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1. Estratégias metodológicas e contextos da investigação

1.5. Apresentação dos sujeitos da investigação – Ateliê de Coimbra

Fundado em 1998, o Ateliê de Coimbra é um gabinete de design gráfico com experiência profissional em múltiplos suportes de comunicação visual, impressos e digitais, Identi- dades Gráficas, Sistemas de comunicação visual para Exposições e Sinalética. Vencedor de várias distinções nacionais e internacionais, de que se distingue o Prémio Nacional Sena da Silva do Centro Português de Design, cinco Red Dot Awards, um European De- sign Silver Award, na categoria de Book Design e dois prémios 50 Books/50 Covers, do American Institute of Graphic Arts, garantido a publicação do trabalho da empresa numa miríade de publicações nacionais e internacionais da especialidade. Com uma equipa de trabalho composta por dez elementos fixos, a empresa é liderada por dois sócios-geren- tes – a.m., gestor comercial, e j.b., diretor criativo – e, para além destes elementos, conta com cinco designers, um programador informático, uma administrativa e um gestor de produção (com funções esporádicas de design gráfico).

Quadro 4. Apresentação dos sujeitos do Estudo – Ateliê de Coimbra

Nome Cargo/Função Idade Ano entrada no ateliê

A.B. Designer 37 2000

A.M. Gestor comercial 38 1998 (Sócio-fundador) Ant. S. Gestor produção 31 2006

A. Si. Designer 32 2001 A.S. Designer 24 2011 C.A. Gestora administrativa 42 2001

D.S. Designer 28 2008

J.B. Diretor Criativo 51 1998 (Sócio-fundador) J.C. Programador Informático 33 2009

J.F. Estagiário 26 2012

R.M. Designer 35 2005

A.B., designer. Licenciada em Pintura, a.b. é a designer a colaborar há mais tempo no Ate- liê de Coimbra, desde 2000. A sua formação académica, a par de funções de ensino em Educação Visual e Tecnológica, aproximam-na dos projetos do ateliê em que a ilustração é uma parte importante do trabalho. Com uma idade próxima dos 40 anos, a.b. esteve presente quase desde a fundação da empresa, característica que lhe confere um lugar de particular destaque na construção da história da empresa, sobretudo nos trabalhos de identidade visual e capas de livros.

A.M., gestor comercial / sócio-gerente / fundador. Com um percurso académico afasta- do ligado à área da Engenharia, foi pela via da colaboração em atividades culturais que a.m. acabou por perceber que o motivava gerir, desenvolver e acompanhar projetos. Num desses projetos, no final dos anos 90, o contacto com o designer J.B. foi o primeiro passo para a criação da empresa da qual é sócio-gerente e fundador. Com uma idade próxima dos 40 anos, são suas as responsabilidades de todos os aspetos que circundam em torno da atividade projetual da empresa, desde a angariação de novos clientes, à gestão de projetos e afetação de recursos.

Ant. S., gestor de produção. A colaborar no ateliê desde 2006, Ant. S. detém as funções de acompanhamento e gestão dos projetos, servindo de eixo de ligação da empresa com fornecedores e clientes. Com formação superior em Design, tendo sido essas as compe- tências que o levaram a integrar a equipa do ateliê, Ant. S. assume hoje funções esporádi- cas nessa especialidade, numa linha de apoio aos colegas designers, no desenvolvimento de templates e formatação de documentos disponibilizados aos clientes.

A.S., designer. A mais nova designer do ateliê, com 24 anos, é também a que tem uma li- gação mais recente com a empresa. A colaborar desde outubro de 2011, a designer natural da Figueira da Foz assume o desenvolvimento de projetos que detêm uma componente tecnológica mais acentuada, fruto da sua formação superior em Design e Multimédia. Colaborando muitas vezes com j.c., o programador da empresa, é a.s. quem desenvolve muitas das atividades de design de interfaces para projetos digitais, para além de contri- buir nos projetos de animação gráfica.

A.Si., designer. Com uma idade próxima dos 30 anos, A. começa, à semelhança de outros colegas, a colaborar no ateliê no ano de 2001. Natural de Coimbra, e com formação su- perior em Design, os trabalhos que assume na empresa são sobretudo os projetos gráficos ligados aos clientes do setor editorial, como são a conceção de capas de livros, manuais, catálogos e dicionários.

C.A., responsável administrativa. Com pouco mais de 40 anos, c.a. assume funções de gestão administrativa e financeira do ateliê, incluindo a ligação aos fornecedores, gestão de projetos e orçamentações aos clientes. Com formação na área das Letras e Direito, co- meça a colaborar no ateliê em 2001, apenas 3 anos depois da fundação da empresa, sendo essa a sua única experiência (até ao momento) em contexto de ateliê.

D.S., designer.A trabalhar como freelancer desde muito jovem, o contributo de d.s. para as atividades do ateliê são caracterizados por uma enorme polivalência – reconhecida pelos próprios colegas – fruto da experiência acumulada em diversos trabalhos, para múl- tiplos suportes, apesar dos seus 28 anos. Com formação em Fotografia, Design e Artes Gráficas, o designer assume no ateliê projetos de âmbito diversificado, que vão desde a conceção visual de websites, capas de livros, exposições, sistemas de sinalética, trabalhos de fotografia e identidades gráficas. Colabora no ateliê desde 2008.

J.B., diretor criativo / sócio-gerente / fundador.Com 51 anos, j.b. é diretor criativo e sócio fundador do Ateliê de Coimbra. Enquanto líder projetual da empresa, é o máximo responsável pelo trabalho desenvolvido pela equipa criativa da empresa, em todos os seus domínios de atividade. Com formação superior em Biologia, a aproximação ao design gráfico é construída através de um percurso iniciado ainda nos anos 80, altura em que foi convidado para desenvolver as suas primeiras capas de livros.

J.C., programador informático.Com 33 anos, j.c. é o programador informático e responsável dos projetos digitais da empresa. Embora em funções externas à empresa, a sua colaboração com o Ateliê de Coimbra começou a estabelecer-se em 2005, na altura cliente da empresa para a qual exercia funções similares. Para além de ser o responsável por linguagens de progra- mação e desenvolvimento web como php, Javascript, html e css, as suas responsabilidades contemplam toda a linha do projeto digital, desde a orçamentação até à conclusão do trabalho.

J.F., designer (estagiário). Estudante dinamarquês de 26 anos, J.F. colabora no Ateliê de Coimbra como estagiário, e assume a competência para desenvolver todo o tipo de ativida- des desenvolvidas no ateliê, desde a conceção de capas de livros, sinalética e Identidades Corporativas. Na linha do percurso definido pelo pai, J.F. tem carta profissional de sign painter, motivado pelos quatro anos de experiência que adquiriu antes de entrar para a Danish School of Design. No que respeita o universo do ateliê, a sua experiência no Ateliê de Coimbra será breve, decorrendo num período de 4 meses, e só encontra paralelo numa passagem anterior obtida no Designbolaget, um ateliê dinamarquês de reconhecimento in- ternacional com o qual colaborou, de modo intermitente, por um período de seis meses.

R.Mq., designer. R.Mq. colabora no ateliê desde 2005. Natural de Lisboa, a designer de 35 anos colabora no ateliê nos projetos de identidade gráfica, exposições, sistemas de sinalé- tica e projetos editoriais, num trabalho pautado por grande rigor tipográfico, fruto do seu percurso formativo de 9 anos de ensino especializado em design gráfico e tipografia. Para além das funções de designer, é sua a responsabilidade de gestão da Biblioteca do ateliê. 1.6. Apresentação dos sujeitos da investigação – Ateliê de Lisboa123

O ateliê de Lisboa surge, em 2001 como uma extensão natural das atividades do seu líder e fundador que, dado o volume de trabalho, proporcional à experiência profissional adqui- rida no decurso de três décadas, acabou por levar à constituição de uma equipa de trabalho capaz de fazer face às solicitações. Contando como clientes da empresa Jornais, Revistas, Editores, Museus e Teatros, muito do trabalho encomendando à empresa ultrapassa os limites da componente visual dos projetos, assumindo o ateliê uma linha completa de de- sign editorial dos trabalhos, na qual também assume a definição dos conteúdos a constar nas publicações. Dada a natureza complexa dos trabalhos da empresa, surgem de modo natural a colaboração com uma multiplicidade de agentes externos ao núcleo base da em- presa, como jornalistas, fotógrafos ou ilustradores. Quer o líder projetual, em nome indi- vidual, quer o ateliê, já como coletivo, tem sido alvo de numerosas distinções nacionais e internacionais, de organismos como o Clube de Criativos de Portugal, a Bienal de Design Iberoamericano, a Society for News Design ou a Alliance Graphique Internationale.

Quadro 5. Apresentação dos sujeitos do Estudo – Ateliê de Lisboa

Nome Cargo/Função Idade Ano entrada no ateliê

C.R. Designer 27 2011

E.G. Designer 32 2006

J.S. Diretor de Arte/Proprietário 53 2001 (Fundador)

L.A. Designer 27 2008 M.A. Designer 43 2002 R.B. Designer 31 2004 R.M. Designer 25 2010 S.P. Designer 31 2006 S.V. Gestora Ateliê 37 2005 C.S. Assistente 27 2011

C.R., designer. A colaborar no ateliê desde 2011, c.r. é a responsável pelo desenvolvi- mento de uma coleção de livros, na qual o ateliê surge como coeditor. Compete-lhe, por isso, a reunião dos conteúdos, tratamento de imagem e a paginação dos livros da coleção. 123. Idem.

E.G., designer.A colaborar no ateliê desde 2006, E.G. cumpre funções nos vários tipos de projetos desenvolvidos pelo ateliê, muito embora muito do seu trabalho incida sobre a conceção de capas e o design de livros. Com formação superior em Design de Comuni- cação, nas Belas-Artes de Lisboa, a colaboração com o Ateliê de Lisboa é a sua principal experiência de trabalho num ateliê de design gráfico.

J.S., Diretor de Arte/Proprietário / Fundador. Como Diretor de Arte de alguns perió- dicos nacionais de referência, j.s. começa um percurso ligado à imprensa ainda nos anos 80. Nos 25 anos que antecederam a criação do ateliê, em 2001, foi acumulando nomea- ções e méritos profissionais no seu trabalho como ilustrador, designer e diretor de arte, sobretudo no final dos anos 90, adquirindo reconhecimento a nível nacional e internacio- nal. O reconhecimento do seu trabalho em revistas e jornais garantiu-lhe a confiança no desenvolvimento de projetos de design gráfico para diversos agentes primordiais da área da Cultura, como Teatros, Museus e Editoras. Por inerência, líder e principal figura do grupo, o primeiro contacto com clientes é estabelecido por si.

L.A., designer.Apesar de ser o único dos designers gráficos do ateliê sem formação superior em design gráfico, o seu percurso no ensino profissional e as suas capacidades técnicas e visuais colocam l.a. no contacto com quase todo o tipo de projetos da empresa. Apontado pelos colegas como o mais polivalente dos colegas, e o mais dotado ao nível técnico, o designer de 27 anos tanto trabalha em projetos diversos como Revistas, Websi- tes, Exposições, Catálogos e peças de Vídeo.

M.A., designer. Numa espécie de linha de apoio dos projetos da empresa, nos momentos

em que surge essa necessidade, m.a. tem colaborado com o ateliê de modo não residente desde 2002, o que a torna na designer com a ligação mais antiga com o líder projetual. Pela natureza das suas funções, e partindo da sua experiência em Ilustração e Escultura, a designer de 43 anos colabora em tarefas de produção de materiais de comunicação cola- teral para os eventos de maior escala cuja comunicação visual é atribuída ao ateliê. R.B., designer. Como colaborador residente mais antigo no ateliê, desde que começou a trabalhar em 2004, r.b. é visto pelo próprio líder como sendo uma linha de liderança projetual autónoma. A experiência do designer lisboeta em muitos dos projetos mais re- presentativos para o ateliê conferem-lhe um estatuto de designer polivalente, operando em toda a linha de projetos desenvolvidos pela empresa, sobretudo no desenvolvimento de Identidades Gráficas, Cartazes, Capas, Catálogos, Revistas e Exposições.

R.M., designer. Sendo a mais jovem designer a colaborar na empresa, com apenas 25 anos, R.M. assume muitas das tarefas de desenvolvimento de materiais gráficos concebi- dos, projetados ou delineados pelo líder da empresa ou, não menos frequente, pelo seu co- lega r.b. Ao seu trabalho na paginação de Revistas ou na conceção de pequenos suportes de comunicação acrescenta-se o desenvolvimento da edição para iPad de uma das revistas desenvolvidas na empresa.

S.P., designer.Em colaboração com a empresa desde 2006, s.p. é responsável sobretudo pela conceção gráfica e paginação de coleções ou edições impressas, um tipo de projeto recorrente no ateliê. Pela natureza desse trabalho, caracterizado por tempos longos, são menos frequentes as colaborações fora desse âmbito. Com formação superior em design de comunicação na fbaul, onde foi colega de curso de e.g. e r.b.

S.V., assistente de produção.Com 37 anos, s.v. é responsável por assegurar todas as diligências relacionadas com o bom funcionamento da empresa, sobretudo ao nível da gestão fiscal, orçamental e administrativa. Enquanto assistente de produção, é sua a res- ponsabilidade da gestão de agenda de trabalhos, para além de assegurar a resolução de questões prementes que garantam a sustentabilidade da empresa.

C.S., assistente.No ateliê há apenas 4 meses, c.s. cumpre funções de apoio administra- tivo para o trabalho de s.v., garantindo o apoio nas tarefas mais mundanas de gestão do ateliê, como é o caso da aquisição de consumíveis ou outros recursos.

Apresentadas que estão as estratégias metodológicas que antecederam a partida para o território dos ateliês, avançamos para a parte empírica do estudo. Para facilitar a interpre- tação do leitor, a opção recaiu na apresentação das categorias de análise organizadas por camada124 e por caso, com o ateliê de Coimbra a ser apresentado sempre em primeiro lu-

gar, e o ateliê de Lisboa em seguida, numa organização indicativa que não traduz qualquer intenção de se representar enquanto ordem ou escala de prioridades.

124. Num total de cinco camadas: Desvendar Territórios, a Estrutura Organizacional do Ateliê, o Líder Projetual, a Prática Projetual e os Agentes Externos.

Passamos, no seguimento da nossa proposta, a apresentar a experiência vivida do lado de lá, uma ideia que fomos reiterando ao longo do nosso trabalho, no relato de uma ex- periência que se constitui como o contributo resultante do tempo dedicado ao trabalho de campo, marcado por técnicas de recolha de dados com inspiração numa metodologia etnográfica, aliada às técnicas de recolha de dados já descritas em pormenor. Muito em- bora procuremos contextualizar o leitor à medida que surge a necessidade de um novo enquadramento conceptual, recorremos a uma descrição mais densa das situações que assumem preponderância crítica para a nossa reflexão, recorrendo não só aos testemunhos recolhidos junto dos colaboradores como também a excertos do diário do investigador, redigidos aquando das instâncias de observação participante decorridas no ateliê. A abor- dagem de inspiração etnográfica, e o deambular social que lhe é característico, permite que os acontecimentos não falem só por si, embora não deixemos de frisar que a interpre- tação dos acontecimentos se perspetiva a partir do olhar interpretativo dos próprios atores observados no terreno.

De forma a podermos transportar o leitor em cada um destes contextos, cruzamos as referências e as observações tomadas no diário de campo, com a interpretação recolhida aos sujeitos do estudo, com vista a proporcionar a imersão adequada do leitor em cada um dos lugares. Como forma de organização temática, distribuímos a análise de conteúdo das entrevistas em cinco categorias macro, que resultam do cruzamento entre as ideias de partida e a experiência vivida em cada lugar, e que se assumem como o alicerce con- ceptual deste trabalho. Avançamos, deste modo, para o que podemos descrever como um processo de abertura das caixas negras da prática do design gráfico, com lugar no ateliê independente de assinatura projetual.