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Parte II – O Ensino Superior Português

3.8. A docência universitária

Após 30 anos, o Estatuto da Docência Universitária – ECDU –, Decreto-Lei n.º 448/79, sofreu uma revisão no sentido de se adaptar à nova realidade e aos novos desafios da profissão. A investigação científica é posta como elemento central do trabalho do professor universitário. O regime de dedicação exclusiva passa a ser regime-regra, apesar de se possibilitar a opção pelo regime de tempo integral, caso o professor prefira, e haver a possibilidade de transição entre os dois regimes.

O título de doutor passa a ser o grau mínimo para a entrada na carreira. Assim, são eliminadas as categorias de professor assistente e estagiário. Os professores podem ter as categorias: auxiliar, associado e catedrático. Os professores catedráticos têm funções de coordenação de orientação pedagógica e científica de disciplinas ou departamentos, também tendo que dirigir (mas não reger) disciplinas e seminários, aulas práticas ou teóricas; coordenar os programas, o estudo e a aplicação de métodos de ensino e investigação; dirigir e realizar trabalhos de investigação. Os professores associados devem coadjuvar os professores catedráticos, tendo que reger disciplinas quando houver necessidade. Também orientam e realizam investigação segundo as linhas previamente estabelecidas e colaboram com os professores catedráticos. Os professores auxiliares devem lecionar aulas, podendo ter trabalho igual ao do professor associado, depois de 5 anos de serviço efetivo. É importante destacar que em todas as categorias, os professores podem atuar tanto nos cursos de licenciatura quanto na formação avançada.

O ECDU defende o alargamento dos lugares de topo de carreira, pelo número de professores catedráticos e associados ser entre 50% e 70% dos professores das instituições. Há um estatuto reforçado de estabilidade que pretende garantir autonomia pedagógica e científica aos professores catedráticos e associados.

3.8.1. Processo seletivo do professor universitário

O processo seletivo para professor de uma universidade pública portuguesa é feito através de avaliação curricular que pondera nível científico e pedagógico do candidato, capacidade de investigação e atividades desenvolvidas compatíveis com a área disciplinar para a qual o concurso é aberto. Esclarecemos que os editais analisados abaixo são apenas um exemplo dos critérios, visto que eles são alterados de acordo com a categoria profissional e cada concurso tem as suas particularidades e exigências.

Quadro 6: Critérios para o processo seletivo para professor assistente (Portugal) Critério para o processo seletivo para professor assistente

Mérito científico

Investigação científica, publicação científica, dinamização e intervenção da atividade científica e outros elementos de atividade científica, como participação em eventos científicos. Publicação, sendo especificado que são particularmente valorizadas as publicações em revistas de difusão internacional indexadas em base de dados identificadas. O reconhecimento pela comunidade científica internacional que pode ser comprovado por coautorias ou condições também é valorizado, assim como a participação e coordenação em equipas de investigação.

Mérito pedagógico

Docência e a participação em projetos pedagógicos e a conceção de novas unidades curriculares e envolvimento na criação de novos cursos.

Outras atividades

extensão, de gestão institucional e de valorização económica e social do conhecimento

Fonte: Edital de processo seletivo para professor universitário auxiliar na instituição em estudo

O mérito científico do candidato vale 55%. O mérito pedagógico tem 35% de importância no concurso. As atividades de extensão, de gestão institucional e de valorização económica e social do conhecimento valem apenas 10%. Dentro desses 10%, as atividades de intervenção na comunidade valem 60%, e as de gestão 40%. Assim, é possível observar que é dada uma maior importância à investigação e, posteriormente ao ensino, como 90% do exigido no processo seletivo e 10% divididos entre a gestão académica e a transferência do conhecimento.

De acordo com o edital para o concurso a professor catedrático, que seria a última categoria na universidade, há a seguinte valorização: 55% mérito científico, envolvendo 15% de coordenação e realização de projetos científicos, 25% de publicação científica, 10% dinamização e intervenção da atividade científica, e 5% de avaliação científica. O mérito pedagógico vale 25%, considerando 10% de participação em projetos pedagógicos e 15% de conceção de novos cursos e unidades curriculares. Outras atividades relevantes somam 20% e envolvem 15% de gestão institucional e 5% na participação em projetos de intervenção da comunidade.

3.8.2. Atividades

Os professores têm como atividades gerais o ensino, a investigação, a transferência do conhecimento e a gestão académica.

Quadro 7: Atividades integrantes da docência universitária (Portugal) Atividades integrantes da carreira docente universitária pela legislação

ENSINO a) Prestar o serviço docente que lhes for distribuído e acompanhar e orientar os estudantes

INVESTIGAÇÃO B) Realizar atividades de investigação científica, de criação cultural ou de desenvolvimento tecnológico;

TRANSFERÊNCIA DO CONHECIMENTO

c) Participar em tarefas de extensão universitária, de divulgação

científica e de valorização económica e social do conhecimento GESTÃO

ACADÉMICA

d) Participar em outras tarefas distribuídas pelos órgãos de gestão

competentes e que se incluam no âmbito da atividade de docente universitário

Fonte: DECRETO-LEI N.º 205/2009 DE 31 DE AGOSTO DE 2009

Além dessas dimensões, são deveres dos professores contribuir para o desenvolvimento do espírito crítico, inventivo e criador dos estudantes e para uma formação cultural, científica, profissional e humana; orientar e contribuir para a formação científica, técnica, cultural e pedagógica; se manterem atualizados científica e pedagogicamente e desempenharem, ativamente, as suas funções por meio da elaboração e disposição de materiais didáticos aos estudantes.

3.8.3. Avaliação

O trabalho dos professores é avaliado pela A3ES – Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Quanto à avaliação institucional (A3ES, 2017) diversos critérios são considerados, como o projeto educativo, científico e cultural, as instalações, a oferta educativa, a internacionalização, a empregabilidade, os serviços de apoio, a presença de unidades de investigação, o número de inscritos e diplomados, de vagas e de cursos. Também se avaliam políticas de captação de receitas próprias e de colaboração nacional (A3ES, 2017b).

Alguns critérios que interessam a este estudo relacionam-se direta ou indiretamente com o trabalho do professor, ainda que sejam avaliados a nível institucional. São alguns deles a colaboração nacional e internacional, a prestação de serviços à comunidade, a estabilidade e dinâmica de formação, o número de docentes em tempo integral e o tempo de contrato. A avaliação do professor realça o regime de tempo na instituição, os graus académicos, atividades científicas, sendo valorizados artigos em revistas internacionais com revisão por pares, livros ou capítulos de livros relevantes para o ciclo de estudo onde leciona; atividades profissionais de alto nível, como formação avançada ou prestação de estudos; publicações de natureza pedagógica e experiência profissional relevante. De acordo com o guião para avaliação

institucional (A3ES, 2017b), avalia-se também a participação dos docentes, assim como de investigadores e estudantes, no governo da universidade.

O trabalho do professor está envolvido em diversos âmbitos da avaliação dos cursos e das instituições. Os referenciais para os sistemas internos de garantia da qualidade, nas instituições de ensino superior, preveem a avaliação de diferentes dimensões da universidade. Quanto à investigação, a avaliação focaliza uma instituição com mecanismos de articulação entre ensino e investigação, como a iniciação dos estudantes na investigação. Também é focada a transferência do conhecimento, quanto à colaboração com a comunidade e a participação em iniciativas institucionais.

Através do regulamento de avaliação e financiamento plurianual de unidade Investigação & Desenvolvimento – I&D, percebemos que a avaliação das unidades feita pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia considera a qualidade e o mérito das atividades pela sua originalidade, consistência e rigor. Avalia-se o mérito científico da equipa de investigadores pelo seu reconhecimento nacional e internacional, assim como a organização e a liderança para a colaboração entre pares. A disseminação de resultados e a transferência de conhecimento e de tecnologia, também, são consideradas, como o plano de atividades e de estratégia de desenvolvimento científico. Há uma preocupação com a avaliação da qualidade, da relevância e atualidade científica dos investigadores.

As atuais recomendações de avaliação procuram avaliar a produção científica mais significativa “em detrimento da exibição de listas exaustivas de publicações ou referências a indicadores bibliométricos, e a indicar as atividades que reputem de maior relevância para efeitos da presente avaliação” (FCT, 207: 3). Destaca-se que em avaliações anteriores (2013), o regulamento pedia discriminação de publicações e outros resultados e a disponibilização das publicações. Previa-se a limitação de volume e tipo de documentos a serem recebidos e dava- se responsabilidade à instituição para escolha dos mais significativos, caso ultrapassasse o limite.

Assim, atualmente, as unidades devem selecionar a informação sobre atividades e a produção científica que considerem mais importante. A valorização é feita para investigação que contribua para o avanço do conhecimento ou da sua aplicação e para a constituição do professor como referência no seu campo científico. Pelo guião de avaliação 2017-2018, é declarada a prevalência da avaliação da qualidade em detrimento da quantidade de contribuições. Define-se que o objetivo principal não é aumentar o número de publicações, mas o seu impacto na sociedade. Dessa forma, observa-se a tentativa de diminuir o peso em um quantitivismo académico para dar ênfase na sua qualidade.

A internacionalização da instituição é um fator diferencial, na avaliação das instituições. A título de exemplo, é possível perceber que o conceito de “Excelente” é atribuído quando a equipa se constitui como referência nacional e internacional; “muito bom”, quando é referência nacional; “bom”, com limitada ou reduzida internacionalização.

3.9. A instituição em estudo

O caso português, da área das Ciências da Educação, faz parte de uma universidade pública. Oferece cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento (1º, 2º e 3º ciclos de formação) na área da Educação e da Psicologia. O processo seletivo dos professores é feito por concurso público, como mencionado anteriormente.

Em sua apresentação institucional, explicita a empregabilidade dos estudantes como uma de suas preocupações centrais e destaca a articulação entre as atividades de formação e as atividades de investigação desenvolvidas pelos centros de investigação, nela sediados. Também dá ênfase à prestação de serviços à comunidade, e a formação contínua, assim como o compromisso para a promoção da igualdade de oportunidades e para o processo social pela formação, investigação e intervenção.