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3. O ESTADO ATUAL DA INOVAÇÃO EDUCACIONAL E A INOVAÇÃO EM

5.1 Contexto: a Escuela Pedagógica Experimental

5.1.4 O trabalho pedagógico por projetos: a economia azul

As atividades realizadas na EPE não se restringem à sala de aula. A escola tem muitas atividades que são desenvolvidas em muitos ambientes. Esses ambientes podem ser a sala de aula, mas também podem ser o ambiente próximo como o bosque, o córrego, os canteiros onde se produzem alimentos e plantas medicinais, a criação de galinhas, o pátio da escola ou a vizinhança externa a escola, entre outros.

Durante minhas observações sobre o ambiente e o contexto das atividades desenvolvidas na EPE, me deparei com um projeto que me atraiu muito, o projeto denominado Economia Azul. Este projeto é um espaço de trabalho coletivo desenvolvido em diversos ambientes por alunos, professores e pessoas da comunidade, para a reflexão permanente e atuação em problemas ambientais e sociopolíticos de interesse dos envolvidos.

De acordo com Díaz et al (2017), o trabalho na Economia Azul busca um ambiente de reflexão permanente como caminho para o desenvolvimento dos projetos. Nesta perspectiva, os projetos são construídos respondendo questionamentos, como por exemplo, sobre as problemáticas ambientais identificadas pelos alunos dentro e fora da escola, sobre a construção de propostas de trabalho articuladas com o contexto da escola e sobre a construção de coletivos de trabalho que envolvam a todos, integrantes da escola e da comunidade do entorno.

A proposta pedagógica da EPE é fundamentada na formação de um cidadão crítico e comprometido com o contexto em que vive. Por isso, consolidar dinâmicas de trabalho como a Economia Azul significa, para a instituição, formar cidadãos dispostos a construir e viver num ambiente sustentável. Desta maneira, no ano de 2012, fundamentado nas ideias do autor bélga Gunter Pauli (2011), que lança a ideia da Economia Azul, a EPE inicia um trabalho em conjunto entre alunos, professores, familiares e pessoas da comunidade. As discussões conduziram ao desenvolvimento de dois projetos que questionavam as dinâmicas de consumo existentes na comunidade. Um dos projetos abordava questões que envolviam o tratamento de resíduos

sólidos gerados na escola e o outro estudava questões que envolviam o desenvolvimento de lanches mais saudáveis para os alunos.

No ano seguinte, 2013, em função do sucesso obtido com os dois projetos iniciais, surgiram mais nove projetos, motivando ainda mais os alunos para uma compreensão mais crítica do meio em que viviam. Esses projetos despertavam a criatividade e a curiosidade dos alunos e foram denominados: “plantas ornamentais e medicinais, aproveitamento da água da chuva, recuperação do arvoredo, criação de minhocas, tratamento de resíduos sólidos, produção de geleias, tecidos e teares, construção de brinquedos e recuperação do córrego” (tradução nossa) (SEGURA; GARCÍA, 2014, p. 05).

Nesta perspectiva, a proposta educativa da Escola Pedagógica Experimental, no campo do ambiental, retoma as ideias de Gunter Pauli (2011), em seu livro sobre Economia Azul, quando menciona a importância de transformar a visão tradicional da educação (até agora centrada nos conteúdos); o que contribuiu muito pouco na resolução de problemas locais. Assim, de acordo com Pauli (2011, p.17), "talvez a maior liberdade que podemos oferecer aos nossos filhos é permitir que eles pensem de forma diferente e, o mais importante, agir de forma diferente (...) se ensinarmos as crianças apenas o que sabemos, eles nunca poderão fazer melhor do que nós" (tradução nossa) (SEGURA; GARCÍA, 2014, p. 02).

Nesta perspectiva, os projetos da Economia Azul da EPE são desenvolvidos dentro da proposta pedagógica das ATA’s (Actividad Totalidad Abiertas) e se propõem a uma construção cognitiva e afetiva fundamentada no interesse do aluno pela atividade. Esta forma de trabalho permite que os problemas presentes no cotidiano do contexto escolar se transformem no ponto de partida para as atividades desenvolvidas no projeto. Conforme Díaz et al (2017), o importante nessa dinâmica de trabalho é a construção de ambientes educativos que permitam a construção de conhecimento e o desenvolvimento de um aluno comprometido com a vida em uma sociedade ambientalmente sustentável.

A Economia Azul, apesar de ser uma proposta de reflexão e atuação nas questões ambientais, também desenvolve propostas de empreendedorismo sustentável e, com isso, busca a transformação do atual modelo econômico. As atividades dos projetos buscam estudar modos de vida sustentáveis que possam satisfazer as necessidades de todas as pessoas, ampliando o conhecimento sobre os sistemas naturais. Um exemplo disso é a mudança de concepção e de atitude frente ao conceito de sucata que pode ser compreendido como matéria prima para a produção de muitas coisas.

A proposta pedagógica da Economia Azul reconhece os diferentes saberes presentes na comunidade, tanto da comunidade escolar quanto da experiência de vida das pessoas do entorno. A EPE, além dos seus docentes formados em instituições de ensino superior, conta também com especialistas que não possuem uma formação universitária, mas possuem

conhecimentos e saberes construídos em suas vivências. São professores oriundos de comunidades indígenas, líderes comunitários, camponeses, artesãos, entre outros, que atuam principalmente nos projetos da Economia Azul.

Esta proposta metodológica de reconhecimento dos saberes tem permitido, ao longo da experiência da Economia Azul, contar com o aporte significativo de algumas destas pessoas as quais se tem denominado especialistas, na medida em que são elas que possuem e tem construído o conhecimento vivencial necessário para solucionar as diferentes problemáticas ambientais as quais nos vemos enfrentando em nossa cotidianidade (tradução nossa) (DÍAZ et al, 2017, p. 03).

Os projetos desenvolvidos na economia azul da EPE valorizam o conhecimento, desenvolve propostas de atividades econômicas para a diminuição da pobreza, incentiva o trabalho colaborativo e propõe uma alternativa viável para enfrentar os problemas gerados pelas perspectivas neoliberais da globalização.

Atualmente existem 15 projetos em andamento na Economia Azul. O Apêndice 1 apresenta os projetos EPE de Economia Azul atuantes em 2017.

Esta subseção apresentou os projetos da Economia Azul, cuja perspectiva de trabalho é fundamentada em uma abordagem pedagógica que envolve os sujeitos em diferentes projetos. Esses projetos são oportunidades para que os alunos tenham um maior contato com a realidade da vida em sociedade, em uma perspectiva de criticidade e desenvolvimento das suas potencialidades. A próxima seção aborda a formação de professores para o trabalho na EPE.