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Ao descrevermos os caminhos percorridos para a produção de dados no desenvolvimento desta investigação, tivemos a preocupação de trazer o maior nível de detalhes possível, buscando que o leitor possa ter clareza das opções e decisões que foram tomadas e também das dificuldades e percalços que encontramos.

Sendo a Educação Matemática uma prática social, segundo Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 101), o trabalho de campo é importante, pois pode fornecer elementos “que nos permitem compreendê-la e, então, transformá-la. Além disso, são informações que nos levam a criar e desenvolver conhecimentos a partir da prática e nos impedem que inventemos explicações ou suposições irreais e totalmente imaginárias ou fantasmagóricas”.

Dessa forma, os resultados produzidos a partir dessas informações são passíveis de verificação pelo leitor que podem refazer o caminho percorrido pelo pesquisador. Mas isso apenas será possível se a descrição de como foi realizado o estudo for bem detalhado.

Inicialmente entramos em contato com a coordenação do curso a distância de Pedagogia da UFSCar solicitando autorização para realizar a pesquisa. A coordenadora à época foi muito solícita e autorizou previamente o desenvolvimento do estudo, assim como informou à coordenação da UAB-UFSCar. Para que a realização da investigação estivesse documentada formalmente sugeriu a submissão para a aprovação do projeto de pesquisa ao Comitê de Ética16 da Universidade. Depois de reunidos todos os documentos necessários e realizados os procedimentos, o projeto de pesquisa foi submetido à análise do referido Comitê.

É importante obter a autorização para realização da pesquisa e ter uma postura ética durante todo seu desenvolvimento, pois na perspectiva de Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 193), “o pesquisador invade mundos e vidas, vasculhando práticas sociais públicas ou privadas e, às vezes, a intimidade conceptual e emocional das pessoas” (grifo dos autores). Ainda para os autores, devido a nenhuma pesquisa e muito menos o pesquisador ser neutro, dependendo da forma como as informações são analisadas e divulgadas podem tanto refletirem positivamente para os informantes trazendo benefícios como causando prejuízos à imagem pessoal.

Fizemos um primeiro contato por e-mail com os estudantes que ingressaram em 2007 no curso de Pedagogia, verificando a possibilidade e a disponibilidade para participação na pesquisa e iniciamos a coleta de dados17 depois que recebemos os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE18– assinados pelos participantes. Nesse contato inicial, enviamos mensagem para os 152 estudantes que faziam parte da primeira turma do curso a distância de Pedagogia, que na época, já haviam cursado a primeira oferta da disciplina de Linguagens Matemática 1 (abril a maio de 2010) e estavam participando também da primeira oferta de Linguagens Matemática 2 (setembro a outubro de 2010). Recebemos o retorno de 61 estudantes que demonstraram interesse em participar da investigação.

16 Parecer nº: 027/2011 – CAAE: 0131.0.135.000-10 – Processo: 23112.003894/2010-03. 17 A coleta de dados aconteceu no período de abril a julho de 2011.

Obtivemos a aprovação do projeto de pesquisa e, em seguida, procedemos o envio via e-mail de questionários19 de caracterização para os participantes que haviam retornado a mensagem inicial. Nesse questionário constavam perguntas sobre a formação dos estudantes, sua atuação profissional, assim como, caso fosse docente, sobre a rede de ensino em que atuavam, carga horária e tempo de experiência. Também elaboramos o Termo de Compromisso para realização de pesquisas junto aos cursos da UAB-UFSCar solicitado pela Secretaria Geral de Educação a Distância – SeaD.

De acordo com Laville e Dionne (1999, p. 186), o questionário tem como característica um baixo retorno ao pesquisador, como constatamos em nossa investigação. No entanto, para tentar aumentar o percentual de respostas levamos em conta alguns aspectos apontados pelos autores, como a elaboração de “um questionário curto, atraente em sua apresentação, com questões simples e claras (o que não exclui obrigar o interrogado a refletir)”.

Recebemos o retorno de 32 questionários dos quais identificamos que 9 participantes já atuavam como docentes na Educação Infantil ou nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Escolhemos para participação nessa investigação apenas professoras20 que, portanto, já tinham o contato com a sala de aula em que ensinavam os conteúdos matemáticos e eram licenciandas no curso de Pedagogia porque tivemos como hipótese que os processos formativos possibilitados pelas disciplinas que envolveram conteúdos matemáticos podem contribuir para a aprendizagem dos conteúdos matemáticos e aprendizagem da docência a partir da reflexão teórica sobre suas práticas e, consequentemente, com o desenvolvimento profissional docente.

Elas escolheram o nome pelo qual seriam identificadas na pesquisa, sendo que algumas preferiram um nome fictício e outras optaram pelo seu próprio nome: Alice, Ana, Andréia, Branca, Kerusca, Lusmarina, Maria Clara, Renata e Su. Como já mencionado, nos referimos a elas como alunas-professoras, pois eram estudantes do curso e já atuavam como docentes.

19 Ver Apêndice C

20 Fizemos a opção, neste texto, pelo gênero feminino pelo fato de todas as participantes serem mulheres, bem como serem maioria na docência dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Também foram utilizadas como fonte de dados, as atividades virtuais e presenciais realizadas pelas alunas-professoras nas disciplinas de LM1, LM2, ES1 e ES2. Essas atividades proporcionaram uma riqueza e uma grande quantidade de informações.

Em alguns excertos dessas atividades, com o objetivo de mostrarmos o contexto e o movimento que aconteceu no AVA, apresentamos também trechos dos tutores e de outros alunos. Para mantermos o anonimato os identificamos como Tutor/Tutora e Aluno/Aluna e para distingui-los usamos um número, por exemplo: Tutor 1, Aluna 3.

Ainda, realizamos entrevistas com as alunas-professoras para esclarecer pontos obscuros das atividades realizadas no AVA, para compreendermos as percepções sobre as disciplinas e a influência desse ambiente virtual em suas aprendizagens.

Cinco entrevistas foram realizadas por meio do Messenger – MSN – e uma delas oralmente pelo Skype em que gravamos o áudio. Duas participantes solicitaram ter acesso ao roteiro antes da realização das entrevistas. Outras três alunas-professoras, por estarem muito atarefadas com estágio, trabalho de conclusão de curso e seu trabalho na escola, solicitaram responder as questões e depois enviaram ao pesquisador. Depois de inúmeras tentativas de contato, uma participante não nos concedeu a entrevista. Todas as entrevistas foram enviadas para as participantes para que fizessem as modificações que fossem necessárias. A entrevista realizada pelo Skype foi transcrita e enviada à aluna- professora. Devido à grande carga horária de trabalho e estudos das participantes foi inviável a realização de entrevistas pessoalmente.

Escolhemos a realização de entrevistas, pois esse instrumento é utilizado, segundo Manzini (2004, p. 4), quando se quer:

Buscar informações sobre opinião, concepções, expectativas, percepções sobre objetos ou fatos ou ainda para complementar informações sobre fatos ocorridos que não puderam ser observados pelo pesquisador, como acontecimentos históricos ou em pesquisa sobre história de vida, sempre lembrando que as informações coletadas são versões sobre fatos ou acontecimentos.

Além disso, as entrevistas de aprofundamento permitem “correções, esclarecimentos e adaptações que a tornam sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas” (LÜDKE; MENGA, 1986, p. 34). Além disso, segundo essas mesmas autoras, esse instrumento possibilita o aprofundamento de pontos levantados por outras técnicas, como o questionário ou as atividades realizadas nas disciplinas. Além disso, as entrevistas

semiestruturadas admitem a flexibilização do roteiro possibilitando acrescentar questões necessárias durante o desenvolvimento da mesma.

Ainda, Laville e Dione (1999) apontam que essa flexibilidade possibilita um contato mais íntimo do pesquisador com o entrevistado, permitindo a “exploração em profundidade de seus saberes, bem como de suas representações, de suas crenças e valores” (p. 189). Além disso, permite obter “informações muitas vezes mais ricas e fecundas, uma imagem mais próxima da complexidade das situações, fenômenos ou acontecimentos” (p. 190).

No que se refere à elaboração das perguntas nos preocupamos com os aspectos destacados por Manzini (2004, p. 6) que são fundamentais nesse processo:

Adequação da linguagem (vocabulário, jargão, clareza, precisão, uso de palavra não específica ou vaga); adequação da forma das perguntas (tamanho das perguntas, averiguação da dificuldade de elaboração mental por parte do entrevistado, impacto emocional de determinadas palavras, frases manipulativas, perguntas com múltipla finalidade) e sequência de apresentação das perguntas no roteiro (das mais fáceis de serem respondidas para as mais difíceis e utilização de blocos temáticos).

Assim como todo instrumento de coleta de dados, a realização de entrevistas via MSN e Skype tem suas vantagens e desvantagens. Nas realizadas pelo MSN, consideramos como desvantagem o tempo gasto nesse tipo de entrevista, pois a escrita das respostas demora mais do que se ela fosse oralmente e há a necessidade de se fazer a correção de erros de digitação.

Opdenakker (2006) discute as vantagens e desvantagens de entrevistas realizadas por diversos meios como face a face, por telefone, por MSN e por e-mail.

A entrevista realizada por Skype, sem a utilização do vídeo, tem as mesmas características quando se utiliza o telefone, que o autor denomina de comunicação síncrona no tempo e assíncrona no espaço, pois os indivíduos estão se comunicando em tempo quase real, mas em lugares diferentes. Nesse sentido, como nem sempre é possível ver o entrevistado não se pode capturar a linguagem corporal, mas ainda assim se observa a entonação da voz, as pausas, o silêncio.

No entanto, a distância entre os indivíduos pode deixar o entrevistado mais a vontade e suas respostas podem ser mais espontâneas. Além disso, o tempo de duração da entrevista é semelhante a realizada face a face e tem-se a opção de ser gravada.

O autor também denominou as entrevistas realizadas pelo MSN como comunicação síncrona no tempo e assíncrona no espaço. Nesse caso, não conseguimos capturar nenhuma forma de linguagem corporal como gestos, olhares, sentimentos e também entonação da voz, pausas, silêncio.

No MSN, esses aspectos podem ser substituídos, em parte, pelos emoticons, muito utilizados nessa nova forma de escrita que são sequências de caracteres, como por exemplo: ;-), :-$ e :-(; ou uma imagem, com a intenção de transmitir o estado psicológico, emotivo de quem os emprega, por meio de ícones ilustrativos de uma expressão facial. O nome emoticon deriva da contração em inglês emotion + icon. Consideramos que alguns sentimentos realmente podem ser substituídos como o riso (hehehe, rs), a escrita em letras maiúsculo que significa falar alto, podendo dar entonação, mas não é possível obter toda riqueza da entrevista face a face.

Ainda, temos que levar em conta a escrita nesse ambiente, pois as conversas são marcadas por muitas palavras abreviadas e expressões próprias, devido à velocidade característica dessa nova forma de expressão e à necessidade de explicitar sentimentos e emoções na forma escrita. Por exemplo, a palavra você é expressa apenas por vc e abraços, por abs, ou ainda com símbolos icnográficos – [ ]s.

De acordo com Opdenakker (2006), as entrevistas realizadas por MSN levam o dobro de tempo que a face a face, fato que observamos, pois a escrita das respostas demora mais do que se ela fosse oralmente e que pode levar ainda mais tempo caso o entrevistado não tenha habilidade para digitar com rapidez. Existe ainda a necessidade de se fazer a correção de erros de digitação.

Seu estudo também apontou a vantagem de não ter que fazer as transcrições das falas, momento que demanda grande esforço do pesquisador, visto que a entrevista é realizada por meio da escrita.

Não foi evidenciado por Opdenakker, mas percebemos outras vantagens desse tipo de entrevista. O pesquisador tem tempo para refletir sobre sua compreensão do que foi escrito e também sobre a resposta do entrevistado e fazer questões que não estavam inicialmente no roteiro. Isso também acontece quando a entrevista é realizada oralmente, mas o tempo de reflexão é bem menor, o que dá a sensação de que outras perguntas poderiam ter sido feitas apenas quando se ouve a gravação ou se faz a transcrição da entrevista. O mesmo acontece com o participante do estudo que tem algum tempo para pensar sobre sua resposta.

Outro aspecto interessante é que o entrevistado tem que se preocupar com que suas respostas estejam claras para que o entrevistador as compreendam e, em nosso caso, ele tem que se expressar matematicamente por meio da escrita o que não é um processo fácil e exige reflexão.

Apresentamos a seguir um quadro que auxilia o leitor a visualizar todos os instrumentos usados para a produção de dados, os objetivos e a ferramenta utilizada.

Destacamos que os excertos das alunas-professoras apresentados neste texto são identificados com o nome da participante, podendo haver trechos com mais de um nome, pois algumas atividades virtuais foram realizadas coletivamente. Ainda, apresentamos o tipo de atividade a que se refere o trecho, como: Fórum de discussão, Texto individual, wiki, Mapa de atividades, Avaliação presencial etc. Também trazemos ou as iniciais da disciplina – LM1, LM2, ES1, ES2 – ou entrevista. Além disso, as atividades realizadas nas disciplinas são identificadas da seguinte forma: AIII-1 se reportando a primeira atividade da unidade 3 do material impresso, ou ainda, AI-3 se referindo à terceira atividade da unidade 1.

Assim, se constituiu o corpus da pesquisa que para Bardin (1977, p. 122) “é um conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos. A sua constituição implica, muitas vezes, selecções e regras”.

Quadro 2: Instrumentos de coletas de dados, objetivos e ferramentas utilizadas

Instrumento Objetivo Ferramenta

Contato inicial Verificar a disponibilidade em participar da pesquisa Mensagem por e-mail

Questionário de caracterização

Obter informações sobre a formação, atuação profissional, rede de ensino em que atuavam,

carga horária e tempo de experiência docente. Mensagem por e-mail Atividades virtuais

realizadas nas disciplinas

Contato com a matemática e seu ensino e aprendizagem

Ambiente Virtual de Aprendizagem

Entrevista

Compreender pontos obscuros das atividades, as percepções sobre as disciplinas e as contribuições do ambiente virtual em suas

aprendizagens.

No quadro abaixo são apresentadas as etapas que constituíram o desenvolvimento da pesquisa no que concerne desde a autorização para sua realização até a coleta dos dados.