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3. O ESTADO ATUAL DA INOVAÇÃO EDUCACIONAL E A INOVAÇÃO EM

8.1 Categoria 1 – Métodos de trabalho

Da análise das entrevistas emerge a primeira categoria, que foi nomeada de Métodos de Trabalho. A análise revelou que os professores de Matemática utilizam métodos de trabalho próprios, ou seja, são livres para atuarem, porém, seus métodos possuem similaridades em suas

concepções. Ao realizarem um planejamento para as atividades com os alunos, os professores consideram alguns pontos muito importantes.

Primeiramente, foi possível compreender que o processo de planejamento é permeado por um conflito, ou seja, nas palavras do professor German, o conflito reside em “primeiro, o que um professor supõe que deveria saber um estudante, segundo o que o estudante quer aprender em um determinado momento e terceiro, o que vai acontecendo”. Neste sentido, ficou evidente que não existem fórmulas ou modelos de aula definidos previamente. O que existe são rotas, caminhos incertos que se descortinam na medida em que são percorridos.

Para García (2000, p. 48), essa é uma “atitude aberta, relativizadora e antirreducionista, que permite a existência de incertezas” que contribuem para a superação do dogmatismo presente nos modelos de aulas transmissivas. De outra maneira, Morin, Ciurana e Motta (2003) afirmam que esse conflito entre as certezas e as incertezas, como os presentes no processo pedagógico das aulas de Matemática da EPE, são geradoras de uma tensão cognitiva que contribui para a construção de conhecimento num ambiente complexo.

Outro aspecto considerado importante pelos professores e que evidenciou que a aula de Matemática na EPE se constitui em um processo aberto e flexível é o fato de que, antes de planejar uma atividade é necessário que o professor conheça seus alunos e seus gostos. A partir disso, o professor pode executar um planejamento e modifica-lo de acordo com a andamento dos acontecimentos. Além disso, pode adaptar o processo pedagógico às necessidades de seus alunos num determinado momento.

Quando eu estou começando a trabalhar primeiro procuro pensar quem são eles. Quem são as crianças, do que gostam, o que querem. E então começo a observar o que querem e o que tenho que trabalhar ao redor deles, o que tenho que potencializar, que dificuldades percebo neles e então começo a observar e pensar. Então, é primeiro pensar neles. Para poder planejar tenho que pensar neles. E ao executar o planejado vou me permitindo mudar de acordo com o que vai acontecendo (PAOLA, 2017, Apêndice 8).

Foi possível compreender, a partir das observações realizadas nas aulas de Matemática e da análise das entrevistas, que o trabalho pedagógico com Matemática se desenvolve a partir de perguntas, que podem ser realizadas pelos alunos ou pelos professores. E é a partir dessas perguntas, que as atividades surgem naturalmente. O professor German afirma queas atividades “surgem de maneira espontânea. E essa espontaneidade é que permite, digamos, que não haja uma rigidez para fazer as atividades num tempo e num espaço determinado. As atividades se vão conduzindo a si mesmas.” Neste sentido, a professora Paola, ao confirmar que uma atividade se inicia por uma pergunta, enfatiza que “a ATA se inicia por uma pergunta, mas nunca se sabe aonde isso vai dar. As perguntas se sucedem e vão conduzindo a atividade”. E

a professora Diana contribui afirmando que “se vai construindo tudo a partir dos diálogos, de que pergunta fazem as crianças”.

Nesse processo, ficou evidente que os questionamentos e os problemas propostos pelos alunos iniciam o processo de construção do conhecimento. Segundo Gonzalez e Haselager (2002), questionamentos geram hipóteses, ou metáforas, que tentam explicar os fenômenos e, consequentemente, a autonomia e a criatividade são estimuladas nos alunos contribuindo para o desenvolvimento do raciocínio lógico. O professor German afirma “que os problemas que eles (os alunos) propõem são bem-vindos porque partem deles e o mais importante é que parta deles, e não que parta de mim”. Para os professores, este processo é gerador de autonomia nos alunos e, ainda segundo German, “É a partir da autonomia que se podem fazer coisas. Se não há autonomia, se não há curiosidade, não há nada”.

Outro entendimento possível, a partir da análise das entrevistas dos professores, é que o método de trabalho utilizado nas aulas de Matemática da EPE apresenta uma concepção construtivista de ensino. A professora Diana entende que a proposta metodológica dos professores não representa algo totalmente novo, mas segundo ela, no ambiente de aula da EPE é possível utilizar os recursos disponíveis como uma novidade. Ela afirma que “então sempre vai ser construtivo. Aqui eu posso refletir e perceber que hoje os estudantes não aprenderam e tenho que mudar, tenho que modelar, tenho que fazer uma pergunta diferente para retomar”. Segundo Harres et al (2018, p. 11), esta perspectiva construtivista de “aprendizagem é entendida como capacidade de construir uma representação pessoal sobre o objeto a ser conhecido”.

O trabalho em grupos de alunos é uma característica importante do método de trabalho com Matemática. Nos grupos, os alunos estabelecem um processo dialógico que permite a coexistência de ideias antagônicas num mesmo espaço. Para Gonzalez e Haselager (2002) essas ideias se complementam e contribuem para a construção das soluções dos problemas investigados. A professora Diana reforça essa ideia afirmando que “os alunos trabalham de maneira muito dinâmica e em grupos. Se não conseguem resolver no seu grupo eles vão até outro para discutir uma maneira de resolver. Essa parte é muito produtiva”.

A abordagem do estudo da Matemática é realizada por meio de projetos que podem ser pequenos projetos investigativos originados nas perguntas que os alunos fazem em sala de aula ou podem ser projetos maiores realizados por alunos e professores de toda a escola, como na Economia Azul. Esses projetos são realizados essencialmente por meio de pesquisa e experimentação. Esses dois aspectos permeiam todo o trabalho pedagógico da escola. Dentro desses projetos, a Matemática está diretamente relacionada com os fenômenos investigados no

sentido de que ela se torna uma ferramenta utilizada na compreensão e explicação desses fenômenos.

Os projetos que se fazem aqui buscam que os alunos encontrem seu rumo, sua paixão, sua forma de pensar, porém temos que conectar as matérias e isto é um objetivo grande na escola. Ou seja, não só como eu penso o conhecimento, o estudante, mas como penso todos os fatores que afetam o conhecimento em geral. Neste processo eu estou como que num exercício em todas as turmas que atuo. Aqui os alunos gostam da Matemática porque ela está ligada ao seu entorno e a sua vida (DIANA, 2017, Apêndice 5).

Com isto, foi possível compreender que a pesquisa se constitui no principal método de trabalho com a Matemática. Esse processo tem início quando existe interesse por parte dos alunos em resolver algum problema. Esse problema pode ter sido proposto pelo professor e, inclusive, não ter solução. Nesta perspectiva de trabalho encontrar uma solução adequada para um problema não é importante, mas aprender durante o processo desenvolvido pela turma é mais importante.

Então, o professor encontra um problema que lhe parece interessante e queira resolver com seus estudantes. Muitas vezes esse problema nem sequer o professor o resolve. Então, aqui, o importante é a investigação desse problema para ver o que pode encontrar. Não necessariamente tem que haver uma resposta fixa. Não necessariamente tem que haver um processo fixo. Mas, a ideia é ver como, entre todos, se pode resolver o problema como se fosse um grupo de investigação. Um grupo de investigação a nível escolar (GERMAN, 2017, Apêndice 8).

Uma característica muito forte, presente no método inovador de trabalho da EPE, é que cada professor iniciante, ao tentar se adaptar ao novo ambiente de trabalho que é permeado pela pesquisa, se torna um professor pesquisador. Como diz o professor German “e aqui (na EPE) o que viemos a aprender é a investigar”. E ele mesmo responde sobre que tipo de pesquisa o professor aprende a realizar na escola: “Investigar como? Investigar como pensam os alunos, investigar que soluções encontraram nesse problema, investigar como as crianças interagem para poder construir um conhecimento”.

Segundo o professor German, ao assumir a postura de pesquisador, o professor compreende o método de trabalho inovador desenvolvido pela escola. O importante da postura de pesquisador de um professor de Matemática da EPE é compreender como os alunos desenvolvem o pensamento lógico.

Aqui nos envolvemos dentro da Matemática escolar através dos processos de pensamento com os alunos. E pode ser que saibamos muita Matemática formal, sim? Porém, queremos saber como os alunos desenvolvem o pensamento. Essa é a chave (GERMAN, 2017, Apêndice 8).

Assim, na EPE, os alunos realizam pesquisa para resolver problemas de seu interesse e a Matemática é utilizada como um instrumento útil para a compreensão dos fenômenos associados a esse problema. Por outro lado, os professores realizam outro tipo de pesquisa, ou

seja, procuram investigar os processos de aprendizagem e de desenvolvimento do pensamento dos alunos. Nesta perspectiva, existe aprendizagem em todos os níveis.

Quanto aos aspectos avaliativos do método de trabalho assumido pelos professores, foi possível observar que existem convergências. A professora Paola afirma que o método para avaliação consiste na observação das potencialidades e no processo de desenvolvimento dos alunos. Neste processo, o aluno é observado de maneira integral, ou seja, a observação não consiste em apenas uma disciplina, mas todos os professores contribuem para a construção de um parecer sobre seus alunos. Para a professora Paola, “a avaliação é mais isso, observar o processo” e, para o professor German, “é uma construção de todos os professores de um só indivíduo”, o aluno.

Se considera que o ser humano é algo muito mais complexo que uma só área. Então se faz a leitura do indivíduo a partir de tudo que ele faz e do que fazem todos os professores, que cada professor pode descrever. Então, isto é uma avaliação descritiva, não numérica. O número é muito frio (GERMAN, 2017, Apêndice 8). Para Suanno (2009, p. 8341), cuidar das potencialidades dos alunos, considerando suas atitudes, possibilidades e desenvolvimento integral, ou seja, “empregar a heteroavaliação com a intervenção de todos aqueles que participam do processo educativo” se constitui numa postura pedagógica transdisciplinar dos professores.

Em resumo, no trabalho pedagógico com a Matemática, segundo os professores entrevistados, é muito forte o método das aulas investigativas. Nessa perspectiva, o professor oferece problemas que possam despertar o interesse de seus alunos, mas os alunos também apresentam muitas questões que desejam estudar. Todos realizam pesquisa, inclusive o professor, ou seja, o professor se posiciona no grupo como alguém que tem um pouco mais de experiência em pesquisa escolar, mas é um integrante do grupo que também deseja aprender. No trabalho com a Matemática não é importante que todos encontrem uma resposta única para um determinado problema, ou seja, é mais importante o processo de investigação e de construção coletiva do que as respostas corretas. Segundo o professor German, se aprende mais durante a investigação do que com o resultado dela.

Então, na EPE, o trabalho é planejado em função do interesse dos alunos e o professor oferece atividades e problemas que possam despertar esse interesse. Esse aspecto apresenta uma forte relação com o processo de construção do conhecimento defendido por Morin (2011). O conhecimento é complexo e sua construção depende do interesse dos sujeitos envolvidos no processo, ou seja, o caminho é definido ao caminhar. As atividades têm início, mas não se pode prever onde elas acabam.

8.2 Categoria 2 – Desenvolvimento do pensamento e a construção do conhecimento