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Pesquisador: Professor Dino, como surgiu a EPE? O Senhor foi o idealizador da EPE? Dino: Não, não, não....(risos)... Existem pessoas que pensam que a EPE é a realização de uma escola que estava primeiro na cabeça. A escola é o mesmo que quando tu semeias uma árvore. Tu semeias uma árvore e tu não sabes quando vai sair um ramo, outro ramo, uma folha, outra folha, tens que dar-lhe água, terra, e a árvore será o que terá que ser. Não o que tu queres. Nunca a árvore será o que tu queres que ela seja. Por isso, não podemos prever o que será o estudante que sai da EPE, ele será o que tem que ser e não o que queremos que seja. Por isso lutamos muito contra a homogeneização.

Pesquisador: Por isso é uma luta constante.

Dino: Inclusive a mesma sociedade de consumo tende a homogeneização e é muito complicado manter as crianças na dinâmica de serem elas próprias e não de ser o que a sociedade de consumo quer que elas sejam. É uma luta permanente. Por isso tem que ver não somente com as modas, com o jeito de vestir-se, porém o importante é o que eles querem ser no futuro. Então, esse compromisso que nós temos por criar condições para que eles cheguem a ser, é algo que viemos construindo pouco a pouco e que não estava em nossa cabeça no princípio quando se iniciou a EPE.

Então, a EPE de hoje é uma escola distinta do que era a EPE a dez anos atrás. Não havia a Economia Azul, por exemplo. Isso é uma coisa nova. Também a escola mudou um pouco com a minha saída da escola. Já fazem quatro anos que eu saí da escola. E era uma espécie de desafio de ver como iria funcionar a escola sem a minha presença. E me parece que as coisas funcionaram. Tu a encontraste funcionando bem, não é? E tu estás contente com o que encontraste? Te surpreendestes?

Pesquisador: Sim, estou muito surpreso com o que encontrei e sinto que estou mudando como profissional e como pessoa ao conviver com o ambiente EPE.

Dino: Então te digo, a escola não é a concretização de uma teoria ou de um projeto que estava na cabeça de alguém. É um projeto que foi crescendo, que foi enriquecendo, que foi mudando permanentemente. E claro, nós não estudamos apenas Educação, mas a teoria da complexidade, as ideias de Humberto Maturana, as ideias de Heinz von Foerster, um dos criadores da cibernética. As ideias dessas pessoas, nós estudamos porque eles nos dão ideias, mais do que os educadores (risos).

Pesquisador: (risos)... Sim, eu lhe compreendo.

Dino: Então, a EPE seguirá sendo a EPE e não o que alguém queira que ela seja. Ela será ela própria, o que sua dinâmica queira que ela seja. Assim, posso afirmar seguramente

que existe uma amizade entre as crianças, os pais, a sociedade e a escola. Porém, se nós queremos que a escola transforme a sociedade, nós acreditamos que uma das metas da escola é transformar a sociedade. E nós acreditamos que fazendo o que estamos fazendo estamos alcançando que os alunos pensem de uma maneira diferente e que, no futuro, transformem a sociedade. Não sei, penso que esta é uma ilusão que temos (risos).

Pesquisador: (risos)...é uma utopia. Eu tenho pensado que a EPE é uma utopia aplicada...(risos)

Dino: Uma utopia aplicada?...(risos)...sim, sim, tem razão....(risos).

Pesquisador: Você poderia falar um pouco sobre a inovação realizada na EPE? como esse processo de inovação se mantém ao longo do tempo nas atividades cotidianas da EPE? Eu tenho lido que inovação, de uma maneira ou de outra, é um processo que muda, ou uma nova maneira de fazer uma mesma coisa. Mas como manter esse processo que muda a cada dia?

Dino: Nós diferenciamos a inovação da alternatividade. Dizemos que a inovação objetiva fazer o mesmo de uma maneira distinta e a alternatividade se manifesta fazendo outra coisa. A escola alternativa faz coisas diferentes todos os dias e a escola inovadora faz as mesmas coisas de maneiras distintas. Então, nós na EPE, não queremos tanto ser inovadores no sentido de fazer o mesmo de uma maneira distinta, mas queremos ser alternativos e fazer outras coisas, coisas distintas.

Pesquisador: sim, entendi. Isso é muito importante.

Dino: Agora, a escola tem 40 anos. Nesses 40 anos nós dizemos que estamos contra as políticas educativas estatais. Não queremos que o governo exerça seu poder sobre a nossa escola. Dizemos que não faremos o que eles querem. Por exemplo, não teremos manual de convivência, não teremos avaliação, e não teremos todas essas coisas. E o governo nos tem suportado...(risos)... Sim, porque em outros casos eles fecham as escolas e, conosco, já não podem mais nos fechar. Eles não se atrevem a tocar-nos porque a EPE já é uma instituição que tem raízes com repercussão nacional e internacional. Na EPE, já produzimos livros, já produzimos muitos pontos de vista, ou seja, é um chamado permanente ao sistema dizendo que as coisas não estão bem na Educação. Gostaríamos de fazer mais coisas, porém não temos mãos, não temos como fazer.

Quero te mostrar uma coisa. Vou pegar meu computador. Pesquisador: sim.

Dino: Esta é a página da Corporación EPE (http://www.corporacionepe.org). Esta é a primeira página onde temos algo relacionado com o que estamos tratando de promover, como

o que é Educação alternativa em geral. Aqui temos uma conferência que participamos a pouco tempo atrás, sobre cientistas colombianos que estamos muito interessados em que todas as pessoas conheçam. Que na Colômbia existem cientistas e que eles têm feito coisas importantes. Por exemplo, este Senhor, Jaime Castillo Zapata, com sua equipe de trabalho, inventou uma variedade de café resistente a doença da ferrugem. Então, em todo o mundo estão começando a produzir essa variedade de café, descoberta na Colômbia por esse Senhor.

Atualmente temos essa nova seção na página da Corporación, que se chama “Educaciones alternativas” onde queremos que através desse espaço se possa projetar várias experiências de alternatividade. Então, nós queremos que nossa página se converta num ponto de referência sobre o que se está fazendo na Colômbia.

Pesquisador: Sim, ideia muito interessante.

Dino: A algum tempo atrás nós pensávamos que o país deveria ser autossustentável, ter uma indústria muito forte e substituir as importações pelos nossos produtos. Mas, quando em 1994 se planejou a abertura econômica, nesse momento nós nos resignamos a não ter indústria própria, mas entrar e competir no mercado com as fronteiras abertas. Então, nossa indústria se acabou. Então, o que é importante na Colômbia são os recursos naturais para exportação e é isso que leva a não ter nenhuma sustentabilidade. E se no futuro esses recursos acabarem? Que faremos?

Então, nós estamos planejando, e isso é uma luta de muitas pessoas, que temos que voltar a dar importância ao conhecimento, dar importância a pesquisa, dar importância aos recursos não renováveis ou os renováveis. Como as plantas, as sementeiras, os rios, que são renováveis e os não renováveis como o petróleo ou, por exemplo, as minas. Então, por isso, é muito importante que comecemos a observar e pensar sobre o conhecimento.

Nesta página, aqui neste espaço, está a parte editorial, onde temos livros que se pode baixar diretamente. Todos esses materiais são públicos. Esse é o trabalho editorial da EPE.

Pesquisador: Se me permites, vou divulgar isso no Brasil. Dino: Claro que sim. Muito bom.

Essa é outra página (http://www.roboticaescolar.com).

Pesquisador: Os alunos da EPE vêm aqui para trabalhar com os materiais de robótica? Dino: Sim, mas na escola também existem e se utilizam esses materiais.

Pesquisador: Esses materiais são oferecidos para outras escolas?

Dino: Sim, oferecemos os materiais e damos formação para os professores aprenderem a usá-los. Porém, para atender as necessidades de criação dos alunos, tivemos que crias peças

próprias, diferentes dos materiais comerciais disponíveis no mercado, como vigas, rodas, pratos, etc. Todo esse material está patenteado em Barcelona, na Suíça e na Colômbia.

Veja, esta é uma catapulta. Aqui nos dedicamos a construir protótipos com essas peças. Esses protótipos, construídos por nós, ilustram princípios fundamentais, digamos, da tecnologia, desse tipo de tecnologia. Por exemplo, temos máquinas inspiradas na mecânica de Newton, na termodinâmica. Depois máquinas inspiradas na autorregulação, na retroalimentação, no controle, ou seja, na cibernética. Esse é o segundo nível. E depois umas máquinas que são capazes de transformar as variáveis físicas em variáveis elétricas para mover isto. Então um som se converte num pulso elétrico. Por exemplo, a máquina chega a uma linha e percebe quando está sobre o escuro ou sobre o branco, e dependendo disso, vai para um lado ou vai para outro. Essas já são máquinas que tomam decisões. Tem um neurônio. Então temos três níveis: o nível das máquinas newtonianas, o nível das máquinas que tomam decisões e o nível das máquinas que percebem os diferentes tipos de variáveis externas. E esses três tipos de níveis convertemos em diferentes tipos de protótipos que demonstram aos alunos o que se pode fazer com o material.