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Mapa 10 – Síntese dos conflitos socioambientais da RDS do Rio Iratapuru

3.2 DINÂMICA SOCIAL

3.2.4 A Dinâmica da infraestrutura de saúde no Cajari

A melhoria da infraestrutura de transporte e a maior facilidade na circulação de pessoas e cargas parece ser um dos fatores que explica a percepção dos moradores, sobre o atendimento da saúde ofertado. Dos serviços sociais básicos existentes na RESEX do rio Cajari, o setor que sofreu o menor crescimento foi a saúde, ainda assim, a avaliação da população pesquisada, indica que houve melhorias (Gráfico 3), sobretudo pela possibilidade de deslocamento.

Gráfico 3 – Demonstrativo da percepção da população

quanto à condição de saúde (%). Fonte: Pesquisa de campo (2007-2008)

O gráfico indica que na percepção de 72,67% dos moradores entrevistados, a condição de atendimento da saúde melhorou em relação ao período anterior à criação da RESEX. Por outro lado, para 4,07%, a oferta do serviço piorou e para 13,26% dos pesquisados, não ocorreram mudanças. Com isso, tem-se que 27,33% da população local

mostram avaliação negativa quanto ao acesso ao serviço da saúde, o maior percentual negativo entre os serviços sociais básicos pesquisados.

Em 1988, no relatório sobre os estudos iniciais para a criação de áreas reservadas aos agroextrativistas do sul do Amapá, a situação do serviço de atendimento de saúde no Cajari foi assim registrada:

Inexiste, em toda a região, qualquer tipo de trabalho preventivo na área de saúde, ficando seus moradores despojados de orientações específicas sobre o setor e expostos às mais variadas doenças endêmicas e não endêmicas, e sujeitos, por conseqüência, à simples e, muita vezes, tardia assistência médica, que, por si só, é praticamente inexistente (GEMAQUE et al apud FILOCREÃO, 2007, p. 387).

A pesquisa socioeconômica da RESEX Cajari, de 1993, registrou a existência de 9 postos de saúde, atendendo na UC. Sendo que 3(três) eram de responsabilidade do governo estadual; 2(dois), da Prefeitura de Laranjal do Jarí; 3 (três), da Prefeitura de Mazagão e 1 (um), funcionando com o trabalho voluntário e não remunerado de um enfermeiro. Todos funcionavam de forma precária, onde dois deles não tinham prédio próprio. O atendimento era, basicamente, ambulatorial de primeiros socorros:

Das principais localidades apenas 9 dispõem de unidades de atendimento de saúde [...] e mesmo assim elas não atendem às necessidades reais da população, em virtude de problemas como falta de remédios, precária capacitação dos enfermeiros, instalações inexistentes ou inadequadas e outros, embora na avaliação dos moradores da RESEX, a carência principal seja ‘‘falta de remédios’’ (FILOCREÃO,1993, p. 101).

Segundo o IBAMA (2006) há apenas 5 (cinco) postos de saúde funcionando na Unidade. Os registros do DATASUS (2007) contabilizam 6 (seis) postos, com um total de 15 agentes de saúde. Fazendo um comparativo das condiçoes registradas em 1993, durante o levantamento sócio-econômico, com a oferta de atendimento encontrada no trabalho de campo desta pesquisa, tem-se a situação sintetizada no Quadro 4.

Ao contrário do observado com outros serviços sociais oferecidos na RESEX, o setor da saúde sofreu uma redução na quantidade e distribuição de sua oferta, como demonstra o quadro: dos 9 postos que funcionavam na RESEX, em 1993, apenas 3 continuam em atendimento, 2 em condições precárias. Nesse período, outros quatro postos chegaram a atender

a população, mas, 2 deles tiveram suas atividades paralizadas pela situação geral de deteorização dos prédios, que não passaram por reformas. Em dois deles (Boca do Braço e Conceição do Muriacá), as obras para construção e/ou reforma foram iniciadas a mais de dois anos, mas foram paralizadas.

A justificativa corrente para a desativação dos postos nas comunidades, é que o SUS reorientou o serviço de atendimento de saúde no país. Com a implantação dos Programas Saúde da Família (PSF) e Agentes Comunitários de Saúde (PACS), sob a supervisão das prefeituras, privilegiou-se atividades educativas e de prevenção, através dos agentes comunitários de saúde (ACS). Por outro lado, a implantação de infraestratura física ficou mais restrita em unidades melhores estruturadas.

Quadro 4 - Comparativo do funcionamento de postos de saúde na RESEX Cajari (1993 e 2009)

Comunidade Gestor Situação em 1993 Situação em 2009

Condições do Prédio Condições do Prédio

Agua Branca P.M. de

Laranjal do Jari (PMLJ)

Posto em bom estado Transformado em Unidade de Saúde da Família

Marinho P.M. de

Laranjal do Jari (PMVJ)

Não existe prédio, enfermeiro atende em casa

Não existe

São João (Paraiso) PMVJ Existe Funcionando precariamente

Conceição do Muriacá

PMLJ Existe Desativado. Obra parada a mais de 2 anos

São João II PMLJ Existe Desativado

Ariramba (rio) P.M. de

Mazagão (PMMz)

Existe Posto na Vila Betel em condições precárias de

funcionamento

Macedônia PMMz Existe Desativado

São Bernardo PMMz Existe Desativado

Maranata PMMz Existe Posto está em ruínas e não permite

funcionamento

São José PMMz Não existia em 1993 Desativado

Santa Ana PMLJ Não existia em 1993 Desativado

Aterro PMVJ Não existia em 1993 Em funcionamento

Boca do Braço PMLJ Não existia em 1993 Obra parada a mais de 2 anos

O Agente Comunitário de Saúde62 integra as equipes do PACS e PSF (em tese formada por 1 médico, um enfermeiro e 1 ou 2 técnicos em enfermagem). O mesmo tem o papel de estender o atendimento dessas equipes às comunidades sem poder prescrever medicamentos, devendo atuar através de atividades de prevenção e monitoramento de doenças e promoção da saúde, por meio de ações educativas populares individuais e coletivas. Espera-se, ainda, que o ACS funcione como mobilizador social e facilite o acesso à informação e serviços de promoção e proteção social.

Na RESEX Cajari, identificou-se 23 agentes comunitários de saúde, oito deles ligados à unidade de saúde de Água Branca do Cajari, 2 em Aterro do Muriacá e os outros distribuídos nas demais comunidades. Em geral, os ACS trabalham através de contratos por tempo determinado, o que tem limitado a formação adequada que a função requer. Somente no município de Mazagão foram incorporados ao quadro efetivo.

Foram registrados ainda, 9 microscopistas, que são agentes de saúde treinados para fazer exames de sangue e distribuir medicamentos para as pessoas positivadas nos exames para malária, feitos no local. São moradores que foram treinados pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), que, também, mantém o fornecimento dos remédios. Em alguns locais foram fornecidos microscópios, como em Água Branca, onde os laboratoristas das comunidades próximas fazem exames das lâminas colhidas.

Segundo Oliveira Soares63, a Unidade de Saúde da Família de Água Branca do Cajari, conta com 1 secretária, 1 servente, 1 microscopista, uma equipe do Programa de Assistência Comunitária de Saúde (PACS), formada por 1 enfermeiro, 1 técnico em enfermagem e 8 agentes comunitários. Tem um veículo para o transporte de doentes graves para Laranjal do Jari.

Essa equipe do PACS presta atendimento às 246 famílias cadastradas em 11 comunidades do Alto Cajari, pertencentes ao Município de Laranjal do Jari. Atende, ainda, à título de cooperação, aos moradores de duas comunidades próximas (Sororoca e Santa Clara), do município de Mazagão.

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A regulamentação da profissão de ACS foi estabelecida pela Lei n° 10.507, de 10 de julho de 2002, e seu exercício dar-se-á exclusivamente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e sob a supervisão do gestor local em saúde.

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Oliveira Soares é enfermeiro efetivo, Chefe do PACS da unidade saúde de Água Branca. Em comunicação pessoal em 22 de abril de 2009.

Segundo Zeca Monteiro64, secretário de saúde de Mazagão, o serviço de saúde oferecido pelo município, aos moradores da RESEX, conta com 1 posto médico, em Vila Betel; 3 técnicos em enfermagem; 6 ACS e 5 microscopistas, para exames de malária. O atendimento médico é feito a cada 2 meses através das ‘ações integradas’, que contam com médico, odontólogo, enfermeiro e vacinação.

A Unidade de Saúde de Aterro do Muriacá pertence ao Município de Vitória do Jari e conta com 2 enfermeiros e 2 ACS para prestar atendimento às famílias das comunidades localizadas no baixo-médio Cajari, independentemente do município a que pertençam. Os casos mais graves são transportados em barco da prefeitura (voadeira que fica em Conceição do Muriacá) até o Aterro e daí para a sede municipal.

Em síntese, há apenas 4 postos de atendimento em toda a RESEX, um na comunidade de Água Branca, um no Aterro do Muriacá, um em São João Paraíso e outro na Vila Betel, que funcionam precariamente. Não há equipes médicas fixas e o atendimento médico ocorre somente nas chamadas ações integradas itinerantes, em tese a cada dois meses.

Os problemas mais graves são tratados nas sedes municipais ou em Santana e Macapá. Em caso de doenças de menor complexidade, os moradores recorrem a remédios caseiros, aos postos e/ou agentes de saúde, mas o principal problema relacionado ao posto de saúde é a falta de medicamentos.

Apesar do trabalho executado pelos microscopistas, da distribuição de medicamentos e da borrifação, sob condução da FUNASA, a malária permanece como a doença endêmica mais frequente entre as famílias pesquisadas. Por outro lado, a oferta desse serviço tem reduzido as complicações da doença entre os moradores. Problemas respiratórios (gripe e asma), também, despontam entre as que mais acometem a população, principalmente, entre crianças e idosos.

As condições de saneamento continuam muito precárias. Em 1993, 75% das moradias não tinham nenhum tipo de instalação sanitária; 23 % eram fossas negras e apenas 1% usavam fossa séptica. Apesar da melhoria das condições gerais de moradias, atualmente, continua a prevalecer as fossas rudimentares (negras) ou os dejetos são despejados diretamente

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no rio ou mato.

Essa realidade tem repercussão direta sobre a saúde da população, sobretudo, porque a grande maioria das comunidades não dispõe de tratamento de água, usando diretamente, do rio ou de poços amazonas. Das comunidades pesquisadas, apenas 4 (Açaizal, Marinho, Dona Maria e Maranata) possuem sistemas de tratamento de água. Poucas famílias fazem algum meio para tratar a água, que se restringe, em maioria, ao uso de hipoclorito de sódio, distribuído pelos agentes de saúde.

Diante do quadro de atendimento de saúde na Unidade, sobretudo, pelo papel desempenhado pelos agentes de saúde, que se baseia na prevenção e informação, reforça-se a necessidade de investigar e investir na educação da população local.