por conceitos e pela palavra. Oliveira (1992, p. 28) salienta: “as palavras, portanto, como signos

mediadores na relação do homem com o mundo são, em si, generalizações: cada palavra refere-se a uma classe de objetos, consistindo num signo, numa forma de representação dessa categoria de objetos, desse conceito”.

O grupo cultural no qual os indivíduos convivem e se desenvolvem é que irá fornecer os significados encontrados no mundo real ordenado em categorias (denominados conceitos), que são mediados pelas palavras.

A formação dos conceitos é fundamental para o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, pois a criança, ao internalizar a linguagem, passa a representar o real em categorias e, assim, organiza seu conhecimento, seu pensamento. Para Vygotsky (2005, p. 67), um conceito “é uma parte ativa do processo intelectual, constantemente a serviço da comunicação, do entendimento e da solução de problemas”. Já para Oliveira (1992, p. 28), conceitos são “construções culturais, internalizadas pelos indivíduos ao longo do processo de desenvolvimento”.

As crianças, ao fazerem uso da palavra, fazem relações, apropriam-se dos seus significados com base nas características dos elementos do mundo real e de seu grupo cultural. No seu cotidiano, nas interações com o outro, brincam, fantasiam, observam, experimentam, perguntam, querem saber, precisam dizer. Esse conjunto de experiências possibilita que as crianças ajam sobre o mundo através da cultura e de seus saberes. Exatamente por isso, Vygotsky é categórico ao dizer que muito antes de entrar para a escola, a criança já construiu uma série de conhecimentos do mundo que a cerca. Conhecimentos construídos na experiência pessoal e coletiva concreta e cotidiana com suas famílias, nos círculos culturais do qual fazem parte e nas instituições de EI.

Vygotsky chamou de “conceitos cotidianos ou espontâneos” os conhecimentos que têm origem na experiência pessoal da criança construída em situações concretas, ou seja, os conceitos espontâneos “são desenvolvidos no decorrer da atividade prática da criança, de suas interações sociais imediatas” (OLIVEIRA, 1992, p. 31).

Os conceitos científicos, segundo Vygotsky (2005, p. 135), “envolvem uma atividade mediada, em relação ao seu objeto”, ou, como explica Oliveira (1992, p. 31), “são aqueles adquiridos por meio do ensino, como parte de um sistema organizado de conhecimentos, […]”. Assim sendo, o processo da formação de conceitos é longo e complexo; inicia-se na fase mais precoce da infância, na fase pré-escolar19, e segue ao longo

19 De acordo com Zoia Prestes, tradutora da obra “Imaginação e criação na infância: ensaio psicológico”, de

do desenvolvimento até a adolescência, motivo pelo qual não serão aprofundados neste capítulo.

É válido ressaltar que os conceitos espontâneos e científicos diferem quanto a sua relação com a experiência da criança, mas que são processos intimamente relacionados entre si e que se influenciam, fazendo parte de um único processo: o de Formação de Conceitos. Portanto, não pode ser transmitido, nem aprendido de forma mecânica, mas sim com significado, através da experiência concreta das crianças, da sua participação, perguntas, dizeres e curiosidades sobre as coisas do mundo.

A criança elabora conceitos, levanta hipóteses, interage como os parceiros mais experientes (adultos e outras crianças) mediados pela linguagem; mostra, de forma competente, que já conhece sobre as coisas e sobre o mundo. Por isso, é importante deixar clara a importância de se considerar o que as crianças já sabem, relacionando e confrontando com os conhecimentos socialmente e historicamente construídos. Esse é, fundamentalmente, o papel das instituições de educação.

Nunca é demais enfatizar que, nas palavras de Vygotsky (1998, p. 110), “o ponto de partida dessa discussão é o fato de que o aprendizado das crianças começa muito antes de elas frequentarem a escola. Qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia”.

A infância é caracterizada por uma intensa atividade intelectual por parte da criança. Por isso, requer experiências com a linguagem oral (as mais diversas!). As falas das crianças precisam ser consideradas e sua expressão e significados compreendidos pelos professores de EI como necessários ao processo de construção do pensamento e da linguagem.

Em virtude disso, as relações entre aprendizagem e desenvolvimento ocupam lugar de destaque na teoria vygotskyana, pois o aprendizado escolar introduz elementos novos para o desenvolvimento da criança. É preciso, no entanto, deixar claro que não se trata do aprendizado, no qual o adulto é o detentor exclusivo da informação, mas um aprendizado que “[…] desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage com as pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros” (VYGOSTKY, 1998, p. 117).

Portanto, nessa teoria, aprendizado e interações sociais caminham juntos, impulsionam o desenvolvimento e criam uma ZDP, na medida em que todos aprendem (e

anos, e a idade pré-escolar, que seria a criança acima de três anos e até seis ou sete anos. As crianças em idade escolar correspondem à idade de oito anos em diante.

aprendem melhor!) nas interações com o outro. A Roda de Conversa possibilita a ZDP quando as crianças apreciam a fala, os modos de se expressarem, quando observam, identificam-se e aprendem com o outro.

Essa forma de conceber o processo educativo rompe com as relações unilaterais e assimétricas da ação educativa, passando a ser concebidas como ações mediadas e inter- relacionais. Vejamos como isso se processa.