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3. O ESTADO ATUAL DA INOVAÇÃO EDUCACIONAL E A INOVAÇÃO EM

5.1 Contexto: a Escuela Pedagógica Experimental

5.1.1 História e princípios norteadores

A EPE, segundo o seu projeto educativo institucional (PEI-EPE, 2010), foi fundada no ano de 1977, com 16 alunos, sendo quase todos filhos dos fundadores da escola. A escola iniciou suas atividades com a proposta de se tornar uma instituição de ensino diferenciada das demais instituições colombianas. Em 1988, a escola já contava com 250 alunos e, naquele ano, formou sua primeira turma, correspondente ao Ensino Médio, no Brasil. Os seus fundadores pretendiam construir uma instituição que oferecesse Educação de qualidade com um projeto educativo comprometido com a busca da tolerância, da autonomia, da liberdade, da confiança e da resolução de conflitos de maneira não violenta. A EPE, segundo Pulido e Rojas (2014), tem sido reconhecida nacional e internacionalmente como uma instituição inovadora que promove a transformação cultural da sociedade.

Os fundadores da EPE acreditavam que os alunos podiam desenvolver suas capacidades emocionais, físicas e intelectuais plenamente e que a escola tradicional não atendia essas necessidades. Eles queriam fugir do “ambiente de imposição e violência que reinava nas escolas oficiais e privadas” (tradução nossa) (PEI-EPE, 2010, p. 2). Esse ambiente de exigências acadêmicas das escolas oficiais era gerador de angústias nas crianças e aumentava as diferenças entre todos.

Estas mesmas considerações são válidas hoje. Entretanto, as práticas e as preocupações têm evoluído; por exemplo, nos primeiros anos de experiências na EPE, foi possível reconhecer e valorizar a importância da arte, a tal ponto que já a partir de 1981, a arte se constituiu na área de maior intensidade em todos os níveis de escolaridade, hoje se está incursionando nos sistemas dinâmicos e na Teoria da Complexidade (tradução nossa) (PEI-EPE, 2010, p. 2).

Ao desenvolver o trabalho diário, os professores que atuavam na EPE nos anos de 1980 perceberam que deveriam realizar pesquisas, pois as inovações pedagógicas não surgiriam de maneira espontânea a partir de boas intenções dos envolvidos ou de ideias apoiadas no senso comum. Eles reconheceram a necessidade de refletir sobre sua prática e começaram a realizar pesquisas e divulgar os resultados para a sociedade.

Apesar das críticas e das desconfianças de que uma instituição de ensino elementar não teria capacidade para desenvolver projetos de pesquisa, em meados da década de 80, o Colciencias4 aprovou o primeiro projeto de pesquisa da escola. O projeto aprovado tratava de

investigar a “possibilidade de organizar a vida escolar em torno de projetos de aula (ou de áreas) em que se atribuía a mesma importância para as investigações dos estudantes e dos professores” (tradução nossa) (PEI-EPE, 2010, p. 3).

Com isto, a proposta desenvolvida pela EPE foi se consolidando. A escola assumiu a sua perspectiva de instituição que desenvolve pesquisa, participa de eventos e divulga seu trabalho por meio de artigos científicos. Ainda na década de 80, foi constituída a “Corporación5

Escuela Pedagógica Experimental”, instituição sem fins lucrativos que, além de ser a mantenedora da EPE e desenvolver pesquisa, trabalha com formação continuada de professores, publicações de documentos e artigos científicos e organização de eventos ligados às propostas desenvolvidas no âmbito da EPE como instituição de inovação educativa (PEI-EPE, 2010).

4 Departamento Administrativo de Ciência, Tecnologia e Inovação – Colciencias – é a entidade governamental

responsável pela promoção de políticas públicas para promover a ciência, tecnologia e inovação na Colômbia. Fonte: http://www.colciencias.gov.co/colciencias/sobre_colciencias/funciones

De acordo com o seu projeto educativo institucional, a escola tem como objetivo construir uma “concepção educativa” diferenciada da praticada pelas outras escolas do país (tradução nossa) (PEI-EPE, 2010 p. 06). Essa concepção educativa orienta a atuação da instituição a partir de três aspectos fundamentais. O primeiro aspecto busca formar seus alunos para atuarem em uma sociedade democrática de maneira crítica e consciente. O segundo orienta para que os alunos formados na EPE defendam uma cultura científica fundamentada em valores humanos próprios da atividade científica. E o terceiro aspecto orienta uma formação para que os alunos sejam capazes de valorizar a construção coletiva de soluções, tanto nos projetos escolares quanto no âmbito da realização pessoal.

A EPE tem como princípio norteador que “o compromisso da escola é inventar alternativas de organização social que apontem para a concepção de uma sociedade mais justa e equitativa, cuja organização esteja inspirada no compromisso com os indivíduos” (tradução nossa) (PEI-EPE, 2010, p. 07). Ainda neste documento, o PEI-EPE (2010), a escola afirma que não pretende conservar nem multiplicar as características da sociedade colombiana, mas propor constantemente um novo modelo de escola que promova outra forma de relação mais justa e equilibrada entre as pessoas e entre elas e o meio em que vivem.

Segundo o PEI-EPE (2010), a escola é uma instituição que procura reconhecer a diversidade presente em cada indivíduo que integra a sua coletividade, com suas características e potencialidades. Na EPE, os indivíduos são incentivados a trabalhar em equipe para que aprendam a transformar suas realidades num contexto coletivo e democrático.

A escola, a partir de seus princípios norteadores, se fundamenta em três pilares conceituais, que são: confiança, convivência e conhecimento. Estes pilares proporcionam espaços de formação que integram o estudante com seu entorno cultural e social. E, neste sentido, foi possível entender, a partir das observações e no convívio com os professores, que a construção do conhecimento nesse contexto de confiança e de convivência coletiva ocorre por meio de investigação, experimentação e diálogo. O estudante desenvolve a capacidade de construção de saberes alicerçada no trabalho coletivo para investigar e experimentar questões que lhe causam curiosidade, desenvolvendo assim, sua capacidade de criação e inovação, experimentando um conhecimento com significado real para ele.

Conforme Pulido (2015), a EPE trabalha o conhecimento a partir de um entendimento construtivista e faz uma distinção muito forte entre conhecimento construído pelo coletivo e informação transmitida aos alunos. Para fortalecer essa distinção, a escola promove espaços de formação onde se pode discutir e refletir sobre estes e outros processos ligados com a aprendizagem e as práticas pedagógicas.

Na EPE, segundo Pulido (2015), o ambiente escolar é “não normativo, porém negociado” (tradução nossa) (p. 11). O ambiente deve ser importante na formação do estudante para a vida em sociedade e que o conhecimento construído na escola tenha utilidade e seja importante na constituição de um sujeito crítico e consciente de suas potencialidades.

Do ponto de vista pedagógico, a EPE assume a investigação em aula como a sua principal estratégia pedagógica. Esse processo de investigação ocorre por meio de projetos a partir de temas de interesse dos alunos e dos professores que, por sua vez, não se posicionam como detentores do conhecimento, mas que buscam constantemente formações, principalmente na “Corporación” EPE, que lhes motivem a desenvolver novas propostas em relação a sua atuação na escola.

A escola fundamenta suas atividades em uma perspectiva pedagógica que proporciona ao aluno a construção de conhecimentos na interação com a realidade. Essa concepção é posta em prática por uma metodologia de ensino, denominada “Actividad Totalidad Abierta – ATA”, que desenvolve nos alunos a capacidade de se apropriar da realidade de maneira que eles possam, ao construir conhecimento, compreender o seu caráter complexo, a partir da interação do objeto de estudo com suas estruturas culturais, sociais e linguísticas.

A EPE trabalha a relação entre a realidade e os múltiplos significados do conhecimento construído nos espaços escolares por meio da integração entre os sujeitos, as atividades e o contexto. Neste sentido, percebe-se que a EPE realiza um trabalho pedagógico que têm na realidade (cultural, social, científica, etc.) o alicerce para a construção de conhecimento pelos seus alunos. Essa realidade que se inter-relaciona com os múltiplos significados do conhecimento, constitui o ambiente educativo da escola. Esse ambiente educativo proporciona condições para que os problemas trabalhados nas aulas, sejam abordados em sua totalidade, ou seja, os conhecimentos construídos e o contexto escolar influenciam em um determinado problema e no desenvolvimento de qualquer atividade. Esse aspecto nos conduz a pensar que o ambiente educativo da EPE é complexo e transdisciplinar.

Com isto posto, a escola propõe uma “estratégia pedagógica ligada à consolidação de espaços de formação, tanto em convivência como para a construção da relação entre sujeito e conhecimento” (tradução nossa) (PEI-EPE, 2010, p. 50). Esta estratégia é denominada pela EPE como “Actividades Totalidad Abiertas – ATA” (SEGURA, 2007), as quais serão abordadas na próxima seção.