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A contribuição semiótica ou semiológica no exercício da linguagem

No documento O CAMPO DA COMUNICAÇÃO (páginas 196-200)

A linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade não vive; e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir constantemente. Isto significa que como escritor devo me prestar contas de cada palavra e considerar cada palavra o tempo necessário até ela ser novamente vida. O idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanha de cinzas. (ROSA, 2006, n.p).

Seria importante que definíssemos ou conceituássemos a linguagem na medida em que projetamos uma necessidade de pertencimento entre a comunicação e a linguagem. Vejamos o que diz a professora Célia Ladeira Mota (2017, p. 73-74):

A linguagem constitui um elemento fundamental para a compreen-são do conhecimento humano de mundo, passando a ser um meio de articulação das experiências humanas. Desde a Idade Antiga, Platão já discutia sobre a influência da linguagem no pensamento, considerando-a como uma forma de diálogo da alma com ela mesma.

Esse diálogo representa um processo cíclico de pergunta-resposta pautado em juízos, convicções e objeções próprios dos sujeitos, que precedem os objetos dos quais se falam [...]. Segundo Gadamer, não se procura um conhecimento sem palavras, só que as mesmas constituem apenas uma forma de acesso às coisas do mundo e não à verdade. Assim, apesar de toda forma de aprendizado, que se dá com o uso de palavras como meio de linguagem, o pensar conduz as coisas ao mundo das ideias, e assim as palavras não passam de representação de signos aos quais se atribuem sentidos.

Por que as aparências enganam? Por que as palavras não são as coisas? Por que a intuição é uma forma válida de conhecimento? Por que a música “Sinal Fechado” de Paulinho da Viola não é apenas um semáforo com a luz vermelha?

Por que o nome não corresponde a um indivíduo de carne e osso? Por que exis-tem as representações das coisas? Por que as ideias não são as coisas? Por que o pensamento é uma forma de interiorizar o mundo dentro de cada um? Por que aquilo que é, não o é ainda? O não é uma invenção do sujeito, ou existem coisas negativas na realidade? Por que a realidade acata o signo como seu representante junto a nós? Por que a tecnologia é um instrumento da linguagem? Meios de co-municação de massa e coco-municação através das redes sociais representam poderes na sociedade? Por que o acontecimento é um vir a ser?

O filósofo Charles Sanders Peirce (EUA, 1893-1914) investigava a relação entre objetos e o pensamento. O objeto teria qualidade intrínseca, mas de sua relação com o sujeito por meio da linguagem resultava na representação da realidade.

A unidade semiótica seria o signo: o estímulo com parâmetro de significação.

A semiologia é a ciência geral dos signos, segundo Ferdinand de Saussure (Genebra, Suíça, 1857-1913), Umberto Eco (Itália, 1932-2016) e Roland Barthes (França, 1915-1980).

“A palavra vem da união das palavras gregas semeion, que significa sinal, e logos, estudo. A semiologia é uma área do conhecimento que se dedica a com-preender sistemas de significação desenvolvidos pela sociedade”. (DICIONÀRIO ELETRÔNICO/WIKIPÉDIA 2020, n.p.).

A realidade e as coisas são frutos de nossa representação. Sim, elas existem em si mesmas, mas o nosso acesso a elas se dá pelo exercício da linguagem. Elas não deixam de existir caso não pensemos nelas. Mas para que elas façam parte da comunidade dos seres humanos é preciso que sejam identificadas, significadas, simbolizadas, imaginadas e alegorizadas. Por exemplo, o rio São Francisco corre por ele mesmo pelos estados de Minas Gerais, Bahia e Sergipe. Mas, o romance do escritor João Guimarães Rosa, a que ele deu o nome de Grande Sertão: Veredas, com o subtítulo “O diabo na rua, no meio do redemoinho”, - são representações

linguísticas, literárias, dramáticas, trágicas que tiveram como significado básico a presença e a travessia do Rio São Francisco. A Rede Globo de Televisão filmou uma minissérie Grande Sertão: Veredas simbolizando e imaginando a tragédia dos personagens Riobaldo, Diadorim e Hermógenes, tendo o diretor Walter Avancini convidado os atores Tony Ramos, Bruna Lombardi e Tarcísio Meira para representá-los na televisão e no cinema. Ora, a linguagem se fez presente em quase todos os aspectos do fato e suas representações pelo sertão das Gerais.

Os semiólogos poderão dizer que o “significado” dessas representações é a vida dos jagunços no interior do Brasil nos anos 1930-40 do século passado, período da decadência da exploração do ouro e dos diamantes no interior dos estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás. E eles também poderão dizer que o “significante” de todas essas representações pode ser o romance Grande Sertão: Veredas, com todas as suas imagens, textos e criações imaginárias do autor. Assim como os livros de história e economia sobre os sertões das gerais responderão por significantes de uma mesma realidade.

Portanto, “significado” e “significante” são criações conceituais da semiótica de Ferdinand de Saussure, que em Genebra, na Suíça, no início do século XX, por volta de 1906/1913, escreveu o livro Curso de Linguística Geral, através das anotações de seus alunos. O que são os significados e os significantes? O que apresentam e como funcionam?

“O signo linguístico constitui-se numa combinação de significado e significan-te, como se fossem dois lados de uma moeda. O significado é o conceito e reside no plano do conteúdo. O significante é uma imagem acústica (cadeia de sons) e reside no plano da forma.” (DICIONÀRIO ELETRÔNICO/WIKIPÉDIA, 2020).

O que podemos apreender com Saussure é que o nosso acesso e encontro com a realidade se dá através da linguagem, na medida que este mesmo mundo concreto poderia ser inacessível para todos nós. Através do funcionamento da linguagem podemos nos encontrar com este mundo, receber dele as suas ema-nações reais, concretas e simbólicas. Um significado pode estar complementado por uma cadeia de significantes, assim, o mundo real (significado) pode chegar

até nós representado por suas imagens, cores, ícones, símbolos, sinais, alegorias e também por nossos sintomas. Voltando à realidade do São Francisco, ele é um rio que nasce na serra da Canastra, em Minas Gerais (significado), e em sua parte navegável, entre as cidades de Pirapora, Minas Gerais, e Juazeiro, na Bahia (tam-bém significado), muitas narrativas acontecem, por exemplo, o romance Grande Sertão: Veredas, do escritor João Guimarães Rosa (significante).

Ao dualismo da semiologia de Ferdinand de Saussure na Suíça, tivemos nos Estados Unidos o signo triádico de Charles Sanders Peirce (2000), que criou o signo em suas tríplices categorias ou performances: primeiridade, secundidade e terceiridade. A primeiridade são as nossas intuições dos fenômenos da realidade, a secundidade corresponde à ação e reação, é o conflito da consciência com o fenô-meno, e a terceiridade é a mediação, interpretação e generalização dos fenômenos.

Dito de outra forma, diante de um objeto (primeiro dado da realidade), temos em seguida o representante deste mesmo objeto e em seguida o seu interpretante.

Caso pensemos na forma de um triângulo, numa das pontas está o objeto a ser conhecido, na outra está a sua representação, e na outra a ação e explicitação deste conhecimento. Assim o signo triádico é representado 1- pelo objeto – 2 – pelo representante e 3 – pela ação de representação. Fazendo uma aproximação com o signo dual de Saussure (2002): 1 – objeto = significado, 2 – significante e 3 – a relação de significação.

Por fim, apenas uma brincadeira: signo é uma entidade de suas faces, de um lado o significado e de outro o significante. Quando se vê o significado, não se vê o significante, e vice-versa. A ciência que estuda este fenômeno se chama semi-ótica ou semio–logia. Podemos dizer que são atividades que veem as coisas por suas metades – semi -... A ótica inteira seria impossível para o ser humano. Continu-ando nessa linha, um oftalmologista de Nova York, quContinu-ando era procurado por pacientes para ajustar as suas lentes, ele ampliava um pouco a diferença de foco, para que o paciente tivesse a oportunidade de ver as coisas um pouco diferentes.

As seis leituras interpretativas em massa

No documento O CAMPO DA COMUNICAÇÃO (páginas 196-200)