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EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL: PROPOSTA DE GUIA PARA SE

No documento O CAMPO DA COMUNICAÇÃO (páginas 102-106)

AVENTURAR ENTRE TEXTOS E AUTORAS(ES)

1 Professora Associada do Núcleo de Inovação e Tecnologias Aplicadas a Ensino e Extensão (NITAE2) da Univer-sidade Federal do Pará (UFPA), atuando como docente permanente do Programa de Pós-Graduação Criatividade e Inovação em Metodologias de Ensino Superior (PPGCIMES). Doutora e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Bolsista de Produtividade em Pesquisa (PQ) – Nível 2, na área de Divulgação Científica, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E-mail: aataide@ufpa.br.

2 Mestre em Ciências da Comunicação, com período de mestrado sanduíche na Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven, Bélgica), a partir de bolsa do Programa Geral de Cooperação Internacional (PGCI) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e doutorando na área de Educação em Ciências pela Univer-sidade Federal do Pará (UFPA). E-mail: fjailsonn@gmail.com.

3 Professora Adjunta do Núcleo de Inovação e Tecnologias Aplicadas a Ensino e Extensão (NITAE2) da Universi-dade Federal do Pará (UFPA), atuando como docente permanente do Programa de Pós-Graduação CriativiUniversi-dade e Inovação em Metodologias de Ensino Superior (PPGCIMES). Doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e em Ciências Sociais pela Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven, Bélgica), via regime de co-tutela firmado entre as instituições. E-mail: fchocron@ufpa.br.

4 Professora Adjunta do Núcleo de Inovação e Tecnologias Aplicadas a Ensino e Extensão (NITAE2) da Universi-dade Federal do Pará (UFPA), atuando como docente permanente do Programa de Pós-Graduação CriativiUniversi-dade e Inovação em Metodologias de Ensino Superior (PPGCIMES). Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com estágio na Università di Bologna, Itália, a partir de bolsa do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) da CAPES. E-mail: suzanalopes@ufpa.br.

Maria Ataide Malcher1 Felipe Jailson Souza Oliveira Florêncio2 Fernanda Chocron Miranda3 Suzana Cunha Lopes4

Introdução

A

o aceitarmos o desafio proposto pela Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (SOCICOM), de escrever um capítulo sobre a construção epistemológica da área da Comunicação e sua

condição disciplinar, nos preocupamos em não produzir algo que se configuras-se como um retrabalho. Isso porque, por mais que esta configuras-seja conhecida no meio acadêmico por ter se constituído por fundamentos teóricos interdisciplinares, entrelaçada ao desenvolvimento das técnicas, práticas profissionais e meios de comunicação (FRANÇA, 2001), não podemos mais dizer que os estudos sobre a sua epistemologia, ao menos no Brasil, sejam raros.

Desde a década de 1970, quando os cursos de Comunicação Social foram criados no país, reunindo diferentes habilitações, como Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Editoração, Rádio e TV, Cinema e Relações Públicas (FRANÇA, 2016), a reflexão epistemológica sobre a comunicação e de seu estatuto como campo do conhecimento se tornou uma necessidade urgente, o que não deixa de fazer parte de uma peculiaridade latino-americana, como nos diz Berger: “São demandas políticas e sociais, mais do que inquietações científicas, o que impulsiona a produção de conhecimento em comunicação na América Latina” (2001, p. 241).

No caso do Brasil, as demandas envolveram não somente a necessidade de afirmar-se como legítima área de estudos perante o governo e a sociedade, garantindo, assim, sua própria constituição (MARQUES DE MELO; FADUL;

RIOS, 1998), como, também, atender à demanda formativa de um contingente de estudantes, das mais diferentes habilitações, para o mercado de trabalho, o que impulsionou a integração dos estudos de Teorias da Comunicação aos com-ponentes curriculares dos cursos (MARTINO, 2013). Muitos dos pesquisadores e pesquisadoras que encararam frontalmente essa questão, produziram obras de reflexão epistemológica que figuram como leituras essenciais a quem se interessar por entender do que se trata a nossa área.

No momento em que este texto é escrito, nos parece que vivemos uma nova situação de necessidade de autoafirmação, muito semelhante à anteriormente citada. Em sua agenda de prioridades para o período de 2020-2023, o então, Mi-nistério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC)5, por meio

5 A mudança constante no nome desse Ministério nos parece refletir a instabilidade com que este sobrevive.

da Portaria nº 1.122, de 19 de março de 2020, delimitou áreas específicas, ligadas essencialmente à tecnologia e inovação, como prioridade para financiamento.

Devido à exclusão das ciências básicas, humanidades e ciências sociais dessa equação, a resposta da comunidade científica foi de forte repúdio, exigindo o seu devido reconhecimento.

A demanda chegou a ser escutada, mas atendida somente de forma parcial.

A Portaria nº 1.329, de 27 de março de 2020, incluiu essas ciências na agenda de prioridades, desde que, contribuam para o desenvolvimento daquelas ligadas à tecnologia e inovação, definidas pela portaria original. Dessa forma, a mudança não caracterizaria uma completa exclusão, porém, impõe às ciências básicas, humanidades e ciências sociais uma posição subalterna, de coadjuvantes.

Nossa proposta neste artigo, então, é a de valorizar o trabalho das (os) mui-tas(os) pesquisadoras e pesquisadores brasileiros(os), da Comunicação, que, por meio de um trabalho de anos, a consolidaram como área do conhecimento cien-tífico no país. O objetivo, aqui, é resgatar uma lista de textos (sejam eles capítulos, artigos de periódicos ou mesmo livros) que demonstrem a atenção que vem sendo dada à construção epistemológica e disciplinar da Comunicação, e como esta foi fundamental para afirmar sua importância no universo acadêmico brasileiro.

Essa lista, certamente, será incompleta. Muitos outros autores e autoras têm se ocupado, de maneira muito mais sistematizada, a documentar e analisar o desenvolvimento epistemológico ainda em processo do campo da Comunicação (FRANÇA; LOPES; OLIVEIRA; LIMA, 2016). Reconhecemos que, diante de nossas limitações teóricas, nos cabe muito mais o papel de destacar os trabalhos de algumas (ns) dessas(es) autoras(es) e, com isso, podermos propor um guia, principalmente àqueles que estão iniciando suas trajetórias de pesquisa na área, que aponte caminhos cheios de possibilidades de aprofundamento.

A concepção de “epistemologia” que nos referenciou nesta proposição é a trabalhada no verbete de Epistemologia da Comunicação no Brasil, elaborado por Lopes e Romancini (2014) para um dos mais recentes dicionários de nossa área (CITELLI; BERGER; BACCEGA; LOPES; FRANÇA, 2014).

A partir dele, consideramos que a epistemologia, enquanto reflexão sobre determinado conhecimento e da validade dos conceitos e metodologias que este produz, se insere em um contexto maior da ciência e da própria sociedade. As-sim, a constituição de uma área científica envolve questões filosóficas e, também, sociológicas, sendo necessário atentar-se para as dinâmicas institucionais que fazem parte desse processo.

Tal concepção se mostra excepcionalmente relevante ao estudarmos a consti-tuição epistemológica da área da Comunicação no Brasil, na medida em que, nela, as definições teóricas, metodológicas e institucionais caminharam em paralelo.

A institucionalização de uma área de pesquisa é um dos fatores importantes para a constituição de um campo de estudos. No caso da Comunicação, a dimensão institucional foi uma das principais vias para o fortalecimento de um lugar próprio nas universidades, institutos de pesquisa e agências de fomento. (FRANÇA; LOPES;

OLIVEIRA; LIMA, 2016, p. 59).

Os procedimentos para a produção deste texto envolveram a busca de mate-riais bibliográficos, via Google Acadêmico, a partir da expressão “epistemologia da comunicação no Brasil”, bem como levantamento nos acervos do Portal de Livre Acesso à Produção em Ciências da Comunicação (PORTCOM) e dos anais do GT de Epistemologia da Comunicação, da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS).

Para escolha dos destaques deste artigo, foram utilizados como critérios:

serem trabalhos com discussões mais gerais sobre a epistemologia da comunica-ção no país, que tenham ajudado a pavimentar o debate teórico sobre esse tema, de autoria de pesquisadoras(es) que o trabalhem sistematicamente e que possam ajudar, especialmente os mais jovens, a se iniciar nesta discussão e, a partir deles, se aprofundar mais em seus estudos.

No documento O CAMPO DA COMUNICAÇÃO (páginas 102-106)