• Nenhum resultado encontrado

5.1 Diferentes escritas nas disciplinas

5.1.1 A escrita individual

Uma especificidade da escrita individual no AVA se refere à escrita acadêmica, em que se observam as normas cultas da língua portuguesa e as normas da ABNT para realizar citações e referências. Esse aspecto também se verifica nos textos coletivos, nas avaliações, nos diários reflexivos e nos relatórios de estágio.

Nesse tipo de escrita não é permitida a informalidade como acontece no fórum, sendo necessário observar também a clareza do texto e fazer uma revisão atenciosa e detalhada da mensagem, de forma a eliminar possíveis ambiguidades e incompreensões. Essas atividades foram importantes para as alunas-professoras, que se iniciaram na escrita acadêmica, o que, possivelmente, auxiliou na escrita do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.

Além disso, os textos elaborados de forma individual tiveram objetivos diferentes. A narrativa teve o intuito de fazer emergir lembranças das alunas-professoras com relação à matemática durante sua trajetória escolar, como já discutimos anteriormente. Em outra atividade foi solicitada a elaboração de uma síntese das principais ideias presentes em uma das unidades do material impresso e, em outra ainda, a escrita antes da leitura do texto sobre os números a partir de dois questionamentos: Para que servem os números? Imagine um mundo sem números. Como ele seria? Trazemos, para ilustrar, um excerto de cada uma dessas atividades, respectivamente.

O material impresso coloca a necessidade de se trabalhar as operações simultaneamente, facilitando assim a compreensão das crianças que poderá, dessa forma, avaliar as situações-problema sob o ponto de vista das quatro operações, apropriando-se de suas características (Lusmarina, Texto individual, LM1 – AIV- 1).

Sem os números, com certeza outra forma de organização existiria, mas não acredito que existiria a certeza que os números nos proporcionam. Acordaríamos e iríamos dormir ao sinal da luminosidade natural, mas qual referência usar para quando entramos e saímos do trabalho ou da escola? Será que a sociedade teria se desenvolvido tecnologicamente, uma vez que a sua base está nos números? Talvez, a única coisa boa é que não existiriam balanças, despertadores (Renata, Texto individual, LM1 – AIII-1).

Nas avaliações presenciais de LM1, as alunas-professoras, individualmente, tiveram que responder algumas questões relacionadas com o jogo Avançando com o Resto e elaboraram um texto sobre as potencialidades e limites desse jogo. Em duplas, analisaram um caso de ensino.

Ana é professora de um segundo ano do ensino fundamental. Ela elaborou alguns materiais para explicar a seus alunos o modo como são produzidos os registros de quantidades superiores a 10 e inferiores a 100, procedeu da seguinte maneira: 1. escreveu em cartões algarismos de 0 a 9;

2. colou, com fita adesiva na lousa, um cartão de cada algarismo, em ordem crescente (mas mantendo um certo espaço entre eles), de modo que todos os cartões ficassem visíveis para a turma;

3. pegou um novo cartão com o algarismo 1 e mostrou aos alunos que, fixando aquele cartão à esquerda e, combinando-o, à direita, com os que estavam colados na lousa, formavam-se os números 10, 11, 12,...,19, pronunciando em voz alta as palavras correspondentes a cada um desses sinais numéricos e fazendo, em seguida, os alunos repetirem-nas;

4. em seguida, pegou um cartão com o algarismo 2 e mostrou à classe que, fixando aquele cartão à esquerda e combinando-o à direita, com os que estavam no aparador, formavam-se os números 21, 22,....,29;

Analise o Caso de Ensino, a partir dos estudos realizados e das discussões ocorridas nos fóruns, levando em consideração as seguintes questões:

a) Você acha que o expediente pedagógico utilizado pela Professora Ana favorece uma apropriação significativa, por parte dos alunos, das características do nosso sistema de numeração decimal? Justifique sua resposta.

b) Como você trabalharia com esses conceitos?

c) Que conhecimentos mínimos, na sua opinião, um(a) professor(a) deve ter para poder trabalhar com o sistema de numeração decimal? Argumente. (Avaliação presencial, LM1).

Em LM2, de forma individual, na avaliação presencial, a partir dos estudos realizados sobre a geometria, as alunas-professoras justificaram a importância do ensino dessa área da matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, além de verificarem e justificarem se algumas afirmações, também sobre geometria, eram verdadeiras ou falsas. Na avaliação realizada em duplas, elas comentaram e buscaram possíveis soluções de dois problemas elaborados por uma professora, analisaram um trecho do PCN sobre o tratamento da informação e, por fim, elaboraram uma síntese sobre o trabalho docente com matemática na Educação Infantil.

Apresentamos a seguir, para exemplificar, excertos das alunas-professoras ao realizarem as atividades de justificarem a importância do ensino de geometria e ao discutirem os problemas elaborados pela professora.

Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é importante o estudo da geometria, pois os alunos irão entender, visualizar e interpretar melhor o mundo a sua volta. Com questões simples, mas bem elaboradas os alunos vão sendo capazes de aprofundar os conhecimentos geométricos. (Maria Clara, Avaliação presencial, LM2).

Ambas as situações-problema envolvem conceitos referentes à razão e proporção, sendo que estamos de acordo com a posição da professora que considera o problema do Grupo A mais fácil do que o do Grupo B, já que no primeiro, os alunos terão apenas que encontrar o dobro do resultado anterior, através da adição, multiplicação e até mesmo pela divisão. Já no segundo, a dificuldade aumenta quando além de terem que realizar o mesmo processo, também terão que refletir sobre a metade, visto que não se trata apenas do dobro de 2, mas sim do dobro mais 1. (Ana, Avaliação presencial, LM2).

Assim, podemos perceber que as escritas individuais tiveram diferentes objetivos que exigiram a mobilização de processos simples e complexos das alunas- professoras, pois, ao escrever, o indivíduo reorganiza seu pensamento e também permite que o outro se aproprie da forma como pensou. A síntese das ideias de uma unidade pode possibilitar se atentarem para algum aspecto que passou despercebido na leitura do texto e se

colocarem frente a uma situação. A análise de um caso proporciona ocasião para que apontem como agiriam para enfrentar aquela situação hipotética.

Verificamos, nos excertos acima, que o argumento de Maria Clara, para justificar o ensino de geometria, destacou a visualização e a compreensão do mundo, além de ressaltar que para tanto é preciso de atividades bem elaboradas, o que nos remete ao papel do professor. No trecho de Ana, percebemos que ela conseguiu identificar, nas situações- problema, a proporção, conteúdo matemático que não havia sido abordado em LM2, o que nos demonstrou a relação feita entre os conteúdos em que precisou mobilizar seus conhecimentos do conteúdo específico.

A escrita nos diários reflexivos e nos relatórios de estágio também tem suas especificidades. Os diários apresentam descrições detalhadas das observações realizadas durante a inserção na escola e algumas reflexões sobre esses acontecimentos. Ainda, as alunas-professoras relataram as regências e, dentre elas, a que se referia à matemática. Os relatórios de estágio expõem uma discussão teórica; fazem a caracterização da escola, dos profissionais que atuam e dos alunos; retomam as regências e também trazem reflexões.

A professora trabalhou junto com os alunos na lousa como se lê o número, qual seu sucessor e antecessor, decomposição dos números. No [sucessor do] número 13.981.473.999 houve dificuldade dos alunos, pois alguns acharam que era 13.981.473.000, mas no final eles entenderam a explicação da professora. Pois a professora explicou que antecessor é menos um e sucessor é mais um. (Su, Diário reflexivo, ES1).

Em suma, diante da complexidade da aprendizagem das operações fundamentais é muito importante que o professor as compreenda e seja capaz de dispor de diferentes metodologias, estratégias para que consiga ajudar seu aluno a construir o conhecimento matemático. (Branca, Relatório, ES1).

No excerto de Su, os alunos acrescentaram um ao 999, obtendo 000, mas se esqueceram de fazer isso na ordem da unidade de milhar, para assim chegarem ao sucessor do número. Consideramos que, para se trabalhar com esses conceitos, não há a necessidade de utilizar números tão grandes. No trecho do relatório de Branca, ela destaca a importância do papel e da compreensão que o professor deve ter dos conteúdos matemáticos para utilizar diferentes estratégias com o objetivo de que seus alunos construam o conhecimento.

Todas essas escritas individuais podem ter mobilizado a base de conhecimento para o ensino, pois as alunas-professoras precisaram resolver problemas, que envolviam conteúdos matemáticos, refletir sobre situações práticas de sala de aula observadas no estágio,

investigar, argumentar e justificar. Por exemplo, ao tentarem responder à questão do caso de ensino da avaliação presencial de LM1, sobre como trabalhariam com o conceito abordado, necessitaram mobilizar seus conhecimentos pedagógicos do conteúdo. Da mesma forma, que os conhecimentos específicos do conteúdo tiveram que emergir ao justificarem as afirmações sobre conteúdos geométricos na avaliação de LM2.

Consideramos que as escritas, nessas diferentes atividades, tiveram características da escrita transacional e expressiva (POWELL, BAIRRAL; 2006). A escrita transacional tem a função de informar sendo, geralmente, usadas em avaliações e diagnósticos. Já a escrita expressiva se refere a “pensar alto no papel. Ela tem a função de revelar o falante, verbalizando a sua consciência submete-se ao fluir de ideias e sentimentos” (p. 51-52). Nesse caso, essa escrita enfatiza a reflexão, pois os estudantes buscam exteriorizar conteúdos de suas mentes.

Por meio da escrita expressiva os aprendizes articulam suas crenças sobre a natureza do conhecimento matemático, bem como suas respostas afetivas a questões matemáticas em que estejam a debruçar-se. Constroem e negociam significados, bem como monitoram sua aprendizagem e sua afetividade e refletem sobre elas (POWELL, BAIRRAL; 2006, p. 52).

Aspectos da escrita transacional podem ser encontrados nos textos individuais em que o objetivo era elaborar uma síntese das ideias de uma unidade do material, ou ainda em algumas questões das avaliações presenciais em que se procurou verificar os conhecimentos das alunas-professoras. Enquanto elementos da escrita expressiva podem ser observados nas reflexões sobre a regência, na análise do caso de ensino ou nas narrativas, em que o intuito foi levá-las a refletir e expressar seus pensamentos.

Percebemos que essas atividades propostas estavam de acordo com os conteúdos trabalhados e mantinham uma estreita relação com o material impresso utilizado nas disciplinas, sendo fundamental para que elas conseguissem desenvolver as atividades e percebessem os objetivos propostos pelos professores.