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1. Estratégias metodológicas e contextos da investigação

1.2. A definição do universo do estudo

Na sequência do tema escolhido e após a construção da problemática, surgiu a necessi- dade de traçar o quadro metodológico, a par da definição das características do universo de estudo e da ponderação sobre a análise e interpretação do material a recolher. Procurá- mos, na seleção dos casos a observar, enveredar por uma amostra que permitisse a cons- trução válida de inferências e que fosse legítima do ponto de vista dos dados apurados. Consideramos que um tipo de amostragem por contraste-aprofundamento (Guerra, 2006), que visa o estudo em profundidade e, simultaneamente, pretende assegurar a autonomia de cada um dos casos, pode abrir um importante espaço de exploração de pistas sobre as variáveis emergentes, dada a natureza etnográfica deste estudo.

Assumimos um olhar do tipo etnográfico, procura-se construir valor a partir da singu- laridade e da compreensão de um dado fenómeno social singular, em toda a sua complexi- dade. Não é, portanto, nossa aspiração, a construção de uma qualquer representatividade estatística, procurando antes uma representatividade que radica na exemplaridade, numa aceção próxima de tipo-ideal. Para tal, era necessário criar um plano de legitimação para o nosso estudo, que se fundamenta na seleção dos atores a observar.

De modo a garantir um plano de legitimação unívoco para a seleção dos ateliês que compõem a nossa amostra, encontrámos, na publicação [P] Portugal 1990–2005, que acompanha a exposição do mesmo título por ocasião da ExperimentaDesign 2005 — Bie- nal de Lisboa, coproduzida com o Centro Português de Design, os alicerces adequados para a construção do nosso universo de estudo. Comissariada pelo próprio Presidente do Centro Português de Design, Henrique Cayatte, a exposição apresenta uma seleção de trabalhos realizados por ateliês de design nacionais, nas áreas de design gráfico e design industrial, assumindo-se como uma leitura e uma síntese do design português de 1990 a 2005, que listamos no quadro 1.

Quadro 1 Lista de ateliês de design publicada em [P] Portugal 1990–2005 Albuquerque Designers — Lisboa

Alma Design — Porto Salvo António Queirós Design — Porto

Artlandia / Beatriz Horta Correia — Lisboa

Artur Rebelo e Lizá Ramalho / R2 Design — Matosinhos Ateliê Nunes & Pã — Porto

Barbara Says — Lisboa Coyote Designers — Lisboa Eduardo Aires Design — Porto

Ferrand, Bicker e Associados — Coimbra Flúor Design — Lisboa

Francisco Providência Designer, Lda. — Porto Gráficos à Lapa — Lisboa

Henrique Cayatte Design — Lisboa Ideia Ilimitada — Lisboa

Jorge dos Reis — Lisboa

José Brandão / B2 Design — Lisboa Martino & Jaña Design — Porto

RMAC / Ricardo Mealha e Ana Cunha — Lisboa Silva Designers — Lisboa

Sino Design — Porto

Luís Moreira / TVM Designers — Lisboa Fonte: [P] Portugal 1990–2005

Nos ateliês que constam na publicação referida, e que serve como ponto de partida para a construção do universo de estudo, damos conta de dois tipos de ateliê, através da denomi- nação da empresa: por um lado, verificamos a existência de coletivos de designers, sem uma responsabilidade projetual identificada no nome, como exemplificam os gabinetes “Alma Design”, “Artlandia, “Coyote Designers”, “Gráficos à Lapa”, “Ideia Ilimitada”, “Flúor Design” ou “Sino Design” e, por outro lado, verificamos que alguns dos ateliês destacados na publicação assumem desde logo uma responsabilidade projetual identifi- cada, assumida por um ou mais indivíduos. Consideramos que estes são, por isso, ateliês independentes de assinatura projetual, pelo modo como enfatizam a assinatura do tra- balho em torno dos responsáveis projetuais, acentuando a ideia de autor (Branco, 2014; Moura, 2012). Realçamos, como organizações exemplificativas desta tipologia, os ateliês “Eduardo Aires Design”, “Ateliê Nunes e Pã”, “Ferrand, Bicker e Associados”, “Francis- co Providência Designer, Lda.” e “Silva!Designers”.

Descartando como objetivo deste estudo a construção de uma tipologia prescritiva para o ateliê de design gráfico, nem tão pouco a comparação hipotético-dedutiva das diferen- ças entre os ateliês, considerámos, como ponto de partida, a figura do designer como eixo central no desenvolvimento de uma prática em design, cuja responsabilidade projetual é assumida por um líder inequívoco. Este motivo afunilou o nosso universo de estudo na

consideração dos ateliês que, desde a sua fundação, são representativos de uma determi- nada forma de fazer design, isto é, detêm uma conduta assumida, pela sua denominação enquanto prestador de serviços, de uma forma de exercício em design gráfico, com uma autoridade projetual identificada. Pela complexidade inerente ao quadro metodológico definido, que recorre a estratégias etnográficas de investigação, e considerando as limita- ções temporais de uma investigação desta natureza, cedo percebemos ser recomendável selecionar apenas um caso dessa lista mais restrita, representada no quadro 2. Todavia, pelo interesse e motivação em não nos cingirmos à dissecação de um único território, e após o contacto estabelecido com quatro dessas empresas, arriscámos na seleção de dois casos, em duas cidades distintas, numa seleção que proporcionasse a construção de qua- dros comparativos entre as empresas e, desse modo, acrescentar a possibilidade de tecer novas reflexões.

Quadro 2 Lista de ateliês independentes de design gráfico, com liderança projetual identificada na própria designação da empresa (salientadas a negro)

Albuquerque Designers — Lisboa

Alma Design — Porto Salvo

António Queirós Design — Porto

Artlandia / Beatriz Horta Correia — Lisboa

Artur Rebelo e Lizá Ramalho / R2 Design — Matosinhos Ateliê Nunes & Pã — Porto

Barbara Says — Lisboa Coyote Designers — Lisboa

Eduardo Aires Design — Porto

Ferrand, Bicker e Associados — Coimbra

Flúor Design — Lisboa

Francisco Providência Designer, Lda. — Porto

Gráficos à Lapa — Lisboa

Henrique Cayatte Design — Lisboa

Ideia Ilimitada — Lisboa

Jorge dos Reis — Lisboa

José Brandão / B2 Design — Lisboa Martino & Jaña Design — Porto

RMAC / Ricardo Mealha e Ana Cunha — Lisboa Silva Designers — Lisboa

Sino Design — Porto

Luís Moreira / TVM Designers — Lisboa

Fonte: [P] Portugal 1990–2005.

A triangulação de dados, que procurámos explicitar em passagens prévias, permitir- nos-á registar as idiossincrasias de cada ateliê, viabilizando o que consideramos ser um processo de descodificação genética, realçando as suas particularidades. Estamos em crer que o acompanhamento direto da prática em design gráfico surge como uma

das mais-valias do estudo, num esforço de tentar ir ao encontro do que Cross (2006) identifica como uma nova epistemologia da prática, na esteira do conceito de reflec- tion-on-action, de Donald Schön (1984), que procura uma reflexão sobre os comporta- mentos através do acompanhamento das práticas. De forma a garantirmos uma rigorosa validação dos dados, e para reduzir o perigo de interpretações falaciosas, procurámos encontrar um critério de disseminação geográfica, procurando selecionar ateliês que se encontrem localizados em diferentes pontos do país. Apesar de não serem consi- derados, para a natureza do estudo, os fatores externos de contextualização urbana, julgamos conveniente não cingir o estudo a um único polo urbano — com Lisboa a surgir em destaque — de modo a permitir proporcionar uma leitura tão descentralizada e disseminada quanto possível.

Sendo o estudo de caso, em geral, o modo de investigação privilegiado pelo método etnográfico e pelo paradigma interpretativo, entendemos, do mesmo modo, que o sentido com que se afirma que a constituição da amostra é o cerne do estudo de caso, adquirindo um sentido muito particular. A sua constituição surge-nos, portanto, de um modo sem- pre intencional, baseada em critérios pragmáticos e teóricos, em detrimento de critérios probabilísticos, dando primazia à evocação pela via do exemplo, com vista a articular o conhecimento do quotidiano e dos fragmentos que o compõem (De Certeau, 1984/2011). Perante isto, acreditamos que o universo de estudo apresentado nos permitirá passar para lá das aparentes competências dos designers (Lawson & Dorst, 2009), constituindo-se como um contributo válido para esta investigação em Design.