• Nenhum resultado encontrado

4. RESULTADOS E ANÁLISES

4.2 O QUE SE VÊ E OUVE – ANÁLISE DOS CASOS OBSERVADOS

4.2.1 A formação dos orientadores de estudos no Pacto Nacional pela

A formação dos orientadores de estudos do programa analisado segue uma sequência oferecida no documento de apresentação do programa. A formação dos orientadores de estudos, no polo pesquisado, aconteceu respeitando os encaminhamentos contidos no documento. Algumas atividades na formação de orientadores de estudos foram permanentes, como enfatiza o caderno de apresentação do programa:

1. leitura para deleite: leitura de textos literários, com conversa sobre os textos lidos, incluindo algumas obras de literatura infantil, com o intuito de evidenciar a importância desse tipo de atividade; 2. tarefas de casa e escola e retomada, em cada encontro, do que foi proposto no encontro anterior, com socialização das atividades realizadas; 3. planejamento de atividades a serem realizadas nas aulas seguintes ao encontro; 4. estudo dirigido de textos, para aprofundamento de saberes sobre os conteúdos e estratégias didáticas (BRASIL, 2012u, p. 32).

Além das atividades permanentes, é recomendado pelo programa, por meio de seu caderno de apresentação, que se desenvolvam estratégias formativas e temas que devem ser aprofundados, tais como:

Socialização de memórias; vídeo em debate; análise de situações de sala de aula filmadas ou registradas; análise de atividades de alunos; análise de relatos de rotinas,

sequências didáticas, projetos didáticos e de planejamentos de aula; análise de recursos didáticos; exposição dialogada; elaboração de instrumentos de avaliação e discussão de seus resultados; avaliação da formação (BRASIL, 2012u, p. 32).

Os documentos sugerem os tipos de atividades que devem permear as formações. O planejamento delas ficam a cargo das universidades parceiras esboçar com o grupo de formadores, e esses se organizar para, no final do processo, trabalhar com o grupo de professores alfabetizadores.

4.2.1.1 Descrição do caso de formação de orientadores de estudos

Para investigar e compreender melhor como o programa estava sendo desenvolvido junto aos orientadores de estudo optou-se por observar e gravar uma parte dos encontros num polo de formação no Rio Grande do Sul. Polo em que a pesquisadora estava inserida como orientadora de estudos em formação.

O objetivo era observar como a formadora se referia aos saberes experienciais dos professores alfabetizadores e como o processo de formação de orientadores de estudos acontece no contexto do programa.

A formadora, do caso pesquisado, era graduada em Pedagogia e pós-graduada em Educação Infantil, em nível de especialização. Possuía 20 anos de experiência profissional, atuando por um período em sala de aula, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e em classes de Educação Infantil. Tinha atuado, na maior parte do tempo na gestão de escola. Foi diretora numa escola da rede pública do Município de Porto Alegre por três mandatos e Coordenadora Pedagógica por dois anos na mesma instituição. Foi professora num curso de formação de professores em nível médio – Magistério, específico para Educação Infantil, somente para professores que já atuavam em Creches (0 a 3 anos).

O grupo de orientadoras de estudos era composto por 23 professoras, sendo 17 coordenadoras pedagógicas e 6 professoras alfabetizadoras. Dessas, 10 possuíam curso de formação para professores em nível médio – Curso Normal. Todas as orientadoras de estudos possuíam graduação, sendo que 14 em Pedagogia, duas em Educação Física, 5 em Letras e duas em História. Do total, 20 tinham concluído uma pós-graduação em nível de especialização, 4 possuíam mais de uma especialização, duas mestrado e duas cursavam mestrado na área da educação.

As formações dessas orientadoras de estudos sempre começavam com uma leitura deleite, momento em que era lido um livro infantil, um poema, assistido um vídeo ou lido

outro texto qualquer por puro prazer, sem se preocupar com as questões formais da leitura. Cabe destacar que a formadora empenhava-se em trazer para o grupo de trabalho uma leitura que ilustrasse com o tema a ser estudado na ocasião. Dessa forma, se o tema em estudo era, por exemplo, Grandezas e Medidas, a leitura deleite versava sobre um livro infantil sobre medidas, tempo, etc. Essas leituras variavam. Algumas vezes a formadora trazia um livro para a realização da leitura, na maioria das vezes digitalizado, outras vezes trazia vídeos. A leitura era realizada, na maioria das vezes pela formadora, porém, em determinadas momentos, solicitava o auxílio das orientadoras de estudos, principalmente quando no livro apareciam diálogos. Nesses diálogos, as orientadoras de estudos faziam as vozes dos personagens.

Após a leitura deleite, era o momento de socializar as tarefas de casa. Em alguns momentos essa dinâmica era realizada antecipadamente, por meio de correio eletrônico, para agilizar o processo de formação e ganhar tempo. Em outros momentos essas tarefas eram socializadas com o grupo. Um tipo de tarefa que foi bastante socializada via correio eletrônico foram as sequências didáticas, a partir de um livro de literatura infantil, elaboradas pelas orientadoras de estudos. Todas entregavam suas sequências didáticas à formadora, que as digitalizava e as enviava para as orientadoras de estudos. Nos anexos dessa dissertação apresenta-se uma dessas sequências didáticas (Anexo B).

Na sequência da formação eram projetados slides com o resumo do texto impresso nos cadernos de formação, que, a pedido da formadora, eram lidos em casa antes dos encontros. Logo, nessa dinâmica, era possível acompanhar as discussões trazidas nos slides de apresentação por meio do caderno de formação. Nesse momento eram discutidas as teorias contidas nos textos e confrontadas com a experiência de cada orientadora de estudos. As orientadoras de estudos relatavam como trabalhavam em sala de aula com o tema em estudo (orientadoras de estudos que trabalhavam em classes de alfabetização) ou contavam sobre o trabalho nas escolas (orientadoras de estudos que eram Coordenadoras Pedagógicas). Os momentos duravam até que todas pudessem falar, às vezes, a formadora tinha que intervir, organizando a discussão, pois todas falavam ao mesmo tempo. Durante o processo de discussão, a formadora também realizava comentários sobre o trabalho realizado na escola em que atuou como diretora e coordenadora pedagógica ou das leituras realizadas por ela.

Para cada tema de estudo a formadora trazia para o grupo um texto diferente dos contidos nos cadernos de formação, geralmente de um(a) professor(a) da Universidade Federal parceira do MEC no programa e responsável pela formação dos formadores do polo observado. Os textos completavam os temas contidos nos cadernos de formação. Eles eram lidos em aula, momento propício à discussão.

Em todos os encontros os saberes da experiência dos professores orientadores de estudos eram vivenciados no grupo. Após a explanação de um tópico de estudo e debate do mesmo, as orientadoras eram solicitadas a constituir grupos de trabalho para realização de uma ou mais tarefas que complementasse o estudo. Nos anexos apresenta-se uma rotina de trabalho semanal que as orientadoras de estudos planejaram durante o encontro (Anexo C). Nesse momento, entravam em cena as atividades da seção compartilhando dos cadernos de formação. Cabe salientar que na seção, além das experiências bem sucedidas de professores alfabetizadores, também são sugeridas atividades para realização nos encontros de formação com a finalidade de aprofundar o tema estudado e provocar a participação das orientadoras de estudos com suas experiências nas escolas em que atuam. Geralmente era solicitada a realização de uma ou duas tarefas da seção. Após, o grupo deveria criar atividades sobre o tema ou descrever atividades, orientadas a alfabetizar crianças, que já tinham experimentado em suas classes de alfabetização ou vivenciado em suas escolas de origem. Muitas dessas atividades eram reunidas, copiadas e distribuídas pela formadora nos dias subsequentes ao encontro, por meio de correio eletrônico. Dessa forma, todas podiam fazer uso dessas atividades em suas escolas ou no seu grupo de formação de professores alfabetizadores. Nos anexos apresenta-se uma dessas atividades (Anexo D).

Observa-se, nos encontros de formação de orientadores de estudos, que a professora responsável criou espaços para que as orientadoras de estudos pudessem relatar o que vinha ocorrendo com os grupos de formação, como procediam os trabalhos nos municípios, as angústias em relação ao programa, a experiência de cada uma. Os espaços aconteceram em forma de relato de experiências, momento em que cada professora orientadora pôde expor como aconteciam os encontros de formação sob sua responsabilidade, relato de práticas observadas nas salas de aula das professoras alfabetizadoras, relatos de práticas das próprias classes de alfabetização. Na sequência, apresenta-se a explanação de uma orientadora de estudos sobre o trabalho com seu grupo de formação:

Meu grupo construiu jogos. Elas acharam muito interessante. Usaram tampinhas de garrafa. Foi positivo. Outra parte foi atividade com o nome. Várias formas de trabalhar o seu nome. Algumas, mais criativas, outras não. Uma professora colocou em cada letra do seu nome um prendedor de roupa com a figura e o nome de um animal que iniciava com aquela letra. Envolve. Tiveram que construir o tangran também. A gente percebe que demorou, para engrenar, mas melhorou. Se percebe que em cima de uma atividade que tu proporciona, trazem outras para relatar (ORIENTADORA DE ESTUDOS B - transcrição em 12/09/2014, p. 10).

Um espaço aberto pela formadora foi a escrita de textos, do gênero memórias, para publicação. Cada professora orientadora de estudos foi incentivada a escrever suas memórias enquanto estudante, alfabetizadora e orientadora de estudos. A proposta era publicar os textos num livro até o final do programa.

Outra forma de apreciar a experiência das professoras orientadoras de estudos foi por meio de escrita de um texto, para publicação em uma revista da Universidade Federal de Santa Maria. As professoras orientadoras de estudos foram desafiadas a contar uma experiência bem sucedida com seu grupo de professoras alfabetizadoras por meio de um “relato de experiência”. Essa deveria ser um relato sobre um trabalho realizado com seu grupo de formação que a orientadora de estudos considerasse importante compartilhar. A proposta teve aceitação da maioria das orientadoras de estudos, porém até o final da pesquisa os textos ainda não haviam sido publicados.

Uma atividade constante nos encontros de formação foi a das tarefas para casa ou escola. No final de cada encontro, as professoras orientadoras eram provocadas a realizarem atividades diversas conforme o tema em estudo. Logo, se o tema em estudo era geometria, as orientadoras eram solicitadas a criar uma atividade que envolvesse a geometria, se o tema era jogos na alfabetização, eram solicitadas a criar ou trazer um jogo que não constasse no caderno de formação. Algumas vezes, essas tarefas eram retiradas da seção compartilhando, outras as orientadoras eram desafiadas a escrever um pequeno texto sobre o tema em estudo. Esse texto era encaminhado à professora formadora via correio eletrônico ou entregue pessoalmente durante os encontros. A socialização era realizada por meio de leitura em alguns momentos dos encontros.

No final de cada encontro era realizada a avaliação. A formadora entregava uma folha que continha perguntas acerca do desenvolvimento do encontro, da apresentação dos temas, do trabalho prático, do aprofundamento das discussões. As professoras orientadoras de estudos eram solicitadas a destacar aspectos positivos e negativos de cada reunião e também dar sugestões para serem desenvolvidas nos encontros seguintes.

Durante a realização das reuniões foi possível perceber algumas das concepções sobre os saberes experienciais das professoras alfabetizadoras que circulavam no espaço de formação. Isso, particularmente, quando as orientadoras de estudos comentavam sobre o andamento das formações realizadas nos municípios ou regionais das Coordenadorias de Educação. Nos comentários, relatavam a ação das alfabetizadoras nos encontros, o interesse ou não pela formação realizada e o envolvimento de cada uma.

Algumas orientadoras de estudos contavam, com satisfação, que possuíam em seus grupos de formação, docentes que, apesar de estarem em final de carreira, se empenhavam em adquirir novos conhecimentos e traziam para os encontros sua experiência com a alfabetização, auxiliando e enriquecendo a formação, como na fala “se percebe que, encima de uma atividade, trazem outra pra relatar” (ORIENTADORA DE ESTUDOS C - transcrição da gravação em 12/09/2014, p. 10) e também em outra oportunidade, “Também a caixa da matemática, acho que foi a atividade que mais se envolveram. Elas trazem sempre junto a caixa. Elas continuam trazendo e colocando sugestões. Uma professora trouxe um dado com material dourado. Eu nunca tinha visto” (ORIENTADORA DE ESTUDOS D - transcrição em 12/09/2014, p. 10).

Também a formadora, em determinados momentos, demonstrava valorizar os saberes das orientadoras de estudos. A formadora afirma “Eu aprendo com vocês tanto quanto estivesse na universidade. Eu aprendi muito na profissão e na minha formação política, mas aprendo muito ouvindo vocês, trabalhando com vocês”. (PROFESSORA FORMADORA - transcrição em 12/09/2014, p. 13). Dessa forma, a formadora demonstra considerar que as orientadoras de estudos em formação possuem saberes que precisam ser valorizados.

4.2.2 Um grupo de formação de professores alfabetizadores no Pacto Nacional pela