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Mapa 10 – Síntese dos conflitos socioambientais da RDS do Rio Iratapuru

2.1 REMINISCÊNCIAS DA FORMAÇÃO ECONÔMICO-SOCIAL DA AMAZÔNIA

2.1.1 Período mercantil-extrativista

O primeiro período foi marcado pelo modelo mercantil-extrativista, que se caracterizou por fases de expansão e recessão, em função da economia da metrópole baseada nas formas de exploração colonial, cuja temporalidade foi prolongada na Amazônia sustentada pelo aviamento27. Nos primeiros séculos da ocupação portuguesa os objetivos eram de estabelecer a propriedade da colônia, dando forma a uma ocupação estabelecida com o objetivo de guardar o território que fizeram surgir os primeiros núcleos de povoamento a partir das fortificações.

Como demonstra a história, a primeira forma de inserção da Amazônia no mundo moderno, deu-se com o advento das grandes navegações e para atender aos interesses do mercantilismo. Naquele tempo, ocorreu a exploração das chamadas drogas do sertão, marcada pela

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O sistema de aviamento foi um dos meios que os patrões e/ou seringalistas encontraram para se apropriar da produção de látex, castanha e outros produtos extraídos pelos trabalhadores nas florestas da Amazônia. O aviamento desempenhou a função sustentadora e articuladora da estrutura comercial da região. Aviar é fornecer mercadorias, créditos, bens de consumo e instrumentos de trabalho, medicamentos e dinheiro para ser pago com a produção recolhida na época da safra, numa relação sempre desfavorável ao aviado.

afluência das matérias primas oriundas da rica vegetação amazônica: essências, resinas, cascas, látex, peles, entre outras, para a indústria do capitalismo nascente.

A extração do látex da seringueira (Hevea brasiliensis) foi responsável por grande dinamismo econômico na Amazônia, o ciclo da borracha28. Nessa faze ocorreu o primeiro grande fluxo migratório para a região, principalmente de nordestinos oriundos do sertão, atraídos para trabalhar nos seringais.

Fortunas foram geradas para as elites políticas e econômicas locais. Todo o fausto oriundo da economia extrativista de uma época marcada pelo luxo e extravagância da vida em Manaus e Belém, ocorreu à custa da absoluta espoliação do labor dos seringueiros. Numa ponta do processo estava o barracão e, na outra, as casas aviadoras-exportadoras que faziam a interface com o mercado internacional.

No entanto, a expansão na Ásia dos cultivos plantados da Hevea spp. fez cair o preço do látex natural nos mercados internacionais e a economia regional entra em crise se d e s articula. Apenas durante a 2ª grande guerra mundial, já no século XX, foi que o governo estabeleceu um conjunto de medidas de esforço de guerra com os aliados, para incentivar a produção da borracha. Mas com o fim da guerra a economia retorna aos padrões tradicionais de isolamento.

Com o pós-guerra novos elementos aparecem no cenário internacional e nacional. No Brasil, c o m a p r o m u l g a ç ã o d a Constituição de 1946, são estabelecidos alguns critérios que visavam à inserção da Amazônia no processo de desenvolvimento do capitalismo. Inspirado pelos pressupostos keynesianos, esse período foi marcado por um relativo otimismo e crença em relação às possibilidades de generalização do desenvolvimento, que poderia ser alcançado por meio de uma racionalização de capitais, em especial, sob a coordenação estatal.

Esse processo marca uma fase de transição para um novo período de desenvolvimento regional. Para viabilizar o desenvolvimento do país, o Estado brasileiro tinha como principal preocupação a modernização das condições de funcionamento e expansão dos mercados de capital e garantir a força de trabalho. Para garantir essas prerrogativas, várias

28 O Ciclo da Borracha, ocorreu em fins do Século XIX e início do Século XX (em torno de 1890 a 1912). Ainda na primeira metade do Século

XX, ocorreria uma reanimação da economia da borracha, durante a Segunda Guerra Mundial com a chamada “Batalha da Borracha”, em que novas levas de nordestinos pobres acorreram à região para atuarem como seringueiros – os “soldados da borracha”. Com o fim da guerra, esses homens foram abandonados à própria sorte.

mudanças foram postas em prática, de modo a atender aos interesses da elite nacional, que se aliou ao capital internacional, no sentido de provocar a expansão e consolidação capitalista.

Nesse contexto, a Amazônia vai ser impulsionada e “modernizada”, de modo a articular-se dinamicamente com o capitalismo monopolista e dependente (IANNI, 1986). Tratava-se de viabilizar o paradigma da “economia aberta” que exigia o desenvolvimento extensivo do capitalismo na região, tornando-a um espaço estratégico para o Estado que se empenhava na sua rápida estruturação e controle.

Sobre o desenvolvimento regional, houve um relativo consenso entre os estudiosos do assunto de que as intervenções das políticas públicas seriam necessárias para dar um rumo adequado à questão, no sentido de diminuir os efeitos das disparidades inter-regionais.

Há concordância também, que o crescimento econômico e, em particular, a industrialização, foram determinantes no acelerado processo de urbanização que se constituiu no país. Em particular na Amazônia, a inserção da região nos interesses capitalistas, desencadeou um grande fluxo migratório da população em busca de oportunidades nos espaços de maior dinamismo econômico.

Com o objetivo de planejar e executar políticas públicas de desenvolvimento regional foi constituído um arcabouço institucional, no sentido de criar instrumentos capazes de dinamizar a economia e viabilizar a equidade espacial. Em todos os casos, a base da política de desenvolvimento diferenciada apoiou-se no sistema de incentivos fiscais, a custa de renúncia total ou parcial do imposto de renda, para subsidiar os investimentos privados.

Os grandes desníveis de desenvolvimento entre as diferentes regiões do país29 ficaram ainda mais evidentes, com a divulgação das Contas Regionais do Brasil no início dos anos 1950. Cano (1998) ressalta que esse fato gerou fortes pressões políticas em favor de que o tratamento diferenciado, também contemplasse outros espaços regionais. A partir do desdobramento desse processo, estabeleceu-se um arcabouço institucional com o objetivo de viabilizar o desenvolvimento regional, que incluiu as regiões Sul, Centro-Oeste e Norte do país.

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A “questão regional” ganhou relevância para o país, em decorrência das grandes secas no Nordeste brasileiro, desde a época do império. Diferentes iniciativas de combate à seca foram realizadas, servindo de base para a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, em 1960, cuja missão específica era fomentar o desenvolvimento regional.

É nesse contexto que, em 1953, no segundo Governo Vargas, foi criada a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia – SPVEA30 e instituída a Amazônia Legal. A SPVEA foi responsável pela elaboração do primeiro Plano de Desenvolvimento da Amazônia – PDA, em 1955. O PDA tratava, basicamente, da indicação da necessidade da realização de grandes obras de infra-estrutura pública, com destaque para a construção da rodovia Belém-Brasília.

Esse contexto estrutura as bases para o segundo grande período da história do desenvolvimento amazônico que chega ao auge a partir de 1964, quando os governos militares assumiram o poder.