• Nenhum resultado encontrado

Continuidades e descontinuidades nos programas Pró-Letramento e Pacto

4. RESULTADOS E ANÁLISES

4.1 O QUE SE LÊ – ANÁLISE DOS DOCUMENTOS

4.1.1 Os programas de formação de professores alfabetizadores

4.1.1.3 Continuidades e descontinuidades nos programas Pró-Letramento e Pacto

Nos tópicos a seguir, abordam-se as continuidades e descontinuidades nos Programas de Formação Continuada de Professores Alfabetizadores criados pelo governo federal nos últimos anos. Num primeiro momento são abordados os conceitos de alfabetização e letramento que permeiam os dois programas e, a seguir, discute-se como a formação continuada de professores é pensada nos programas.

4.1.1.3.1 A continuidade e descontinuidade nos conceitos de alfabetização e letramento subjacentes nos programas

Na análise dos documentos dos dois Programas em foco e na leitura de artigos e dissertações sobre o Pró-Letramento (ALFERES, 2009; ALFERES; MAINARDES, 2012), percebe-se que os conceitos alfabetização e letramento são basilares em ambas as propostas e têm continuidade. Atualmente, outros conceitos como o de “alfabetismo” (TRINDADE, 2004) problematizam os entendimentos de alfabetização e letramento, contudo, dado que o foco do trabalho não está centrado na discussão sobre o processo de apropriação do Sistema de Escrita Alfabética, opta-se por centrar a discussão deste tópico nos conceitos que sustentam os programas em estudo.

No decorrer do tempo, segundo o documento do Programa Pró-Letramento: Alfabetização e Linguagem, o termo alfabetização vem sofrendo transformações. Pode-se dizer que a inserção da leitura e da escrita acontecem pelo domínio de um conjunto de técnicas relativas ao ato de ler - capacidade de decodificar sinais gráficos e escrever - capacidade de codificar os sons da fala, transformando-os em sinais gráficos. Portanto, para ler e escrever, o indivíduo (criança) tem de adquirir um conjunto de procedimentos e habilidades indispensáveis à prática da leitura e escrita. Procedimentos que vão desde o domínio dos aspectos notacionais até os mais significativos – letras, sons, sílabas, palavras, frases, textos, gêneros, normas gramaticais e ortográficas (BRASIL, 2007b).

O Pró-Letramento apresenta como pressupostos teóricos os estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, particularmente a obra Psicogênese da língua escrita (1986). Com base nas suas pesquisas, sugere-se no programa não levar o ensino da leitura e escrita a uma mera associação entre grafema-fonema (codificação e decodificação), mas envolvem um processo de elaboração de hipóteses sobre o desenvolvimento da escrita.

O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa recupera de forma crítica esse conceito de alfabetização. Ancorado numa publicação de Magda Soares (2004), o Caderno 1 da Unidade 1, sem desconsiderar o que as pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1986) apresentaram à alfabetização das crianças, destaca alguns equívocos ocasionados pela mudança paradigmática. Entre os equívocos estão o de que o convívio intenso com o material escrito, mediado pelo professor, seria necessário para a apropriação do sistema linguístico e a relação entre os sons e os símbolos gráficos não necessitam ser trabalhados.

O conceito letramento também é discutido nos dois programas. Para esclarecer o significado do termo letramento, analisa-se nos documentos oficiais dos dois programas o seu conceito. Segundo o documento do Pró-Letramento, letramento é, pois,

o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, bem como o resultado da ação de usar essas habilidades em práticas sociais, é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da língua escrita e de ter-se inserido num mundo organizado diferentemente: a cultura escrita (BRASIL, 2007b, p. 11).

De acordo com o Caderno ano 1, Unidade 3, do PNAIC, concebe-se letramento como

[...] o conjunto de práticas de leitura e produção de textos escritos que as pessoas realizam em nossa sociedade, nas diferentes situações cotidianas formais e informais. Nessas situações, os gêneros textuais são incrivelmente variados e cada um deles tem características próprias quanto à estrutura composicional, quanto aos

recursos linguísticos que usa, bem como quanto às finalidades para que é usado e aos espaços onde circula (BRASIL, 2012f, p. 7).

Trabalhar no sentido de propiciar à criança a interação com diferentes textos que circulam no meio social e em atividades significativas de leitura e produção escrita possibilita à criança a apropriação do Sistema de Escrita Alfabética (SEA). Neste sentido, alfabetização, na concepção de letramento, é a familiarização do aprendiz com os diversos usos sociais da leitura e da escrita (BRASIL, 2012g).

Essa apropriação do SEA levaria a criança tornar-se alfabetizado. Para chegar a tal categoria, a criança precisa relacionar as letras do alfabeto ou grupos de letras ao seu valor sonoro, para, dessa forma, ser capaz de ler e escrever palavras e textos. Alfabetizado é, portanto, a pessoa que atingiu a habilidade de ler e escrever textos de diferentes gêneros, dentro de um contexto social, com autonomia. Diferente de um soletrador, ela vê o todo da palavra e lhe atribui sentido no texto (BRASIL, 2012g).

Ao examinar os conceitos de alfabetização e letramento nos dois programas, pode-se dizer que há uma continuidade dos mesmos. Tanto o primeiro como o segundo programa utilizam o mesmo referencial teórico na abordagem dos conceitos. O desafio colocado para os três primeiros anos do Ensino Fundamental, tanto no Pró-Letramento como no PNAIC é que se conciliem esses dois processos, assegurando aos alunos a apropriação, o domínio do código escrito e as condições de uso do código nas situações em que se fizer necessário na sociedade letrada.

4.1.1.3.2 A continuidade e descontinuidade na concepção de formação continuada de professores alfabetizadores nos Programas Pró-Letramento e Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

Em linhas gerais é possível dizer que os programas Pró-Letramento e Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa possuem uma continuidade na concepção de formação continuada. Ambas as propostas têm um modelo de formação continuada que congrega formação de formadores, de tutores (Pró-Letramento) e orientadores de estudos (PNAIC) e de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental (Pró-Letramento) e professores alfabetizadores do ciclo de alfabetização, que compõem os três primeiros anos do Ensino Fundamental, num mesmo momento.

Para o programa Pró-Letramento, conforme o Guia Geral (BRASIL, 2007a) a formação continuada é uma necessidade para quem quer continuar na atividade docente na atualidade. Há a necessidade de reelaboração dos conhecimentos adquiridos na formação inicial e de reflexão sobre a prática cotidiana “tendo em vista que a atividade profissional é um campo de produção do conhecimento, envolvendo aprendizagens que ultrapassam a simples aplicação do que foi estudado” (BRASIL, 2007a, p. 1).

De acordo com o Guia Geral do programa (BRASIL, 2007a, p. 1), essa atitude reflexiva da formação continuada “considera o professor o sujeito da ação, valoriza suas experiências pessoais, suas incursões teóricas, seus saberes da prática e possibilita-lhe que, durante o processo, atribua novos significados a ela, compreenda e enfrente as dificuldades com as quais irá se defrontar no dia a dia”.

No caderno de apresentação do PNAIC “Formação de professores” (BRASIL, 2012) o tempo de aprender e o de trabalhar não devem ser vistos como momentos isolados um do outro. Dessa forma, os professores precisam estar em constante formação, aperfeiçoando suas aprendizagens. No aperfeiçoamento constante o professor pode, além de melhorar sua formação docente, contribuir para mobilizar a formação de outros professores.

4.1.2 A formação dos professores nos documentos do Pacto Nacional pela Alfabetização