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Observação do grupo de nível 3 – professora Paola

3. O ESTADO ATUAL DA INOVAÇÃO EDUCACIONAL E A INOVAÇÃO EM

5.2 Relato das observações das aulas de Matemática

5.2.1 Observação do grupo de nível 3 – professora Paola

O grupo do nível 3 foi acompanhado durante uma semana de trabalhos com a Matemática. Esse grupo era composto de quinze alunos.

No início da observação dessa turma, a professora relatou que há alguns dias antes, os alunos demonstraram muito interesse por espadas e solicitaram estudar esse assunto. Então, a professora elaborou um plano de trabalho procurando as possíveis relações desse assunto com a Matemática e outras áreas do conhecimento, principalmente a geometria, números e medidas que se relacionaram com atitude investigativa, habilidades manuais, trabalho em grupo e desenho. O trabalho com os alunos, segundo a professora, iniciou com pesquisa na internet e na biblioteca sobre as espadas, seus tipos e modelos, a época de surgimento e a relação desses modelos com diferentes culturas, a composição metálica das espadas e seus tamanhos. Na sequência do trabalho, os alunos foram desafiados a construírem suas próprias espadas em madeira. Neste momento iniciei a observação da turma.

A atividade de construção das espadas teve por objetivo desenvolver as possíveis relações Matemáticas presentes nesse processo. Para isso, a professora solicitou aos alunos que desenhassem a sua espada preferida. Após a professora forneceu aos alunos uma fita métrica e pediu que cada um estabelecesse o tamanho real da sua futura espada de madeira. Porém, a professora conduzia os trabalhos sempre questionando e os alunos retribuíam com mais questionamentos, num processo dialógico muito interessante.

Ao entregar a fita métrica para os alunos, a professora lhes perguntou se sabiam para que servia aquela fita. Todos responderam que servia para medir. Então, alguns alunos observaram que suas fitas não continham o número zero e logo questionaram a professora se deveriam começar suas medições pelo número 1. A atividade foi parada para resolver essa questão. Rapidamente os alunos chegaram à conclusão de que se tratava apenas de um defeito da fita métrica e que suas medições deveriam começar sempre do número zero, pois em todas

as fitas existia um espaço de tamanho igual a 1 centímetro antes da marcação do número 1. Logo, ali deveria ser o número zero.

Feito os desenhos das espadas e estabelecidos os respectivos tamanhos, todos se deslocaram até a marcenaria para escolher a sua madeira preferida para a construção das espadas. Logo após a escolha da madeira, que foi cortada pelo marceneiro da EPE no tamanho que cada aluno definiu, todos voltaram para a sala de aula para reproduzir na madeira o desenho da espada que foi feito no papel. Era o projeto tomando forma real. Então todos desenharam suas espadas na madeira e a professora começou a realizar o corte no formato da espada desenhada individualmente. A professora utilizou uma serra de mão para realizar o corte da madeira.

Observando a atividade de construção da espada, percebi um grande interesse dos alunos no trabalho. A professora Paola afirmava que esse grande interesse ocorreu porque a atividade foi desenvolvida a partir das ideias dos alunos. A professora assume o papel de mediadora entre os alunos e o conhecimento que emerge da ideia proposta. A professora sempre dava muita atenção a todas as falas de seus alunos estando muito atenta aos seus anseios.

Tudo que acontecia nas aulas era sempre negociado e qualquer questão que surge era debatida pelo grupo. O ambiente era muito democrático e os alunos dispunham de todo material necessário para o desenvolvimento de suas ideias. A aula não se restringia ao ambiente da sala de aula, ou seja, as atividades propostas pelos alunos e pela professora podiam ocorrer em qualquer ambiente da escola.

O conhecimento envolvido na construção da espada não estava dissociado nas atividades desenvolvidas. Ou seja, a atividade envolvia geometria, medidas, projeto, arte, trabalhos manuais e pesquisa, porém, nenhum conhecimento foi trabalhado de maneira isolada, mas integrando o todo que é a construção da atividade. Era como se cada conhecimento estivesse misturado com as emoções de cada integrante do grupo. Não era possível separar os conhecimentos e saberes envolvidos, ou seja, não era possível isolar a Matemática do todo que era a espada. Fica evidente que a Matemática emergiu durante as atividades como um instrumento que auxiliou na compreensão do todo. A espada remetia a conhecimento científico, emoções várias, história, ancestralidade, esforço físico e muito diálogo. O conhecimento e a aprendizagem estavam presentes em todas as atividades e movimentos realizados nessa aula. Era muito mais do que uma aula, era uma interação humana muito intensa.

Na EPE, nesse nível de idade, 7 anos, nem todas as atividades partem das perguntas dos alunos. Segundo a professora, se utiliza muito uma didática exploratória, ou seja, aos alunos interessa mais explorar objetos e fenômenos e as perguntas emergem durante a exploração. Essa

didática de exploração e descoberta interessa muito aos alunos do nível 3, pois eles são muito curiosos e toda proposta que desafia a sua curiosidade é recebida com muito entusiasmo pela turma.

Na continuação da observação, no dia seguinte, a professora propôs que os alunos conhecessem e explorassem as potencialidades criativas de umas barras coloridas, muito parecidas com material dourado, chamadas de regletas de cuicenaire7, como mostra a figura 1,

a seguir. As crianças repartiram as peças entre si e começaram a manuseá-las.

Figura 1: “Regletas de cuicenaire”

Nesta aula, a professora desafiou os alunos a criarem objetos e situações para, com isto, desenvolver o raciocínio, buscando regularidades nas suas criações. A atividade se mostrou muito interessante porque as crianças não conheciam esse material, mas demonstravam naturalidade ao criar com essas peças. Eles percebiam a diversidade das cores, construíam sequências e exploravam naturalmente as diversas possibilidades de combinação do material. Colocando as peças dispostas de maneira crescente ou decrescente podia-se pressupor que a sua imaginação se desenvolvia de maneira intensa. Eles construíam escadas, estabeleciam contagens, escalas musicais, casas, pontes e um grupo brincou de comprar e vender as regletas de cuicenaire. Durante a atividade, a professora incentivava outras construções e nesse processo, segundo a professora, se desenvolve a criatividade e o raciocínio lógico nos alunos. A professora sempre valorizava todas as criações dos alunos.

No último dia de observação desse grupo, a professora apresentou um origami para a turma, que fez uma festa (muitos gritos) demonstrando seu entusiasmo com a atividade que viria. A professora mostrou uma pequena peça de origami e lhes perguntou o que parecia. Todos opinaram com muito entusiasmo. A atividade do dia foi a construção do modelo apresentado pela professora.

A atividade não era fácil, envolvia um certo grau de dificuldade que exigiu da professora muita paciência. No primeiro momento a professora auxiliou os alunos na construção do origami e depois solicitou que cada um realizasse a construção sozinho. Ao concluir a construção do modelo proposto pela professora, alguns alunos demonstraram sua criatividade e começaram a alterar o modelo inicialmente proposto, o que foi incentivado pela professora. A partir da construção de outros modelos, a professora começou a perguntar sobre as figuras geométricas que apareciam nos origamis. De pronto, muitos alunos identificaram triângulos, quadrados e retângulos e começaram a colorir as figuras. A professora explicou que essa atividade teve a função de desenvolver a criatividade, o raciocínio lógico e despertar o gosto por figuras geométricas. Ela afirmou que o gosto pela Matemática se desenvolve nas séries iniciais por meio de atividades lúdicas como jogos, brincadeiras e muito estímulo ao raciocínio lógico e a criatividade. No final da atividade os alunos colaram o origami no caderno e lhe atribuíram um nome.

Nesse nível de trabalho, o nível 3, os alunos estão em pleno processo de alfabetização, tanto matemático quanto de outros conhecimentos. O processo de alfabetização é desenvolvido com muita naturalidade nas atividades de aula, pois vem acompanhado do desenvolvimento do raciocínio lógico e da criatividade.

A professora acompanhava o desenvolvimento dos seus alunos de maneira muito rigorosa. Esse acompanhamento era realizado no momento em que os alunos colocavam no caderno as suas produções do dia. No caderno de aula, os alunos escreviam os nomes das atividades, realizavam contas, escreviam textos, faziam desenhos e colavam algumas de suas produções em papel. Alguns alunos ainda apresentavam algumas dificuldades como escrever números e letras de maneira incorreta e não realizar algumas operações aritméticas básicas. Observando isso, a professora preparava atividades adequadas para o desenvolvimento dos alunos. O processo era permeado por atividades que buscavam o desenvolvimento pleno de toda a turma.

No final da semana de observações, pedi para que a professora falasse livremente sobre seu trabalho na EPE. Essa conversa foi traduzida pelo autor e está transcrita no apêndice 4 e é analisada no capítulo 8.

Na próxima subseção apresento a observação realizada na turma de nível 8, com a professora Diana.