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Desenho 14  História para completar 2ª sessão

3 A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO E DA LINGUAGEM NA

3.1 A contribuição teórica de Lev Semenovitch Vygotsky

Lev S. Vygotsky (1896-1934) foi professor e pesquisador nas áreas da psicologia, pedagogia, filosofia, literatura, artes e nos estudos das deficiências física e mental. Viveu em um período histórico efervescente, no contexto pós-revolução na Rússia, em meio a um contexto político e cultural que o influenciaram na realização de uma genial produção intelectual que mudaria os rumos da psicologia e da educação.

Seus estudos nesse campo tinham como pressuposto investigar as origens sociais dos processos psíquicos superiores, contrariando as visões naturalistas, mecanicistas e associacionistas da época. Ele propôs uma nova psicologia, tendo como objetivo reunir, segundo Oliveira (1997, p. 14), “num mesmo modelo explicativo, tanto os mecanismos cerebrais subjacentes ao funcionamento psicológico, como o desenvolvimento do indivíduo e da espécie humana, ao longo de um processo sócio-histórico”.

Portanto, o homem, para Vygotsky, não é aquele que age naturalmente de forma reflexa, nem por estímulos mecânicos exteriores, mas um homem complexo, com capacidades

psicológicas superiores, derivadas das relações deste com a cultura e sua história individual e social. O interesse central do seu estudo é a origem dos processos psicológicos tipicamente humanos.

Em seu programa de pesquisa, Vygotsky elaborou hipóteses de como as características tipicamente humanas se desenvolvem ao longo da história humana e no desenvolvimento do indivíduo, baseado nos princípios do materialismo dialético, no qual “[…] o ser humano não é só produto de seu contexto social, mas também um agente ativo na criação deste contexto” (REGO, 1995, p. 49).

As escolhas teóricas de Vygotsky têm como centro o papel ativo do homem enquanto sujeito social, que interage com os elementos de cultura, numa perspectiva dialética e integral, constituídos na relação entre corpo e mente, pelos processos biológico e social e fazendo parte ativamente de um processo histórico e cultural.

No período entre 1920 e 1930, Vygotsky pensou sobre questões da educação e de seu papel no desenvolvimento humano. Nessa fase do seu estudo, dedicou-se ao estudo da aprendizagem e desenvolvimento infantil de uma forma mais abrangente, a chamada “pedologia” que, segundo Oliveira (1997, p. 20), “[…] é a ciência da criança, que integra os aspectos biológicos, psicológicos e antropológicos. […] a ciência básica do desenvolvimento humano, uma síntese de diferentes disciplinas que estudam a criança.” Essa perspectiva alicerça o presente estudo, no qual concebe o conhecimento como fruto das relações do homem em sua cultura, centrado nas relações sociais e individuais da criança, tendo a aprendizagem como propulsora do desenvolvimento.

A psicologia genética de Vygotsky não pretende, como explica Rego (1995, p. 25), ser uma teoria do desenvolvimento infantil, mas tem como fundamento compreender os processos psicológicos tipicamente humanos. A chave para essa compreensão está no estudo da criança, pois, de acordo com a referida autora, a criança estar no “centro da pré-história do desenvolvimento cultural”, sendo os processos que culminam na construção do pensamento e da fala propulsores de grande salto no desenvolvimento intelectual das crianças.

Justamente por isso, a questão do desenvolvimento da linguagem e suas relações com o pensamento ocupam um lugar central na teoria vygotskyana. A linguagem é entendida como um sistema simbólico característico dos grupos humanos, fundamental para a organização das funções psicológicas superiores.

Além da função psicológica, a linguagem, de acordo com essa teoria, é entendida como uma representação da realidade, pois permite a comunicação entre os indivíduos, o

estabelecimento de vínculos, aprendizagens e significados compartilhados. Nas palavras de Vygotsky (2005, p. 63),

O crescimento intelectual da criança depende do seu domínio dos meios sociais de pensamento, isto é, da linguagem. […] O pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo histórico- cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas naturais de pensamento e fala. […] O problema do pensamento e da linguagem, estende-se portanto, para além dos limites da ciência natural e torna-se o problema central da psicologia humana histórica […].

A linguagem é um fenômeno social e cultural, da qual se apropriam os seres humanos por meio das interações, dos signos e significados que a cultura produz, é mediadora, capaz de produzir mudanças significativas no sujeito, um marco para o desenvolvimento da criança.

O desenvolvimento da linguagem oral da criança através do dispositivo da Roda de Conversa e das interações nos diversos momentos das rotinas possibilita às crianças e aos adultos se constituírem na coletividade, nas trocas dialógicas, palco para uma pedagogia participativa, em que todos, como diria João Formosinho “aprendem em companhia” (informação verbal)14.

Esse importante aporte teórico será fundamental para a compreensão do processo de construção do pensamento e da fala na criança e dos processos que implicam essa construção, tais como: a mediação simbólica e, com ela, o uso de instrumentos e signos, as funções psicológicas superiores, a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) e a formação de conceitos. Aspectos relevantes dessa teoria que serão discutidos mais adiante.

É importante que esses aspectos sejam compreendidos pelos professores da EI, para que se tenha maior clareza dos processos e da importância do pensamento e da fala no desenvolvimento da criança. Vejamos como ocorre o processo de mediação simbólica, um modo de funcionamento psicológico tipicamente humano.

14 Informação fornecida por João Formosinho na Palestra “Métodos participativos de avaliação”, proferida no

Encontro Científico “Avaliação para transformação em Educação Infantil: a perspectiva das pedagogias participativas”, realizado no período de 24 a 26 de abril de 2017, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).