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O processo de inovação em Educação Matemática na EPE e sua manutenção

3. O ESTADO ATUAL DA INOVAÇÃO EDUCACIONAL E A INOVAÇÃO EM

7.3 O processo de inovação em Educação Matemática na EPE e sua manutenção

Como visto anteriormente, as atividades matemáticas desenvolvidas em diferentes graus de complexidade na EPE, não estão relacionadas tanto com as técnicas e fórmulas matemáticas, mas sim com o desenvolvimento do raciocínio lógico, a capacidade de resolução de problemas, a comunicação e a criatividade. As propostas pedagógicas desenvolvidas na EPE têm um

sentido de totalidade, ou seja, a partir do contexto são trabalhados os aspectos matemáticos que estão relacionados com a totalidade do problema abordado, isto implica uma ação educativa baseada em uma perspectiva complexa.

A abordagem desenvolvida pela EPE nos remete a compreender que a aprendizagem de conceitos matemáticos é o resultado da interação entre os estudantes, entre os estudantes e seus professores e entre eles e a realidade onde estão inseridos. A essa realidade a EPE denomina de entorno10. Essa interação, desenvolve o pensamento lógico matemático e, nesse processo, se

obtém uma aprendizagem integral.

De acordo com a fala dos professores entrevistados e, também, segundo nossa percepção nos ambientes da escola, o aspecto mais importante é o processo de aprendizagem e o desenvolvimento do pensamento. Essas características permitem que o aluno tenha uma melhor compreensão do mundo e entenda a função da Matemática na sua realidade. Para isso, os alunos vivem um processo formativo que diferencia claramente a transmissão de informações da construção de conhecimento, valorizando o processo mais que o resultado, trabalhando no coletivo, valorizando o erro e ganhando segurança e confiança.

As propostas de trabalho com Matemática na EPE emergem, não necessariamente de um planejamento didático, mas da sensibilidade dos professores em perceber as características e os interesses dos seus alunos. Desta maneira, os professores utilizam um conjunto de circunstâncias e ambientes que favorecem a curiosidade e o interesse de seus alunos pela Matemática. São exemplos disso o uso da arte, dos jogos de estratégia, de objetos ou equipamentos, de fatos históricos, problemas sociais ou mesmo fenômenos e problemas observados no cotidiano dos alunos.

A EPE pesquisa alternativas inovadoras para o ensino de Matemática desde a sua fundação. Com isto, conforme o PEI-EPE (2010), a EPE desenvolveu a perspectiva pedagógica já mencionada, denominada de “hacer matemáticas”. Essa perspectiva busca cotidianamente atingir os seguintes objetivos: (i) desenvolver nos alunos diferentes formas de pensamento matemático, como por exemplo o aditivo, o multiplicativo, o probabilístico e o proporcional; (ii) utilizar a capacidade de invenção dos alunos para buscar padrões e modelos matemáticos nos problemas estudados; e (iii) construir ambientes de trabalho que estimulem no estudante o gosto pela Matemática.

10 A palavra “entorno” é utilizada na EPE em referência ao contexto onde o sujeito está inserido. Na escola

Conforme Segura e Malagón (2007), a proposta inovadora desenvolvida no ensino de Matemática na EPE propõe o trabalho com problemas que interessam aos alunos, que trabalham em grupo na busca coletiva de soluções com consequente aprendizagem. Com isto, foi possível observar que o processo de trabalho com a Matemática na EPE tem também uma forte característica dialógica, pois na EPE se entende que a troca de experiências entre todos os sujeitos envolvidos se constitui em uma fonte de conhecimento.

Esse processo dialógico ocorre em qualquer ambiente da escola. Uma aula de Matemática pode ocorrer no bosque, no restaurante, no pátio, à beira do riacho, embaixo de uma árvore, ou onde o grupo se sinta melhor. Nestas experiências, para sustentar uma afirmação, os alunos argumentam, fazem testes experimentais, realizam experimentos mentais e apresentam raciocínios lógicos. Esse aspecto do trabalho desenvolve o pensamento científico nos alunos e é considerado muito importante pela escola para o processo de aprendizagem.

Foi possível compreender que, para inovar diariamente no ensino de Matemática, os professores não seguem um caminho pré-determinado. O que existem são princípios norteadores da relação entre os professores, os alunos e o conhecimento. Esses princípios se fundamentam no diálogo, na valorização do interesse dos alunos, no trabalho em equipe e na pesquisa como principal maneira para a construção do conhecimento matemático.

Neste contexto, percebeu-se que o professor não simplesmente ensina conteúdo matemático. Foi possível compreender que a Matemática é utilizada na EPE como uma ferramenta útil para a compreensão e solução de problemas. Esses problemas podem surgir de uma pergunta, do aluno ou do professor, ou por meio de uma proposta desafiadora que desperte o interesse do grupo. E esses problemas podem ser de qualquer natureza, inclusive matemática. A pesquisa e a experimentação representam os caminhos seguidos pelos alunos para a construção de uma proposta coletiva de solução dos problemas estudados.

Dessa forma, ficou claro que a continuidade do processo inovador no ensino de Matemática está intimamente ligada à diversidade de concepções e de propostas construídas coletivamente. Na EPE, todos podem propor projetos, pesquisas, experiências, etc. A investigação de problemas nas aulas de Matemática é o eixo condutor de todas as atividades e de todas as posturas envolvidas. Em função disto, cada integrante de um grupo de trabalho tem uma percepção muito particular do problema proposto. Logo, cada sujeito propõe maneiras diferenciadas de investigar uma solução criando com isto, caminhos diferentes a serem seguidos.

Assim, constatou-se que o planejamento de uma atividade com Matemática é apenas o marco inicial do processo. Em função da diversidade de pessoas e das possibilidades do entorno,

torna-se impossível seguir o mesmo caminho para o trabalho com determinado tipo de problema. A percepção da realidade e a compreensão do mundo são diferentes em cada pessoa. O processo de aprendizagem em Matemática na EPE se mantém inovador em função da complexidade do ambiente e da transdisciplinaridade da abordagem dos problemas.

Com isto, foi possível concluir que a construção inovadora permanente de conhecimentos matemáticos na EPE é um processo complexo e transdisciplinar permeado por sentimentos, emoções, história, saberes ancestrais, conhecimento científico, contexto, diálogo, vida. Tudo isso misturado num ambiente fértil em possibilidades pedagógicas. São essas características que definem o processo educativo inovador em Educação Matemática na EPE como um processo permanente e muito próprio da escola. É um processo dinâmico, complexo e conduzido por todas as pessoas envolvidas, não somente pelos professores.

Até esse momento do trabalho apresentamos argumentos que se originaram do processo de análise e interpretação do fenômeno pesquisado seguindo os princípios do Método do Caminho de Morin, Ciurana e Motta (2003). O próximo capítulo apresenta a análise das entrevistas com os professores de Matemática que, muito gentilmente se dispuseram a participar dessa pesquisa. O processo de análise, neste caso, foi fundamentado na perspectiva da Análise Textual Discursiva, segundo Moraes e Galiazzi (2011).

8 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES

Durante as minhas observações nas aulas de Matemática dos professores da EPE tive a oportunidade de realizar entrevistas de dois tipos, uma livre e outra e semiestruturada, com cada um dos professores de Matemática. Nessas entrevistas os professores falaram sobre as suas percepções do seu trabalho na EPE. As entrevistas tiveram a intenção de perceber a compreensão dos professores de Matemática a respeito do tema desta pesquisa. O material resultante desse processo está transcrito nos Apêndices.

Ao iniciar a entrevista, pedi para os entrevistados responderem de maneira mais livre possível. Para cada questão perguntada transcrevi a resposta dos três professores para ficar evidente as possíveis diferenças e pontos de convergência de suas falas. Essas entrevistas foram transcritas e se encontram no Apêndice 8. Muito gentilmente todos responderam. Para a entrevista semiestruturada, as questões foram as mesmas elaboradas como as questões específicas de pesquisa deste trabalho, apresentadas na seção 1.2.

O processo de análise dessas entrevistas foi fundamentado na perspectiva do método da Análise Textual Discursiva de Moraes e Galiazzi (2011). Desse processo emergiram três categorias gerais que abrangem todo o processo. A primeira categoria aborda o método de trabalho desenvolvido pelos professores de Matemática da EPE. A segunda categoria trata do desenvolvimento do pensamento e a construção do conhecimento e a terceira categoria aborda a inovação permanente e a formação do professor inovador.

É importante ressaltar que, das falas dos professores emergem concepções construídas até o momento da realização dessas entrevistas. Isto significa que suas falas representaram o momento vivido por esses profissionais e, certamente, pode mudar com o passar do tempo. Esse fato se justifica porque a EPE está em constante mudança, e seus profissionais também. Isso representa uma característica fundamental do processo de inovação permanente da escola. Dessa maneira, essa pesquisa reflete um recorte temporal de um universo complexo e transdisciplinar que é a EPE.

As citações diretas referentes às falas dos professores estão apresentadas em itálico ao longo do texto.