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Mapa 10 – Síntese dos conflitos socioambientais da RDS do Rio Iratapuru

1.6 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS

1.6.4 Análise e interpretação de informações

Para facilitar o acompanhamento e verificação dos procedimentos adotados optou- se, como nos procedimentos de coleta, por vincular a análise e interpretação das informações aos objetivos propostos, como seguem:

Para analisar as mudanças ocorridas nas atividades e nas condições de vida da população local, a partir da criação das unidades – foi feita a comparação da evolução dos indicadores dos Censos do IBGE, dos Diagnósticos sócio-econômicos elaborados pelo IBAMA e SEMA, respectivamente, sobre a RESEX e RDS, bem como os resultados levantados na pesquisa de campo.

Os dados quantitativos levantados nos formulários foram tabulados através do programa de computador Excel, e depois analisados no programa de análise estatística Statistical Package for the Social Scienses -SPSS (Pacote Estatístico para as Ciências Sociais).

Para identificar a percepção da população em relação aos impactos de suas atividades sobre a base de recursos naturais e sobre a evolução de suas condições de vida – os Mapas Falados resultantes da aplicação de metodologia participativa durante as Oficinas foram transcritos e incorporados ao trabalho, bem como a explicações pertinentes ao seu entendimento; as informações qualitativas dos formulários aplicados foram comparadas e agrupadas por conteúdo e fez-se uma enquete (cada grupo de resposta recebeu uma numeração: 1, 2, 3...). Em seguida foi usado o programa de computador Excel para tabular e o programa SPSS para gerar percentuais e gráficos das respostas.

Para identificar as ameaças e conflitos socioambientais que podem comprometer o cumprimento dos objetivos das Unidades – fez-se análise das entrevistas, reuniões com técnicos, gestores e moradores, bem como dos formulários da pesquisa de campo; foi feita a comparação da evolução dos indicadores dos estudos técnicos; as oficinas, as reuniões, a observação e a análise de eficiência do manejo também ajudaram a satisfazer esse objetivo.

Para averiguar a eficiência de manejo e contribuir para o cumprimento dos objetivos das unidades – fez-se análise da legislação e normas vigentes; análise dos registros das entrevistas com gestor da unidade e representantes das comunidades no Conselho Deliberativo. Os dados obtidos através de informações secundárias, dos formulários da pesquisa de campo e das oficinas, foram usados na compreensão e explicação dos aspectos analisados.

Segundo CIFUENTES (2000), o manejo de uma área protegida pode ser definido como “o conjunto de ações que resultam em um melhor aproveitamento e permanência de uma área protegida, permitindo que os objetivos para os quais foi estabelecida se cumpram”. IZURIETA (1997) define efetividade de manejo como “o conjunto de características, ações, atitudes, capacidades e competências particulares que permitam à uma área protegida cumprir satisfatoriamente a função e os objetivos para os quais foi criada”.

Para averiguar a eficiência de manejo usou-se como referências os trabalhos de Faria (2004), Izurieta et al (1999), Mesquita (2002) e Padovan (2004). Foram feitas algumas adaptações das metodologias por eles propostas, para adequar âmbitos\dimensões, variáveis e nomenclatura ao contexto das unidades estudadas, resultando na matriz de avaliação da eficiência de manejo (Quadro 2). A matriz adotada possui 57 indicadores agrupados em 23 critérios de análise.

A metodologia adotada para a análise do manejo das unidades de conservação tem como enfoque a noção de manejo estabelecida pelo SNUC (2000), que se refere a “todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas”.

Essa opção parte da constatação que a medição da qualidade do ambiente requer informações consistentes e sistemáticas sobre o estado da biodiversidade e dos processos ecológicos. Considerando as limitações para a obtenção destas informações e o alto custo para sua medição, decidiu-se por avaliar a situação dos processos que induzem aos resultados alcançados.

A análise está orientada a averiguar o grau de manejo sustentável das unidades de conservação. Nesse sentido, considerando o triângulo da sustentabilidade, foram incluídos os âmbitos ou dimensões ambiental, social e econômica, bem como a institucional, dada sua fundamental importância no contexto da gestão estudada. Segundo Padovan (2004), essas dimensões compreendem a avaliação dos seguintes aspectos:

a. Na dimensão ambiental são avaliados os aspectos relacionados com a categoria de manejo, a biodiversidade e a diversidade cultural relevantes da região presentes na área e as condições da unidade de conservação para favorecer a viabilidade ecológica.

b. As dimensões social e econômica abordam os mecanismos institucionais e as estratégias para integração da unidade de conservação com as populações de dentro e do entorno.

Esses âmbitos avaliam os benefícios decorrentes da implantação da unidade de conservação para as comunidades de dentro e ou do entorno da área, bem como a disponibilidade dos recursos financeiros necessários ao manejo adequado.

c. No âmbito institucional são avaliados os fatores relacionados ao planejamento, legislação, infra-estrutura, pessoal e demais aspectos que influenciam no manejo.

A partir da análise da diversidade de parâmetros usados nesse tipo de avaliação, optou-se por adotar dois deles amplamente utilizados e aceitos: critérios e indicadores. Os critérios caracterizam os elementos essenciais ou o conjunto de condições mediante os quais se pode avaliar o manejo. Os indicadores possibilitam mensurar os critérios, já que estes não podem ser medidos diretamente.

Os indicadores estão num nível hierárquico inferior aos critérios e evidenciam as mudanças das condições do sistema a ser avaliado. Com a estruturação dos parâmetros em critérios e indicadores há uma hierarquização dos mesmos, indicando que um parâmetro se cumpre na medida em que os de nível inferior a ele se cumpriram (PADOVAN, 2004).

Os parâmetros de medição utilizados são flexíveis e permitem os necessários ajustes de acordo com o contexto analisado, bem como a inclusão de novos aspectos a serem avaliados. Desta forma, a aplicação dos parâmetros tem como referências principais, os objetivos estabelecidos para a categoria de manejo, seja através do SNUC (2000) e\ou daqueles definidos para a UC segundo o seu instrumento legal de criação.

Quadro 2 - Matriz de Análise de Eficiência do Manejo

Dimensão Critérios Indicadores

Ambiental

1. Existe coerência entre as características intrínsecas, os objetivos de conservação e a categoria de manejo.

1.1. Correspondência da categoria de manejo com as características da área.

1.2. Compatibilidade dos objetivos de manejo com as características da área e categoria de manejo definida. 2. Os usos que se

desenvolvem na UC são compatíveis com a categoria

2.1. Compatibilidade dos usos com os objetivos da categoria de manejo.

3. A área conserva amostras representativas de ecossistemas relevantes da região.

3.1. Os ecossistemas relevantes da região estão presentes na uc.

3.2. Os ecossistemas relevantes da região presentes na UC são representativos.

4. A área conserva atrativos naturais e/ou culturais relevantes da região.

4.1. Os atrativos naturais e/ou culturais relevantes da região são conservados na UC

4.2. Reconhecimento desses atrativos pela população interna e do entorno

5. A área contribui para a conservação da diversidade biológica.

5.1. A área conserva espécies de especial interesse para a conservação.

5.2. A área identifica e monitora espécies indicadoras

6. As características espaciais da unidade de conservação favorecem a viabilidade ecológica.

6.1. Superfície total ótima da UC.

6.2. Forma adequada para favorecer a viabilidade ecológica. 6.3. Conectividade entre a UC e outras áreas de mesmas características.

6.4. O zoneamento da UC favorece a viabilidade ecológica.

7. Os ecossistemas mantêm ou melhoram sua saúde e vitalidade.

7.1. A cobertura vegetal ou outra estrutura fundamental do ecossistema ou hábitat são mantidas.

7.2. Os ecossistemas degradados se recuperam. 8. Os usos que se desenvolvem

na unidade de conservação não prejudicam a viabilidade ecológica.

8.1. As práticas e intensidades de uso não prejudicam a viabilidade ecológica.

9. As ameaças a saúde e vitalidade dos ecossistemas ou habitats da área estão

identificadas e controladas.

9.1. As ameaças aos ecossistemas ou habitats são prevenidas e controladas.

Dimensão Critérios Indicadores

S

o

cial

10. Existem estratégias que são aplicadas para a integração das comunidades no manejo da unidade de conservação.

10.1. A UC possui um conselho deliberativo que facilita a integração da sociedade civil no manejo da área.

10.2. Funcionamento e importância do Conselho na solução de conflitos de interesse da UC.

10.3. As estratégias de integração da gestão da UC incorporam os diferentes atores sociais e suas particularidades.

10.4. População alvo é informada e envolvida na implementação de ações conjuntas.

10.5. Manifestam-se atitudes favoráveis ao manejo da UC e seu entorno.

Econômica

11. As populações de dentro da área e/ou do entorno recebem benefícios monetários ou não, diretos ou indiretos, devido à unidade de conservação.

11.1. A UC contribui para a melhoria da renda da população local.

11.2. Infraestrutura ou serviços sociais básicos de interesse da comunidade local são desenvolvidos devido a UC.

11.3. Projetos de desenvolvimento comunitário promovidos pela administração da UC

12. Existem medidas efetivas de mitigação e/ou compensação dos impactos econômicos negativos devido ao manejo da unidade de

conservação.

12.1. Mecanismos de mitigação e compensação efetivas dos impactos econômicos negativos devido à UC.

13. Os custos reais do manejo da área são conhecidos.

13.1. Mecanismos de organização da informação de gastos e receitas.

14. A unidade de conservação conta com recursos financeiros suficientes para cobrir com os custos do manejo.

14.1. As receitas da UC cobrem os custos do manejo.

14.2. As fontes de financiamento são adequadas e diversas para assegurar o manejo em longo prazo

15. Os mecanismos de gestão financeira são adequados e eficientes.

15.1. Capacidade de manejo financeiro institucional. 15.2. Transferência de recursos financeiros ajustada ao solicitado.

15.3. Os recursos gerados-captados são aplicados na melhoria do manejo da UC.

Dimensão Critérios Indicadores

Institucional

16. Os mecanismos emergenciais ou complementares para o planejamento da área nos diferentes níveis são adequados

16.1. O planejamento estratégico da UC está relacionado com as políticas estabelecidas pelo SNUC.

16.2. Coerência entre os planos e projetos necessários. 16.3. Monitoramento, avaliação de ajustes.

17. O plano de manejo é adequado.

17.1. Existência e atualidade do plano de manejo. 17.2. Execução dos programas de manejo. 18. O pessoal é qualificado e

suficiente para o desempenho das atividades de manejo.

18.1. Quantidade ótima de pessoal 18.2. Qualidade ótima de pessoal

18.3. Escalas salariais competitivas e outros benefícios

19. A infraestrutura e equipamentos existentes satisfazem as necessidades de manejo da unidade de conservação.

19.1. A infraestrutura é adequada às características do manejo. 19.2. Os equipamentos e ferramentas são suficientes e efetivos 19.3. Os acessos são adequados para alcançar os objetivos de manejo.

20. A área conta com uma estrutura organizativa adequada ao manejo.

20.1. Estrutura organizativa facilita gestão.

20.2. Definição de cargos e funções adequada às características de gestão.

20.3. Sistema claro e funcional de comunicação interna.

20.4. Mecanismos de organização e registro de informação.

20.5. Condições adequadas de segurança (em campo). 21. A administração da área

tem o apoio político necessário à gestão. 21.1. Apoio intrainstitucional 21.2. Apoio interinstitucional 22. A legislação, normas técnicas e disposições administrativas são cumpridas.

22.1. Status legal de criação da área. 22.2. Demarcação e regularização fundiária 22.2. Regulamentos de uso dos recursos naturais. 22.3. Regulamentos administrativos.

22.4. Leis relacionadas ao planejamento, manejo e gestão da UC.

23. Os mecanismos para solucionar conflitos relacionados com o domínio, a posse de terras e uso de recursos naturais são efetivos.

23.1. Estratégia efetiva para a resolução de conflitos relacionados com o uso de recursos da UC.

Fonte: Adaptado pelo autor de Padovan, 2004.

A partir da análise da matriz, é possível chegar a cenários de manejo para cada indicador, que correspondem a valores específicos. Cada critério recebe um valor de pontuação entre zero e quatro, de acordo com o desempenho da unidade de conservação, sendo que quatro

representa a situação ideal – “ótimo de manejo” – para determinado critério, enquanto o valor zero representa uma situação em total conflito com os objetivos da unidade (tabela 2)

A Matriz deverá ser submetida à discussão em uma espécie de ‘seminário’, envolvendo a equipe gestora de cada UC, de conselheiros comunitários e de técnico/pesquisadores atuantes nas áreas, para chegar a um consenso sobre a pontuação a ser definida para cada indicador das variáveis analisadas.

Tabela 2: Escala de valoração utilizada na análise do manejo

PONTUAÇÃO % DO ÓTIMO 0 < 35 1 36-50 2 51-75 3 76-89 4 90-100

Fonte: PADOVAN (2004); MESQUITA (2002).

Em seguida, os dados foram tabulados com o auxílio de uma planilha eletrônica do Excel, obedecendo aos critérios recomendados por Mesquita (2002): (a) a efetividade de manejo de cada variável (critério) que possua sub-variáveis (indicadores) equivale à média aritmética dos pontos atribuídos a cada sub-variável, num intervalo entre 0 e 4; (b) a efetividade de manejo de cada âmbito (dimensão) é calculada pela soma das efetividades de suas variáveis, obtendo-se em seguida o percentual dessa soma sobre o “ótimo” do âmbito, ou seja, o valor que o âmbito teria caso todas as variáveis tivessem efetividade máxima; (c) por fim, a efetividade de manejo da UC é calculada pela média aritmética dos valores percentuais de cada âmbito.

O resultado funciona como indicador do estado presente do manejo da área, em porcentagem do seu “ótimo” específico. De maneira a facilitar a interpretação deste valor percentual, Faria (2004) propõe uma escala de qualificação da eficiência de gestão (Quadro 3).

Quadro 3 - Escala de qualificação da eficácia de gestão de unidades de conservação

Fonte: FARIA, 2004.

A ferramenta de análise da efetividade da gestão pode ser adotada pelos gestores da área, permitindo o monitoramento dos critérios e o acompanhamento da implantação da UC. Dessa forma, espera-se que possa servir para ajudar a corrigir rumos e traçar estratégias de ação, em busca de uma maior efetividade no cumprimento dos objetivos de criação da unidade. Entretanto, é importante ressaltar que a avaliação do manejo de uma unidade não deve ser vista como um fim em si mesma, mas como um importante passo para determinar suas fortalezas e debilidades, com vistas ao monitoramento contínuo e ao aprimoramento da sua gestão.

% do total ótimo

Nível de qualidade do

manejo

Descrição do Padrão de Qualidade

≤ 40,99 % Insatisfatório Faltam muitos elementos para a gestão e essa situação não garante a permanência da unidade em longo prazo, o que obriga a instituição enviar maiores esforços sobre a mesma. Nas atuais condições, os objetivos de manejo não são alcançáveis.

41 – 54,99 % Pouco

satisfatório

Há recurso para a gestão, mas a área é vulnerável a fatores externos e/ou internos em razão de haver somente os meios mínimos necessários à gestão, o que pode acarretar o descumprimento de alguns dos objetivos primários da área.

55 – 69,99 % Regular A unidade apresenta deficiência muito pontuais

que não permitem a constituição de uma sólida base para o efetivo manejo. Alguns dos seus objetivos secundários podem ser desatendidos. 70 – 84,99 % Satisfatório Os fatores e meios para a gestão existem e as

atividades essenciais são desenvolvidas normalmente, tendendo o conjunto em direção ao longo dos objetivos da unidade. As principais ações programáticas são levadas a cabo.

≥ 85% Muito

satisfatório

A área possui todos ou quase todos os componentes-chaves para sua gestão efetiva, podendo absorver demandas e exigências futuras sem comprometer a conservação dos recursos protegidos. O cumprimento dos objetivos está assegurado.

Nesse sentido, como ressalta Padovan (2004), a metodologia considera o princípio da “gradualidade”, já que as mudanças nas atuais condições das unidades de conservação, ainda que urgentes, necessitam de etapas sucessivas de melhoramento. Desta forma, de acordo com a pontuação obtida para cada indicador, são estabelecidos prazos e condições, orientados ao alcance da melhoria gradual do manejo.

CAPÍTULO II

AMAZÔNIA: imagens e miragens do desenvolvimento

regional

2 AMAZÔNIA: IMAGENS E MIRAGENS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL