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Observação do grupo de nível 8 – professora Diana

3. O ESTADO ATUAL DA INOVAÇÃO EDUCACIONAL E A INOVAÇÃO EM

5.2 Relato das observações das aulas de Matemática

5.2.2 Observação do grupo de nível 8 – professora Diana

Ao chegar na aula, a turma rapidamente se organiza em grupos. Isso pareceu algo natural. Logo no início das atividades do dia, a professora propôs para a turma um trabalho com frações como uma razão. Ela iniciou conversando com a turma para recordar os conceitos estudados até então. O conceito estudado havia sido fração equivalente.

A atividade do dia consistia de uma folha, que foi distribuída pela professora, com algumas questões sobre figuras geométricas e proporções. Na realização dessa tarefa a professora estabeleceu um tempo para os alunos terminarem. Logo após a professora foi até a lousa e começou a correção da atividade. Ficou claro que o objetivo da atividade era que os alunos chegassem a uma resposta correta para os exercícios propostos.

Até aqui tudo bem, se não estivéssemos na EPE. Fiquei surpreso pelo aspecto muito conhecido desse tipo de aula. Parecia uma abordagem tradicional de aula de Matemática. Porém, fiquei mais surpreso ainda com o interesse demonstrado pelos alunos. Todos fizeram a tarefa com o maior empenho, inclusive estabelecendo um diálogo intenso sobre as possibilidades de resolução do exercício. Os alunos realizaram a atividade proposta pela professora, utilizando régua para a construção de figuras de diferentes tamanhos, trabalhando a proporção entre elas.

No momento da observação, a professora Diana trabalhava apenas há três semanas na escola evidenciando certa falta de experiência na abordagem pedagógica proposta pela EPE. Quando a professora Diana me concedeu uma entrevista livre, transcrita no Apêndice 5, ela reconheceu a sua inexperiência e afirmou que estava se esforçando nesse sentido, participando das formações oferecidas pela escola para professores iniciantes.

A dinâmica da atividade não foi estabelecida pela professora, mas pelos alunos. Eles se reuniram em grupos mistos e começaram a trabalhar. Neste processo, caminhavam pela sala para interagir com outros colegas e com a professora e estabeleciam diálogos intensos, desenvolvendo, na prática, uma construção coletiva dos resultados do exercício. Foi possível observar que surgiram soluções diferentes para o trabalho e, sem a intervenção da professora, os alunos comparavam suas soluções e estabeleciam um consenso. Após a realização do exercício a professora fez a correção na lousa.

No final da aula, a professora distribuiu revistas para os alunos encontrarem figuras diversas e construírem em seus cadernos as mesmas figuras em uma proporção de um terço da figura original.

O fato de que os alunos demonstraram muito interesse pela atividade e auto-organização na sua execução me chamou muito a atenção. Com isto, foi possível concluir que, mesmo que

uma atividade que parece ter um aspecto pedagógico tradicional, pode representar uma novidade para os alunos e talvez por isso o trabalho tenha dado certo. Pareceu-me, neste caso, que não importava se a didática foi tradicional ou inovadora. O importante foi que todos estavam de acordo com a proposta.

Na sequência da observação, no dia seguinte, a professora distribuiu outra folha e propôs o trabalho com a área de quadrados. Ela explicou o conceito de área, perímetro e algumas propriedades do quadrado utilizando a lousa. Rapidamente e de maneira espontânea sem que a professora pedisse, os alunos se reuniram em grupos e começaram o trabalho com o mesmo interesse do dia anterior.

Para facilitar a realização dos exercícios de construção de quadrados, cálculo de áreas e perímetros, a professora distribuiu uma placa, onde os alunos podiam prender elásticos e construir quadrados de vários tamanhos. A Figura 2 apresenta essas placas.

Figura 2: Placas para construção de quadrados e cálculo de áreas e perímetros Em determinado momento, entraram na sala quatro alunos mais velhos que queriam realizar uma enquete. Essa enquete fazia parte do projeto “Economia Azul” que tratava de melhorar os espaços escolares. Então eles fizeram as seguintes perguntas aos colegas da turma: Qual o espaço que você não gosta dentro da escola? Porque? Qual a sua sugestão para melhorar esse espaço? Os alunos responderam e discutiram algumas soluções para os problemas durante alguns minutos. Depois a aula voltou ao seu curso normal.

A atividade de construção do quadrado com os alunos transcorreu sem problemas e os alunos continuaram interessados no trabalho. Alguns grupos, ao realizarem a tarefa, exerceram a sua criatividade e estabeleceram uma espécie de jogo onde cada um tentava construir um, ou vários, quadrados de maneira mais criativa que seu colega. E logo discutiam as possibilidades de solução, calculando a área e o perímetro de seus quadrados. No final da aula, a professora realizou uma socialização dos resultados obtidos.

Trabalhar num ambiente alternativo e inovador não me pareceu uma coisa fácil. A formação da professora Diana foi muito parecida com a formação de todos nós, professores licenciados em Matemática. Não somos preparados para um trabalho diferente da transmissão

de informações. Porém, os alunos da EPE vivem o ambiente complexo e transdisciplinar da escola desde que estudam ali. Isso desenvolveu nos alunos uma postura que tende a transformar cada atividade em um trabalho rico em possibilidades de construção de conhecimento. Essa é uma característica muito importante do ambiente escolar da EPE.

A experiência de observação das aulas da professora Diana permitiu entender que a inovação é uma construção coletiva e constante em todos os níveis escolares, mas também que é muito importante que se comece desde quando os alunos são menores. Isso fortalece a capacidade de os alunos assumirem uma postura durante toda a sua vida escolar que privilegie o trabalho em ambientes inovadores e alternativos. Ou seja, que se acostumem desde pequenos a utilizar a sua criatividade e a realizar questionamentos. Esse fato nos leva a pensar que um processo inovador deva ser desenvolvido, nas escolas, desde os anos iniciais para que seja duradouro.

No final da semana de observações pedi que a professora Diana falasse livremente sobre o seu trabalho na EPE. A transcrição está no apêndice 5.

A próxima subseção apresenta a observação das aulas do professor German com alunos do nível 12. Esse nível é equivalente ao 3º ano do ensino médio brasileiro.