As práticas de professores alfabetizadores como ilustrações do “jeito

Na leitura dos cadernos de formação do programa PNAIC, na expectativa de identificar o lugar que no mesmo ocupam os saberes da experiência dos professores alfabetizadores, a seção “Compartilhando” fica em evidência. Nessa parte dos cadernos é apresentada a maioria dos conhecimentos de professores alfabetizadores, na forma de relatos de experiências, que se encontram no material de estudo. Apenas nos cadernos de Alfabetização Matemática encontram-se algumas experiências relatadas fora dessa seção.

As experiências relatadas são variadas. Por exemplo, nos cadernos de Linguagem, a utilização do livro didático no ensino do sistema de escrita alfabética (Unidade 3, Ano 1, p. 28), a organização didática e pedagógica das aulas na forma de planejamento diário (Unidade 6, Ano 2, p. 31), a avaliação utilizada como forma de monitoramento das aprendizagens (Unidade 8, Ano 1, p. 20), o trato com a diversidade de conhecimentos das crianças visando a aprendizagem (Unidade8, Ano 2, p. 33), como trabalhar o jogo na sala de aula, tanto os produzidos para atividades didáticas específicas como os da tradição popular (Unidade 4, Ano 1, p. 32). No material de Matemática se encontra o trabalho com a contagem e noções

elementares de aritmética (Caderno 2, p. 78), experiência com medidas no ciclo de alfabetização (Caderno 6, p. 7).

É a partir da Unidade 3 (Linguagem) e do Caderno 1 (Matemática) que os saberes experienciais dos professores alfabetizadores aparecem nos cadernos de formação do PNAIC. Pode-se destacar que na Unidade 1, os autores trazem uma referência teórica acerca da apropriação do sistema de escrita alfabética e procuram alicerçar um entendimento de alfabetização na perspectiva do letramento. Também trazem num campo mais teórico, as concepções de currículo inclusivo. Na Unidade 2, o destaque é para o planejamento da alfabetização, análise e criação de propostas de organização de rotinas para o dia a dia da sala de aula. Ambas as unidades são de fundamentação teórica e não há inclusão ou referências a saberes experienciais de professores alfabetizadores.

Nos demais cadernos os relatos de experiências estão distribuídas como mostra o quadro 8.

Quadro 8 - Distribuição das experiências pedagógicas de professores alfabetizadores nos cadernos de Linguagem

U EXPERIÊNCIAS DE PROFESSORES ALFABETIZADORES C Q

3 Utilização do Livro Didático com recurso na prática pedagógica. Ano 1 1

Ano 2 1

Jogos como recurso na aprendizagem do Sistema de Escrita Alfabética. Ano 1 1

Ano 2 1

E. C. 1

Atividades de leitura que facilitam a compreensão e a reflexão do Sistema de Escrita Alfabética.

Ano 1 1

Ano 2 1

Ano 3 1

E. C. 3

4 Jogos e brincadeiras como recursos pedagógicos na aprendizagem do Sistema de Escrita Alfabética.

Ano 1 3

Ano 2 1

5 Análise de práticas de professores alfabetizadores sobre o uso da diversidade textual em sala de aula.

Ano 1 1

Ano 2 1

Ano 3 1

E. C. 1

6 Projeto didático tendo como foco a interdisciplinaridade. Ano 1 1

Ano 2 1

Ano 2 2

Análise e relato de projeto didático realizado por uma professora alfabetizadora. Ano 3 1

E. C. 1

Planejamento de sequência didática. Ano 2 2

7 Planejamento de ensino considerando as diferentes necessidades garantindo os direitos de aprendizagem de todas as crianças.

Ano 1 3

Ano 2 1

Como realizar um diagnóstico inicial da turma e planejar e acompanhar o progresso de todos os alunos.

Ano 3 1

8 Atividade de planejamento da avaliação como forma de monitoramento das aprendizagens.

Depoimento de professora alfabetizadora sobre a progressão continuada. Ano 1 2

O papel dos registros da ação didática. Ano 1 e E.

C.

1

Ano 3 1

A utilização dos pareceres descritivos das crianças para dar continuidade no processo de alfabetização.

Ano 2 e E.C.

2

A importância do planejamento de rotinas escolares. Ano 2 3

O trato com a diversidade de conhecimentos das crianças visando a progressão de todos.

Ano 2 1

A utilização do Livro Didático na alfabetização. Ano 2 1

O compromisso do professor alfabetizador no ciclo de alfabetização com a progressão da aprendizagem da criança.

Ano 3 2

O uso de registros para monitoramento das aprendizagens. Ano 3 3

Modelo de parecer de desenvolvimento da criança. Ano 3 1

O trabalho com diferentes gêneros textuais na alfabetização. Ano 3 1

Planejamento da avaliação como forma de monitoramento das aprendizagens em turmas multisseriadas.

E.C. 1

Legenda: U- unidade; C- caderno; E. C.- Educação do Campo; Q- quantidade Fonte: A autora

Quadro 9 - Distribuição das experiências pedagógicas de professores alfabetizadores nos cadernos de Matemática

C EXPERIÊNCIAS DE PROFESSORES ALFABETIZADORES Q

1 Organização da turma. 1

Trabalho com material manipulável. 1

Valorização da fala e dos saberes dos alunos na introdução de um novo conceito. 1

Prática de sala de aula na formulação e resolução de problemas. 2

Introdução ao trabalho com tabelas e gráficos - Educação estatística. 2

Gêneros textuais nas aulas de matemática. 1

2 Introdução ao sentido numérico – agrupamentos - contagem. 7

Jogos na alfabetização matemática. 1

Escrita dos numerais em Braille. 1

3 Sequências numéricas 1

O jogo na aprendizagem do Sistema de Numeração Decimal. 4

4 Uso da tabuada em sala de aula. 1

5 Movimentação e localização no ensino da geometria. 1

Possibilidades de relações entre geometria e geografia. 1

Localização e orientação - mapeamento. 1

6 Introdução à grandezas e medidas a partir do universo infantil. 2

Trabalho com volume e capacidade no ciclo de alfabetização. 2

Trabalho com medidas de tempo. 1

Trabalho com receitas culinárias. 1

Trabalho com calendário. 1

C.E.M.C. Prática de projeto pedagógico interdisciplinar. 3

Legenda: C- caderno; Q- quantidade; C.E.M.C.- Caderno de Educação Matemática do Campo Fonte: A autora

Essas experiências são destacadas nos cadernos sob diferentes formatos:

- relato sobre organização da turma para realização dos trabalhos e do ambiente alfabetizador;

- relato de experiências bem sucedidas em relação ao uso de livros de literatura infantil, jogos na alfabetização e na alfabetização matemática;

- maneiras de realizar os registros de acompanhamento da turma das professoras alfabetizadoras;

- relatos de planejamento na perspectiva de um trabalho com projetos didáticos interdisciplinares e sequências didáticas; e,

- opinião de professoras alfabetizadoras sobre materiais didáticos fornecidos pelo Ministério da Educação.

Algumas dessas experiências com uma análise pormenorizada são apresentadas nos apêndices desta dissertação para ilustrar como os saberes experienciais de professores alfabetizadores são exibidos nos cadernos de formação do PNAIC (Apêndice B).

A organização dos cadernos de formação segue uma apresentação. Em primeiro lugar são apresentados os textos dos autores, na seção “Aprofundando o tema” e a seguir os textos de relatos de experiências de professores alfabetizadores. Nos cadernos de formação de Linguagem, esses textos são apresentados na seção “Compartilhando”, já nos cadernos de formação de Matemática, os textos são apresentados em dois formatos. Inicialmente, as experiências dos professores são apresentadas no corpo do texto teórico em discussão, como forma de mostrar possibilidades concretas do tema estudado aparecer na sala de aula, orientando o professor na sua prática. Posteriormente, as experiências dos professores alfabetizadores são apresentadas na seção “Compartilhando” como referências a serem seguidos pelos docentes em formação, reforçando o que dizem os textos. As experiências, destacadas nos cadernos do programa são relativas à prática da alfabetização que os autores utilizam como reforço para a interpretação “correta” do tema em estudo.

É possível afirmar que os saberes experienciais de professores alfabetizadores estão presentes nos cadernos de formação do PNAIC. Porém constituem-se na forma de “procedimentos pedagógicos de transmissão de saberes escolares” (TARDIF, 2011, p. 41) adotados por docentes que, selecionados pelas universidades parceiras, dão seu testemunho do que é pregado na formação.

Nesse sentido, as universidades parceiras assumiram “as tarefas de produção e legitimação dos saberes científicos e pedagógicos” (2011, p. 41), ficando os relatos dos professores alfabetizadores o papel de exemplificar como as formas legítimas de alfabetizar são trabalhadas em sala de aula, os macetes da profissão docente, os modos de organizar o ambiente da alfabetização.