• Nenhum resultado encontrado

Desenho 14  História para completar 2ª sessão

6 O CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL CURUMIM

6.2 A Roda de Conversa: um tempo que não pode faltar nas instituições de E

Conforme o documento Diretrizes pedagógicas da educação infantil, a rotina nas instituições de EI do município de Fortaleza é organizada nos tempos que não podem faltar, os quais organizam e integram as experiências educacionais das crianças de um a cinco anos

65 De acordo com as Diretrizes Pedagógicas da Educação Infantil, o assistente educacional, ou auxiliar

educacional, deve trabalhar em parceria com o Professor Regente, tendo em vista: “a integração da educação com o cuidado no desenvolvimento das atividades pedagógicas; as especificidades do desenvolvimento infantil; a observação, os registros dos aspectos observados, a avaliação do processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança e a avaliação da prática pedagógica; o processo de integração instituição/família/comunidade; o acolhimento das crianças e dos seus familiares; a segurança nos ambientes internos e externos da instituição, bem como prever situações de riscos; o cuidado e a educação de todas as crianças”. (FORTALEZA, 2017, p. 7).

de idade66. Os tempos que não podem faltar são: chegada, roda de conversa, higiene e alimentação, parque, roda de história, construção do conhecimento de si e do mundo e saída. Esses tempos devem garantir à criança “experiências de oralidade, de ouvir e ler histórias, de cuidado consigo mesma e com o meio ambiente, de conhecimento de si e do mundo […]” (FORTALEZA, 2017a, p. 11), tendo as brincadeiras e as interações como eixos norteadores das práticas pedagógicas. A Roda de Conversa, como um tempo que não pode faltar,

[…] deve propiciar às crianças um momento de discussão sobre um determinado tema. O objetivo é desenvolver a oralidade da criança, ampliar seu vocabulário, atribuir significado às suas próprias ideias, aprendendo a ouvir e a considerar a opinião dos outros e a expressar suas ideias, sentimentos e opiniões. Assim, o professor pode sugerir um tema para a discussão, a partir de um acontecimento, de uma notícia, de um objeto (que pode estar numa caixa de surpresa, por exemplo), de um projeto desenvolvido pela turma ou sobre algum assunto que as crianças propuserem (FORTALEZA, 2017a, p. 11).

De acordo com a referida diretriz, a Roda de Conversa no contexto municipal é um espaço-tempo no qual o professor “sugere temas para a discussão” e poderá conversar sobre os projetos desenvolvidos com as crianças. É, também, um espaço-tempo das crianças, um momento para a expressão das opiniões, sentimentos e assuntos que as crianças proponham. Crianças e professor partilham desse espaço-tempo, assim, precisam se apropriar da Roda de Conversa como iguais, afinal de contas, a Roda sugere, por seu princípio de circularidade, ser um espaço-tempo de igualdade e democracia, no qual todas as vozes são igualmente importantes. Por outro lado, o fato de ser adulto já pressupõe uma relação de poder e de desigualdade entre adultos e crianças.

Conforme apresentado na revisão de literatura, essa relação desigual é exercida na Roda de Conversa, que é realizada quase sempre a partir da centralidade do adulto. Desse modo, “o professor se sente o responsável exclusivo pela aprendizagem infantil e faz prevalecer os seus conhecimentos e opiniões em detrimento de tantos outros […]” (ALESSI, 2011a, p. 126), ou “exercendo o controle e impondo ordem às crianças” (OLIVEIRA, 2015, p. 72). Na Roda, os adultos “são os protagonistas e as crianças coadjuvantes e executoras de ações propostas pelo adulto”, como afirma Silva (2015, p. 141-142), e nela se realizam diversas atividades, caracterizadas como rotineiras, como: cantar músicas, fazer orações, marcar o calendário, o quadro de tempo, fazer combinados de regras (ARAÚJO, 2015).

66 As instituições de Educação Infantil da rede pública municipal de Fortaleza não atendem as crianças na idade

Dessa forma, precisamos discutir sobre essas relações de poder que não consideram as vozes e os assuntos de interesse das crianças, como também alguns equívocos que fazem com que a Roda tenha múltiplas funções, esquecendo-se do seu real objetivo: a conversa.

Acreditamos que a Roda de Conversa é um espaço-tempo que possibilita superar as distâncias e a centralidade das práticas adultocêntricas. Para que assim ocorra, o professor precisa conceber a criança como competente e protagonista de suas aprendizagens. Além disso, precisa rever concepções nas quais possa se espelhar; encontrar-se no papel do professor que seja um parceiro, guia e ouvinte, aquele que possibilita “oportunidades de descoberta e da co-construção do conhecimento com as crianças” (EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999, p. 161).

Ainda de acordo com as Diretrizes pedagógicas da educação infantil (FORTALEZA, 2017a), a Roda de Conversa está relacionada ao trabalho pedagógico do professor, que precisa planejar, semanalmente, os temas, os assuntos que serão abordados nesse momento. Não questionamos o ato de planejar, uma vez que ele é fundamentalmente importante para o desenvolvimento, reflexão e avaliação da prática pedagógica. Ostetto (2000, p. 177) nos diz que o planejamento na EI é mais do que uma atividade, é ter em mente que a criança é o foco; “o planejamento marca a intencionalidade do processo educativo”, ou, como mais recentemente orientam as DCNEI (BRASIL, 2009b), a criança é o centro do planejamento curricular. O currículo é um conjunto de práticas que articulam os saberes das crianças com os conhecimentos socialmente construídos, tendo como objetivo o desenvolvimento integral da criança.

Diante do exposto, pensamos: Como planejar temas para a Roda de Conversa, considerando que as crianças têm seus conhecimentos, necessidades e interesses? Será que as crianças estão interessadas em conversar sobre o tema proposto? E se elas quiserem conversar sobre outros assuntos? Diante desses questionamentos, que tal ser a Roda de Conversa um espaço no qual as crianças possam sugerir temas de seu interesse? Um espaço de conversas que surge a partir de um brinquedo, fotografia, informações, curiosidades e dos assuntos de interesses das crianças?

Essas são questões pertinentes para que pensemos a Roda de Conversa não somente como tempo da rotina, que se torna desprovido de sentido, mas como um espaço democrático, dialógico, no qual as crianças têm o direito de participar e expressar seu pensamento.

Nossa forma de pensar não é idealista. Ela se baseia numa concepção de currículo sustentado “[…] nas relações, nas interações […], para a produção de narrativas, individuais e coletivas, através de diferentes linguagens” (BRASIL, 2009c, p. 14).

No contexto investigado, a “rodinha” tinha diferentes objetivos na sua realização: momento de apresentar “conteúdos” do livro didático, momento para contar histórias, cantar músicas e fazer combinados, sobrando pouco tempo para a conversa e participação espontânea das crianças. No entanto, é importante ressaltar que a professora apresenta uma concepção que reflete sua caminhada como profissional, seu entendimento atual sobre a Roda de Conversa e outros tempos da rotina. Desse modo, a professora Emília corrobora com essa investigação refletindo sobre a importância da realização de pesquisas no contexto da EI, dizendo: “acredito, também, que o trabalho que você ta fazendo é de essencial importância.

Me sinto aberta a qualquer posicionamento. Eu estou em outro momento da minha vida, e a gente está em constante construção […]”.

Nosso objetivo não é realizar julgamentos, mas discutir a partir da escuta das crianças e da observação de suas participações na Roda, da prática pedagógica e concepções da professora, para que possamos discutir, refletir e propor caminhos para pensarmos a Roda de Conversa como espaço-tempo de expressão do pensamento, participação e de experiências cotidianas. Assim como revela Iarley, “a „rodinha‟ é de todos os amigos! O menino tá na

roda conversando de dinossauro, de dragões. Tia, sabe o que eu tenho na minha casa? Eu tenho um balão. Um balão de dinossauro!”67

Na expressão de Iarley, temos o fundamento que revela a importância e a necessidade de repensar a Roda de Conversa: as experiências da vida cotidiana. A seguir, trago a contextualização da Roda de Conversa tal como é realizada no CEI Curumim.

6.3 A Roda de Conversa no agrupamento Infantil IV do CEI Curumim

A Roda de Conversa no CEI Curumim é denominada pela professora e pelas crianças como “rodinha”. Ainda é bastante recorrente ouvirmos professores e profissionais que atuam nas instituições de EI se referirem às crianças com palavras no diminutivo. Conforme Kohlrausch (2006), essa prática expressa uma imagem de criança como ser frágil e imaturo. Ao nos reportarmos à Roda dessa forma, reforçamos uma condição de inferioridade