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Contextos e Práticas

5. Contextos de Produção

5.2. A Galeria de Arte Urbana

Na parte superior da Calçada da Glória, acompanhando o trajecto do turístico elevador que, frequentemente coberto de tags, sobe dos Restauradores até à Rua de S. Pedro de Alcântara, é visível o conjunto de painéis que aí foram colocados, bem como no Largo do Oliveirinha. Deixando-se fotografar pelos turistas que fazem o trajecto de eléctrico ou que por ele aguardam, estes painéis de mdf exibem intervenções de artistas de street art portugueses, que, mediante participação em concurso promovido pela Galeria de Arte Urbana para as Mostras de Arte Urbana que organiza, foram autorizados a criar peças para estas estruturas (Figura 5.2). São assim estas as primeiras estruturas de Lisboa pensadas para intervenções legais de street art e graffiti. Vejamos como nasceu a ideia da sua colocação, bem como o surgimento da estrutura institucional para a street art em Lisboa, a GAU.

Figura 5.2 – Calçada da Glória e painéis da GAU. Foto de Ágata Sequeira.

Como vimos, é no seguimento de iniciativas que pretendem, por um lado, mostrar uma visão do

graffiti e street art que não se prende com o vandalismo, mas inclusive com iniciativas de carácter social - através das Visual Street Performance – e, por outro, de incentivo ao diálogo aberto entre os diferentes actores envolvidos - com o encontro O Futuro das Paredes do Bairro Alto - , que é criado um gabinete da Câmara Municipal de Lisboa dedicado a estas formas de expressão urbana, a Galeria de Arte Urbana.

Esta estrutura é criada no final de 2008 e, no seu início, a sua intervenção consistia apenas no conjunto de painéis que foram instalados na Calçada da Glória, e pouco depois, também, no Largo da Oliveirinha, como espaço para pinturas livres, sem necessidade de autorização, pretendendo-se que constituísse uma alternativa à prática do graffiti e do tag no Bairro Alto, tidas como indesejadas, particularmente na sequência dos planos de limpeza das paredes para este bairro de Lisboa. Miguel Carrelo, técnico superior da CML que integra a equipa da GAU, em entrevista à autora, reconstitui a lógica da criação desta Galeria:

«O Bairro Alto… pensou-se que seria importante arranjar um espaço alternativo, que ficasse ali perto e que desse resposta a quem interviesse nas paredes do Bairro Alto. Na sequência dessa operação instalaram-se, primeiro, cinco painéis, na Calçada da Glória, no topo do elevador; painéis tipo outdoor onde supostamente as pessoas podiam pintar livremente. O que aconteceu foi que, depois da 1ª fase, a Câmara ficou um pouco sem saber o que fazer aos painéis, como gerir a situação. [Então], foi proposto ao departamento de património cultural, de que a GAU faz parte, que ficasse com essa incumbência. E é, portanto, assim neste contexto que surge a Galeria de Arte Urbana que, originalmente, começou por ser apenas aquele conjunto de cinco painéis, que posteriormente foi alargado para mais painéis do mesmo local.» (Miguel Carrelo, Técnico Superior da CML; Departamento de Património Cultural / Galeria de Arte Urbana, 2013)

A Galeria de Arte Urbana começou por integrar a vereação do urbanismo, tendo posteriormente passado para a vereação da cultura. Pedro Soares Neves teve também um papel de mediação aquando da criação da GAU, e nos primeiros momentos da sua actuação, sendo deste interveniente a projecção dos painéis da Calçada da Glória.

Aquando da sua criação, os intuitos da GAU eram a «preservação do património e de prevenção do vandalismo». Com a sua evolução, esses propósitos alargaram-se para o domínio do espaço público: para o «tornar mais democrático e fomentar um reconhecimento da arte urbana e demarcá-la, junto às populações, do simples acto de vandalismo.»84.

A GAU tem vindo a promover diversas iniciativas, quer organizando-as, quer apoiando iniciativas originárias e organizadas por outras entidades. As actividades da galeria começaram pela organização de duas mostras anuais. Estas tiveram lugar nos painéis da Calçada da Glória e Largo da Oliveirinha, que foram objecto da intervenção de diversos street artists. A selecção dos artistas a intervir funcionou numa das mostras por convite directo da GAU aos artistas, sendo que na outra mostra deu-se a abertura de um concurso onde qualquer pessoa se poderia candidatar, sendo feita uma selecção dos que poderiam pintar um painel. Passados anos, este formato do concurso livre para os painéis do Largo da Oliveirinha e Calçada da Glória ainda se mantém.

84 Palavras de Sílvia Câmara, técnica responsável pela GAU, no contexto da sua comunicação «A GAU como

plataforma municipal para a arte urbana», no âmbito da conferência Do Graffiti: Passado e Presente de uma Expressão de Risco, a 26 de Setembro de 2013 na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

Entretanto, foram criadas outras iniciativas ao abrigo da actuação da GAU. Uma dessas linhas é a campanha «Reciclar o Olhar» (Figuras 5.3 e 5.4), que vai neste momento na sua 8ª edição85, e que

consiste na pintura de vidrões, à qual qualquer cidadão pode concorrer – excepcionalmente, a 1ª fase do projecto funcionou por convite directo da GAU a artistas de street art. Outros projectos em que a GAU participa são no âmbito de parcerias, como o «Rostos do Muro Azul», que consiste na pintura das várias secções do muro do Hospital Júlio de Matos, e que é o resultado de uma parceria com a associação P2886/Hospital Júlio de Matos e a GAU; também o Projecto CRONO87, imagem

emblemática da street art na cidade de Lisboa e que em muito contribuiu para a visibilidade das actividades a ela ligadas na cidade, é o fruto de uma parceria entre a GAU e a associação Azáfama Citadina88.

Figuras 5.3 e 5.4 – Intervenções em vidrões, no âmbito da campanha Reciclar o Olhar. Fotos de Ágata Sequeira. Enquanto organismo da Câmara Municipal de Lisboa, a GAU integra o Departamento de Património Cultural da Câmara. Está, assim, numa posição privilegiada de facilitar os contactos institucionais e processos burocráticos necessários para a obtenção de autorizações para intervenção nas fachadas, e nesse sentido acaba por ser recorrente o contacto dos artistas e promotores com esta entidade para a

85 Tendo sido realizada entre os dias 10 e 13 de Julho de 2014.

86 A «P28 – Associação para o Desenvolvimento Criativo e Artístico» assume-se como intermediária entre

público e artistas, tendo como intuito a procura de espaços para exposições, reuniões e eventos. Veja-se a sua página de Facebook no seguinte endereço: https://pt-pt.facebook.com/Pvinteoito

87 CRONO foi um projecto de «curadoria urbana» que, entre 2010 e 2011, pretendeu construir um roteiro de arte

urbana por Lisboa, com intervenções de street artists internacionais e nacionais. O website do projecto é o seguinte: http://cargocollective.com/Crono/Manifesto

88 A Azáfama Citadina - Associação foi criada com o intuito de formalizar e promover o desenvolvimento do

elaboração de peças em grande escala. É o caso da galeria Underdogs, que, nas situações em que pretende organizar pinturas de murais ao ar livre em Lisboa, por parte de artistas de street art – nacionais e estrangeiros – entra em contacto com este organismo para obter as devidas autorizações e apoio logístico. Tal foi o que aconteceu, também, aquando da intervenção do duo de artistas ucranianos INTERESNI KAZKI na Praceta Olegário Mariano.

Mas a acção da GAU também abrange parcerias com entidades comerciais, para as quais a street art aparece como instrumento de campanhas de marketing, tais como: o projecto ‘GO Arte Urbana’, entre a GAU e a Citroën, que incluiu a pintura de carros da marca por street artists como Vanessa Teodoro ou Pariz 1; ‘Os Lusíadas’, parceria entre a GAU e a revista Visão, que consistiu na pintura de um muro na Avenida da Índia, alusivo a Os Lusíadas e elaborado pelo ARM Collective (Gonçalo Mar e RAM), imagens do qual serviram depois para ilustrar uma edição em dez volumes da obra, lançada pela revista em questão; e ainda uma colaboração entre a GAU e a marca de rum Pampero, da qual nasceram várias intervenções pela cidade, nomeadamente na Avenida Infante D. Henrique, por Vanessa Teodoro, Tamara Alves, Smile e José Carvalho, ou na Praça Duque de Saldanha, por Leonor Morais e Paulo Arraiano.

Portanto, o âmbito da actuação da GAU é amplo, indo desde a aparentemente simples concessão de autorização para uma intervenção numa fachada, por parte de um street artist ou de um colectivo, à própria organização dos concursos. Sobre o seu funcionamento, Miguel Carrelo esclarece a metodologia de acção:

«Portanto, do ponto de vista metodológico, sempre que lançamos um projecto sabemos que vai ter várias fases. Normalmente na primeira fase fazemos curadoria e escolhemos os artistas. Isso assegura-nos alguma qualidade para o arranque do projecto. Depois então nas fases subsequentes nós lançamos concurso. Nos vidrões, [...] é um caso específico porque não impomos nenhuma espécie de critério artístico, digamos assim. Portanto aceitamos qualquer proposta. Nos outros concursos… estou a pensar que lançámos até agora não sei se 2 ou 3, sim, exactamente, o que nós basicamente pedimos é que as pessoas nos enviem – nós queremos o programa – e dizemos às pessoas que nos enviem uma maquete daquilo que pretendem fazer e depois também temos algum cuidado com a análise daquilo que é o currículo da pessoa em termos da intervenção no espaço público para perceber se tem experiência e capacidade para reproduzir a maquete que nos enviou e a transpor na realidade da cidade.» (Miguel Carrelo, Técnico Superior da CML; Departamento de Património Cultural / Galeria de Arte Urbana, 2013)

É no seu discurso notória a atenção que é conferida à qualidade plástica dos trabalhos e aos curricula dos artistas, durante o processo de selecção entre os participantes dos concursos da GAU, assinalando a presença de uma orientação artística para essa selecção, bem como para a certificação de que os artistas seleccionados dispõem das capacidades técnicas para desenvolver os seus projectos à escala a que estes são propostos.

Ainda quanto aos moldes dos concursos, e tendo em conta a observação das diversas iniciativas em que a GAU participa, é de referir que acabam por ser na sua quase totalidade pinturas (em spray ou com uso de outras técnicas) em detrimento de outras técnicas expressivas associadas à street art, como o stencil ou o poster. Esta opção pode indiciar um certo conservadoradorismo formal no que refere às técnicas privilegiadas nos trabalhos feitos em colaboração com a GAU.

No que diz respeito aos critérios segundo os quais a GAU escolhe ou autoriza os locais do espaço público a serem alvo de intervenções de street art, para além das placas instaladas na Calçada da Glória/Largo da Oliveirinha, esta opta tendencialmente ou por elementos do mobiliário urbano, como caixas eléctricas ou os já mencionados vidrões, ou, sobretudo, por «estruturas físicas» já degradadas, não com a intenção de «disfarçar» a sua condição e o que representa de potencialmente negativo para a imagem da cidade – refere Miguel Carrelo - mas de encontrar forma de valorizar o espaço em questão, associando-se ao aspecto da efemeridade da street art a efemeridade da situação de degradação em particular:

«Temos muito cuidado em relação a esse ponto. (...) Em termos de escolha de locais, o que é que nós procuramos, normalmente? Procuramos que não se confunda a intervenção de arte pública com o disfarçar de situações, por exemplo: no que acontece com edifícios de rua que são situações de alguma degradação urbana. Embora acabemos por, preferencialmente, direccionar os nossos projectos para edifícios devolutos, muros em mau estado… portanto, onde aquilo que são espaços que anteriormente em nada dignificavam a paisagem urbana passem a ter uma componente de valorização… [...] Essa é outra das coisas que também estamos agora a organizar e a estruturar, no ponto de vista conceptual, é o respeito pelos materiais; é completamente diferente pintar em reboco do que pintar em pedra ou em madeira, quer do ponto de vista da manutenção, da facilidade de manutenção e dos custos que lhe estão associados, a observação de respeito por aquilo que é o património. […] Andamos à volta destes temas… por um lado, não queremos desviar a atenção das pessoas para aquilo que é a degradação do edificado em Lisboa. A ideia não é essa. É apenas aproveitar suportes que sabemos, mais cedo ou mais tarde, acabarão por ser recuperados e, portanto, este carácter efémero da arte pública ou da arte urbana não compromete. Por outro lado também dos objectos, e neste caso estou a pensar no mobiliário urbano de que os vidrões são um bom exemplo, mas não é o único.» (Miguel Carrelo, Técnico Superior da CML; Departamento de Património Cultural / Galeria de Arte Urbana, 2013)

Esse intuito de valorização do espaço a intervir é também expresso no facto de a GAU promover intervenções que «respeitem» as características das superfícies a intervir, sendo a lógica subjacente à sua actuação a de valorizar temporariamente com intervenções de street art espaços degradados, até ao momento de uma sua eventual futura recuperação.

O facto de ser tão recente a actuação da entidade municipal no âmbito da street art é patente no discurso que acompanha as iniciativas da GAU, em que o aspecto da experimentação que está na base dos projectos que esta entidade apoia e promove – e subsequente condução de uma actuação

institucional com base no sucesso dessas experiências – é central. Esta reflexividade institucional (Giddens, 2002) abrange também o aspecto infra-estrutural do espaço público e da gestão do habitat patrimonial da cidade, sendo que no discurso que esta entidade sobre si mesma produz é marcante a referência à ligação entre os projectos de street art e a vontade institucional de (re)qualificar os espaços públicos urbanos degradados.

Para além das actividades relacionadas com intervenções artísticas propriamente ditas, a GAU também se tem envolvido em projectos editoriais, nomeadamente com a publicação do livro que comemora os seus 3 anos de actividade (AAVV, 2012) e com o apoio à publicação do livro do antropólogo Ricardo Campos sobre o graffiti (Campos, 2010). De mencionar ainda o lançamento periódico da revista da Galeria de Arte Urbana, em versão papel e podendo também ser consultada online89. Em suma, as

actividades da GAU vão da gestão à criação de instrumentos de representação e de circulação de obras e de projectos, a nível nacional e internacional.

A este trabalho de difusão de arte urbana e de reflexão, acresce um trabalho importante: a inventariação – um traço de especialização na organização cultural e nos seus pressupostos de acumulação e sistematização que o Departamento de Património Cultural da CML tem vindo a fazer. De notar, assim, o trabalho de inventariação das peças de street art em Lisboa, levado a cabo por Joana Subtil.

Entre os critérios para escolha dos locais e a realização dos concursos, é notório que está subjacente à actuação da GAU uma visão sobre a street art , no papel que pode ter para a cidade de Lisboa. Esta visão contempla a street art como um «vector de afirmação da cidade no panorama de competitividade da rede urbana» (Miguel Carrelo, em entrevista, 2013), ideia que aliás é reforçada no momento da entrevista a Miguel Carrelo, pelo interesse que este técnico municipal indica que esta experiência tem suscitado em instituições congéneres de outros países, nomeadamente Equador, Turquia, Itália, Alemanha, entre outros. Porém, acrescenta Miguel Carrelo que a GAU não pretende concentrar toda a

street art nas zonas centrais da cidade, com maior visibilidade, havendo igualmente a intenção de intervir em zonas mais periféricas: «Implica não fazer isto só no centro, nem só para os turistas. A periferia também tem direito à arte urbana, é uma questão de equidade.» (Miguel Carrelo, em entrevista, 2013).

Quanto às dificuldades que foram sentidas por parte da GAU, na implementação da sua actividade, em particular em momentos iniciais, Miguel Carrelo recorda sobretudo a estranheza inicial que o projecto causou tanto aos artistas como aos próprios funcionários da CML. Essa e outras dificuldades na construção de uma instituição são relatadas da seguinte forma por Miguel Carrelo:

«Tem sido difícil. Sim, mais difícil inicialmente, porque [a GAU] gerou uma série de questões que não existiam anteriormente, pelo menos em Lisboa, quer da parte dos artistas, não é, que estavam habituados

a actuar num clima subversivo, digamos assim, e, de repente, são confrontados com uma instituição que quer enquadrar o seu trabalho, fazê-lo de forma institucional, legal e, portanto, isso cria sentimentos ambivalentes na maior parte das pessoas [e] dos artistas. ‘Como é que é agora? Como é que eu me posiciono?’ Reparámos isso… Foi muito notório nas primeiras fases, nomeadamente quando os convidávamos para intervir na Calçada da Glória: ‘Então, mas eu agora estou a colaborar com aqueles que anteriormente eram meus inimigos?’. Portanto, gerou mesmo alguma desconfiança por parte de outros serviços municipais com os quais nós temos necessariamente de nos articular. Estou a pensar nas Limpezas Urbanas, que antes faziam a limpeza de tudo o que era graffitis na cidade e, de repente, aparece um serviço ligado à Cultura que promove este tipo de discurso. Portanto, não foi fácil. Eu diria que hoje em dia essa batalha está basicamente ganha. (…) Perfeitamente consolidado. Já somos procurados por outros serviços do município a sugerirem locais para intervirmos, por particulares: ‘Porque não fazer uma coisa no meu edifício?’ ou ‘Também queremos fazer.’, por proposta da população.» (Miguel Carrelo, Técnico Superior da CML; Departamento de Património Cultural / Galeria de Arte Urbana, 2013)

Tudo indica, portanto, que essas dificuldades se encontram superadas, havendo uma aproximação quer de outras entidades locais quer de particulares no sentido de haver outras intervenções de street art em contextos que eles próprios sugerem. A iniciativa do muro da Penha de França terá sido resultado de um destes contactos, nomeadamente da Junta de Freguesia da Penha de França à GAU, propondo um concurso para a pintura de um muro na área - concurso esse que acabou por atribuir a Leonor Brilhar a tarefa de intervir naquele espaço, com a pintura de um mural representando a «lenda do lagarto da Penha de França» (intervenção ilustrada na Figura 5.5).

Inevitavelmente, um projecto com um poder de aglutinação de práticas legitimadas no âmbito da street

art tão significativo como a GAU sugere considerações valorativas por parte dos outros actores envolvidos, tanto artistas como elementos de entidades promotoras e produtoras de projectos de street

Figura 5.5 – Intervenção de Leonor Brilha, na freguesia lisboeta de Penha de França. Foto de Ágata Sequeira. No que diz respeito às críticas aos seus modos de actuação, recolhidas no âmbito de diversas entrevistas a outros actores envolvidos na produção de street art em Lisboa, inclui-se a questão da relação entre a actuação da GAU e um possível «aproveitamento político» a que essa actividade não fica imune, nomeadamente pela presença do próprio presidente da CML em inaugurações de mostras de arte urbana, por exemplo, e à qual poderia corresponder um afastamento de writers e street artists, precisamente as pessoas que, desde o início do projecto, a GAU pretenderia atrair nas actividades que promove, com o intuito de diminuir práticas tidas por problemáticas, como o tagging. Por outro lado, surgiu também no contexto das entrevistas uma crítica à forma como os projectos da GAU não serão precedidos de uma necessária contextualização junto das populações locais, que lhes explique em que é que consistem as intervenções, quem são os artistas, e que permita o estabelecimento de relações entre as populações locais, a street art que é feita no âmbito destes projectos, e a própria cidade. Finalmente, um outro conjunto de críticas que surgiram no contexto das entrevistas prende-se com a ideia de, em situações em que o apoio da GAU consiste essencialmente na obtenção mais rápida e eficaz de autorizações para as intervenções, não ficar por vezes claro que essa foi a medida do seu apoio, não penetrando no campo da autoria do projecto, o que poderá ser entendido como uma apropriação indevida num campo em que os actores e as entidades envolvidas são múltiplos.

Não obstante, relativamente às considerações valorativas positivas que são tecidas por diversos entrevistados em relação à actuação da GAU, destaca-se o proporcionar aos artistas intervenções em