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Parte I – O Ensino Superior Brasileiro

3.3. A docência na Educação Superior atual

Quanto ao cargo dos professores do ensino superior, eles podem ser professores a tempo integral, a tempo parcial e professores horistas. Dos 169544 professores da rede pública, 144166 (85%) são professores a tempo integral, 19451 (11,5%) a tempo parcial e apenas 5927 (3,5%) professores horistas. Esses números sofrem uma mudança significativa na rede privada em que, dos 214550, 85344 (40%) são professores a tempo parcial, 74082 (35,3%), são professores horistas, e a menor parte, de 55.124 (25,5%) professores estão a tempo inteiro.

Tabela 4: Regime de trabalho dos professores

Gráfico 4: Regime de trabalho dos professores (Brasil)

Os professores a tempo integral trabalham por 40 horas semanais, estando incluídas nelas 20 horas para estudo, investigação, planeamento, avaliação e orientação de estudantes. Os professores a tempo parcial atuam por 12 ou mais horas semanais e têm 25% do seu tempo reservado para estudos, planeamento, avaliação e orientação. Os professores horistas são contratados exclusivamente para ministrar aulas, isto é, não têm tempo de dedicação para outras atividades. Assim, vê-se que nas universidades públicas há um quadro maior composto por

professores que trabalham a tempo integral e têm previsto, em sua carga horária de trabalho, o planeamento de atividades e a investigação, ao contrário do que acontece na maior parte dos casos dos professores de instituições particulares.

Quanto à titulação dos professores, as estatísticas do Ensino Superior evidenciam que dos 169544 professores da rede pública, 101569 têm doutoramento (59%). Na rede privada, o número de professores doutorados cai, sendo 48268 professores dos 214550 professores (22%). O artigo 52 da LDB/96 institui que é preciso que um terço dos professores tenha, no mínimo, o grau de mestre ou de doutor, e que um terço esteja sob o regime de tempo integral. Brandão (2007) discorre sobre esta exigência, refletindo que o requisito de apenas um terço do corpo docente com a qualificação do mestrado ou do doutoramento é um facilitador para a organização e para a administração de universidades privadas em que a titulação exigida pode permitir uma qualificação mínima e um contrato de trabalho que seja baseado nas horas de aula em vez de um regime integral que pudesse abranger o trabalho de pesquisa, por exemplo, dentro da instituição.

A respeito das categorias administrativas, na universidade pública em estudo, os professores a tempo inteiro podem ter um regime de Dedicação exclusiva à instituição, regido pela Lei n. 6328/2012. O regime de dedicação exclusiva consiste em um valor adicional que corresponde a 65% do salário do docente para o trabalho exclusivo na instituição. Destacamos que não são consideradas impedimentos para a dedicação as atividades em instituições académicas no Brasil e no exterior quando autorizadas pela reitoria. Aí encontramos, mais uma vez, a valorização da investigação.

A progressão da carreira de magistério superior compreende as seguintes categorias: auxiliar (com exigência de graduação), assistente (com exigência de mestrado), adjunto (com exigência de doutoramento), associado (com exigência de doutoramento e 6 anos de exercício efetivo como professor adjunto) e titular (com exigência de, no mínimo, 4 anos de exercício efetivo na categoria de professor associado e 15 anos no exercício do magistério superior), de acordo com a resolução 08/2016.

Cada categoria destas está dividida em níveis, à exceção da categoria titular, que tem só um nível. A progressão de nível horizontal em uma mesma categoria, por exemplo, na categoria associado 1, 2, 3 e 4, está relacionada a avaliação do trabalho do professor quanto a atividades de ensino e a “critérios objetivos, mensuráveis e em concordância com os padrões académicos de excelências estabelecidos no País” (Artigo 9 §2º da Resolução 08/2016; Artigo 5, §2 da Lei n. 7423 de 2016). Para cada nível, é exigido 2 anos de exercício como professor no nível anterior.

3.3.2. O processo seletivo para professores da universidade pública

Dentro deste cenário do ensino superior brasileiro, marcado por uma variedade de tipos de instituição e de organização administrativa, é imprescindível esclarecer que este estudo aborda um caso específico de professores que trabalham, a tempo inteiro, com diferentes categorias, numa universidade pública. Assim, a partir de agora abordamos a profissão docente na universidade pública e não nas demais instituições de ensino superior que existem no Brasil. O ingresso na carreira docente da universidade pública se dá por concurso público de provas e de títulos. A universidade regulamenta a realização do concurso, observando a legislação em vigor. O edital deve estabelecer a titulação mínima exigida assim como as habilitações requeridas para o cargo oferecido. O concurso é dividido em três etapas. A primeira é uma prova escrita para aferir conhecimentos teóricos e de atualização dos conhecimentos assim como de capacidade de exposição, de síntese e ordenação lógica do pensamento. A segunda etapa é uma prova de aula, para aferir competências didáticas. A etapa final é o julgamento de títulos e trabalhos, numa avaliação da formação e das experiências profissionais e académicas do candidato vinculadas à área de conhecimento do concurso.

A análise do edital de um concurso para professor da universidade pública participante deste estudo permite compreender que a titulação exigida é de doutoramento e os títulos e trabalhos exigidos, vinculados à área do concurso, englobam: publicações e produções científicas, artísticas e tecnológicas; atividades académicas; e atividades profissionais, de ensino, e de gestão.

Quadro 2: Critérios do concurso para a docência universitária (Brasil) Alguns critérios desejáveis e valorizados no concurso

para professor da universidade pública Qualificação académica

Graus de graduação, especialização, mestrado e pós-doutorado

Publicações e produção científica

Artigos publicados em periódicos, livro indexado, capítulo de livro indexado, organização de livros, organização de catálogos e revistas, trabalho completo em atas, resumo em atas de congressos, tradução de livro, aplicativo/software com registo, meio de multimídia de divulgação científica devidamente registado, produção técnica em filme e vídeo, artigo em jornais de grande circulação.

Atividades técnico-científicas e orientação

Atividades de corpo editorial de periódicos; participação em comissão científica de instituições de fomento; parecerista em periódicos, agências de fomento e eventos; participação em conselhos de sistemas de ensino, pesquisa, cultura e profissionais; participação em júris de admissão à carreira docente, de mestrado e de doutorado, de graduação e especialização; prémios atribuídos publicamente por instituição académica; orientação concluída de especialização, mestrado, doutoramento, pós-doutoramemto, estudantes de graduação; conferências e mesa redonda em congressos: auxílio para o desenvolvimento de projetos; bolsa individual de docência, pesquisa, formação ou extensão.

Docência, gestão e atividades profissionais

Docência na graduação, na pós-graduação, curso ou disciplina de extensão, na educação básica; coordenação de projetos, participação no desenvolvimento de projetos; gestão no âmbito universitário; experiência profissional na área; monitoria.

Fonte: Edital do processo seletivo para professor da universidade

Pelo peso distribuído a cada uma dessas atividades, é possível observar a maior importância dada à investigação. Por exemplo, a publicação de um livro soma 70 pontos enquanto 1 ano de docência atribui 10 pontos ao candidato. A publicação de um artigo em periódico indexado soma 40 pontos e lecionar um curso de 30 horas ou mais soma 3 pontos no mesmo concurso.

Após o processo seletivo, há um período de estágio probatório, previsto pela Lei 5.343/08 com a duração de 36 meses.

3.3.3. Atividades

O ensino, a investigação e a transferência do conhecimento são definidas, na legislação, como pilares da universidade. Quanto às atividades dos professores na universidade em estudo, são previstas quatro grandes dimensões.

Quadro 3: Atividades integrantes da docência universitária (Brasil) Atividades integrantes da docência universitária pela legislação

ENSINO I - a docência, englobando o ensino, a orientação acadêmica e a orientação de trabalhos, teses, dissertações ou monografias;

INVESTIGAÇÃO

II - a geração de conhecimentos, incluindo a realização de

pesquisas, a elaboração de textos para publicação em revistas especializadas ou livros, a participação em conselhos editoriais, científicos ou culturais, a apresentação de trabalhos em congressos, seminários e outros e a realização de traduções de reconhecido valor cultural, técnico-científico ou artístico;

EXTENSÃO

III - a extensão, incluindo a prestação de serviços técnicos ou o

desenvolvimento de práticas acadêmicas de natureza educativa, cultural, científica ou tecnológica;

GESTÃO ACADÉMICA

IV - a administração, consistindo no desempenho, na instituição, de

atividades de direção, chefia, coordenação, assessoria, gerenciamento de programas ou projetos e a participação em colegiados, comissões ou similares.

Fonte: Lei nº 5343 de 08 de Dezembro de 2008

O artigo 65 da LBD/96 indica a obrigatoriedade de prática de ensino de no mínimo 300 horas para a formação docente, exceto para o trabalho docente no Ensino Superior. O artigo 66º do documento especifica que a preparação para dar aulas no ensino superior é feita em nível a formação avançada, em programas de mestrado e de doutoramento. Sobre os quadros profissionais das universidades, o artigo 52 prevê que os professores sejam capazes de desenvolver uma produção intelectual institucionalizada, tratando de temas relevantes cientifica e culturalmente. Assim, percebemos que o trabalho do professor do ensino superior, pela lei, está mais focado nos conhecimentos científicos do que nas suas competências didáticas.

Observa-se que a formação docente para a educação superior não está a cargo de políticas públicas, mas de iniciativas individuais ou dos regimentos das instituições que oferecem cursos de formação avançada (Dotta, 2011). Dada a ausência de um requerimento formal de uma formação pedagógica, é possível perceber que o desenvolvimento dessas competências é tema de debate e de investigações atualmente, assim como é possível questionar a formação dos cursos de pós-graduação, mais centrada para a formação de investigadores do que de professores do ensino superior (Veiga, 2006). Por isso, além da discussão sobre competências pedagógicas dos professores do ensino superior, há o debate em torno da formação no nível da pós-graduação permitir uma experiência significativa de formação pedagógica para o exercício de um ensino de qualidade (Bazzo, 2006) além da formação do investigador de modo a garantir a indissociabilidade entre ensino, investigação e transferência do conhecimento.

As atividades de gestão, instituídas como atividade docente, respondem a um princípio da gestão democrática na universidade. Este princípio é instituído pelo artigo 56 da LDB/96,

assegurando a participação da comunidade institucional, local e regional nos órgãos colegiados deliberativos.