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Os dados da pesquisa e seu processo de interpretação e organização

3. O ESTADO ATUAL DA INOVAÇÃO EDUCACIONAL E A INOVAÇÃO EM

4.3 Os dados da pesquisa e seu processo de interpretação e organização

Neste processo, em que a abordagem metodológica de pesquisa se constitui em uma vivência num ambiente complexo, a interpretação dos dados se transformou em reflexões

diárias. Estas reflexões foram construídas durante as observações, durante as entrevistas e, também, durante o período de descanso fora da escola. Na verdade, minhas reflexões sobre a vivência na escola continuam ocorrendo até hoje e penso que continuarão ainda por muito tempo. Isto é coerente com o processo desencadeado por essa pesquisa, ou seja, o conhecimento é complexo e inacabado.

Os dados obtidos neste trabalho foram entendidos, conforme a compreensão defendida por Paderes, Rodrigues e Giusti (2005, p. 9) em “sua multiplicidade complexa”, ou seja, fazem parte de um todo e, por isso, devem receber um tratamento hologramático. Com isto, ao interpretar as informações trazidas da EPE, considerou-se a influência que o contexto escolar exercia sobre esses dados. Mesmo quando na interpretação dos dados emergem aspectos específicos de determinada situação, esses aspectos sempre são considerados no contexto da EPE.

Com a perspectiva assumida nesta pesquisa, é necessário considerar uma informação observando o contexto em que ela se apresenta. Portanto, a análise assumiu uma perspectiva interativa que levou em consideração a multidimensionalidade de influências sobre o objeto de estudo.

A multidimensionalidade, por sua vez, nos revela que o conhecimento que emerge da pesquisa depende do sujeito que conhece e das relações que estabelece com o objeto em estudo. O conhecimento emergente é produto de interações que acontecem entre ambos. Mas, todo conhecimento produzido na pesquisa envolve a multidimensionalidade humana, pois o que acontece surge a partir de ações corporificadas que traduzem um processo de cooperação global em todo o organismo. Isto nos revela que os seres humanos estão envolvidos por inteiro no processo de pesquisa e dela participam, não apenas utilizando sua racionalidade, mas também sua emocionalidade, sua afetividade, sua intuição que fluem a partir das diferentes relações estabelecidas. Desta forma, todo conhecimento produzido na pesquisa é fruto de processos que envolvem criação, interpretação, construção, desconstrução, auto- organização por parte do sujeito pesquisador em suas múltiplas relações com os outros sujeitos ou objetos pesquisados (MORAES; TORRE, 2006, p. 159).

Assim, como estratégia de análise e interpretação do contexto da escola, ou seja, para a análise das impressões dos aspectos do contexto escolar que mais impressionaram o pesquisador foram utilizados os princípios da Teoria da Complexidade por meio do Método do Caminho. Por outro lado, como estratégia para a análise das entrevistas dos professores optou- sepela Análise Textual Discursiva conforme Moraes e Galiazzi (2011).

Desta maneira, as estratégias de interpretação dos dados desta pesquisa estão vinculadas às concepções e crenças deste pesquisador e, por isso, são parciais e transitórias. Conforme Moraes e Galiazzi (2006, p. 122), “nesse tipo de análise exige-se do pesquisador mergulhar em seu objeto de pesquisa, assumindo-se sujeito e assumindo suas próprias interpretações”.

Esses princípios adotados como estratégia de análise se constituíram na maneira escolhida para a compreensão da realidade inerente ao fenômeno investigado. Segundo Moraes e Torre (2006, p. 161) “podemos dizer que método/caminho/estratégias/ensaios revelam um conjunto de pressupostos epistemológicos e metodológicos que configuram uma maneira de pensar e de compreender a realidade” (MORAES e TORRE, 2006, p. 161).

O processo de Análise Textual Discursiva, segundo Moraes e Galiazzi (2011), tem início pela unitarização e desmontagem dos textos das entrevistas para a obtenção de unidades com significado relevante para o estudo que está sendo feito. Essas unidades com significados são organizadas e codificadas para, logo após serem organizadas em categorias com conteúdos semelhantes. Essas categorias são consideradas intermediárias, pois serão reorganizadas em categorias mais abrangentes. Desse processo emergem as categorias finais sobre as quais são escritos metatextos que as descrevem. Esses metatextos são utilizados para a redação do texto final de análise. Nesta perspectiva de análise emergem categorias que de forma alguma representam uma simplificação dos dados de pesquisa. As categorias emergem do todo que é complexo e suas informações são tratadas de maneira integrada no contexto.

A análise textual pode ser compreendida como um processo auto organizado de construção de compreensão em que novos entendimentos emergem de uma sequência recursiva de três componentes: desconstrução dos textos do corpus, a unitarização; estabelecimento de relações entre os elementos unitários, a categorização; o captar do novo emergente em que a nova compreensão é comunicada e validada MORAES (2003, p. 192).

Após a transcrição e tradução dos textos das entrevistas, já no Brasil, iniciou-se o processo de análise. As informações contidas nas entrevistas foram isoladas para a construção de unidades de significado. Com as unidades de significados estabelecidas partiu-se para a reunião de ideias convergentes, ou seja, para a construção das categorias. Neste processo buscou-se estabelecer relações entre os objetivos da pesquisa e as categorias emergentes do para validação do processo. “Um conjunto de categorias é válido quando é capaz de representar adequadamente as informações categorizadas, atendendo dessa forma aos objetivos da análise, que é de melhorar a compreensão dos fenômenos investigados” (MORAES, 2006, p. 199). As categorias que emergiram desse processo foram denominadas de métodos de trabalho, desenvolvimento do pensamento e construção do conhecimento e de Inovação permanente e a formação do professor inovador

Neste processo de análise optou-se pelo sistema de categorias emergentes, ou seja, as categorias surgiram a partir da complexidade do fenômeno estudado, o universo da EPE. Essas categorias emergentes representam elaborações teóricas construídas pelo pesquisador a partir da sua vivência no ambiente de pesquisa e da sua interpretação do fenômeno. Colocando de

outra maneira, as categorias emergem da fala dos entrevistados, mas estão impregnadas das teorizações construídas pelo pesquisador durante a vivência no ambiente de pesquisa. Todo esse processo seguiu o método intuitivo de produção de categorias na Análise Textual Discursiva e exigiu muita auto-organização por parte do pesquisador, pois, segundo Moraes (2006), da complexidade dos fenômenos iniciais estudados surge uma nova ordem.

Entendemos que se pode descrever ainda um terceiro método de produção de categorias. É o método intuitivo. Chegar a um conjunto de categorias por meio da intuição exige integrar-se num processo de auto-organização em que, a partir de um conjunto complexo de elementos de partida, emerge uma nova ordem. O processo intuitivo pretende superar a racionalidade linear que está implícita tanto no método dedutivo quanto no indutivo. Pretende que as categorias tenham sentido a partir do fenômeno focalizado como um todo. As categorias produzidas por intuição originam- se por meio de inspirações repentinas, insights de luz que se apresentam ao pesquisador, por uma intensa impregnação nos dados relacionados aos fenômenos. Representam aprendizagens auto-organizadas que são possibilitadas ao pesquisador a partir de seu envolvimento intenso com o fenômeno que investiga (MORAES, 2006, p. 198).

A partir das categorizações foram produzidos os metatextos, que podem ser considerados, segundo Moraes e Galiazzi (2011), um processo de compreensão emergente sobre o fenômeno. Os metatextos deram origem ao texto apresentado no capítulo 8.

No próximo capítulo, apresento os dados de pesquisa. Esses dados se referem ao contexto da escola, aos relatos das observações realizadas e às entrevistas com os professores. A transcrição das entrevistas é apresentada no apêndice do trabalho.

5 A PESQUISA: VIVENDO O UNIVERSO DA EPE

Este capítulo apresenta os dados da pesquisa. Estes dados são oriundos, das leituras dos documentos disponibilizados pela escola, das observações das aulas de Matemática e dos aspectos do contexto escolar que mais impressionaram este pesquisador. Uma característica fundamental desenvolvida neste capítulo é o aspecto de análise/interpretação dos fenômenos observados. Assim procedeu-se porque assumiu-se, neste processo de pesquisa, a perspectiva de um trabalho desenvolvido num ambiente complexo e transdisciplinar, permanentemente inovador. Com isto, o trabalho apoiou-se no método idealizado por Morin, Ciurana e Motta (2003) para pesquisas em ambientes complexos.

A primeira seção aborda o contexto pedagógico da EPE. Então, os aspectos que mais chamaram a atenção, além da história e dos princípios norteadores do trabalho pedagógico desenvolvido na escola, foram as características das atividades, a formação de professores e o processo de aprendizagem. Na segunda seção apresenta-se o relato das observações das aulas de Matemática em três níveis de ensino.

Como exemplo norteador da compreensão sobre o que é e como se faz inovação em Educação, a próxima seção aborda o contexto da Escuela Pedagógica Experimental – EPE, situada na Colômbia. Esta seção foi construída com a intenção de apresentar as informações como dados de pesquisa, os quais estão impregnados das impressões do pesquisador. Portanto, o contexto também é parte importante para a compreensão dos resultados dessa pesquisa. Entende-se que não seria possível compreender a inovação em Educação Matemática sem conhecer o contexto onde ela é desenvolvida.