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3. O ESTADO ATUAL DA INOVAÇÃO EDUCACIONAL E A INOVAÇÃO EM

5.1 Contexto: a Escuela Pedagógica Experimental

5.1.7 Aprendizagem na EPE

Ao observar os processos de aprendizagem, foi possível perceber que a escola faz uma distinção muito clara entre o que é informação e o que é conhecimento. A informação corresponde aos conteúdos presentes em bases de dados, livros, artigos, etc., e os alunos têm acesso muito facilitado a uma diversidade de materiais contendo muita informação. Na proposta pedagógica da EPE transmitir informações disciplinares aos alunos não é o mais importante. A EPE parte do princípio de que a ação e a compreensão humana são orientadas pelo conhecimento.

O trabalho pedagógico desenvolvido na EPE se fundamenta no reconhecimento do protagonismo dos alunos e dos professores na construção do seu próprio conhecimento. Os professores não trabalham informando os conteúdos disciplinares aos alunos. Ao invés disso, a proposta pedagógica adota, em aula, uma dinâmica que sempre envolve perguntas contextualizadas. Essas perguntas podem ser feitas pelos alunos ou pelos professores e devem causar interesse e despertar a curiosidade no grupo de trabalho. As dinâmicas de trabalho utilizadas para responder a essas perguntas como a pesquisa, a experimentação, a construção de artefatos, o diálogo, a vivência de situações particulares, etc., proporcionam experiências pessoais únicas para cada sujeito envolvido nesse processo, seja professor ou aluno. As histórias, os relatos, os sentimentos e as experiências que resultam desse processo se constituem na aprendizagem ou no conhecimento construído individualmente.

Deste ponto de vista, a informação não é o ponto central, ou seja, o conteúdo disciplinar organizado e sistematizado nos livros didáticos perdem a sua importância porque geralmente apontam soluções absolutas. No caso do campo da Matemática, por exemplo, a busca das raízes reais de uma determinada equação de segundo grau gera três possibilidades absolutas, quais sejam: ou a equação possui duas raízes, ou a equação possui uma raiz dupla ou a equação não possui raízes. Este tipo de conteúdo, como exemplo, está sistematizado nos livros didáticos e na internet, e os alunos de escolas tradicionais realizam muitos exercícios para decorar o algoritmo que permite encontrar as raízes da equação. Na EPE, isto não ocorre porque este processo não passa de transmissão de informação, ou seja, informação também pode significar aquilo o professor informa ao aluno sobre como proceder.

Na EPE o professor aprende tanto quanto o seu aluno, ou seja, ambos devem construir o seu próprio conhecimento. Aqui, alguém pode imaginar que eles devem sempre chegar aos mesmos resultados disciplinares sistematizados, como no ensino tradicional. Mas não, o processo de aprendizagem na EPE é diferente. Ao trabalhar um determinado problema, o resultado é uma aprendizagem individualizada que tem muito mais proximidade com o que

entendemos como experiência de vida do que, simplesmente, memorizar algum tipo de conteúdo.

Ainda assim, o desenvolvimento do pensamento científico é de fundamental importância nos processos de aprendizagem da EPE. Para isto, na proposta didática da EPE é muito importante que o aluno desenvolva a capacidade de realizar perguntas, de se surpreender e se emocionar com o conhecimento. Para que ocorra a construção do pensamento científico, conforme Segura (2009), é fundamental que o aluno desenvolva a habilidade de estabelecer relações entre coisas aparentemente distintas, tenha confiança em si mesmo e no grupo de colegas e professores e tenha a capacidade de dialogar para comunicar e debater sobre seu trabalho.

Na EPE, o desenvolvimento do pensamento científico, e da aprendizagem em geral, ocorre como resultado das interações entre os sujeitos e entre esses sujeitos e os ambientes ricos de possibilidades científicas. Então, a EPE se preocupa muito em proporcionar atividades em ambientes e contextos que contribuam para a formação do pensamento científico nos seus alunos. A preocupação diária dos educadores da escola é construir condições ideais para que os alunos desenvolvam a sua criatividade, a sua curiosidade e a sua confiança, pois todos na EPE acreditam que essa é a base fundamental para a aprendizagem no ambiente escolar.

Nesta perspectiva, os educadores da EPE procuram introduzir nas suas aulas métodos que evitem a repetição e a memorização dos conteúdos. Os professores priorizam métodos como aprender fazendo, aprendizagem por descobrimento, aprendizagem por prova e erro, etc., e evitam se colocar na posição de quem sabe mais que o aluno. Neste processo, os professores buscam enriquecer as perguntas e as atividades dos alunos. Isto significa proporcionar um ambiente onde o aluno e o professor sejam protagonistas da construção do conhecimento.

Outro aspecto fundamental para a aprendizagem é o não condicionamento dos alunos em receber notas, ou seja, trocar prêmios por condutas desejáveis. Na EPE não existem notas nem avaliações por provas ou coisa similar. O que se valoriza é a alegria e a satisfação em aprender o que se deseja aprender. Nenhum aluno é forçado a estudar aquilo que não deseja. Os diversos ambientes de aprendizagem da EPE são ricos de possibilidades e os alunos se envolvem nos projetos. Ninguém fica sem fazer nada, pois não é da sua natureza. Sabendo disso, a EPE proporciona propostas de atividades e ambientes que despertam a curiosidade e a criatividade natural de cada aluno. Na EPE, os alunos encontram um ambiente que lhes proporciona compreender a sua própria realidade e eles valorizam muito isso.

Em uma de minhas caminhadas de observação e reflexão pelos ambientes da EPE fui abordado por um pequeno grupo de alunos, com idades entre 15 e 16 anos, que já haviam frequentado outras escolas. Esse breve diálogo está apresentado no Apêndice 3.

Por esta conversa informal, foi possível concluir que estes alunos apresentam uma concepção de mundo bem definida e que este conhecimento foi construído nas suas vivências na EPE. Para eles, é muito importante a liberdade com responsabilidade e autonomia. Exercer a sua liberdade sem abusar dos próprios direitos. Eles afirmaram que aprenderam a trabalhar coletivamente, a desenvolver especialidades que gostam. Também aprenderam que pode existir um mundo menos competitivo e com mais valorização humana. Essas aprendizagens ocorrem em ambientes variados e ricos em criatividade e pensamento.

Nos processos pedagógicos da EPE, o principal fator é a própria aprendizagem. Não a aprendizagem tomada como resultados mensuráveis por notas, mas a aprendizagem que aparece na forma de atitudes e da demonstração, por parte dos alunos, que construíram conhecimentos. Nesta perspectiva, a função do professor é o enriquecimento dos ambientes onde interagem os alunos. Assim, a EPE defende que é impossível mensurar a aprendizagem. Segura (2009, p. 13) afirma que só “podemos saber que os alunos estão aprendendo pela alegria e entusiasmo que assumem nas atividades quando são desafiados”.

Outro aspecto considerado importante para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos é que estes participem do planejamento das atividades. Quando isto ocorre, o aluno se sente autor de um projeto e, por isso, valoriza o seu desenvolvimento. Para isto, na medida em que surgem os coletivos de estudo de determinado projeto, se torna imperativo a necessidade de comunicação e trabalho coletivo.

É esse ambiente coletivo e de interatividade no planejamento das atividades, que contribui para que cada participante desenvolva a sua compreensão de mundo por meio de uma atividade escolar. Um mundo que pode ser mais colaborativo e menos competitivo. Isto se aprende na EPE, mas não pode ser quantificado, nem é possível atribuir uma nota a esse conhecimento.

A próxima seção apresenta as observações realizadas nas aulas de Matemática de três professores. Estes professores autorizaram a utilização de seus nomes verdadeiros, neste relatório e em todas as publicações posteriores referentes a esta pesquisa, conforme consta nos termos de consentimento no anexo 2.