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3. O ESTADO ATUAL DA INOVAÇÃO EDUCACIONAL E A INOVAÇÃO EM

5.1 Contexto: a Escuela Pedagógica Experimental

5.1.5 A formação de professores para trabalhar na EPE

A formação de professores é outro aspecto muito interessante da EPE. Mesmo compreendendo que a formação universitária não prepara os professores para atuação em uma realidade tão complexa como a da EPE, os professores da escola relataram que a formação nas universidades colombianas é muito similar à encontrada nas universidades brasileiras, ou seja, prepara os futuros professores basicamente para a transmissão de conhecimentos. Então, nesta subseção, como parte importante do contexto escolar da EPE, apresento a formação desenvolvida pela escola para os professores que iniciam suas atividades docentes na escola.

A EPE, como uma instituição que pratica inovação educativa, propõe aos seus colaboradores e estudantes novas relações com o conhecimento num contexto educacional diferenciado. Para atuar nesse contexto torna-se necessário que os seus novos docentes construam novas concepções, diferentes das aprendidas na formação universitária e aprendam os valores e estratégias pedagógicas próprias da EPE.

O principal aspecto que domina todas as práticas dentro da EPE, inclusive a formação de professores, é o diálogo e a reflexão. Os professores dispõem de vários espaços para discutir

e refletir todos os aspectos das suas práticas pedagógicas e do ambiente educativo. São cinco os espaços institucionalizados para que se estabeleçam esses processos de reflexão e diálogo: as assessorias de área, as assessorias de ciclo, as assembleias de professores, o comitê de professores e as atividades de aula. Os trabalhos realizados nesses espaços se constituem em importantes iniciativas para a formação continuada dos professores, tanto dos mais antigos quanto os iniciantes na escola. Cada um desses espaços possui características específicas de trabalho.

Nas assessorias de área reúnem-se os professores que atuam em áreas específicas como Matemática, Ciências, Arte, Literatura, Ciências Sociais, etc. Estas assessorias se constituem em grupos de trabalho que tem sob sua responsabilidade a abordagem e discussão de temas como os fundamentos norteadores da escola, os planos anuais de trabalho dos professores da área, a discussão coletiva das suas ações em aula e estratégias para a solução dos diversos problemas encontrados pelos professores no desenvolvimento de seu trabalho com os alunos.

No espaço das assessorias também se discute e se orientam as apresentações de trabalhos resultantes das pesquisas dos professores realizadas na escola. Esses trabalhos podem ser apresentados em congressos, seminários, entre outros, e representam as posições assumidas pela EPE perante a sociedade. No espaço das assessorias, também são recebidos todos os pesquisadores e visitantes interessados em conhecer as atividades desenvolvidas na escola.

As assessorias de ciclo são compostas por professores que são coordenadores de grupos, ou seja, são os profissionais responsáveis por discutir as necessidades e as problemáticas inerentes aos alunos pertencentes a um determinado ciclo. Neste espaço, diferentemente das assessorias de área, os professores possuem distintas áreas de formação.

Outro espaço de formação e discussão muito importante são as assembleias de professores. Todas as sextas-feiras, à tarde, os professores se reúnem para tratar as diversas situações que ocorrem durante a semana no ambiente educativo da EPE. Neste espaço, são tratados os problemas dos estudantes, situações que não foram resolvidas pelas assessorias e problemáticas relacionadas com a comunidade escolar em geral. A dinâmica deste trabalho é enriquecida pela diversidade de experiências e pelas relações entre os professores, alunos e as diferentes áreas da escola. Este espaço se constitui num ambiente de aprendizagem rico, pois todos os debates produzidos levam em consideração uma atitude democrática frente aos desafios apresentados.

As atividades desenvolvidas nas aulas da EPE também se constituem num espaço de formação docente muito importante. Todo professor possui autonomia sobre a maneira de atuar nas suas aulas, porém ninguém trabalha sozinho. Ou seja, todos os profissionais desenvolvem

uma postura de colaboração entre si, com seus alunos e, muitas vezes, também com os familiares dos alunos. Os professores, tanto os iniciantes quanto os mais experientes na EPE, são incentivados a desenvolver suas atividades de aula com o apoio e auxílio dos seus colegas e de toda a comunidade envolvida. Em muitas ocasiões, quando um professor não sabe como desenvolver uma determinada aula, principalmente os professores novatos na escola, este é convidado e ensinado a desenvolver uma postura de diálogo e reflexão com seus alunos, colegas e as equipes das assessorias. Esses diálogos podem chegar até a equipe diretiva da escola e, com isto, se estabelece mais um espaço de formação para o professor.

No trabalho pedagógico diário na EPE, o professor estabelece uma rota para suas atividades com os alunos. Essas rotas de trabalho precisam fazer sentido e despertar o interesse dos alunos, mas nem sempre isso acontece e os professores mais novos apresentam maiores dificuldades para dominar esse processo. Então, a formação para a atuação nos diferentes ambientes com as atividades requer dos professores uma postura mais aberta e receptiva diante das possibilidades do trabalho.

O comitê de professores se constitui em mais um espaço importante para a formação de professores. Este comitê é eleito todos os anos pela coletividade de professores com a função de pensar a organização da escola, seus espaços, as práticas pedagógicas dos colegas e dos coletivos de professores. As considerações do comitê são levadas para discussão nas assembleias de professores para serem analisadas e colocadas em votação.

Além desses cinco espaços institucionais para o diálogo, reflexão e formação docente, a EPE incentiva que seus professores realizem pesquisa, propiciando uma atitude permanente de investigação. Existem dois tipos de grupos de pesquisa na escola. Alguns formados somente por professores da EPE e outros grupos compostos por professores da EPE, professores de outras escolas e professores e estudantes universitários. As pesquisas desenvolvidas por esses grupos abordam tanto o trabalho disciplinar quanto assuntos ligados à convivência escolar. Em todos os casos de pesquisa, a teorização emerge dos casos estudados, sendo este o princípio epistemológico norteador dos trabalhos desenvolvidos. Em 2017, a EPE possuía três grupos de pesquisa aprovados pelo Colciencias: “Convivencia”, “El aprendizaje y la enseñanza” e “Formación de maestros”.

Três elementos fundamentais são de grande importância para descrever e refletir sobre a formação docente na EPE:

O primeiro elemento: a formação de docentes em uma escola comprometida com a transformação da sociedade, aspecto do compromisso social e pertinência da EPE em nosso país; o segundo elemento: o ambiente educativo, aspecto relacionado com as interações que estabelecem os integrantes da comunidade escolar em torno do conhecimento e da formação das crianças e dos jovens da escola; o terceiro elemento:

as estratégias de formação de professores na escola, aspecto relacionado com as atividades de fundamentação dos docentes da escola (tradução nossa) (GALINDO; MALAGÓN; MORENO, 2017, p. 100).

Neste sentido, a formação docente da EPE envolve um processo que requer um docente disposto a romper com concepções antigas adquiridas na sua formação universitária. Este docente passa por um processo de formação, dentro da EPE, que lhe desafia a aprender a pensar e não a repetir informações, ou seja, a compreender uma escola e um mundo que não são simples, mas complexos. Neste processo, o professor passa a compreender que é possível decifrar a complexidade dos fenômenos sociais e naturais se, para isso, reconhecer que somente poderá se educar se entender que ele é o protagonista de sua própria aprendizagem no ambiente de construções coletivas como o da EPE. “É assim que a oportunidade de ser professor na EPE se converte em uma alternativa de formação” (tradução nossa) (GALINDO; MALAGÓN; MORENO, 2017, p. 101).

A partir do ambiente educativo da EPE, aberto e dinâmico, os professores aprendem que os estudantes podem atuar e modificar as diferentes propostas de atividades de aula. Neste ambiente, os professores possuem autonomia e aprendem a atuar como protagonistas da sua formação, de seus colegas e de seus alunos. A formação de professores na EPE conduz esses profissionais ao entendimento que suas propostas de atividades fazem parte de um todo que é complexo e repleto de saberes e práticas que problematizam o conhecimento e o contexto onde ele é construído.

No ambiente educativo da EPE, todo professor é levado à compreensão de que o aluno possui muito conhecimento a respeito de qualquer assunto desenvolvido em aula. O aluno tem conhecimentos prévios e uma bagagem cognitiva que sempre é levada em conta na abordagem das questões que são trabalhadas em aula. Essa característica fundamenta o aspecto da confiança, que se constitui num aspecto fundamental da convivência no ambiente escolar da EPE

Como mais um elemento importante para a formação docente na EPE, estão as atividades de fundamentação docente. Tratam-se de seminários que ocorrem fora da jornada de trabalho e, geralmente, nas dependências da Corporación Escuela Pedagógica Experimental, em Bogotá. Nesses seminários são realizadas leituras de documentos produzidos na EPE e tem o objetivo de, a partir dos princípios defendidos pela escola e das experiências de seus professores mais antigos, construir uma fundamentação teórica que dê suporte para as práticas dialogadas e reflexivas dos professores. Essa atividade é orientada aos professores que iniciam sua atuação na escola.

Na perspectiva de formação docente desenvolvida na EPE, a prática docente diária é o espaço mais importante para a formação de seus profissionais, principalmente para os novatos. Ou seja, a experiência cotidiana com os alunos e o diálogo com os colegas são as principais ferramentas para a formação docente.

O espaço da sala de aula se constitui, para o professor da EPE, num cenário de formação na qual interatua com os estudantes num ambiente de trabalho em que se assumem as vivências do conhecimento, embora o professor possa propor atividades planejadas previamente, o projeto proposto é construído com os estudantes através de equipes de trabalho (tradução nossa) (GALINDO; MALAGÓN; MORENO, 2017, p. 104).

Outra frente para formação e aperfeiçoamento docente que se pode observar na EPE é uma parceria institucional com a universidade brasileira Universidade do Vale do Taquari, de Lajeado, no estado do Rio Grande do Sul. Esse convênio foi firmado no ano de 2012 com um caráter de reciprocidade com a finalidade de promover um intercâmbio entre os estudantes e professores da universidade e os professores da EPE. Além das visitas mútuas realizadas pelos profissionais das instituições, existe uma reunião mensal entre esses professores, via Skype, para discussão das ideias sobre textos lidos previamente.

Com isto, entende-se que a formação de professores na EPE é permanente e desenvolvida em diferentes perspectivas. Porém, o profissional é responsável pela sua formação, desde a interação com os colegas até as atividades com os alunos, passando pela investigação da própria prática pedagógica. Todas as atividades que ocorrem na escola e na Corporación Escuela Pedagógica Experimental se constituem em espaços formativos onde os professores, tanto os mais experientes quanto os mais novos, podem trocar vivências e discutir soluções de maneira coletiva.

Na próxima subseção, apresento uma entrevista com um dos fundadores da EPE, o Professor Dino Segura.